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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Bem-vindo a Cancerland - Oeste

Dagomir Marquezi

Foto: Montagem com imagem Shutterstock
Foto: Montagem com imagem Shutterstock 

Bem-vindo a Cancerland. Esta cidade imaginária é mais do que um território de pessoas doentes. É um estado de espírito. O termo foi citado pelo oncologista Siddhartha Mukherjee, formado pela Columbia University e com meio século de experiência clínica.

Num artigo recente para o Wall Street Journal, Mukherjee conta a história de uma paciente que descobriu um pequeno tumor no seio. Passou pelo procedimento básico: cirurgia, radio e quimioterapia. Teve alta. Estava fisicamente curada. Mas nunca mais foi a mesma.

Em vez de celebrar a vitória, a paciente escarafunchou a história da família e conseguiu descobrir uma tia distante que havia morrido de câncer no seio aos 70 anos. Passou a ser assombrada por uma remota conexão genética. Pesquisou a internet em busca de possíveis casos de “metástases ocultas” em pacientes que, como ela, estavam aparentemente curadas. E pediu ao médico que fosse submetida, junto com a filha, à “mais intensiva forma de vigilância de câncer”.

Uma coisa é ter a doença. Outra é passar cada um de seus dias paralisado pelo pavor de ficar doente. Quando se chega a esse ponto, a pessoa mais saudável do mundo já é cidadã de Cancerland. Como define o doutor Mukherjee, vive “se sentindo sob cerco do futuro”.  Nós tivemos agora mesmo um exemplo desse fenômeno na forma da covid-19. O medo natural de uma doença nova e perigosa e o pavor injetado com objetivos políticos sórdidos fizeram com que pessoas se trancassem em casa com medo de respirar, comer e conviver com outros seres humanos. Algumas estão trancadas até hoje. Se foi assim com a covid, algo ainda mais grave pode acontecer com o câncer.

Detalhes perturbadores antes invisíveis
A busca — necessária — da detecção precoce de tumores está avançando rapidamente. Profissionais da medicina pesquisam uma série de técnicas e procedimentos que poderão estar disponíveis em pouco tempo. A era do exame anual de rotina pode estar no fim. Uma dessas técnicas é a vigilância genética. O estudo de nossos antepassados pode quantificar (através da inteligência artificial) a predisposição que um indivíduo herdou para desenvolver um quadro cancerígeno. Até aí, tudo bem. Mas como vai viver uma pessoa que se impressiona facilmente se descobrir, por exemplo, que tem 68% de chance de contrair um tumor maligno em algum ponto de sua existência?  
Pode ser que nunca pegue nem um resfriadinho. 
Mas o medo já terá se transformado numa doença.

Outra novidade é a chamada “vigilância fisiológica”. Já existem estudos para identificar sinais suspeitos no nosso sangue através da “biópsia líquida”. (Homens já fazem isso com o exame de PSA — que pode alertar para um possível câncer na próstata.) Aqueles altamente ansiosos terão a chance de fazer um exame desses por dia, especialmente se tiverem algum tipo de disposição genética para o câncer.

O problema vai ser passar do limite do bom senso e entrar num universo de neurose

O doutor Siddhartha Mukherjee lembra que mulheres podem carregar sinais de câncer no ovário através do sangue. Mas isso não quer dizer que o câncer vai se instalar no seu organismo. Com a biópsia líquida poderemos chegar a um ponto em que descobriremos detalhes perturbadores antes invisíveis circulando pelos nossos corpos. Os mais assustados optarão por tratamentos invasivos e remédios pesados para curar uma doença que não possuem. E se arriscarão a ficar doentes de verdade.

Todos sabem — ou deveriam saber — que a detecção precoce de um câncer pode ser a diferença entre um tratamento bem-sucedido e um óbito. Quanto antes for detectado o tumor, melhor. E ele será apanhado cada vez mais cedo. O problema com essa nova fase vai ser passar do limite do bom senso e entrar num universo de neurose e ansiedade.

Passaportes unidirecionais
O cientista alemão Sebastian Thrun, citado na reportagem do WSJ, imagina um mundo em que os mais inocentes objetos de uso diário se tornarão “armas de vigilância diagnóstica uma banheira que examina seu corpo para detectar massas anormais que podem exigir investigação; um espelho que pode verificar se há sinais pré-cancerosos em seu corpo; um programa de computador que (com o seu consentimento) vasculharia sua página do Instagram ou Facebook enquanto você dorme à noite, avaliando mudanças nas suas fotos que pudessem dar sinais da doença”.

Essa ultravigilância levaria a mais detecções precoces? Sem dúvida. Mas transformaria em potencialmente “cancerosas” pessoas que não são. E isso aumentaria os custos médicos a um ponto que o tratamento de outras doenças seria negligenciado. Acabamos de ver isso acontecer durante a pandemia. “Um mundo em que o câncer fosse normalizado como uma condição crônica administrável seria uma coisa maravilhosa”, escreveu o historiador e médico Steven Shapin, em 2010. “Mas um mundo de fator de risco em que todos nos consideramos pré-cancerosos não daria certo. Isso pode diminuir a incidência de algumas formas de malignidade e, ao mesmo tempo, aumentar enormemente o número de gente saudável sob tratamento médico. Seria uma estranha vitória, em que o preço a ser pago para impedir a propagação do câncer pelo corpo é sua propagação descontrolada pela cultura.”

