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domingo, 17 de dezembro de 2017

No Brasil, filhos de mães encarceradas já nascem com direitos violados

Cada vez mais crianças nascem em presídios, aprisionadas entre o colo provisório das mães e as grades permanentes do Estado 

>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:

O estrondo do portão de ferro que se fecha marca o fim de mais um dia. Na cela, com não mais de 10 metros quadrados, apertam-se objetos cobertos por mantas, uma cama protegida por um mosquiteiro e um guarda-roupa aberto com roupas de bebê dobradas. Adesivos infantis decoram a parede e mantas em tons pastel ocultam as grades de ferro. Ali, na ala da amamentação na Penitenciária Feminina de Pirajuí, em São Paulo, dormem Rebeca, de 7 meses, e sua mãe, Jaquelina Marques, de 23 anos. A menina só vê o mundo exterior – árvores, carros, cachorros, homens – ao ser levada para consultas pediátricas. Normalmente, passa o tempo todo com a mãe, ocupante temporária de uma das 12 celas no pavilhão.

Durante o dia, elas podem circular pela área. Doze bebês, suas mães e três gestantes prestes a dar à luz dividem o espaço. Alguns brinquedos ficam espalhados pelo chão. No centro da ala, roupas das crianças secam num varal exposto ao sol. Na entrada, duas celas fazem as vezes de copa e espaço de lazer – uma televisão de tubo transmite imagens esverdeadas. Em algum lugar da cadeia, mulheres se comunicam aos gritos. “É esse inferno todos os dias”, suspira Jaquelina, com o cabelo amarrado numa trança para amenizar o clima abafado.

A penitenciária fica a menos de dez minutos do centro de Pirajuí, a 390 quilômetros de São Paulo. Abriga mais de 1.200 presas (quase o dobro de sua capacidade), divididas em quatro pavilhões, uma ala de amamentação e um espaço para quem cumpre pena em regime semiaberto. A maioria (1.034 mulheres) cumpre regime fechado. Predominam as condenadas por tráfico de drogas.



Rebeca é a segunda filha de Jaquelina a nascer no cárcere. Sua mãe foi presa pela primeira vez em 2012, com 7 gramas de maconha, acusada de tráfico – e estava grávida. “Quando descobri, parece que abriu um buraco em mim. Tinha o sonho de ser mãe, mas não dentro deste lugar”, diz. Fumava maconha e cheirava cocaína. A residência onde foi presa, segundo os autos de seu processo, servia para venda de drogas. Também consta uma agressão dela a uma mulher nesse mesmo local. Em 2014, saiu em liberdade condicional e deu à luz um menino. Em 2016, foi presa novamente, sentenciada a pouco mais de cinco anos, após recorrer da condenação e perder. Espera passar para o regime aberto no final de 2018. Pouco antes de voltar à penitenciária, seu marido também foi preso, acusado de tentativa de homicídio.

>> Famílias reclamam de negligência e mortes mal explicadas na Maternidade Interlagos, em SP

Desde 2002, a legislação define que o usuário de drogas não deve ser sentenciado à prisão, mas a falta de critérios para distingui-lo do traficante (que comete um crime hediondo) responde por boa parte dos encarceramentos. [necessário ter em conta que é devido existir o usuário, que existe o traficante;
o traficante merece todo o repúdio da sociedade e punição severa;
mas, o usuário também é bandido, ao ser viciado e utilizar os 'serviços' do traficante, ele estimula o tráfico, torna traficar um negócio lucrativo, além de que para obter dinheiro para comprar drogas ele também trafica - mesmo que eventualmente - e comete vários outros crimes.
NÃO EXISTISSE O USUÁRIO NÃO EXISTIRIA O TRAFICANTE - iria vender para quem?
O caso das traficantes desperta pena, não por elas e sim pelas crianças, mas, não podem ser beneficiadas já que são criminosas e se tiver qualquer benefício em função da criança, vai virar moda a traficante engravidar antes de começar a traficar.
A única solução - para não penalizar as crianças que são totalmente inocentes ´ - é afastá-las do convívio com a mãe e só após o cumprimento integral da pena é que as crianças seriam restituídas às mães (após um período de observação do comportamento da interna quando em liberdade); havendo reincidência a mãe perderia o poder sobre a criança.
Tudo deve ser feito para evitar que a criança siga o caminho criminoso da mãe e para evitar isto a mãe deve ter seus interesses considerados menores, diante dos da criança.
A Jaquelina (sic) citada acima; qual condição ela tem para ter a posse e guarda dos filhos? além da reincidência,  praticou outros delitos e o marido também é criminoso.
O Estado tem o DIREITO e o DEVER de punir a traficante e o DIREITO e o DEVER de fazer o que for necessário para preservar a integridade fisica, moral, mental e intelectual da criança.]
 Em São Paulo, seis em cada dez condenadas foram enquadradas como traficantes. “É muita cadeia para pouca droga”, diz Jaquelina, aninhando Rebeca no colo. É comum que a primeira instância da Justiça condene a penas de cinco anos em regime fechado gente flagrada com pequeno volume de drogas. Quem tem dinheiro para pagar bons advogados recorre a instâncias superiores, que levam em conta fatores como bons antecedentes para baixar penas, explica Mário Luiz Bonsaglia, subprocurador-geral da República. Ele coordena a área do Ministério Público Federal responsável por supervisionar o sistema prisional e alerta sobre a dificuldade que as defensorias públicas têm para garantir assistência jurídica aos mais pobres. No momento, sem essa assistência, dispara a população de presas no país.

De 2000 para 2014, o índice de mulheres encarceradas no Brasil saltou de 6,5 para 36,4 a cada 100 mil, segundo estimativa do Ministério da Justiça. Duas em cada três são negras, a maioria é pobre e cometeu crime não violento, usualmente sob ordens de alguém, como o  companheiro. Três em cada quatro dessas mulheres são mães. Entre elas, muitas têm filhos enquanto cumprem pena (leia os quadros).


As que dão à luz na prisão raramente engravidam enquanto presas. “Todas as gestantes que tivemos no presídio já chegaram nessa condição. Nenhuma engravidou aqui”, diz Graziella Costa, diretora da Penitenciária Feminina de Pirajuí, que funciona há cinco anos. “As mulheres presas são abandonadas. Recebem poucas visitas. Visita íntima, então… se muito, umas 30 recebem.” Graziella conhece as presas pelo  nome. “Vai para o semiaberto, Marlene*?”, diz, ao adentrar a enfermaria da penitenciária no fim da tarde, enquanto o eco das trancas preenche os corredores e entregam-se nas celas pães assados pelas presas. Para o padrão brasileiro, a penitenciária não é ruim. Mas crianças não deveriam estar ali.

O Código de Processo Penal, no Artigo 318, permite que se substitua a prisão preventiva pela domiciliar para a mulher gestante e com filho de até 12 anos incompletos. [é válido essa substituição desde que a mãe tenha condições de criar a criança nas condições ideais, haja razoável certeza que ela não vai voltar a delinquir e não seja reincidente; 
preservar a integridade da criança, sobre todos os aspectos, deve ficar sempre em primeiro lugar.] Por decisão do juiz. Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio de Janeiro e presa na Operação Lava Jato, passou oito meses em prisão domiciliar por ter filho nessa faixa de idade (em 23 de novembro, foi determinado que Adriana deveria voltar ao regime fechado). Mais de 40% das mulheres encarceradas no Brasil são presas provisórias. “Se seguíssemos a lei à risca, a maioria dessas mulheres grávidas ou com filhos, presas em situação provisória, não estaria encarcerada”, diz Bruna Angotti, professora de Direito e coautora com Ana Gabriela Braga, doutora em criminologia, da pesquisa Dar à luz na sombra. “O processo não correu, elas têm possibilidade de estar em casa, mas seguem presas”, afirma Bruna. [doutora Bruna, perguntinha: a senhora quer as criminosas soltas com as crianças correndo todo o tipo de risco? haja vista que as mães vão continuar traficando, especialmente por uma criança no colo, sem sempre um ótimo disfarce para uma traficante. 
Não é todo policial que vai ter disposição para revistar uma bolsa que em principio deveria conduzir só coisas de bebês.] As instâncias superiores defendem mais a opção de criança e mãe ficarem juntas em liberdade do que as instâncias inferiores, diz o subprocurador Bonsaglia. Manter uma criança com a mãe na cadeia (mesmo que em ala especial) ou afastá-la da mãe gera efeitos ruins de toda sorte.

Revista Época

 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

AS MASMORRAS DO BRASIL - Mortes nas celas expõem a rotina de dor dos familiares e a falência do sistema penitenciário

[Devemos ter pena dos que morrem em hospitais; mortes na cadeia sempre atingem bandidos e todos concordam: "bandido bom é bandido morto".]

A matemática não fecha. São 662 mil presos para 372 mil vagas. Números de uma realidade que lida com uma nova variável: mais de 130 detentos foram mortos nos 20 primeiros dias do ano, em apenas três presídios. A atual crise do sistema prisional não só mostrou ao país cenas de barbárie, mas também expôs uma rotina de violência e domínio de facções criminosas — cotidiano que ultrapassa os muros das cadeias. Hoje, o GLOBO apresenta histórias de parentes, de detentos e até de gente que ajudou a construir um sistema que mais parece o retrato de uma sociedade medieval, mas que faz parte do Brasil do século XXI.

 Cela do presídio Ary Franco, uma unidade de custódia no Rio de Janeiro - Divulgação

A história de um presídio projetado como um modelo de ressocialização, mas transformado em símbolo de descontrole, exemplifica a falência do sistema carcerário no Brasil. 
 

Alcaçuz - A tropa de choque da PM precisou usar balas de borracha e entrar na penitenciária para conter a briga - ANDRESSA ANHOLETE / AFP



Prestes a completar duas décadas de história, a penitenciária viveu cenas de barbárie, no que foi considerada uma das maiores rebeliões do sistema prisional brasileiro, que vitimou pelo menos 26 detentos e deixou dezenas de feridos. A história era para ser outra. Planejada pelas arquitetas Lavinia Negreiros e Rosanne Albuquerque, a unidade nasceu com um conceito de humanização e buscava quebrar a sequência de violência da Penitenciária João Chaves, o “Caldeirão do Diabo”.


A Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta, Região Metropolitana de Natal, foi pensada para ser o oposto de um antigo presídio, conhecido como “Caldeirão do Diabo”. Virou uma mera reprodução.
Fonte: O Globo

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Tensão, ameaças e "churrasco de PCC" = "carne humana" = em presídio de Alcaçuz

Em vídeo, detentos da penitenciária do Rio Grande do Norte fazem várias ameaças aos rivais, enquanto seguram espetos cheios de carne supostamente humana em uma fogueira improvisada

Mulher de detento mostra marca de tiro de borracha, supostamente disparado pela polícia, do lado de fora de Alcaçuz
Mulher de bandido, foi bagunçar, perturbar a ordem pública,  tem que ser tratada igual bandido - ela tem que aprender que bandido e mulher de bandido não são diferentes

A briga entre facções que matou mais de 130 presidiários só este ano no Brasil parece não ter fim. Circulam na internet, imagens divulgadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e pelo Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte que deixam claro o clima de guerra. Em um dos vídeos, integrantes do Sindicato do Crime do RN estão reunidos em torno de uma fogueira no Presídio Estadual de Alcaçuz (RN), onde ocorreu a última rebelião que matou 26 pessoas, e mostram um homem segurando um espeto com pedaços de carne, supostamente humanas. “Isso é um churrasco de PCC”, ironiza um deles. Outros avisa: “É só o começo”. Homens com arma branca aparecem no vídeo. No vídeo do PCC, homens com a cara tampada ameaçam “estender a guerra” para as ruas e atacar policiais em todo país caso os homens da facção rival não sejam retirados do presídio de Alcaçuz. 
 
Para resolver o problema em Alcaçuz, o governo do estado resolveu instalar, dentro do presídio, contêineres, na intenção de separar as duas facções inimigas. A Polícia Militar do RN entrou na cadeia no sábado (21/01) para construir a divisória entre os pavilhões 1, 2 e 3, dominados pelo Sindicato do RN, e os pavilhões 4 e 5, ocupados pelo PCC.  
Segundo o governo, os contêineres de 12 metros de altura serão usados temporariamente até que um muro de 90 metros extensão seja efetivamente construído, o que deve demorar até 15 dias.  

Do lado de fora, o clima também é tenso. Familiares dos integrantes de grupos adversários acampam ao redor da penitenciária e chegaram a entrar em confronto nos últimos dias. A mulher de um dos detentos ouvida pelo Correio afirma que neste domingo (22/01) não houve confusão, porque o dia está chuvoso. “Do lado de dentro também está tranquilo. Queríamos que o governador tirasse o PCC de dentro do presídio, mas ele se recusa”, reclama. O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, foi procurado para comentar o caso, mas não atendeu as ligações da reportagem. [o governo não pode ceder - quem tem que se enquadrar são os bandidos, os condenados e aprenderem (por bem ou por mal) que o controle do presídio, que o controle da vida de condenados, é do Estado e não de uma facção.
O governo não pode se acovardar e negociar com bandidos. Tem que impor a disciplina no presídio FAZENDO O QUE FOR NECESSÁRIO.]
 

domingo, 22 de janeiro de 2017

Em Alcaçuz, presos controlam chave de pavilhões e até entrada de comida

Todos os dias, a empresa contratada para fornecer alimentação aos cerca de 1.300 detentos deixa as quentinhas na portaria da penitenciária de Alcaçuz. Naquele momento, agentes chamam um preso, conhecido como "pagador", que tem um carrinho já preparado para levar os alimentos aos colegas. Sim, são os presos que distribuem a comida entre si --podendo decidir, inclusive, quem se alimenta.

Detentos do presídio de Alcaçuz controlam cadeia desde rebelião em março de 2015

Essa é só uma das rotinas que mostram o domínio dos presos na penitenciária de Nísia Floresta (na Grande Natal), onde, no dia 14 de janeiro, houve um massacre com pelo menos 26 mortes de detentos.  O UOL ouviu por uma semana relatos de agentes, presos, advogados e autoridades sobre como era o presídio antes do massacre.   
- Os presos estão soltos, e a gente não tem acesso às áreas Vilma Batista, agente penitenciária

Em março de 2015, uma rebelião destruiu quatro dos cinco pavilhões. Desde então, os agentes não entram mais na unidade para serviços.  "Quem é que entra com os presos todos soltos para entregar comida? Isso ocorre por falta de segurança. Sem contar que isso não é nosso serviço. Nossa missão é manter a ordem e a segurança na unidade. Os presos que estão lá ganham remissão de pena pelo serviço", explica a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Rio Grande do Norte, Vilma Batista. 


Corpos são escavados da areia do presídio de Alcaçuz

Segundo ela, há um número reduzido de agentes de plantão: antes do massacre do dia 14, eram seis na escala. Agora, com o agravamento da crise, esse número subiu.  Ela conta ainda que os agentes têm um limite de acesso. "Os presos estão soltos, e a gente não tem acesso às áreas. Só quando vem reforço é que a gente faz uma intervenção. O limite de acesso é antes do portão", afirma.

Isso interfere também quando há necessidade de um advogado conversar com um preso. "Quando precisamos conversar com um preso, vamos até um guichê de atendimento. Lá, vou a um agente do administrativo, que procura saber em que pavilhão ele está. Você pega esse papel e leva a um agente, que chama um preso chaveiro geral. Ele pega o papelzinho, vai correndo ao pavilhão e, quando chega nas proximidades, chama outro preso chaveiro, que no pavilhão começa a gritar para chamar o preso", conta o advogado e coordenador estadual do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Gabriel Bulhões. 

"Ele vem, então, até a porta do pavilhão, e o chaveiro abre e o tira. Então, vem com o outro chaveiro até o rol de Alcaçuz, quando ele deixa o complexo", complementa.  Os presos pagadores são jurados de morte por outros detentos por prestarem serviço ao Estado. Por isso, eles ficam em outra acomodação separada.

Ações fracassadas

A versão de que os presos estão soltos é confirmada pelo Estado, Ministério Público e Justiça. O juiz da Vara de Execuções Penais de Natal, Henrique Baltazar afirma que o Estado até tentou reconstruir o que houve de destruição, mas fracassou. "Em março de 2015, quando houve as grandes rebeliões, o Estado disse que ia reconstruir, gastar R$ 8 milhões. Deixei claro que era dinheiro jogado fora, porque iam quebrar tudo de novo. Colocar grades em cela que cabiam oito, mas tinha 20? Era óbvio que iam arrebentar. O dinheiro foi quase todo perdido. Se for recuperar agora, vai acontecer o mesmo", disse.

Com os presos no controle, o MP (Ministério Público) acredita que houve um fortalecimento das facções. "Já faz 22 meses que tivemos a pior rebelião de Alcaçuz. Tudo foi quebrado, apenas o pavilhão 5 era inteiro --e agora é o mais depredado. Desde março de 2015 que está tudo fora de controle nos demais pavilhões, que os presos ficam soltos e não se recolhem as celas. Assim, as lideranças do crime exercem sua ditadura sobre os demais presos. Se não resolvermos isso, não resolveremos o problema", afirma o Procurador-Geral de Justiça, Rinaldo Reis.

Lá dentro, segundo apurou o UOL, presos de facções cobram "mensalidades". O PCC, por exemplo, cobra valores e faz rifas rotineiras com intuito de arrecadar fundos. Já o Sindicato do Crime tem um "caixa", em que cada detento ligado a ela é obrigado a pagar R$ 50 mensais.

Problemas estruturais

O pesquisador e coordenador do Obvio (Observatório da Violência Letal Intencional), ligado à Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Ivênio Hermes, explica que além dos problemas causados pelo domínio dos presos, há outros estruturais que tornam ainda mais difícil a existência da unidade.  O presídio é dividido em cinco pavilhões, sendo que o último deles, o 5, é independente e chamado de penitenciária Estadual Rogério Coutinho Madruga. Mas o prédio fica dentro do complexo, separado de outros pavilhões apenas por um portão --que foi destruído no sábado. Ele abrigava pessoas do PCC (Primeiro Comando da Capital).


"Alcaçuz tem 10 guaritas, mas apenas nove funcionam. Dessas, só cinco estão sendo utilizadas porque as outras não possuem condições de um homem subir. E elas não se comunicam entre si. Os guariteiros [policiais que ficam nas guaritas] não podem caminhar pelo muro para fazer a segurança do perímetro. Há um ponto cego, onde não há guarita, e faz com que uma parte inteira do presídio seja local de fugas", explica.


Além disso, o projeto executado seria diferente daquele pensado no início. Um exemplo foi a localização da obra, construída sob dunas móveis. Em 1998, conta uma moradora da região, o local onde Alcaçuz foi erguido era o ponto mais alto da região. Hoje, há várias outras dunas mais altas, que permitem a visão completa da penitenciária. "O piso não é de concreto, e assim é fácil fazer escavações. Os pavilhões são de alvenaria, tijolo, que são facilmente quebráveis. Não há como fixar grades corretamente. Sem contar que um dos lados fica muito próximo da comunidade e permite que pessoas lancem para dentro qualquer material", explica Hermes, que também é engenheiro civil.

Ações do governo

A principal ideia do governo para acabar com a guerra de facções --até a construção de novos presídios-- é erguer um muro para separar os detentos de grupos opostos. A obra teve início nesse sábado (22).


Um muro provisório será construído com contêineres, dentro de Alcaçuz, para manter separados presos de facções rivais

O governador Robinson Faria (PSD) afirmou que não tem como meta reformar Alcaçuz e pretende acabar com a unidade após a construção dos três presídios previstos.  Já sobre a falta de pessoal, o governo anunciou que vai contratar 700 agentes penitenciários provisórios. A medida, porém, é criticada pelo sindicato da categoria, que planeja uma greve em protesto contra a medida.

Fonte:  UOL/Notícias


domingo, 28 de fevereiro de 2016

A Bolsa Angra x a cana de Curitiba - A prisão de Lula

A decisão do Supremo Tribunal Federal que abriu as portas da cadeia para condenados em duas instâncias virou o jogo para os maganos apanhados na Lava-Jato. Até então, com advogados caros e paciência, os réus podiam ficar em liberdade, ganhando tempo com recursos judiciais. Agora esperarão trancados.

Tomem-se dois exemplos:
Ricardo Pessoa, o homem da UTC, foi preso em novembro 2014, começou negando quase tudo e, meses depois, o Supremo soltou-o. Desmentindo a patranha segundo a qual os acusados colaboram para sair da tranca, Pessoa negociou sua colaboração em liberdade. Aceitou pagar uma multa de R$ 51 milhões e, em troca, recebeu a garantia de que não será condenado a mais de 18 anos de prisão. Não cumprirá tempo de cadeia. Durante até três anos poderá trabalhar, obrigando-se a ficar em casa à noite e nos fins de semana. Daí em diante, terá liberdade condicional.

Em geral os réus da Lava-Jato são abonados senhores que já passaram dos 50 anos. Com a colaboração que deram à Viúva, permitindo à Lava-Jato chegar onde chegou, habilitam-se a viver numa boa casa em Angra do Reis, ou numa zona de conforto semelhante, passando algum tempo al mare ou numa quadra de tênis. É a Bolsa Angra, usufruída por Pedro Barusco e Julio Camargo. 

“Léo” Pinheiro, o presidente da OAS, foi preso no mesmo arrastão em que entrou Pessoa. Como ele, foi libertado pelo STF. Preferiu o silêncio. Em agosto foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 16 anos de prisão. Se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmar a sentença, ele irá para a penitenciária. Lá os presos devem andar de cabeça baixa, com as mãos para trás. Assim deverá esperar o julgamento de seus recursos. Não é a toa que ressurgiram os murmúrios que negociará sua colaboração.

No mesmo caso entra o engenheiro Zwi Skornicki, castelão de uma boa casa na Barra da Tijuca, outra em Itaipava, onde guardava uma coleção de brinquedos. (Pelo menos oito automóveis, entre eles um Porsche.) Sua terceira casa, em Angra, é cinematográfica. Tem três níveis e duas alas, uma para os caseiros. Elas ligam-se por uma pérgula coberta. Nada mal.

Um americano reconta o Império
O professor William Summerhill, da Universidade da Califórnia, é um bruxo da pesquisa econômica. Em 1998 ele publicou um artigo sobre a construção de ferrovias até os primeiros anos da República e virou de cabeça para baixo a sabedoria convencional que envolvia o assunto. Elas foram um operação bem-sucedida, fator de grande progresso. Summerhill está de novo nas livrarias americanas com “Inglorious revolution” (em tradução livre, “Uma revolução inglória — Instituições políticas, dívida soberana e subdesenvolvimento financeiro no Brasil imperial”).

Trabalho prodigioso de pesquisa, lida com um paradoxo: a teoria ensina que os países que honram suas dívidas progridem. Durante todo o Império, o Brasil honrou suas dívidas interna e externa e não progrediu. O crédito do Império em Londres era tão sólido que resistiu até a um rompimento de relações com a Inglaterra.

Entre os muitos fatores do atraso, um está aí até hoje. O sistema de crédito era controlado pelo governo, mas a banca, concentrada e com poderosas conexões, controlava o governo. Os grandes fazendeiros do café conseguiam dinheiro a 8% ao ano. Na Bahia, a 12%. Em Minas e Pernambuco, até a 30%.

O artigo das ferrovias, bem como “Order against progress” (“Ordem contra o progresso”), o livro que resultou de sua expansão, publicado em 2003, não foram traduzidos para o português. Olavo Bilac tinha razão, o português, a última flor do Lácio, é esplendor e sepultura.

A prisão de Lula
Quem conhece os movimentos da Operação Lava-Jato assegura:
O time vestiu o uniforme, calçou as chuteiras e quer entrar em campo para buscar a prisão de Lula.
Para que isso aconteça são necessárias algumas condições:
1ª - Que o juiz Sérgio Moro aceite o pedido.
2ª - Que a acusação tenha força suficiente para não ser derrubada no Superior Tribunal de Justiça. Isso, entendendo-se que se Moro conceder o pedido é improvável que a medida seja revogada no Tribunal Federal da 4ª Região.
3ª - Ultrapassados esses dois obstáculos, restará um julgamento no Supremo Tribunal.
Ninguém pode saber qual será o desfecho de cada uma dessas situações. De qualquer forma, fica uma certeza: a infantaria da Lava-Jato jogaria numa só mão de carta todas as fichas que acumulou ao logo de dois anos de trabalho. Ganhando, quebra a banca. Perdendo, fica sem uma perna.
Quando a Polícia Federal informou que “o possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia”, estava dizendo mais que isso. Afinal, se o problema fosse de parcimônia, não precisava ter dito nada.

Campeões
Nosso Guia e a doutora venderam a ideia de que os “campeões nacionais” fortaleceriam o Brasil como exportador de serviços.
Conseguiram exportar muita coisa, inclusive corrupção.

Angola e Venezuela eram pedras cantadas há anos. Um conhecedor da vida angolana desde o tempo em que o MPLA era virgem, dizia que “lá, você só pode botar a mão no fogo pelo escritor Pepetela”. José Eduardo dos Santos governa o país desde 1979, e sua filha é a mulher mais rica d’África.

Pontualidade
Pérola encontrada no depoimento do empresário Milton Pascowitch ao Ministério Público da Lava-Jato:
MP: “Com qual periodicidade que eles retiravam esse dinheiro?”
Pascowitch: “Ah, rezavam para chegar no final do mês.”
MP: “Mensalmente?”
Pascowitch: “Mensalmente.”

Frigideira
No final de janeiro a dona de uma loja de materiais de construção de Atibaia disse ao repórter Flávio Ferreira que a Odebrecht pagava as contas das obras na propriedade. Coisa de R$ 500 mil, em dinheiro vivo. Quem cuidava do trabalho era o engenheiro Frederico Barbosa, da Odebrecht.

A empreiteira disse que não sabia de nada, e Barbosa informou que fazia esse serviço nas férias. Seria o jogo jogado se não houvesse o risco de estar obstruindo a investigação.
Passaram-se quatro dias e a Odebrecht reconheceu que Barbosa trabalhava na obra a pedido de um de seus chefes na empresa. Do jeito que estava a coisa, numa transação que envolvia o lazer de um ex-presidente e a maior empreiteira do país, quem iria para a frigideira seria um engenheiro.

Zelotes
Chamando o presidente da Gerdau para se explicar, a Operação Zelotes mostra que recuperou seu foco inicial: o propinoduto de grandes empresas e bancos, azeitando decisões no Conselho de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda.

É lá que mora um dragão.

Curitiba
Pode ter sido coincidência, mas numa época de contração do mercado de voos comerciais, a Avianca anunciou que começará a operar um novo voo diário (o quarto), de São Paulo para Curitiba.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista