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quarta-feira, 16 de junho de 2021

DEUS ME PROTEJA DE MIM! (e ninguém me é mais perigoso).

Adriano Marreiros

 Eu pedi a Deus: não às agências de “checagem” e aos arautos da censura

“Deus me proteja de mim”, diz a canção de Chico César e do saudoso Dominguinhos, que também diz que “Caminho se conhece andando e então vez em quando é bom se perder”.  

Ouço isso enquanto vejo comentários sobre um tal documentário que tem buscado apavorar os usuários das redes sociais e que estaria fazendo que muitos estejam saindo delas.  Não duvido que estejam.  Muita gente acha que fulano é gente boa porque critica a corrupção.  Que ciclano é gente boa porque quer evitar que nos enganem com “fake” news.  A música prossegue pedindo mais a Deus: que me proteja “da maldade de gente boa” Muito sábia: como é que vou andar pelo caminho e me perder, procurando o que é a verdade, se tem “gente boa” que quer me impedir de andar, se tem “gente boa” que quer cassar o meu direito de me perder: mas, principalmente, porque tem “gente boa” que quer evitar a todo custo que eu tenha o direito de me achar?

Mas como assim? Que isso? Eles querem o seu bem, o BEM MAIOR pra Sociedade.  As agências de “checagem” e seus arautos (do establishment “progressista”) fazem isso por bondade, por amor a você  e contradiscursos de ódio”, que é como se chama qualquer coisa que não considerem “progressista”.  Na caixa de som, por bluetooth, a canção, por coincidência pede a Deus, desta vez, que me proteja também “da bondade de pessoa ruim”.

Sinceramente, não sou de criticar sem ver, mas não verei o tal documentário que pretende convencer que as redes trouxeram tudo de pior e que, por dedução, a imprensa tradicional e órgãos do Estado e do globalismo seriam os únicos confiáveis, os únicos que me iluminarão com a verdade...  Ele pode até pretender me fazer achar um caminho seguro pra trilhar, mas eu prefiro mesmo, bailando ao som da sanfona de Dominguinhos, me perder, porque “Perdido fica perguntando, vai só procurando e acha sem saber”...

Há dois anos, na mudança, achei um caderno de crônicas e poesias em que o então Cadete Marreiros, de 20 anos (1991), comentava que chamavam de opinião pública a opinião publicada.  
Naquele tempo, só publicava quem os editores dos jornais, os editores das revistas, os editores da Sociedade permitiam.  
As redes sociais permitiram que qualquer um publique sem as autorizações desse governo oculto, ou dessa panelinha, ou dos poderosos ou como você queira chamar.  
Permitiu que se publicasse muita besteira e muita sabedoria.  Muita coisa errada e muita coisa certa. Muita mentira e muita verdade.  
Mas a expressão mais exata é: permitiu publicar sem pedir licença ao poder, aos poderosos.  É o que se chama LIBERDADE DE EXPRESSÃO.  É o que se chama AUSÊNCIA DE CENSURA.  É o que se chama DEMOCRACIA DE VERDADE: pois, pela primeira vez na História, ao menos desde a Grécia antiga, o povo não precisou de intermediários, de “iluministas” nem de “editores” para expressar sua opinião, pela primeira vez podemos realmente falar em opinião pública, pela primeira vez podemos exercer a cidadania desde o tempo da Ágora dos gregos.
Ah, mas esse excesso de liberdade é perigoso?!  E as “fake” News?  Tolinho, o problema da Liberdade de expressão, ao longo de toda a História, nunca foi com as notícias falsas.  
Você realmente acha que agora é?  
Que o perigo está na liberdade de buscar a verdade? 
Que está na verdade, nos fatos reais? E a voz anasalada do Chico Cezar, justo nessa hora, lembra que “Perigo é se encontrar perdido, Deixar  sem ter sido, Não olhar, não ver”.

Muitos querem fazer você não olhar pra não ver o óbvio e, do jeito que as coisas andam, não sei como vai ser.  Recorro à Fé e reitero a Deus, Nosso senhor, e não aos burocratas e censores de plantão, o pedido do poeta:

Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa

Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim... 

 

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

 

 Conservadores e Liberais

 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A teoria do dano e a vacina - Nas entrelinhas

Bolsonaro não leva em conta que uma pessoa infectada, por se recusar a tomar a vacina, pode contaminar as outras, com consequências trágicas e irreparáveis

A ideia de que um presidente eleito por maioria pode tudo é profundamente autoritária e colide com os fundamentos do liberalismo moderno, apesar de agora ter virado moda em algumas democracias do Ocidente, inclusive a nossa. O filósofo e economista John Stuart Mill, um liberal utilitarista britânico que se inspirou nas ideias dos iluministas franceses, em meados do século XIX já classificava essa visão como uma “tirania da maioria”, expressão que causa certo espanto, porque muitos acham que maioria e democracia são exatamente a mesma coisa. Não são.