O doutor Siddhartha Mukherjee fala do perigo que significa ter uma passagem (mental) só de ida para Cancerland. “A romancista e crítica Susan Sontag escreveu certa vez sobre um passaporte entre o reino dos saudáveis e o reino dos enfermos, imaginando uma passagem bidirecional: homens e mulheres podem adoecer, mas alguns retornam ao bem-estar. Ao inventar a nova cultura de vigilância do câncer, temo que fechamos as fronteiras dos reinos. Temo que agora vamos possuir passaportes unilaterais para o reino da doença. O que encontraremos lá depende de nós”.

O salão dos mil brasileiros
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, do Ministério da Saúde, o Brasil terá uma média de 625 mil novos casos da doença por ano até 2022. Isso corresponde a cerca de 0,3% da população brasileira. Em outras palavras: imagine um salão lotado com mil brasileiros. Naquele salão, três pessoas deverão contrair algum tipo de câncer. Desses três doentes, um vai morrer.

Seria ideal que nenhuma pessoa tivesse uma doença tão grave, e que ninguém morresse por causa dela. Um único caso pode ser devastador para quem adoece e para as pessoas ao seu redor. (Disso eu entendo: minha mãe foi aquela única vítima no salão imaginário com mil brasileiros). Esses números mostram que o fantasma é terrível. Mas numericamente não tão grande quanto pode parecer por causa de sua fama sinistra.

A cura para o câncer através da prevenção ou do tratamento está chegando a cada dia. Boa parte dos que ficaram doentes hoje vive uma vida próxima à que levavam antes do diagnóstico. Precisam de vigilância constante, exames regulares, tratamentos. Mas a “sentença de morte” é cada vez menos aplicada. É a chance para que a gente lide melhor, mentalmente, com uma doença que muitos ainda nem ousam dizer o nome.

Nossa Cancerland deveria ser um território para doentes reais, cada vez em menor número e cada dia com melhores condições de atendimento e tratamento. E vida que segue para resto de nós. Atentos aos sinais do próprio corpo. Mas sem o pânico irracional que já nos causou tantos problemas com a recente pandemia.

Leia também “O fim da segunda onda”

Dagomir Marquezi. colunista - Revista Oeste


sábado, 9 de outubro de 2021

Câncer: novos medicamentos reduzem necessidade de quimioterapia

Entre os tumores mais beneficiados com a nova abordagem estão os de mama e o de pulmão

 A chegada de medicamentos capazes de atacar apenas as células tumorais promove uma guinada no jeito de tratar o câncer e reduz a necessidade de uso da quimioterapia


 MUDANÇA - Novos ares: após químio, Fátima usa remédios menos agressivos - Egberto Nogueira/Ímãfotogaleria/VEJA

O semblante tranquilo, o sorriso no rosto, o cabelo mais longo, nada faz supor que a aposentada paulista Fátima Aparecida Guerra, de 57 anos, ex-secretária, enfrente um câncer de mama há treze anos. Mais difícil ainda seria imaginar que, desde julho de 2019, ela trate metástases desse mesmo tumor nos pulmões, nos ossos e na região próxima à traqueia. Em 2008, quando a doença foi diagnosticada e o tumor extraído por meio de cirurgia, Fátima era outra mulher. Submetida à quimioterapia, a cada sessão seguiam-se oito dias na cama de intenso desconforto. “Não tinha forças para me levantar”, ela lembra. “Além das náuseas, do cansaço, sentia dores horríveis.” Dez anos depois, quando soube que células tumorais haviam se alojado em outras partes de seu corpo, o filme voltou a sua cabeça. Que angústia pensar naquilo tudo de novo. Felizmente, a história não se repetiu. Em pouco mais de dois anos de tratamento, os tumores diminuíram e Fátima segue forte, sem tanto sofrimento quanto da primeira vez.

Fátima é o retrato feliz de uma guinada espetacular na forma de tratar o câncer, que pouco a pouco tira de cena a quimioterapia para dar lugar a medicações bem menos agressivas e muito mais eficazes. É uma revolução que acontece gradualmente, como em geral são as transformações produzidas pela ciência, e que tem beneficiado milhares de pacientes em todo o mundo. Nessa segunda rodada de tratamento, Fátima, por exemplo, não precisou de quimioterápicos porque está sendo medicada com uma droga que atua de forma seletiva sobre as células doentes, sem danificar tanto tecidos saudáveis. Por isso a redução dos tumores — o ataque é preciso — e a menor ocorrência de efeitos colaterais sobre o organismo da ex-secretária. “Eles nem se comparam ao que acontecia quando eu fazia químio”, diz. De fato, enquanto os remédios modernos têm atuação bem definida, a quimioterapia atinge o corpo todo, matando o câncer mas destruindo também células normais.

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Não surpreende, portanto, que só na semana passada tenham sido aprovados no Brasil dois medicamentos contra ambos. O primeiro é o amivantamabe, da farmacêutica Janssen, indicado contra um tipo raro de câncer de pulmão. O segundo é o trastuzumabe deruxtecan, da Daiichi Sankyo e AstraZeneca, feito contra um tipo específico de câncer de mama. Ele faz parte da classe conhecida como químio inteligente. Isso porque a droga leva até a célula tumoral uma concentração elevada de quimioterápico. Faz isso graças a um anticorpo desenhado para chegar às células desejadas, como um trem com destino certo. Os resultados do remédio foram tão expressivos que a Food and Drug Administration, a agência americana responsável pela aprovação de remédios, decidiu pela liberação depois de analisar as conclusões da primeira fase dos estudos clínicos com a droga. Isso só acontece quando os benefícios são tão espetaculares que não deixam dúvida sobre a pertinência em liberar a medicação. “A altíssima eficácia do remédio pode revolucionar o tratamento do tumor para o qual foi criado”, diz o oncologista Marcelo Cruz, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. A estratégia evoca a busca do alemão Paul Ehrlich, prêmio Nobel de Medicina em 1908, por aquilo que ele chamava de “bala mágica”: uma substância tóxica que matasse apenas tecidos doentes.

Quando drogas assim começaram a chegar, não eram consideradas a primeira escolha de tratamento. Isso também está mudando, como disse a VEJA o oncologista Robert Vonderheide, diretor do Penn Medicine’s Abramson Cancer Center, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, reputado centro de pesquisa e tratamento. “Para muitos pacientes com câncer de pulmão, a quimioterapia não é mais a primeira opção”, diz ele. “Preferimos ir com as terapias-alvo ou com a imunoterapia, abordagens que têm ajudado a revolucionar o cuidado com nossos pacientes nos últimos anos.” A imunoterapia é um tratamento biológico que potencializa a atuação do sistema de defesa do corpo contra os tumores. No câncer de mama, a quimioterapia também é menos usada. Um estudo da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, retratou bem o fenômeno. Depois de analisar as respostas de 504 oncologistas e de 5 080 pacientes com determinados tipos da doença em estágios iniciais, o time de Stanford concluiu que o declínio no uso da quimioterapia entre as mulheres foi de 34%, em 2013, para 22%, em 2015. Entre os especialistas, a indicação caiu de 44% para 31% no mesmo período. Um dos desafios dos médicos é saber quando ela é cabível. O que ajuda a esclarecer dúvidas são painéis genéticos que apontam quem se beneficiará da terapia. Uma avaliação desse tipo evitou que 70% de mulheres com câncer de mama em estágio inicial recebessem quimioterapia sem necessidade no Hospital Pérola Bying­ton, em São Paulo.

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Publicado em VEJA, edição nº 2759, de 13 de outubro de 2021

Saúde - VEJA - MATÉRIA COMPLETA


terça-feira, 29 de junho de 2021

Reflequissões sobre uma çepeí - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

A seguir, destacamos os melhores momentos dessa revolução (uma antologia muito trabalhosa, devido à fartura)

