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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Câncer: novos tratamentos reduzem taxas de morte a patamares inéditos - VEJA

Adriana Dias Lopes

Não se trata de uma única bala de prata, mas de uma sucessão de passos: a doença já não é uma condenação à morte

ANA FURTADO – Câncer de mama (descoberto em 2018) Reprodução/Instagram

Clandestino, temido, a respeito do qual só se falava em sussurros, o câncer foi sempre inominável. “Mente-se a doentes de câncer não apenas porque a doença é, ou considera-se que seja, uma sentença de morte, mas porque é percebida como obscena no sentido original dessa palavra: agourenta, abominável, repugnante”, escreveu a ensaísta americana Susan Sontag (1933-2004), que conviveu com um tumor maligno de mama por mais de dez anos. Em seu monumental livro O Imperador de Todos os Males, o biólogo e oncologista americano Siddhartha Mukherjee conta a história de uma senhora dos anos 1950, Fanny Rosenow, sobrevivente também de um câncer de mama que ligou para o The New York Times a fim de publicar o anúncio de um grupo de apoio a mulheres que lidavam com o mal. Surpresa, Fanny foi transferida para o editor da coluna social do jornal. “Desculpe, mas o Times não publica a palavra mama nem a palavra câncer em suas páginas. Talvez a senhora possa dizer que haverá uma reunião sobre doenças do tórax.” Atônita, ofendida, ela pôs o fone no gancho, sem nem mesmo dizer adeus.

É um episódio de setenta anos atrás, logo ali, portanto — mas, até muito recentemente, a imprensa francesa dizia que uma pessoa havia morrido de “longa enfermidade”, em vez de dar nome aos bois. Em 2010, o artista plástico paulistano Gustavo Rosa, portador de mieloma, um tumor na medula óssea raro e incurável, deu uma entrevista a VEJA para falar sobre sua saúde sem citar uma única vez a palavra câncer — ele o chamava de “c-a”. Rosa morreria três anos depois.  Para domarem a mazela, ao menos retoricamente, médicos e pacientes acostumaram-se a usar metáforas bélicas para se referir ao tratamento do câncer, como “lutar”, “atacar” e “combater”. Uma recente pesquisa canadense da Queen’s University mostrou, contudo, que o uso e abuso de termos militares faz a terapia parecer mais difícil, a ponto de deixar as pessoas fatalistas. Há avanços colossais — dizer “tenho câncer” não é o tabu de antes —, porém um olhar histórico revela que as mudanças na linguagem têm andado muito mais lentamente do que os saltos científicos da oncologia, o que é extraordinário do ponto de vista dos resultados práticos.

Se há receio de emitir as seis letras tão temidas, c-â-n-c-e-r, nos laboratórios, universidades e hospitais existe uma revolução em movimento afeita a apagar, de uma vez por todas, os estigmas. Não se trata de uma única bala de prata, mas de uma sucessão de passos. Em outras palavras, com todo o cuidado que a afirmação exige: o câncer já não é uma condenação à morte. Hoje, cerca de 25% das pessoas que recebem a notícia de que estão com tumor maligno morrem dele. Há apenas dez anos, o índice era de 40% (veja o quadro). De acordo com levantamento da Sociedade Americana de Câncer, a redução na taxa de mortalidade se acelerou ainda mais em anos recentes: 2,2% somente em 2017, quase o dobro em relação às taxas anteriores. Em alguns cânceres mais agressivos, como o de pulmão, a diminuição no índice chegou a espantosos 4,4%. Diz o médico Paulo Hoff, presidente do Grupo Oncologia D’Or: “Conseguimos, finalmente, passar o momento da virada”.

Como se deu essa virada, agora celebrada? Dos anos 1950 para cá, os tratamentos estiveram ancorados em três pilares a cirurgia para extração de tumores, a quimioterapia e a radioterapia. Além, é claro, dos cuidados com o sedentarismo exagerado e a má alimentação. Essas estratégias continuam indispensáveis. Os quimioterápicos, no entanto, acabam também por atacar as células saudáveis, provocando efeitos colaterais como enjoo, dor de barriga e queda de cabelo. O início da reviravolta aconteceu com o surgimento das chamadas “terapias-alvo”, pioneiras nas condutas mais direcionadas e, portanto, com menos efeitos adversos e ação mais eficaz. Deu-se a transformação decisiva com a chegada da imunoterapia na oncologia, em 2009, quando a lógica de atacar as células mudou completamente. Em vez de bloquear o crescimento do tumor, como fazem todos os outros remédios, a imunoterapia estimula a ação do sistema de defesa, uma rica orquestra composta de células e substâncias que ajudam o corpo a lidar com vírus, bactérias e outros invasores para matar o câncer. “A técnica mudou definitivamente o perfil até mesmo de tumores graves, que matavam em menos de um ano, como o de pulmão e o melanoma”, diz Raphael Brandão, chefe da oncologia dos hospitais Samaritano e Paulistano e diretor executivo do UnitedHealth Group.

