Não,
não me refiro a valor do resgate pago a sequestradores. O que tenho em
mente é o imenso valor do bem sequestrado, que tem vínculo estreito com o
sucesso, ou com o fracasso de uma nação.
Em nosso
país, a Educação foi sequestrada por interesses políticos, ideológicos e
corporativos que a mantêm cativa, sob ferrolhos, impedindo-a de cumprir
suas funções enquanto muitos dela se aproveitam para os próprios fins.
O art. 206 da
Constituição Federal não deixa margem para fanatismos paulofreireanos.
Nenhuma “autonomia” do professor, da escola, do departamento, da
universidade, do Conselho, do sindicato pode desrespeitar o disposto no
inciso III do art. 206 da Constituição Federal quando dispõe que o
ensino será ministrado com “pluralismo de ideias e de concepções”. Mas
para ler e entender isso é preciso não ser analfabeto.
Há um
incompreensível silêncio sobre o dado divulgado em junho do ano passado
pelo IMD World Competitiveness Center, que comparou a prosperidade e a
competitividade de 64 nações.
No eixo que avalia a Educação, o Brasil
ficou em último lugar! Não surpreende o resultado, num país em que
relacionar atividades pedagógicas a expectativas burguesas como
competitividade e prosperidade é crime hediondo, punido com
“cancelamento” definitivo do infeliz que o fizer.
Quem desejar
um Brasil mais qualificado sob o ponto de vista educacional terá que
arrumar um banquinho e aguardar pelo menos uma geração inteira. Isso se
começarmos amanhã de manhã bem cedo. Afinal, o fique em casa deixou
nossas crianças por dois anos sem aula minimamente proveitosa e a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua 2021) apontou
um aumento de 66,7% no número de crianças de 6 a 7 anos que não sabem
ler nem escrever!
"Uma geração
inteira?", talvez exclame, preocupado, o leitor destas linhas. Sim, uma
geração inteira porque para podermos alfabetizar melhor nossas crianças
será preciso refazer um longo percurso que começa pela formação dos
professores naquelas usinas dos recursos humanos do sistema que são as
universidades. Ao mesmo tempo, haverá que abrir caminho até os registros
e válvulas que comandam a entrada e saída de recursos do erário. E,
também concomitantemente, acabar com as iniquidades instaladas na
tradição brasileira, entre elas a que faculta ensino superior gratuito a
quem pode pagar por ele. Em menos palavras: melhores professores, mais
recursos financeiros, mais bom senso.
Por fim, se
abrirmos a janela para espiar o Brasil real, será impossível não
perceber que se instalou a cultura do não saber. Poucos são os alunos
que querem aprender. Menos numerosos ainda os que têm hábitos de
leitura. Separa-se o lixo na cozinha, mas não se separa o lixo inserido
na Educação e nos meios de comunicação.
É a epifania da ignorância, cultuada em cativeiro e fanatismo.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.