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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

O desafio - Alon Feuerwerker

O desafio do momento no Brasil é fazer a vacinação completa avançar mais rapidamente. Na comparação com países que começaram a vacinar mais cedo, já emparelhamos quando o tema é a primeira dose. Mas ainda estamos atrás na aplicação da segunda (leia).

Isso fica ainda mais relevante quando dois movimentos convergem: a reabertura acelerada das atividades econômicas e a provável chegada com mais intensidade da variante Delta, que aparentemente surgiu na Índia e caminha para ter a hegemonia planetária.

O cenário mais provável é o Brasil enfrentar uma nova onda de casos, mas, a crer no observado em outros países, a curva de mortes não acompanhar. Por causa da combinação de fatores, como alguma imunização natural, muita vacinação e uma população relativamente mais resistente ao agravamento da doença.

Só uma coisa é certa: mesmo com o aumento previsto no número de casos, as condições políticas e sociais para novos lockdowns são bem mais baixas que nos outros dois momentos quando as ondas começaram a avolumar por aqui nesta pandemia.

Alon Feuerwerker, analista político e jornalista


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Soft power - O mar, os rochedos e o marisco

Análise Política

A aguda demanda global por vacinas anti-Covid-19 é uma bela oportunidade para o exercício do soft power. Mas mesmo isso tem um limite: a óbvia premência de os países produtores atenderem em primeiro lugar suas próprias populações. Ter amigos mundo afora é sempre bom, essencial até, mas quem coloca ou derruba os governos são em última instância seus próprios povos.

Porém a oportunidade de soft power é real, e vem sendo mais bem aproveitada por três jogadores: Índia, Rússia e China. E o motor fundamental nessa disputa em escala mundial é a capacidade de fornecer vacinas na quantidade e velocidade desejadas, diante das circunstâncias. A partir daí, talvez seja precipitado achar que esses países vão sonegar o imunizante para fazer política (leia).

Mais provável é os três concorrerem entre si para ver quem faz mais amigos mundo afora com a vacina.  E a janela de oportunidade está aberta também pela situação do presidente americano hoje empossado, Joe Biden. O principal desafio dele no curto prazo é vacinar em massa nos Estados Unidos, país mais afetado em números absolutos pelo SARS-Cov-2. Não é demais suspeitar que ele vai gastar pelo menos uns 20 a 25% deste mandato quebrando a cabeça em torno do assunto.
E segurando o que puder de vacinas para aplicar lá mesmo.
 
O mar, os rochedos e o marisco
Segundo a Reuters, a Índia começa amanhã exportar a vacina AstraZeneca/Oxford para países que contrataram o imunizante. Começando por Brasil e Marrocos. Na sequência, África do Sul e Arábia Saudita. É a boa notícia do dia (leia).

Todo esse episódio das vacinas para a Covid-19 deveria levantar um debate. Já faz algum tempo, os países depositam a segurança do abastecimento farmacêutico na conta da neutralidade da divisão técnica internacional do trabalho. Faz sentido economicamente. O problema é que a geopolítica não segue estritos critérios econômicos, ainda mais em tempos de fricção crescente entre as potências pela hegemonia planetária. Por isso, recordando o antigo adágio, vem o risco de na briga entre o mar e os rochedos quem acabar se dando mal é o marisco.

[outro que vai se dar mal - aliás, fracassar é seu destino - é o Joãozinho, o Doria.
Sem que o presidente Bolsonaro necessite mover uma palha que seja - aliás, o presidente é acusado pelos seus inimigos de ser omisso; se houve alguma omissão foi por imposição, não por desejo do presidente.
O Doria via ficar desmoralizado e conhecido como o homem que prometeu vacinar e não cumpriu o prometido.
 
Nada temos contra as vacinas  - reafirmamos que muitos dos nossos passaram de século e milênio, saudáveis, pela dádiva Divina das vacinas que recebemos há algumas dezenas de anos.  
Porém, todos reconhecem que a vacina do governador paulista é um pouco enrolada. Não duvidamos de sua segurança e eficácia, mas a maioria há de concordar que é melhor em 100 vacinados 78 ganharem imunidade do que em 100 apenas 50 ficarem imunes. 
 
Um  outro complicador é que a vacina da Fiocruz depende do IFA que está na China, mas na fábrica da AstraZeneca/Oxford, que tem o compromisso com o Brasil de enviar o IFA ou a vacina pronta.
Já o IFA da vacina chinesa/Butantan  está na China, só que em uma fábrica chinesa.
Foi brilhante o ilustre articulista quando lembra:
"Mais provável é os três concorrerem entre si para ver quem faz mais amigos mundo afora com a vacina."]

Não dá para cada país produzir tudo do que precisa, é lógico. Mas tampouco é razoável que países da dimensão do nosso sejam tão dependentes de importar coisas tão estratégicas. Infelizmente, é mais uma consequência de quase quatro décadas de desindustrialização. Ou, pelo menos, de falta de atenção à industrialização.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político