                               Correio Braziliense - Nas Entrelinhas
[a ilustração expressa com brilhantismo e sem deixar dúvidas, o que o mundo sabe, tem de concreto, sobra a vacina contra o coronavírus = INTERROGAÇÕES]

Sobre a Liberdade (Saraiva), um clássico da ciência política, é um libelo de Mill em defesa da liberdade de expressão e da autonomia dos cidadãos. Nascido em Londres, em 1806, destacou-se também pela defesa do civismo público e dos direitos das mulheres. Era um liberal progressista. Acabou preso por defender o direito ao aborto, a reforma agrária e a democratização da propriedade por meio de cooperativas, ideias social-liberais. Tentou definir um modelo para regular as ações entre os cidadãos, a sociedade e o Estado, que deveria ser capaz de preservar a autonomia individual e, ao mesmo tempo, evitar a “tirania da maioria”, a partir de um conceito simples: tudo é permitido ao indivíduo, desde que as suas ações não causem danos a terceiros.

Mill defendia a legitimidade da mobilização da opinião pública para convencer as pessoas a não tomarem certas atitudes, mas condenava a repressão direta a ações individuais que afetam apenas a própria vida. É possível desenhar a sua “teoria do dano”: todas as pessoas podem desenvolver de maneira autônoma o seu projeto de vida; a sociedade deve proteger a liberdade de indivíduos se desenvolverem de modo autônomo e, em troca, os seus membros não devem interferir nos direitos legais alheios; os danos eventualmente causados por um indivíduo a outras pessoas têm como consequência uma punição proporcional. Mill morreu em 1873, mas suas ideias sobre a liberdade individual continuam atuais.

Rebanho
No Brasil, a “teoria do dano” foi introduzida na nossa jurisprudência no Código Civil de 1916, que estabeleceu um nexo causal entre o dano e o fato que o produziu, e foi consagrada no artigo 403 do Código Civil de 2002. Segundo a teoria do dano direto e imediato, o Estado pode ser processado pelos prejuízos causados aos cidadãos. Por ironia, em tempos de pandemia e de “imunização de rebanho”, ou seja, da necessidade de vacinação em massa para combater o novo coronavírus, um caso analisado pelo jurista Robert Joseph Pothier, um dos autores do Código Civil francês de 1808, é estudado ainda hoje nas escolas de direito: a aquisição de uma vaca pestilenta, que contamina os bois do comprador, impedindo-o de cultivar suas terras. Ciente do vício oculto, o vendedor responde pelo perecimento da vaca como também pela morte do restante do rebanho do comprador.

No caso da vacina contra o coronavírus, que na sua opinião não deve ser obrigatória, o presidente Jair Bolsonaro não leva em conta o dano que pode ser causado voluntariamente por uma pessoa infectada, ao contaminar as outras, por se recusar a tomar a vacina. [ defendemos que todos devem se vacinar contra o coronavírus e contra qualquer doença, obviamente, havendo vacina = o que ainda não ocorre no caso do coronavírus.
A obrigatoriedade deve se limitar aos pais de menores de 18 anos - fácil de controlar a exemplo das outras vacinas já disponíveis.
Quanto a responsabilidade do não vacinado que contaminar outro nos parece discutível, já que o outro, contaminado, é também responsável, já que existindo vacina e alguém sendo infectado se deve a que não se vacinou.
A discussão do  presidente Bolsonaro com o governador paulista, o bolsodoria, se deve a que o presidente não conseguiu suportar a conduta não ética daquele  mandatário ao buscar vantagem política em cima de uma vacina que AINDA NÃO EXISTE.
O estilo do nosso presidente - bateu, levou - complica muito. É exatamente controlar o surgimento de oportunidade para que seja usado o bateu, levou,- acabando definitivamente com entrevistas de corredor,  no cercadinho do Alvorada e coisas do tipo - é que defendemos a presença efetiva de um porta-voz.]

O governo também pode ser responsabilizado por não utilizar uma vacina disponível.[?]  Apesar disso, cancelou o acordo feito entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantã, do governo de São Paulo, para a compra de 46 milhões de doses da vacina da Sinovac, que serão produzidas por aquela consagrada instituição científica, em parceria com o laboratório chinês, com previsão para estar pronta para imunização já em dezembro.

Anulou o protocolo assinado pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, com todos os governadores, para aquisição e aplicação da vacina, com o argumento absurdo de que o “povo brasileiro não será cobaia” da “vacina chinesa do João Doria”, o governador tucano de São Paulo. Alguém precisa avisar ao presidente que isso pode gerar uma enxurrada de pedidos de indenização por “dano direto e imediato” e caracterizar um “crime de responsabilidade”. [lembrando sempre que a causa das ações será o NÃO USO de um PRODUTO INEXISTENTE .]

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense