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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

PCC-Hezbollah: conexão investigada há 23 anos tem treinamento armado e financiamento de terrorismo


PCC e Hezbollah trocam experiências com armas, treinamentos militares e na capitalização para financiamento de ações criminosos
PCC e Hezbollah trocam experiências com armas, treinamentos militares e na capitalização para financiamento de ações criminosos| Foto: Divulgação/Polícia Federal

As conexões entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Hezbollah são investigadas no Brasil desde o ano 2000, mas só se tornaram públicas na última década após uma operação da Polícia Federal.

As investigações apontam que a maior facção criminosa da América Latina, o PCC, se aliou ao grupo terrorista libanês, que apoia o Hamas na guerra contra Israel, para operações na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, em Foz do Iguaçu (PR).

Além disso, a parceria entre PCC e Hezbollah também teria braços de atuação nos portos brasileiros para o transporte ilegal de drogas, armas e munições exportadas e importadas pelo crime organizado no Brasil.

A Polícia Federal brasileira tem evidências da presença de membros do Hezbollah no país, conforme relatórios de segurança emitidos nos últimos anos. 
A reportagem da Gazeta do Povo apurou que a parceria tem quase duas décadas com envio de armas pelos terroristas para o PCC, além de treinamento de faccionados com técnicas de guerrilha. 
Em contrapartida, o Primeiro Comando da Capital auxilia o grupo extremista na capitalização e investimentos para financiamento das ações do Hezbollah, inclusive, por meio do tráfico internacional de drogas. Após o ataque terrorista do Hamas com mortes e sequestros de civis em Israel, no início deste mês, o Hezbollah voltou às manchetes internacionais com elevada tensão na fronteira da Faixa de Gaza, ao Sul do Estado de Israel, onde se concentra a contraofensiva do Exército israelense contra o Hamas e as negociações para a entrada de ajuda humanitária aos palestinos.

Mas o Norte também preocupa Israel por causa da fronteira com o Líbano, onde o Hezbollah atua e é considerado um grupo ainda mais agressivo, com alto poderio armamentista e preparado para abrir para segunda frente de batalha em apoio ao Hamas. Se isso acontecer, as forças israelenses seriam divididas e o novo cenário poderia potenciar o risco de outros países entrarem na guerra, como o Irã, inimigo histórico do Estado de Israel.

Procurado o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse apenas que o “tema deveria ser tratado com a Polícia Federal”. A PF, no entanto, respondeu que estava analisando a demanda, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Como Hezbollah  e PCC se encontraram?

Em 2008, surgiu o primeiro alerta da relação criminosa depois que uma operação da PF identificou ligações e parcerias. Na época, as investigações apontavam que a aproximação teria ocorrido dois anos antes, ainda em 2006, focada na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina e não por acaso.

A região concentra uma das maiores comunidades vindas do Oriente Médio,
conciliada à facilidade logística proporcionada pelas fronteiras, por onde o PCC transporta drogas, armas, munições e amplia suas ações para outros segmentos ilícitos, como o contrabando bilionário de cigarros.

Há uma década, o alerta foi tema de debate no Congresso Nacional com informações de que os “serviços de inteligência brasileiros reuniam uma série de indícios de que traficantes se associaram a criminosos de origem libanesa, ligados ao Hezbollah, organização com atuação política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita, sediada no Líbano” e que “relatórios da Polícia Federal apontavam que esses grupos teriam se ligado ao PCC”.

À época, o terceiro vice-presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, o então deputado João Campos (PSDB-GO) alertava que pouco vinha sendo feito pelo governo e instituições no sentido de enfrentamento aos núcleos terroristas em território nacional, usando como exemplo a ligação entre PCC e o Hezbollah. Só em 2016, o Brasil aprovou a Lei 13.260 que passou a disciplinar o terrorismo e reformulou o conceito de organização terrorista.

Na prática, os operadores da lei têm avaliado que ela foi feita para não funcionar diante da grande preocupação em não criminalizar movimentos "populares", com ênfase neste caso ao próprio Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). 

É preciso enfrentamento com rigor, defende promotor que investiga o PCC
Quem enfrenta legalmente o crime organizado sente na pele a ausência de medidas mais severas no combate às facções. 
O promotor do Gaeco de São Paulo, Lincoln Gakiya, reforça que são necessários mecanismos para que o Estado brasileiro e as instituições consigam atuar, livremente, no combate contra as organizações.
 
Segundo ele, os Estados Unidos já consideram o PCC uma organização criminosa de risco ao país como tem classificado o próprio Hezbollah e cartéis mexicanos.  
O PCC tem se fixado como um dos maiores traficantes de cocaína do mundo. 
O grupo despacha, ilegalmente, pelos portos brasileiros toneladas da droga, com destaque à Europa.

Além do grupo extremista libanês, a PF tem alertado para a parceria da facção brasileira com máfias de diversos cantos do planeta, com retorno financeiro expressivo e maior influência.

Juliet Manfrin, colunista - Gazeta do Povo - Paraná



segunda-feira, 26 de abril de 2021

O flerte com o abismo - Revista Oeste

Silvio Navarro

Congresso rejeita contenção de gastos, atrasa reformas e compromete o futuro do país 

Em 1993, quando os maiores escândalos de corrupção no país ainda não carregavam aumentativos gramaticaiscomo Mensalão, Petrolão e Covidão —, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) jogou luz em um dos principais dutos de desvio de recursos públicos no Congresso Nacional: a elaboração do Orçamento da União. Batizada de “CPI dos Anões” (uma referência à estatura política dos parlamentares investigados, algo similar ao que hoje se apelidou de “baixo clero”), a comissão emparedou 37 políticos — 18 pagaram efetivamente o preço e, é claro, Geddel Vieira Lima já aparecia na lista suja. O grupo estava enredado num roubo de R$ 100 milhões, numa época em que cifras assim ainda assustavam o pagador de impostos. No centro da história estava um instrumento legislativo que o brasileiro até hoje não entende bem como funciona: a tal emenda parlamentar.
É claro que aquele não foi o último dos escândalos no uso dessa modalidade de destinação de verbas do Congresso depois vieram os sanguessugas e máfias de transportes, empreiteiras e afins e só foi descoberto porque um assessor era investigado por ganhar 56 vezes na loteria num único ano e tramava assassinar a mulher
Algemado, ele abriu o bico e entregou políticos. Mas onde esses casos conversam com os dias de hoje? Nas emendas. 
E, neste ano, foi necessária enorme ginástica política para que o Orçamento fosse equacionado em meio aos efeitos da pandemia na economia. Em suma, os deputados não quiseram abrir mão do quinhão de verbas públicas para seus redutos eleitorais mesmo diante de um cenário de aperto fiscal e em detrimento de sacrificar o andamento de reformas estruturais represadas e de uma agenda de privatizações prometida em campanha pelo presidente Jair Bolsonaro, [prometida em campanha pelo presidente Bolsonaro, e boicotada pelo Congresso Nacional e o próprio Poder Judiciário] mas que tampouco avançou porque não é da vontade dos donos das canetas.
Inicialmente, é preciso repisar que temas como reformas estruturais Previdência, tributária, administrativa — não interessam para pelo menos dois terços dos congressistas. O motivo? Cortar benefícios e regalias não assegura um único voto, pelo contrário, dada a impopularidade de mexer com o bolso dos cidadãos pendurados no caixa estatal. Vale frisar que não foi a primeira vez que os congressistas contribuíram para desidratar ajustes e, em consequência, aumentar gastos
 
No governo Michel Temer, a minirreforma trabalhista aprovada foi completamente descaracterizada e produziu poucos efeitos positivos, assim como ocorreu com o alardeado pacote anticrime apresentado como principal cartão de visita do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, elaborado a partir da proposta de “10 medidas anticorrupção” do Ministério Público. Na reformulação previdenciária, a estimativa de redução de gastos era de R$ 1 trilhão, mas em uma década não alcançará efetivamente R$ 700 bilhões, conforme projeções; a reforma administrativa fica mais tímida a cada passo na tramitação da Câmara e a tributária… A tributária mal existe ainda no papel.

Já as emendas vão na contramão — e tanto faz se estão no espectro federal, estadual ou municipal — porque são o caminho para conseguir recursos que financiam pequenas obras, como reformas de praças, quadras poliesportivas, asfaltamento, e a área da saúde metade do valor total obrigatoriamente deve ter esse destino —, como a compra de ambulâncias ou equipamentos para as Santas Casas, por exemplo. Atualmente, cada deputado federal e cada senador tem direito, individualmente, a R$ 16,2 milhões, divididos em 25 propostas. Além disso, ainda existem as emendas das bancadas estaduais, formuladas em conjunto para atender os governadores, algo em torno de R$ 6,7 bilhões fatiados para as 27 unidades da Federação.

