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domingo, 9 de agosto de 2020

Realidade que assusta - Cada morto importa

Merval Pereira


Dizer que o país está bem nas estatísticas, porque temos 471 mortes por milhão de habitantes, [homogenizando a referência = 47,1 por cem mil habitantes] enquanto países como a Espanha têm 610 [=61/100.000], ou Reino Unido tem 623,[=62,3/100.000],  é somente a demonstração de que com estatísticas é possível fazer qualquer coisa, torturando os números.
[uma vida importa, isto não se discute
Só que decretar luto oficial, fazer pronunciamento, emitir nota oficial em nada vai alterar a tragédia. 
Atualizando: 
- Sem ser motivo de regozijo, mas, em prol da notícia, apresentamos alguns dados sobre número de mortos:
"A taxa de óbitos no país (48 por 100 mil) é, no momento, menor que as registradas na Bélgica (86), Reino Unido (70), Peru (64), Espanha (61), Itália (58) ou Suécia (57). 
Na faixa brasileira estão o Chile (53), os EUA (49) e o México (40). 
Por razões aleatórias, algumas áreas de elevada urbanização, na Espanha, na Itália, na França, na Bélgica, na Suécia e nos EUA, sofreram extensivos contágios na etapa oculta da pandemia. Depois desse impactocom lockdown (Itália, Espanha, França) ou sem ele (Suécia)o gráfico de óbitos já estava traçado, ao menos em linhas gerais." (CONFIRA, CLICANDO AQUI)
ou
Fonte: Demétrio Magnolli - Folha de S.Paulo.]

O máximo de empatia que conseguiu exprimir foi uma frase abominável: “A gente lamenta todas as mortes, está chegando ao número 100 mil… mas vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”. Para quem tem a culpa maior por essa tragédia brasileira, dizer isso ao lado de um ministro interino da Saúde há mais de dois meses, enquanto a mortandade só fez crescer, é sinal de sociopatia, que, aliás, vem demonstrando em vários momentos.

Sua empatia é seletiva, foi ao Rio para o velório de um paraquedista que morreu, mas fez um passeio de jetski quando o número de mortos chegou a 10 mil. A disputa que o presidente Bolsonaro estimulou com os governadores foi uma das principais causas do desacerto do combate à Covid-19.  Essa briga de poder aconteceu porque Bolsonaro queria impor suas idéias, como o uso de cloroquina e a abertura das cidades para não prejudicar a economia. O mais inacreditável foi a briga de Bolsonaro com os ministros da Saúde, Luiz Mandetta e Nelson Teich, querendo impor suas vontades contra a orientação cientifica internacional.

A crise pessoal de Bolsonaro só acabou quando resolveu colocar o General da ativa Eduardo Pazuello na interinidade permanente à frente da Saúde. Como cultor da hierarquia e jejuno em medicina, o General aceitou tornar a cloroquina um medicamente oficial do SUS para combater a Covid-19, o que nenhum dos antecessores, médicos que tinham uma reputação a zelar, aceitou.  [será que o ministro Mandetta, ainda lembra a diferença entre úmero e fêmur?
Talvez tenha esquecido, só que antes de se tornar palanqueiro foi, ou é, médico ortopedista - a pergunta é pertinente à ortopedia, não confundir com útero.] O Brasil passou vários dias com uma média de mil mortes, já temos proporcionalmente mais mortos que os Estados Unidos, e não é improvável que em algum momento passemos a ser o país com mais mortes do mundo, em números absolutos. Se é que já não passamos. A estimativa de vários estudos é de que a subnotificação dos infectados por Covid-19, hoje perto de 3 milhões de pessoas, pode chegar a 14 vezes mais.

O número de mortes que hoje nos assombra pode ser 27% maior que os 100.240 oficiais, isso porque as mortes por síndrome respiratória aguda grave (Srag) não apenas aumentaram muito em relação à média, como muitos casos não tiveram o agente causador identificado, o que leva as autoridades médicas a crerem que teriam sido provocadas pela Covid-19.  [já que estamos falando de PODE SER, não se tratando de fake news, alertamos que o número total de mortes pode ser inferior = no cômputo oficial tem mortes causadas por pneumonia e outras doenças respiratórias, portanto,  não tendo como causa a covid-19.] 

Sem falar nas periferias e favelas das grandes cidades, e no Brasil profundo, que não têm atendimento médico devido. Um dos maiores problemas brasileiros no combate à Covid-19 foi a falta de testagem, sem o que não se pode ter uma idéia exata de como está a evolução da doença. Este é um problema que a maioria dos países europeus e os Estados Unidos não têm. 