E, quando se imaginava que as surpresas brotariam mais calmamente, duas novíssimas frentes de trabalho se impuseram. A primeira delas é a chamada terapia agnóstica (do grego ágnostos, algo como “sem conhecimento”). No universo médico, trata-se de uma família de remédios que atacam as células doentes de olho no defeito genético, e não no órgão que originou o câncer (daí a ideia de agnosticismo). “Isso só foi possível pela descoberta de que tumores completamente diferentes podem ter a mesma alteração genética”, diz Fernando Maluf, diretor do Centro de Oncologia da Beneficência Portuguesa e membro do comitê gestor do Hospital Albert Einstein. A mutação de uma proteína chamada RAS está presente nos tumores de intestino e pâncreas. A ALK, nos pulmões e nos linfomas.

A segunda boa-nova acaba de ser publicada no New England Journal of Medicine e está em fase final de aprovação pela FDA, o órgão de regulamentação dos Estados Unidos. Pela primeira vez foi utilizada a combinação de três remédios ao mesmo tempo, prontos a agir em uma mutação específica. O trio encorafenibe, binimetinibe e cetuximabe ataca simultaneamente mutações associadas ao gene BRAF, encontrado no câncer de intestino e no melanoma. Os pacientes da pesquisa sofriam de câncer intestinal em um estágio que já não respondia mais a outros tratamentos. Não havia opções de sobrevivência, portanto. A terapia aumentou o tempo de vida médio para nove meses — até então eram cinco meses. Diz o oncologista Bernardo Garicochea, do Grupo Oncoclínicas: “Faz vinte anos que não havia uma notícia tão promissora para esse tipo de tumor”. Na frieza das estatísticas médicas, ganhar menos de um ano de vida pode parecer muito pouco. Para quem vive a realidade de um câncer grave, poucos dias podem ser suficientes para resolver questões essenciais da vida — e, atrelada à miudeza dos anseios humanos, a medicina não para de correr.

Há renovadas esperanças, como revelam as histórias pessoais relatadas ao longo desta reportagem, e, apesar do novo comportamento de quem sabe que pode ser curado, sim, o câncer ainda é a segunda causa de mortes em todo o mundo — atrás apenas dos problemas cardiovasculares. Ele mata 9,6 milhões de pessoas todos os anos, das quais 215 000 no Brasil. Mas as avenidas de cura se abrem exponencialmente numa indústria, a oncológica, que investe, em média, 1 bilhão de reais para fabricar um único medicamento (de cada dez em desenvolvimento, apenas dois chegam ao mercado). De mãos dadas com as estatísticas, os tratamentos inovadores, aprovados e bem-sucedidos, autorizariam, hoje, um novo olhar de Susan Sontag, porque em muitos casos o câncer deixou de ser agourento e obsceno. 
ANA MARIA BRAGA, câncer de pele (1991), virilha e reto (2001) e pulmão (2015) Reprodução/Instagram
 
A ARTE DA PERSISTÊNCIA
A apresentadora já teve quatro cânceres. “Comemoro cada evolução da medicina em busca da cura do câncer, e desejo que esse avanço possa ser cada vez mais acessível a todos. Sou uma pessoa privilegiada, pude contar com o que havia de mais moderno na medicina”, disse a VEJA.
 

UM SENTIDO PARA A VIDA - REYNALDO GIANECCHINI, linfoma
O ator, que virou referência de fortaleza pela forma de lidar com os tratamentos do câncer, a quimioterapia e o transplante de medula óssea, falou em entrevista na ocasião: “Nunca ninguém para e pensa que um dia pode ter essa doença. Tive um câncer raro. Fiquei assustado. Mas acredito que isso foi uma dádiva para mim. Acho que existem coisas reservadas para a gente que fogem da nossa explicação, mas que talvez lá na frente a gente vá entender perfeitamente e agradecer muito”.
 