Orçamento irresponsável
A peça orçamentária de 2021, aliás, é um exemplo de irresponsabilidade com as finanças públicas e de como os currais eleitorais são a prioridade e não a desidratação da máquina estatal inchada, segundo economistas ouvidos por Oeste. Foi necessária enorme pressão de articuladores políticos para que o relator, o senador Márcio Bittar (MDB-AC), aceitasse cancelar R$ 10 bilhões em emendas carimbadas porque faltava dinheiro do Tesouro para arcar com despesas obrigatórias — leia-se gastos com seguro-desemprego e com a própria Previdência. Um rombo nessas áreas, aliás, seria munição para o tão desejado, pela oposição no Congresso e na mídia, pedido de impeachment de Bolsonaro prosperar.“Entre a responsabilidade fiscal e as emendas desnecessárias dos parlamentares, o Congresso preferiu as emendas. Como sempre, eles olham para o próprio umbigo e deixam a população em segundo plano. Quando não se tem responsabilidade fiscal, o resultado é mais inflação, juros e recessão. É o caminho mais rápido para repetir o desastre argentino”, avalia o economista Luís Artur Nogueira.

Também economista, Alan Ghani afirma que o Orçamento deixa a situação fiscal brasileira numa espécie de “fase emergencial”, para usar uma das expressões utilizadas por governantes à exaustão na pandemia. “A situação já era crítica, mas agora, com a possiblidade de os gastos em 2021 superarem em mais de R$ 100 bilhões a versão original do Orçamento, o quadro é assustador”, diz. Desde 2014, [o atual Congresso foi eleito em 2018] estamos com déficit primário, e o atual Congresso não entendeu a gravidade do problema. A elevação do gasto não só traz custos diretos para a contabilidade pública, como eleva o custo da dívida (elevação de juros). Como sempre, o povo acaba pagando a conta da irresponsabilidade dos políticos.”

Rogério Xavier, da SPX, também alerta para o estouro do teto. “Qual é a mensagem que é passada, quando vai aquele Orçamento para o Congresso? Reduzir despesas obrigatórias para caber no Orçamento. É inacreditável que um negócio sério vai daquela maneira. Mas está lá. Isso é igual a um jogo de pôquer: você me deixou ver três cartas e escondeu o resto — mas eu já vi grande parte de seu jogo. E o que você me mostrou é que não está comprometido em ajustar o fiscal. Pelo contrário: você está comprometido em piorar o fiscal, em estourar o teto, em criar novas despesas burlando o teto de gastos.”2021.

O palanque da CPI
Se é fato que a economia brasileira resistiu até agora aos 13 meses de crise da covid, graças à paciência do ministro da Economia, Paulo Guedes, em acalmar o mercado e ao fôlego que o agronegócio dá ao país, os políticos não ajudam. Pense numa reunião entre os senadores Renan Calheiros (alvo de seis inquéritos no Supremo Tribunal Federal, mais de 40 investigações e cinco processos de cassação em 2007), Jader Barbalho (ele mesmo, do caso Sudam e do Banpará), Omar Aziz (ex-governador investigado do Amazonas) e o petista Humberto Costa (citado em listas de propina da Lava Jato [citado na sanguessuga,codinome 'drácula' = imagine um ministro da Saúde, envolvido em uma operação com sangue e usando o codinome 'drácula'.!!!]  ). Junte a eles o midiático Randolfe Rodrigues, especialista em judicializar o processo legislativo, [nunca aprovou um projeto de lei em defesa do estado que o elege; sempre consegue aprovar investigações estúpidas, infundadas, falsas e que a nada levam, exceto desviar o foco = nos lembra aquele promotor Pedro Francisco e outros colegas - alguns foragidos, outros no ostracismo.]  - velam e o tucano Tasso Jereissati, que parte da mídia o fez acreditar que pode ser um candidato viável à Presidência. Essa é a cúpula da CPI da Covid, a ser instalada na próxima semana em Brasília.
[presidente Bolsonaro, por favor não desperdice seu tempo, nem o dos seus assessores, 'levantando' supostas perguntas que poderão ser apresentadas na CPI.
Espere que sejam apresentadas, analisadas e se, e quando, se tornarem peças de acusação, sejam remetidas aos acusados, que poderão então se defender.
Estratégia militar e as de defesa não devem ser discutidas em 'lives', em corredores e outros vãos assemelhados.
Eles, os inimigos do Brasil - faz algum temo que não repetimos o rol:  arautos do pessimismo, adeptos do 'quanto pior, melhor', os que estão prontos a defender posições contrárias ao Brasil, em troco de trinta moedas, inimigos do presidente da República e coisas do tipo - é que tem a obrigação de apresentar as denúncias, acusações, prová-las e obter condenações.
No afã de aparecer se enroscarão nos fios dos holofotes que buscam.]
Nesta semana, a hashtag #RenanSuspeito frequentou os assuntos mais comentados do Twitter por uma razão básica:
 para além do histórico de frequentador do noticiário de corrupção, ele é favoritíssimo ao cargo de relator da CPI. Porém, um detalhe salta aos olhos, já que o alagoano é pai do governador Renan Filho (MDB-AL), que pode ser investigado. O mesmo se aplica a Jader, pai do governador Helder Barbalho (MDB-PA), cujo Estado, aliás, foi palco de roubo de respiradores.

Irritado, Renan Calheiros pediu ao Twitter o banimento de 3.000 contas e disparou: “[sic] Até a próxima sexta vou me dedicar a estudar temas da CPI e fazer uma profilaxia digital. Para evitar a infecção do radicalismo, o contágio dos extremistas e o negaciovírus, farei um isolamento sanitário, podendo voltar a qualquer momento se houver necessidade”.

“É preciso um equilíbrio nesta CPI. Existe um flagrante conflito de interesses nesse comando da comissão. Tudo indica que ela ‘dará em pizza’ para muitos e ‘em fígado’ para outros”, afirma o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), um dos indicados para a comissão, que pretende “bater chapa” pela presidência do colegiado. “Tem gente que até já fez o julgamento, com declarações públicas em jornais, o que é isso que estamos vivendo? Será que essa CPI é para valer ou é mero palanque político? Queremos uma comissão técnica, não pirotécnica.”

O senador Ciro Nogueira (PP-PI), aliado do Palácio do Planalto, avalia que o tiro pode sair pela culatra. “Em Brasília, há uma máxima de que uma CPI sabe-se como inicia, mas não como termina. A opinião pública está preocupada com desvios de recursos públicos e não se o presidente comprou cloroquina. O primeiro foco é atingir o presidente Bolsonaro, mas, como contra o governo não há acusação de desvio de recursos, quando chegarem os documentos do Tribunal de Contas da União e da Polícia Federal mostrando que o dinheiro público não foi usado para a saúde ou que houve fraudes, o foco vai mudar”, diz. [e até agora só algumas estapafúrdias deduções levantadas pelos caça-fantasmas  da Casa Civil é que tropeçaram em algum risco de apressada e infundada fake news de corrupção.

Querem plantar a acusação de que o presidente Bolsonaro não cumpriu a tabela de auditorias do TCU - o TCU tem a competência legal para marcar audiências. Caso não ocorram por ausência da parte intimada, cabe àquele Tribunal analisar as razões e decidir se a ausência foi dolosa.]

Em meio a esse tiroteio à brasileira, pelo menos dois nomes se esconderam debaixo das mesas: os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ambos catapultados às cadeiras com a ajuda do governo. As esquivas, contudo, têm motivos distintos: à sombra de denúncias recorrentes, Lira quer a maior distância possível de qualquer coisa que respingue em investigação e seu compromisso com Bolsonaro é simplesmente não ceder às pressões para pautar pedidos de impeachment. 
Já Pacheco, segundo políticos em linha direta com ele, deslumbrou-se desde que alguns colunistas do mainstream o compararam a Tancredo Neves e sugeriram que seu nome passe a integrar as pesquisas de intenção de votos para a Presidência da República em breve.

É bem provável que a CPI não dê em nada. Assim como ocorreu com quase todas as outras. Também é possível que a agenda de projetos que realmente interessam ao país não avance, como tradicionalmente ocorre com a proximidade do calendário eleitoral. Mas o Congresso Nacional, uma vez mais, dá sinais de que suas reais prioridades terminam na porta dos gabinetes. Para o brasileiro pagador de impostos, o abismo continua sempre logo ali.

Silvio Navarro, colunista - revista Oeste


terça-feira, 23 de junho de 2020

Mortes em vão - Nas entrelinhas


“Bolsonaro limitará o auxílio aos “invisíveis” a apenas mais R$ 600, parcelados em três vezes; sem recursos, como 36 milhões poderão permanecer em casa?”