Merval Pereira, colunista - O Globo


domingo, 14 de abril de 2019

Se execução é incidente, Bolsonaro é desrespeito


Decorridos cinco dias da execução do músico Evaldo Rosa dos Santos por uma patrulha do Exército, no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro balbuciou, finalmente, meia dúzia de palavras sobre o fato. "O Exército não matou ninguém, não", disse ele. "O Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de ser assassino, não." Para Bolsonaro, o que houve foi "um incidente". Ele lamentou que esse "incidente" tenha levado à morte de um "cidadão trabalhador, honesto". No mais, disse que "está sendo apurada a responsabilidade."
[Pergunta que não quer calar: o que a imprensa quer que Bolsonaro, a Presidência da República e o próprio Brasil façam?

- hoje completa uma semana do lamentável incidente que vitimou um cidadão carioca e a imprensa continua implacável cobrando um pronunciamento do governo.
Um ministro já se manifestou sobre o incidente, assumiu o compromisso de que o ocorrido será investigado - aliás, as investigações começaram no dia seguinte ao evento (ignoramos as realizadas no dia dos fatos, visto que foram realizadas por autoridade policial incompetente, sem jurisdição sobre o fato -  Polícia Civil do Rio;).

O que a imprensa quer mais:
- o presidente da República não tem entre suas atribuições, nem tem sentido ter, a de se manifestar sobre ocorrências policiais havidas nas ruas de qualquer cidade brasileira;
- não se trata de ocorrência que enseje a decretação de luto oficial.
Caso caiba indenização,  será a Justiça quem vai decidir.

O acontecido - lamentável por ter envolvido pessoa inocente e de bem - está sendo investigada pelas autoridades competentes, tudo na forma da lei, e com certeza a verdade será apurada e na sua apuração serão consideradas todas as variáveis possíveis, disponíveis, entre elas ser ÁREA DE SEGURANÇA, velocidade desenvolvida pelo veículo atingido, será também considerado o fato de que horas antes veículo com as mesmas características havia sido roubado, o que colocou a patrulha em estado de tensão, etc, etc.

Não é matéria para o presidente da República se manifestar, expedir Nota Oficial ou algo parecido.

Uma coisa podemos antecipar: a vítima era pessoa de bem, cidadão direito e trabalhador, caso não fosse a 'anistia internacional' e uma meia dúzia de ONGs dos 'direitos humanos' estariam fazendo escarcéu.
Sendo a vítima pessoa de bem, policial, trabalhador, eles silenciam.]


O que é um incidente? Os dicionários trazem vários significados. Por exemplo: Incidente é "um fato inconveniente ou desagradável". Incidente é algo "que desempenha um papel secundário, incidental." Quer dizer: Para Bolsonaro, a execução de Evaldo Rosa é uma inconveniência secundária. [fato: não foi acidente, portante, não cabe classificar o infausto acontecimento como acidente;
não houve dolo - não cabe classificar como assassinato.
Pode parecer uma tentativa de apequenar o ocorrido, mas, é a única palavra (das dez que conheço, que melhor define o ocorrido.] Essa é a posição do presidente da República, comandante em chefe das Forças Armadas. Não fica bem discutir com um presidente sobre tiros, tema no qual ele é especialista. Mas sugiro que façamos um teste. Como ficariam as coisas se Evaldo, em vez de negro e músico, fosse branco e senador, deputado federal ou vereador carioca. Suponha que Evaldo, em vez de morar nos fundões do Rio, vivesse na Barra da Imagine que, numa tarde de domingo, esse nosso personagem hipotético decidisse levar a família a um chá de bebê. 

Suponha que uma patrulha do Exército disparasse mais de 80 tiros de fuzil contra o carro desse Evaldo imaginário. Imagine que ele morresse. Agora suponha o que aconteceria na República se o sobrenome do nosso Evaldo fictício, em vez de Rosa, fosse, digamos, Bolsonaro. Pronto. Agora você pode avaliar o que deveria ter dito o capitão e como se sentem os familiares do músico com o que foi declarado. Não se trata de culpar o Exército. Trata-se de respeitar o morto. Incidente não é sinônimo de execução.


Decorridos cinco dias da execução do músico Evaldo Rosa dos Santos por uma patrulha do Exército, no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro balbuciou, finalmente, meia dúzia de palavras sobre o fato. "O Exército não matou ninguém, não", disse ele. "O Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de ser assassino, não." Para Bolsonaro, o que houve foi "um incidente". Ele lamentou que esse "incidente" tenha levado à morte de um "cidadão trabalhador, honesto". No mais, disse que "está sendo apurada a responsabilidade."... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/04/13/se-execucao-e-incidente-bolsonaro-e-desrespeito/?cmpid=copiaecola... - Veja mais em https://josiasd... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/04/13/se-execucao-e-incidente-bolsonaro-e-desrespeito/?cmpid=copiaecola
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