Com reportagem de Eduardo F. Filho
 
Publicado em VEJA edição nº 2671 de 29 de janeiro de 2020
 
 

sábado, 19 de outubro de 2019

A cura do câncer - Novos métodos de tratamento levam esperança para milhares de pacientes - IstoÉ

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Pacientes aguardam até quatro anos por um exame simples de oncologia

Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia discute assuntos como a percepção da sociedade sobre o câncer e as dificuldades do SUS

[presidente Bolsonaro: bem mais importante que dar moleza a caminhoneiro é resolver o problema exposto nesta matéria;

a biópsia e o passo inicial e custa bem menos do que ficar refém de caminhoneiro - SAÚDE SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR.]

As dificuldades em concluir exames de biópsia estiveram entre os temas mais discutidos no primeiro dia do IX Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia, do Instituto Oncoguia. O evento reuniu especialistas de diversas áreas para discutir assuntos como a percepção da sociedade sobre o câncer, o acesso justo à oncologia, as dificuldades do Sistema Único de Saúde (SUS) com as biópsias e o resultado parcial de uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer.

O presidente da Sociedade Brasileira de Patologia, Clovis Klock, comentou que há uma grande desistência de residentes na área de patologia do sistema de saúde devido às más condições de trabalho e à incapacidade de concluir um grande número de exames em tecidos de pacientes com suspeitas de câncer.  Segundo Klock, em vários estados, há pacientes que aguardam até quatro anos por um exame simples. Quem tem de realizar esses testes não conta com equipamentos adequados, ou recebe os materiais mal-acondicionados, em frascos e imersos em formol em dosagens inadequadas. Segundo ele, a tecnologia usada no sistema é a mesma da década de 1980, e muitos pacientes morrem à espera de um diagnóstico.

Auditor da CGU, Rodrigo Eloy apresentou dados da auditoria feita pelo órgão na Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer. Os dois principais problemas do setor são estruturais, pois existem municípios sem tratamento oncológico num raio de 400km; e financeiros, pois o Ministério da Saúde transfere verbas a hospitais por expectativa de atendimentos. Com isso, não consegue nem ampliar a rede nem otimizar os serviços que já são prestados. Os auditores concluíram que o melhor seria o governo federal transferir a verba por atendimento.

O levantamento constatou também a falta de padronização na compra de medicamentos, e a CGU teve de barrar licitações para impedir gastos abusivos. “Outro problema é a judicialização dos tratamentos, que aumenta ainda mais os custos. A área de oncologia avança muito rapidamente, mas o SUS tem dificuldades em incorporar essas novas tecnologias”, disse. “Para ter acesso a um tratamento melhor, o paciente aciona a Justiça. Com isso, o Estado paga mais caro do que se tivesse feito a compra de um novo medicamento, por exemplo.”

 
Percepção
O Instituto Oncoguia apresentou, também, uma pesquisa do Ibope que mostra o entendimento e a relação do brasileiro com o câncer. A pesquisa foi realizada em fevereiro de 2019, com 2.002 pessoas entre 16 e 55 anos, sendo 48% mulheres e 52%, homens. Constatou-se que 8% da população ainda não relaciona o tabagismo à doença, por exemplo. Além disso, 62% ainda não relacionam o mal à obesidade e ao sobrepeso, e 1/3 acredita que a doença é resultado de traumas psicológicos.


Por sua vez, 60% da população tem uma perspectiva positiva sobre a doença: 43% acham que o câncer pode ser curado se for detectado no início, e 56% ainda não acreditam que é possível um diagnóstico rápido da enfermidade. Um total de 73% não acha possível iniciar o tratamento em até 60 dias no Brasil. O maior motivo é a fila de espera nos hospitais.  De acordo com a pesquisa, 38% têm uma perspectiva negativa sobre o câncer: desses, 16% veem a doença como uma sentença de morte, 15% pensam nela como uma fonte de sofrimento e dor e 7% temem até usar a palavra. Para a diretora executiva do Oncoguia, Luciana Holtz, a perspectiva da população pode mudar para melhor se o Estado promover políticas robustas para combater a doença.


Correio Braziliense