Como todos os que acompanham o noticiário já sabem, Renan Calheiros é o novo herói nacional da empatia.[ou será EMPATITE? = termo que reúne duas qualidades que quando procuradas no  senador alagoano produzem grave e irreversível inflamação na moral, nos bons costumes, na honestidade, etc.-, devido as mesmas, ética + empatia, inexistirem no político em comento.] As manchetes dominantes não deixam dúvidas: tudo o que se refere à ética humanitária contra os homens maus que querem que todo mundo morra tem Renan Calheiros no meio (do lado do bem). É uma revolução.
Os senadores Randolfe Rodrigues (em pé), Omar Aziz e Renan Calheiros, durante sessão da CPI da Covid
Os senadores Randolfe Rodrigues (em pé), Omar Aziz e Renan Calheiros, durante sessão da CPI da Covid | Foto: Agência Senado
  1. Oncologista é esculachada ao vivo porque cartola amazonense não gosta da voz dela (“muito calma”);
  2. Classe médica assiste calada e contemplativa às agressões de várzea perpetradas contra essa oncologista pelo doutor Omar, dublê de dirigente de futebol e inquisidor;
  3. Presidente do Conselho Federal de Medicina repudia violência contra médica e é chamado pela elite intelectual de negacionista;
  4. Médica do Ministério da Saúde que trabalha no atendimento a vítimas da covid é tratada como delinquente;
  5. Médica cantora faz recital com o repertório predileto de Renan Calheiros e é tratada como musa;
  6. A classe médica não vê nada disso porque está num sono profundo que nem os agudos de Randolfe, o senador soprano, [chamado pelo presidente Bolsonaro de 'pessoa alegre'; como desgraça pouca é bobagem, o senador Randolfe pretende formar dupla com outro castrato = senador petista Humberto Costa, vulgo 'drácula'.]  interrompem;
  7. Empresário é perseguido e ameaçado como criminoso pelos heróis da çepeí por causa de nada. Ninguém acha estranho. São os novos códigos da revolução;
  8. Wilson Witzel, o rei do covidão, brilha na çepeí e é tratado como um lorde;
  9. Renan Calheiros abandona sessão que discute tratamento precoce que está sendo estudado em Oxford, mas na çepeí é proibido;
  10. Imprensa isenta e missionária abandona também a sessão e vai “cobrir” a deserção de Calheiros;
  11. Randolfe grita que está proibido falar da Suécia — então está mesmo, porque ninguém vai correr o risco de ser fuzilado pelos seus agudos renitentes;
  12. O senador soprano segue firme esgrimindo o seu parlamentarismo de altas frequências e pedindo a prisão de todo mundo — o que também comove a imprensa democrática e revolucionária;
  13. Depois o divo do Amapá volta ao Leblon para os sofás macios da resistência cenográfica, onde assistirá com seus amigos ricos e generosos, juntos e quentinhos, aos telejornais que transformam a sua irrelevância em bravura;
  14. Depois de dar aos governadores os poderes para a condução do enfrentamento da pandemia e mandar instalar a çepeí para investigar a condução do enfrentamento da pandemia o STF proíbe a convocação de governadores pela çepeí para explicar a condução do enfrentamento da pandemia;
  15. O STF se junta a Renan Calheiros, Wilson Witzel, a médica cantora e grande elenco como os guardiões da verdade, da ética e da beleza;
  16. E o show não para. O presidente do Instituto Butantan também brilha com seu repertório de sonetos científicos capazes de amolecer homens de ferro como Renan Calheiros e Omar Aziz. Mas um talento assim não surge do dia para a noite. Foi muito tempo ensaiando duro na dupla Dimas & Doria e seus panfletos voadores sobre a eficácia parnasiana do loquidau;
  17. Pazuello é transplantado pelos hipnóticos magos da çepeí para o centro do escândalo de saúde amazonense protagonizado pelo grupo político do presidente da çepeí que não está nem aí;
  18. Mandetta dá show e leva Calheiros, Omar e cia. a um deleite comparável ao proporcionado pelo recital contra o terraplanismo da médica-cantora. A grande sensação ficou para o novo visual mascarado de Mandetta — mais conhecido por brilhar sem máscara em aglomeração dentro do Ministério e em mesa de sinuca;
  19. Deputado com respeitável currículo de armações vira justiceiro com denúncia de negociata que empolga geral principalmente por não tocar no covidão estadual;
  20. A CPI do Banestado terminou como uma central de delinquência e abuso de poder. Quase 20 anos depois o país parece viver em Brasília uma sessão nostalgia. Parabéns aos envolvidos, vocês já têm o seu lugar na história.

Leia também “A médica e o monstro”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 7 de junho de 2021

A copa e o capo - Relator Calheiros perde mais uma - VOZES

[Renan Calheiros descobre que sua liderança pró motim no chamada seleção brasileira é < ZERO. 
Pernas de pau do timinho do tite, descobrem que não são insubstituíveis,amarelam  e resolvem jogar a Copa América -  é essencial que Tite seja demitido e Renato Gaúcho assuma.]

Guilherme Fiuza

Senador falou até em convocar o presidente da CBF para depor na CPI da Covid caso a Copa América seja confirmada no Brasil.

Renan Calheiros disse que a Copa América é o campeonato da morte. Alerta importante. Como já notou qualquer um que acompanha o noticiário nacional, hoje a principal referência científica no país é Renan Calheiros. Os brasileiros estavam perdidos em meio à pandemia até aparecer o oráculo das Alagoas para dar-lhes o norte (e o sul, o leste e o oeste). O que ele por ventura não saiba (o que é raríssimo) aquela médica-cantora que fez um sensacional dueto com ele na CPI explica em uma frase. Isso é o bom da ciência moderna: não tem muita conversa, é tudo pá-pum.

No que viu o farol iluminista de Renan Calheiros apontado para as trevas da Copa América, Tite já se posicionou. Como se sabe, o [ainda] técnico da seleção brasileira é simpatizante de Lula, que por sua vez é unha e carne com Renan – ou seja, tudo dentro da ciência. O técnico foi logo dizendo – na véspera do jogo do Brasil nas eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo – que havia um ruído e os jogadores estavam na dúvida se jogariam o outro torneio. Como se vê, existem Américas e Américas.

Os reis da empatia (alguns pronunciam empatite) logo se eriçaram e se levantaram contra o campeonato da morte. O país tem jogos internacionais de três competições futebolísticas, todas sem público e com rigoroso protocolo sanitário para atletas e delegações, conforme previsto para a Copa América, mas se o Renan Calheiros alertou não dá para titubear. Fora Copa América.  (O Brasil é sede de um torneio internacional de vôlei, mas se o Renan não disse nada até aqui, tá limpo. Podem jogar, narrar, assistir e vibrar numa boa. Segurança é tudo.)

Tem também o campeonato de ônibus lotados, vagões apinhados, estações aglomeradas e todo o torneio diário de muvuca nos transportes públicos promovidos por governadores e prefeitos de todo o país, mas disso o pessoal da empatite ainda não falou. Como a médica-cantora também não disse nada, depreende-se que está tudo bem. Ufa. Não é fácil seguir a ciência ao pé da letra.

Sempre tem os mais desconfiados que ficam lendo e relendo a Bula de Calheiros para si mesmos, envenenados por aquela velha mania de querer uma segunda opinião. Sem problemas. É só perguntar ao Omar Aziz. Ele é cercado por gente que entende tudo de saúde, segundo a Polícia Federal. Ainda não está satisfeito? Quer uma terceira opinião? Não se aflija. Pergunte ao Randolfe. Mas se ainda assim você continuar perguntando de onde vem a autoridade desse trio de ouro em matéria de medicina, não restarão dúvidas: você é um ignorante que não lê jornal nem vê televisão. Está tudo lá, e nunca uma agência de checagem desmentiu o bando – ops, a junta médica. [o ilustre colunista esqueceu de sugerir que o vampiro, o conde Drácula, - vulgo do senador petista Humberto Costa que, quando ministro da Saúde do multicondenado Lula, se envolveu com a máfia do furto de banco de sangue, conforme apurado pela operação sanguessuga - fosse consultado. Ele tem amplos conhecimentos científicos com mestrado em 'banco de sangue' .
Por coincidência, o Drácula é também um que tem a voz de castrato = a daquele outro senador que sempre perde.
Aliás, essa CPI Covidão tem senadores especialistas em várias áreas - além do relator Calheiros, especialista em tudo, tem um delegado de policia (quando o general Pazzuelo estava depondo na Covidão foi enquadrado pelo senador delegado.... que representa o estado do Espirito Santo, mas o nome não recordamos;)
tem ainda o senador Jader Barbalho, especialista prático no uso de algemas e outros que aos poucos serão revelados.]

E bota junta nisso. Eles quase juntaram a doutora Nise Iamagushi, faltou pouco para a delicada oncologista levar um safanão do grande Omar Aziz, incomodado justamente com tanta delicadeza. Ele foi muito claro: não estava suportando a voz suave da médica de 62 anos. Está certo, o companheiro Omar. Suavidade irrita mesmo. E ela, de forma acintosa, continuou falando suavemente. Deu sorte que o Omar e o Renan não mandaram algemar. Em defesa da vida e da ética eles são capazes de tudo.

Veja Também:Notícia boa é notícia ruim

A complexidade da ciência é assim mesmo. Às vezes você chega a ter a sensação de estar num campo de várzea assistindo a um clássico do crime, daqueles em que a qualquer momento o zagueiro pode mandar chumbo no atacante, mas são só as ilusões do empirismo. Não se faz omelete sem quebrar os ovos e não se faz ciência sem quebrar uns ossos. E não se esqueça: perigosa é a Copa América.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 18 de abril de 2020

Falta um plano para o fim do isolamento – Editorial - O Globo

A volta do país à normalidade, desejo de todos, não pode ser feita sem fundamentação técnica

Uma dedução lógica indica que, se Bolsonaro demitiu Luiz Henrique Mandetta por discordar do isolamento social, Nelson Teich, o substituto, foi nomeado para executar o desejo presidencial. A realidade, no entanto, pode abalar este raciocínio no que ele tem de inflexível. À margem deste conflito, em que política se mistura com saúde pública, a vida real segue sua marcha junto com o avanço da epidemia do coronavírus, responsável até ontem pela morte de mais de 2 mil pessoas no país, marca alcançada no dia da posse de Teich. O Exército, sugestivamente, pede informações a prefeituras fluminenses sobre a capacidade de seus cemitérios.

Menos tenso que na véspera ao anunciar a saída de Mandetta e sua troca pelo oncologista Nelson Teich, o presidente, na posse do novo ministro, explicitou sua preocupação prioritária com os estragos provocados pelo isolamento na economia. Sem circulação de pessoas, o comércio é estrangulado. E abrir o comércio é um risco que o presidente disse que correrá. Voltou a falar da sua preocupação com o desemprego, afirmando que deseja evitar que o custo da terapia, o isolamento, seja maior que o prejuízo da doença.


Bolsonaro sugeriu a Teich fazer uma média aritmética simples: somá-lo com Mandetta e dividir por dois. Numa epidemia em que a rapidez da disseminação do vírus supera a capacidade de os sistemas de saúde no mundo, inclusive o desenvolvido, salvarem a vida de todos os infectados, uma simples média não será capaz de estabelecer uma estratégia para o combate à Covid-19. Neste sentido, a proposta do novo ministro de criar e alimentar bancos de dados para ajudar nas tomadas de decisão é correta. Testar, também, ninguém discute. Mas é preciso saber como, com a escassez de kits de testagem. [a testagem tem sido exitosa como meio de combate ao contágio e, consequentemente, à expansão da Covid-19 - a Coreia do Sul venceu a pandemia, tendo a testagem como arma principal, com índice de letalidade inferior a 0,5%.
O risco é que um testado negativo, pode por uma, digamos, falta de sorte, presente em todas as pandemias, ser contaminado instantes depois ter fornecido o material para testagem.]

Fortalecer as bases técnicas para a definição do que fazer é sempre o melhor caminho. 
A suspensão [também a manutenção] do isolamento não pode depender apenas do desejo de autoridades políticas.
 Nos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump também se choca com governadores pelo mesmo motivo — queria apressar a suspensão de quarentenas e distanciamento social —, seu governo acaba de apresentar proposta de um plano com três fases para o retorno do país à vida normal. Cada uma delas com metas objetivas que precisam ser alcançadas para que haja a liberalização. Não é mesmo assunto a ser resolvido numa penada.



Trump deseja que o relaxamento de todo este estado de emergência comece em 1º de maio, mas isso dependerá dos governadores. Cada um deles conhece melhor que a Casa Branca a situação do seu estado. Como no Brasil, também para desgosto de Bolsonaro. Ele lamenta não poder intervir em São Paulo e Rio, por exemplo, para suspender medidas de isolamento. Recente julgamento do Supremo consolidou o poder de estados e municípios sobre a gestão de medidas antiepidemia. [Registre-se que após a decisão citada, tomada pelo Pleno do STF, o ministro Dias Toffoli, em decisão monocrática(íntegra da decisão)desautorizou uma decisão municipal - Prefeitura de Santo André - , e deixou claro no despacho a necessidade de haver uma coordenação, sobre a responsabilidade do Ministério da Saúde, órgão integrante do Poder Executivo federal.]  Evita que decisões importantes fiquem nas mãos de uma única pessoa e ajuda o novo ministro nas suas preocupações em tomar decisões bem fundamentadas.

Editorial -  O Globo



quinta-feira, 16 de abril de 2020

Bolsonaro chama Mandetta; Nelson Teich será nomeado ministro - VEJA - Radar

O presidente bateu o martelo e escolheu o oncologista para comandar a pasta da Saúde em meio à pandemia

O presidente acabou de chamar Luiz Henrique Mandetta, atual titular da pasta, para a conversa derradeira.
Mais cedo, o Radar mostrou que os principais conselheiros de Bolsonaro haviam formado uma espécie de bloco de apoio ao oncologista.

[vale lembrar que circulam rumores de que o Congresso Nacional pode boicotar o governo Bolsonaro - sendo público e notório que boicotar o governo do Presidente Bolsonaro, é o que mais as duas casas do Congresso fazem - devido o Presidente ao demitir Mandetta, 'desobedecer' recomendação do deputado Maia e do senador Alcolumbre.
Caso os rumores se tornem realidade, cabe ao Presidente da República, JAIR BOLSONARO, convocar cadeia nacional de Rádio e TV e denunciar ao povo brasileiro o que estiver acontecendo.
Sem alarde, sem uso das redes sociais e sem permitir que os filhos falem em seu lugar.]

Radar - Revista VEJA


segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Câncer: novos tratamentos reduzem taxas de morte a patamares inéditos - VEJA

Adriana Dias Lopes

Não se trata de uma única bala de prata, mas de uma sucessão de passos: a doença já não é uma condenação à morte

ANA FURTADO – Câncer de mama (descoberto em 2018) Reprodução/Instagram

Clandestino, temido, a respeito do qual só se falava em sussurros, o câncer foi sempre inominável. “Mente-se a doentes de câncer não apenas porque a doença é, ou considera-se que seja, uma sentença de morte, mas porque é percebida como obscena no sentido original dessa palavra: agourenta, abominável, repugnante”, escreveu a ensaísta americana Susan Sontag (1933-2004), que conviveu com um tumor maligno de mama por mais de dez anos. Em seu monumental livro O Imperador de Todos os Males, o biólogo e oncologista americano Siddhartha Mukherjee conta a história de uma senhora dos anos 1950, Fanny Rosenow, sobrevivente também de um câncer de mama que ligou para o The New York Times a fim de publicar o anúncio de um grupo de apoio a mulheres que lidavam com o mal. Surpresa, Fanny foi transferida para o editor da coluna social do jornal. “Desculpe, mas o Times não publica a palavra mama nem a palavra câncer em suas páginas. Talvez a senhora possa dizer que haverá uma reunião sobre doenças do tórax.” Atônita, ofendida, ela pôs o fone no gancho, sem nem mesmo dizer adeus.