[um lembrete se impõe: se o Poder Judiciário não tivesse impedido o uso dos R$ 3.000.000.000, 00 dos Fundos Eleitoral e Partidário, tais recursos seriam suficientes para pagar 5.000.000 de auxílio emergencial.

Só que o Alcolumbre recorreu à Justiça, que proibiu o uso daquela grana para combater a coronavírus. SAIBA MAIS.]  

Para o sanitarista Luiz Antônio Santini, pesquisador da Fiocruz e ex-diretor do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a metáfora da guerra não é a mais adequada para abordar os desafios da saúde. Segundo ele, uma pandemia não representa um ataque inesperado de um agente inimigo da humanidade, como a tese da guerra sugere.
“O processo de mutação dos vírus é uma atividade constante na natureza e o que faz com que esse vírus mutante alcance a população, sem proteção imunológica, são, além das mudanças na biologia do vírus, mudanças ambientais, no modo de vida das populações humanas, nas condições econômicas e sociais. Muito além, portanto, de um ataque insidioso provocado por um agente do mal a ser eliminado.” 
Por essa razão, cabe à ciência “responder com vacinas, medicamentos e o que mais estiver ao seu alcance ou que ainda venha a desenvolver de conhecimentos e tecnologias”.

Enquanto isso não ocorre, a melhor alternativa continua sendo o isolamento social, o rastreamento dos casos e o tratamento adequado aos infectados, o que pressupõe restrições de atividades econômicas e circulação de pessoas, testes em massa e um serviço médico operacional e capacitado. É que o conceito de guerra impõe decisões estratégicas nas quais as prioridades não são necessariamente as vidas humanas, ou seja, o tratamento daqueles que precisam de assistência médica, mas outros objetivos, no caso, o retorno das atividades econômicas e/ou os interesses eleitorais, como estamos assistindo. A morte é apenas o efeito colateral. O fato de já não se restringir aos grupos de risco é mera consequência. A maior vulnerabilidade da população de baixa renda nas favelas, periferias, grotões e aldeias indígenas, reflexo de nossas desigualdades, é considerada uma contingência contra qual nada se pode fazer, quando deveria ser exatamente o contrário.

Esse é o raciocínio. O presidente Bolsonaro, por exemplo, deixou o Palácio da Alvorada, no fim de semana, para velar o corpo de um soldado cujo paraquedas não abriu, no Rio de Janeiro, gesto louvável, mas é incapaz de decretar luto oficial por atingirmos a espantosa marca de mais de 50 mil mortos e quase 1,1 milhão de casos confirmados, em respeito às suas famílias. Muito menos homenagear os médicos e demais profissionais de saúde que morreram na linha de frente das UTIs e àqueles que se arriscam todos dias, nos hospitais e unidades de pronto atendimento (UPAs), muitos dos quais depois de terem contraído o vírus e se recuperado. No gesto de Bolsonaro havia mais cálculo político do que humanismo.

Rebanho
Recentemente, o professor de direito Lucas de Melo Prado, no site justificando.com, citou uma passagem do livro Homo Deus, de Yuval Noah Harari, sobre a síndrome “nossos rapazes não morreram em vão”, comum durante as guerras. Referia-se à participação da Itália na Primeira Guerra Mundial, com objetivo de recuperar os territórios de Trento e Trieste, em poder do Império Austro-Húngaro. O Exército austro-húngaro encastelou-se ao longo do Rio Isonzo e resistiu a todos os ataques. Na primeira batalha, morreram 15 mil italianos. Na segunda, 40 mil. Na terceira, 60 mil. E assim prosseguiu a guerra por dois anos. Na 12ª Batalha, em Caporeto, os austríacos passaram à ofensiva, só parando às portas de Veneza. Morreram 700 mil soldados italianos, mais de um milhão foram feridos. Inebriados pelo patriotismo, em busca das glórias romanas, “por Trento e por Trieste”, políticos e generais mandaram seus jovens para a morte. A analogia faz sentido.


Nos 40 dias à frente do Ministério da Saúde, o general de divisão Eduardo Pazuello opera uma política de “imunização de rebanho” não-declarada. Militarizou a pasta, para a qual levou duas dezenas de militares — os da ativa, em desvio de função —, a maioria neófitos em política sanitária. Quando assumiu, em 15 de maio, o Brasil contabilizava 14,8 mil mortos e 218 mil casos confirmados. [o aumento é exponencial, como bem lembra a matéria no último parágrafo.] Esses números quase quintuplicaram no período. Não será surpresa se duplicarmos o número de mortos até o fim de agosto, com o relaxamento da política de isolamento social, como queria Bolsonaro. [a verdade sempre se impõe: o presidente Bolsonaro não interferiu nas medidas de  distanciamento e isolamento sociais. 
Decisão do Supremo, ainda no inicio de abril, determinou que tais medidas são de competência dos governadores e prefeitos - que usaram e abusaram do direito de fazer quarentenas meia boca, chegando o prefeito da cidade de São Paulo anunciar como primeira medida, usando os novos poderes, foi adquirir mais de 30.000 urnas funerárias e promover engarrafamentos nas ruas da capital paulista.]

Na ativa, Pazuello cumpre ordens. Sua prioridade é uma devassa na pasta da Saúde, que subsidie investigações e denúncias contra governadores e prefeitos que adquiriram equipamentos médicos com preços acima das cotações de mercado. [qualquer ladrão de recursos públicos deve ser punido com rigor e em situações de emergência sanitária, pandemia, deve ser tratada com penas adequadas a lei marcial.] Como de fato houve casos de superfaturamento e desvio de recursos por parte das máfias que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS), a pandemia já virou pauta policial. Quem pagará com a vida, porém, são as vítimas da covid-19, cujo número aumenta exponencialmente, em razão da flexibilização precipitada do isolamento social. Bolsonaro já anunciou que limitará o auxílio aos chamados “invisíveis” — 36 milhões de trabalhadores informais que ficaram sem nenhuma renda a apenas mais R$ 600, parcelados em três vezes; sem recursos, como poderão permanecer em casa?

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A missão do Ministério da Segurança Pública




Mesmo com suspeições em torno da nova pasta, devido ao governo Temer, ela pode servir para a tão reivindicada integração no combate ao crime 

Cercado de suspeições por se originar do governo Michel Temer e seu grupo no MDB, o Ministério Extraordinário da Segurança Pública está criado, entregue a Raul Jungmann, que saiu da Defesa tendo acumulado quilometragem no relacionamento com militares, essenciais no combate ao crime no estágio a que chegou no país. Espera-se que faça o que é imprescindível ser feito.

Há, neste ato, o aspecto positivo de ser o primeiro passo efetivo da União para, enfim, formalizar sua participação, junto com os demais entes federativos, no enfrentamento constante da séria crise de segurança pública que atinge o país, e há tempos. Desde a redemocratização, institucionalizada pela Constituição de 1988, nenhum presidente da República quis assumir o ônus de levar para o terceiro andar do Planalto o problema da segurança pública, embora fosse necessário.

No primeiro governo Lula, um então poderoso ministro esvaziou pertinente programa feito para integrar União, estados e municípios no combate ao crime, com o argumento meramente político-eleitoral de que era um erro permitir que cadáveres fossem depositados na porta do gabinete presidencial.  E continuou como sempre foi, fundamentado no conceito constitucional — na varejista Carta brasileira, há de tudo — de que segurança pública é com os estados. E  a externa, com a União, uma visão esquemática a que o crime organizado já não obedece faz tempo: está em todos os estados e também no exterior.
Fatos acontecidos nos últimos dias e meses ilustram bem os desafios que o novo ministério — robustecido pelas polícias Federal e Rodoviária e pela Força Nacional — tem de enfrentar.

São sugestivas as evidências de que há uma guerra interna no PCC, organização surgida em presídios de São Paulo, com execuções feitas no Ceará, até com o uso de helicóptero, e na portaria de hotel de luxo em São Paulo, no estilo cinematográfico de filmes sobre máfias. Outro fuzilamento, no trânsito paulistano, no sábado de carnaval, feito por sicários, pode também ter sido parte deste acerto de contas entre bandidos.

Mais uma demonstração da longa mão do crime, que se nacionalizou há tempos. 

 Longa o suficiente para também atuar fora do país, como evidenciou um assassinato de brasileiro no Paraguai, numa emboscada tecnicamente bem planejada, uma escaramuça entre o PCC e o carioca Comando Vermelho.  Não há mesmo como esperar que polícias dos estados tenham êxito contra quadrilhas organizadas e que atuam com esta amplitude. Com todas as dúvidas e críticas ao novo ministério, resta aproveitar para ser feita a óbvia e necessária integração entre as forças de segurança de toda a Federação, como prometeu Jungmann ao tomar posse ontem. A criminalidade avançou bastante à frente do Estado.

Editorial - O Globo