É um episódio de setenta anos atrás, logo ali, portanto — mas, até muito recentemente, a imprensa francesa dizia que uma pessoa havia morrido de “longa enfermidade”, em vez de dar nome aos bois. Em 2010, o artista plástico paulistano Gustavo Rosa, portador de mieloma, um tumor na medula óssea raro e incurável, deu uma entrevista a VEJA para falar sobre sua saúde sem citar uma única vez a palavra câncer — ele o chamava de “c-a”. Rosa morreria três anos depois.  Para domarem a mazela, ao menos retoricamente, médicos e pacientes acostumaram-se a usar metáforas bélicas para se referir ao tratamento do câncer, como “lutar”, “atacar” e “combater”. Uma recente pesquisa canadense da Queen’s University mostrou, contudo, que o uso e abuso de termos militares faz a terapia parecer mais difícil, a ponto de deixar as pessoas fatalistas. Há avanços colossais — dizer “tenho câncer” não é o tabu de antes —, porém um olhar histórico revela que as mudanças na linguagem têm andado muito mais lentamente do que os saltos científicos da oncologia, o que é extraordinário do ponto de vista dos resultados práticos.

Se há receio de emitir as seis letras tão temidas, c-â-n-c-e-r, nos laboratórios, universidades e hospitais existe uma revolução em movimento afeita a apagar, de uma vez por todas, os estigmas. Não se trata de uma única bala de prata, mas de uma sucessão de passos. Em outras palavras, com todo o cuidado que a afirmação exige: o câncer já não é uma condenação à morte. Hoje, cerca de 25% das pessoas que recebem a notícia de que estão com tumor maligno morrem dele. Há apenas dez anos, o índice era de 40% (veja o quadro). De acordo com levantamento da Sociedade Americana de Câncer, a redução na taxa de mortalidade se acelerou ainda mais em anos recentes: 2,2% somente em 2017, quase o dobro em relação às taxas anteriores. Em alguns cânceres mais agressivos, como o de pulmão, a diminuição no índice chegou a espantosos 4,4%. Diz o médico Paulo Hoff, presidente do Grupo Oncologia D’Or: “Conseguimos, finalmente, passar o momento da virada”.

Como se deu essa virada, agora celebrada? Dos anos 1950 para cá, os tratamentos estiveram ancorados em três pilares a cirurgia para extração de tumores, a quimioterapia e a radioterapia. Além, é claro, dos cuidados com o sedentarismo exagerado e a má alimentação. Essas estratégias continuam indispensáveis. Os quimioterápicos, no entanto, acabam também por atacar as células saudáveis, provocando efeitos colaterais como enjoo, dor de barriga e queda de cabelo. O início da reviravolta aconteceu com o surgimento das chamadas “terapias-alvo”, pioneiras nas condutas mais direcionadas e, portanto, com menos efeitos adversos e ação mais eficaz. Deu-se a transformação decisiva com a chegada da imunoterapia na oncologia, em 2009, quando a lógica de atacar as células mudou completamente. Em vez de bloquear o crescimento do tumor, como fazem todos os outros remédios, a imunoterapia estimula a ação do sistema de defesa, uma rica orquestra composta de células e substâncias que ajudam o corpo a lidar com vírus, bactérias e outros invasores para matar o câncer. “A técnica mudou definitivamente o perfil até mesmo de tumores graves, que matavam em menos de um ano, como o de pulmão e o melanoma”, diz Raphael Brandão, chefe da oncologia dos hospitais Samaritano e Paulistano e diretor executivo do UnitedHealth Group.

E, quando se imaginava que as surpresas brotariam mais calmamente, duas novíssimas frentes de trabalho se impuseram. A primeira delas é a chamada terapia agnóstica (do grego ágnostos, algo como “sem conhecimento”). No universo médico, trata-se de uma família de remédios que atacam as células doentes de olho no defeito genético, e não no órgão que originou o câncer (daí a ideia de agnosticismo). “Isso só foi possível pela descoberta de que tumores completamente diferentes podem ter a mesma alteração genética”, diz Fernando Maluf, diretor do Centro de Oncologia da Beneficência Portuguesa e membro do comitê gestor do Hospital Albert Einstein. A mutação de uma proteína chamada RAS está presente nos tumores de intestino e pâncreas. A ALK, nos pulmões e nos linfomas.

A segunda boa-nova acaba de ser publicada no New England Journal of Medicine e está em fase final de aprovação pela FDA, o órgão de regulamentação dos Estados Unidos. Pela primeira vez foi utilizada a combinação de três remédios ao mesmo tempo, prontos a agir em uma mutação específica. O trio encorafenibe, binimetinibe e cetuximabe ataca simultaneamente mutações associadas ao gene BRAF, encontrado no câncer de intestino e no melanoma. Os pacientes da pesquisa sofriam de câncer intestinal em um estágio que já não respondia mais a outros tratamentos. Não havia opções de sobrevivência, portanto. A terapia aumentou o tempo de vida médio para nove meses — até então eram cinco meses. Diz o oncologista Bernardo Garicochea, do Grupo Oncoclínicas: “Faz vinte anos que não havia uma notícia tão promissora para esse tipo de tumor”. Na frieza das estatísticas médicas, ganhar menos de um ano de vida pode parecer muito pouco. Para quem vive a realidade de um câncer grave, poucos dias podem ser suficientes para resolver questões essenciais da vida — e, atrelada à miudeza dos anseios humanos, a medicina não para de correr.

Há renovadas esperanças, como revelam as histórias pessoais relatadas ao longo desta reportagem, e, apesar do novo comportamento de quem sabe que pode ser curado, sim, o câncer ainda é a segunda causa de mortes em todo o mundo — atrás apenas dos problemas cardiovasculares. Ele mata 9,6 milhões de pessoas todos os anos, das quais 215 000 no Brasil. Mas as avenidas de cura se abrem exponencialmente numa indústria, a oncológica, que investe, em média, 1 bilhão de reais para fabricar um único medicamento (de cada dez em desenvolvimento, apenas dois chegam ao mercado). De mãos dadas com as estatísticas, os tratamentos inovadores, aprovados e bem-sucedidos, autorizariam, hoje, um novo olhar de Susan Sontag, porque em muitos casos o câncer deixou de ser agourento e obsceno. 
ANA MARIA BRAGA, câncer de pele (1991), virilha e reto (2001) e pulmão (2015) Reprodução/Instagram
 
A ARTE DA PERSISTÊNCIA
A apresentadora já teve quatro cânceres. “Comemoro cada evolução da medicina em busca da cura do câncer, e desejo que esse avanço possa ser cada vez mais acessível a todos. Sou uma pessoa privilegiada, pude contar com o que havia de mais moderno na medicina”, disse a VEJA.
 

UM SENTIDO PARA A VIDA - REYNALDO GIANECCHINI, linfoma
O ator, que virou referência de fortaleza pela forma de lidar com os tratamentos do câncer, a quimioterapia e o transplante de medula óssea, falou em entrevista na ocasião: “Nunca ninguém para e pensa que um dia pode ter essa doença. Tive um câncer raro. Fiquei assustado. Mas acredito que isso foi uma dádiva para mim. Acho que existem coisas reservadas para a gente que fogem da nossa explicação, mas que talvez lá na frente a gente vá entender perfeitamente e agradecer muito”.
 
Com reportagem de Eduardo F. Filho
 
Publicado em VEJA edição nº 2671 de 29 de janeiro de 2020
 
 

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Carga milionária de remédio para câncer some a caminho de SP

Medicamento saiu do Instituto Vital Brazil, em Niterói. PF investiga o caso

Uma carga milionária de um medicamento usado no tratamento de leucemia crônica e no combate a tumores de estroma gastrointestinal desapareceu misteriosamente quando era levado de caminhão do Instituto Vital Brazil (IVB), em Niterói, para a Secretaria estadual de Saúde de São Paulo. Avaliado em cerca de R$ 5 milhões, o material estava sendo transportado pela empresa Airway Ltda. A Polícia Federal investiga o caso.

O oncologista Alfredo Garischi, membro da diretoria do Conselho Federal de Medicina, destacou que o remédio, chamado de Imatinibe, é muito caro, mas apresenta ótimos resultados em tratamentos contra o câncer:  Esse medicamento foi desenvolvido pelo laboratório Novartis. Serve para o combate à leucemia mieloide crônica e para o tratamento de GIST, tumor muscular do aparelho digestivo. Em caso de leucemia mieloide crônica, tem que ser tomado a vida inteira. Pacientes com GIST devem utilizá-lo por pelo menos dois anos. O custo de seu uso em uma clínica privada chega a R$ 10 mil por mês.

ROUBOS NA ZONA SUL
O médico lembrou que, recentemente, medicamentos caros foram roubados de clínicas no Jardim Botânico e em Botafogo.  — Os pacientes têm o direito de saber a origem dos remédios que estão tomando. Profissionais de saúde, clínicas ou hospitais que usam medicamentos roubados, sem procedência comprovada, cometem crime de receptação — alertou Guarischi.

O desaparecimento da carga teria ocorrido em 16 de novembro, mas a empresa responsável pelo transporte só comunicou o problema a autoridades cinco dias depois. Em nota ao GLOBO, o IVB informou que tomou conhecimento do extravio de 86.450 comprimidos de 400mg do medicamento oncológico. “O Instituto Vital Brazil esclarece ainda que já questionou oficialmente a transportadora e informou o extravio à Polícia Federal. A carga sumida tem seguro, o que significa que o instituto não sofrerá prejuízo financeiro”, diz um trecho do comunicado.

Já o Ministério de Saúde informou que, para evitar a falta do medicamento no Estado de São Paulo, trabalhou para liberar, o mais rapidamente possível, 57 mil comprimidos de um estoque estratégico.  Desde 2013, o Instituto Vital Brazil produz o medicamento nas versões 100mg e 400mg para serem distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em julho, havia relatos de pacientes sobre falta do medicamento Imatinibe em unidades públicas que oferecem tratamentos oncológicos.

Fonte: O Globo