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terça-feira, 5 de maio de 2020

Os cuidados na vida sexual em tempos de Covid-19 - Veja - Letra de médico




E se o vírus escolheu o sêmen ou a secreção vaginal como um dos seus habitats?

De repente, uma ameaça de morte no ar.

Máscara! “Por favor, use máscara para preservar sua vida e a dos demais” é uma das frases que mais tem sido pronunciada no mundo inteiro, só perdendo para “Fique em casa!”

O vírus mata. Usar máscara e ficar em casa protegem do vírus mortal, desde que ele não tenha aderido à máscara ou invadido a casa. No inicio de 2020, um surto de pneumonia, causada pelo novo coronavírus, foi declarado pela Organização Mundial de Saúde como uma emergência global e uma pandemia, pois a doença relatada , em dezembro passado, pela primeira vez na cidade de Wuhan (China) se alastrou para dezenas de outros países. Esse vírus, como sabemos, é transmitido principalmente pelo contato direto e por gotículas respiratórias.

Num ritmo extenuante, pesquisadores de todo o planeta se lançaram na complexa e meticulosa missão de conhecer mais para fazer frente a essa guerra desigual, onde um lado ataca sem tréguas, enquanto o outro só tem armas para se defender, quando as têm. Confinado e, ao mesmo tempo, distante fisicamente das pessoas queridas, você tenta não sucumbir a esse paradoxo, apesar de todas as dúvidas e dos poucos indícios confiáveis que teimam em não se transformar em evidências. Nos supermercados, qualquer pessoa lhe parece um transmissor em potencial; aqueles que você encontra nas farmácias são supostos Covid positivo, ávidos como você por um remédio milagroso. O medo paralisa seu discernimento, enquanto acelera sua paranoia.

No intuito de manter a sanidade mental, você se afasta do noticiário e de todo tipo de contato com o mundo externo. Sai do confinamento e adentra o isolamento. Isolado, você tenta relaxar, faz exercícios físicos, yoga, meditação. Mas, sem o resultado desejado: ao invés do equilíbrio, consegue o tédio.  De repente, você se lembra: “sexo é vida”. Ficar em casa resulta em mais tempo livre, inclusive para a prática sexual: mais tempo para a vida. Você parte para a masturbação e para o sexo virtual. Porém falta alguma coisa. Você se lembra da relação sexual, abandonada há semanas, sem espaço no seu dia a dia, desde que o vírus tomou conta dos seus pensamentos. Você se anima por um instante. Até que uma dúvida perversa contra-ataca: e se o vírus escolheu o sêmen ou a secreção vaginal como um dos seus habitats? Você volta ao noticiário, aos WhatsApps recebidos, mas pouco encontra. Busca, então, pela literatura médica especializada para sanar sua preocupação.

A ciência informa que o Covid-19 foi encontrado nas fezes de pacientes, o que sugere outras possíveis vias de transmissão a serem investigadas. No que tange à prática sexual, esse achado restringe, até segunda ordem, o contato com o ânus, caso os parceiros não tenham absoluta certeza de que não foram contaminados, certeza essa impossível de se garantir, de forma definitiva. O contágio pode ocorrer de hoje para amanhã.

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Ainda em abril, uma pesquisa divulgada pela revista Biology of Reproduction relatou não haver vírus no sêmen e nos testículos de 12 homens infectados pelo Covid-19, testados nas fases aguda e de recuperação. Os autores concluíram ser improvável que esse vírus possa ser transmitido sexualmente pelos homens. Outra vez, sendo o tamanho da amostra relativamente pequeno, futuros estudos mais robustos confirmarão ou não esses achados. Além disso, o ideal seria que várias testagem do sêmen de cada paciente fossem feitas , durante o curso da doença. No entanto, essa múltipla coleta é impraticável, como se pode imaginar, enquanto os homens estão doentes. Assim, apesar dos dados sugerirem que o Covid-19 não infecta diretamente os testículos e o trato genital masculino, uma resposta definitiva a esse respeito ainda está por vir.

Em Veja - Letra de Médico - MATÉRIA COMPLETA

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

'As músicas só falam da parte boa da prática sexual', diz secretária nacional da juventude - O Globo

Uma das responsáveis por política com foco em abstinência, Jayana Nicaretta defende conscientização para jovens sobre 'parte ruim' do sexo

Jayana Nicaretta, titular da Secretaria Nacional da Juventude, defende conscientização de jovens em campanha com foco na abstinência sexual Foto: Divulgação
Jayana Nicaretta, titular da Secretaria Nacional da Juventude, defende conscientização de jovens em campanha com foco na abstinência sexual Foto: Divulgação
LEIA TAMBÉM:Ministério de Damares defende que início precoce da vida sexual leva à delinquência

Em entrevista ao GLOBO, Janayna minimizou as críticas e piadas que têm sido feitas sobre a campanha e argumentou que é preciso conscientizar os jovens sobre a “parte ruim” do sexo.

Quais têm sido as contribuições da Secretaria Nacional de Juventude para a campanha de abstinência sexual?
A gente ajudou a levantar dados sobre o assunto, mas por lei é uma campanha da secretaria dos Direitos da Criança e do Adolescente. O protagonismo é todo deles. A SNJ entra como parceira para dialogar com esse público. Temos uma faixa etária importante em comum, que são jovens de 15 a 18 anos. Nossa colaboração tem sido no sentido de (definir) qual é a melhor abordagem para tratar desse assunto com a juventude.
Vejo que ainda há um grande problema cuja discussão é desnecessária, que é o número de casos de gravidez de menores de 14 anos, o que é estupro de vulnerável. Não há nem discussão sobre isso, não há opinião certa ou errada, é um crime e está no código penal.  De 2009 a 2011 houve 162 mil gravidezes com menores de 14 anos, 162 mil estupros de vulneráveis. É algo que vai muito além da opinião moral, não é religioso. Há jovens iniciando a vida sexual de forma muito precoce, não estão preparados e isso é chamado estupro de vulnerável, não tem outro nome.

A campanha tem sido alvo de muitas críticas e até piadas por parte dos jovens...
Ou apoiada (por muitos jovens).

Em relação aos jovens que têm criticado, por que há essa reatividade? A campanha está desalinhada com a juventude?

É normal. Não é uma campanha feita para o jovem mais velho, independente, com autonomia financeira. O público-alvo é a faixa etária que está sendo iniciada no chamado estupro de vulnerável, pois temos crianças e adolescentes com iniciação sexual antes dos 14 anos, incorrendo em crime. E vai até os 18 anos, idade em que o jovem ainda é dependente. É óbvio que vai rolar essa discordância, pois as pessoas são livres. Em nenhum momento se diz “não pode mais ter a sua vida sexual da maneira que você quiser”. O jovem vai fazer ou não, coloca-se como uma opção.

E o que achou da reatividade do público em geral?
A mensagem não foi passada da maneira correta, talvez pela imprensa. Por muito tempo, as músicas colocaram o sexo como uma atividade não humana, meio animalesca. Tudo ao redor dos adolescentes os leva a pensar que estão atrasados, que o jovem está por fora se ainda não iniciou a vida sexual, que está excluído. Tem uma ideia nova que diz não a tudo isso, e que diz: “Não, espera aí! Não é tudo isso”. As músicas só falam da parte boa da prática sexual, você não vê uma música falando de todas as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), ou do impacto da gravidez precoce. Não vemos nelas tudo que cerca o jovem ligado a essa parte ruim. O jovem não está refletindo, ele está fazendo porque é bom. E aí a gente vem na contramão, e é claro que vai gerar reação de espanto.

Que dicas específicas vocês deram para a campanha?
Sugerimos um nome que pudesse “pegar” mais, como trazer o ato de o jovem refletir sobre isso, sobre as consequências e responsabilidades na vida sexual. A gente pensou em algo como “Pense duas vezes”. Quando a pessoa é consciente do que está fazendo, acreditamos que (sua escolha) seja uma vontade de fato por liberdade.

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O público jovem é uma parcela do eleitorado que ofereceu resistência à eleição do presidente Jair Bolsonaro. Que outras políticas o governo federal tem desenhado para a juventude?
A juventude esteve em massa nas ruas nas manifestações. Eu comecei a ir para as ruas em 2013, quando começou o movimento de rua. Tinha todas as faixas etárias, mas a juventude foi bem protagonista. Hoje há um bônus demográfico no Brasil, ou seja, o país nunca teve e nunca mais terá tantos jovens (como agora). Ter essa parcela da população que está na melhor fase da vida para produzir, é nessa fase que tem o jovem se desenvolvendo para o emprego, escolhendo uma profissão. Também é uma fase que  perdemos muitos jovens para o crime.
Além de dar continuidade para as políticas que já existiam, como o ID Jovem, a Conferência Nacional de Juventude, o Estação Juventude, a gente implementou programas que agora se preocupam com a quarta revolução industrial. Cerca de 47% das profissões vão deixar de existir nos próximos 20 anos, 67% das crianças e adolescentes vão trabalhar em profissões que ainda não conhecem.  Nos preocupamos com o que nós enquanto governo precisamos fazer para que esse jovem esteja atualizado e engajado nessas mudanças, porque elas são muito abruptas.
Você tem acompanhado a crise do Enem e do Sisu? Qual sua visão?
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Você considera que há doutrinação nas universidades federais?
Vejo que os movimentos de esquerda são mais fortes dentro da universidade, quando saímos da porta para fora vemos que o mundo não é bem assim. É preciso ir atrás e entender por que isso acontece. É uma influência por parte dos professores? Eu não sou especialista para dizer. Mas é nítida a força que os movimentos de esquerda têm dentro da universidade. Na prova do Enade, que faz a avaliação dos cursos de engenharia, tive que responder perguntas que destoam completamente da formação que eu tive. Eu tive que escrever uma redação sobre os nomes sociais dos transexuais, eu vejo que isso não avalia a qualidade do curso de engenharia do petróleo, pode avaliar minha formação enquanto humana, mas não serve para a finalidade que foi proposto.

(.....)Quem seriam esses mentores? Pessoas famosas?
O perfil será de uma pessoa que passe no crivo de ter obtido sucesso na sua área de atuação. Ela pode ser uma pessoa que seja estrela na sua área, ou um bom professor universitário. É uma pessoa que tenha conhecimento do que está falando. Queremos entender como funcionam os processos de mentoria atuais, quantas horas são necessárias, o tempo mínimo de uma mentoria, o perfil do mentor, se ele tem um nível de graduação mínima. Precisamos estabelecer junto com quem entende.

Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA


domingo, 2 de junho de 2019

Moderados e apreensivos: o que pensam os generais que trabalham bem perto do presidente Jair Bolsonaro

Um general do Alto Comando do Exército, grupo que mantém interlocução direta e constante com o presidente da República, transmitiu a Jair Bolsonaro nos últimos dias um pensamento que representa o estado de espírito atual de militares que estão perto do poder:

– Jair, serenidade. Você não precisa de radicais.
Na cabeça dos generais que ajudam a sustentar o governo Bolsonaro, incluindo aqueles, já na reserva, que ocupam cargos de primeiro e segundo escalões — o temor de uma radicalização caminha ao lado da preocupação de que a responsabilidade por tropeços do presidente recaia nos ombros e nas insígnias das Forças Armadas.

Arriscar o processo que fez as Forças Armadas saírem de um período repressivo, de grande desgaste na opinião pública, para a virada das últimas três décadas, quando retomou respeito e reconhecimento por parcela expressiva da população, é uma angústia crucial.

Integrados ao governo em grau sem precedentes desde a redemocratização, militares de alta patente ouvidos pelo GLOBO procuram apresentar uma mentalidade distante dos tempos da ditadura militar, época em que muitos se tornaram oficiais do Exército, Marinha ou Aeronáutica. A preocupação em mapear “inimigos” internos ou externos, uma constante no início de suas carreiras, hoje é adormecida.
Generais do alto comando contam que, em sua formação, foram “muito impactados por valores democráticos”, uma vez que passaram pelo processo de distensão e abertura na fase final da ditadura militar.

Os oficiais do círculo próximo a Bolsonaro abraçam uma tentativa de livrar o Exército de “estereótipos negativos”, em suas palavras. Um general do Alto Comando que conversou com O GLOBO em condição de anonimato, por exemplo, foi taxativo: avaliou que a ditadura cometeu “barbaridades” na repressão aos opositores: – Pagamos um preço muito alto com a ditadura. É uma palhaçada falar em intervenção militar, como ouvimos em alguns protestos. Chega a ser ofensivo.

As trocas de cargos no Ministério da Educação (MEC), que levaram à exoneração de diversos militares no seio do governo, não figuram sozinhos na lista de preocupações dos generais. Estão ombro a ombro com temores mais amplos, como a política armamentista do presidente, cabe ao Exército fiscalizar a venda de armas, os riscos envolvendo a Amazônia, considerada uma reserva natural estratégica, e até a determinação de que os quartéis celebrassem os 55 anos do golpe militar.
Sobre as armas, a preocupação central está na flexibilização do porte, desejada, e decretada, pelo presidente.
– Para porte, aí sim, é preciso ser perito na coisa. Há preocupação sobre uma proliferação negativa de armas, diz um outro general ouvido pela reportagem, que também pediu anonimato.

Como ficariam as Forças Armadas se recebessem a pecha de instituição que autorizou e controlou a disseminação de armas de fogo se as consequências não saírem como o esperado nos planos do presidente? São questionamentos como esse que permeiam os mais graduados.
– A gente torce para dar certo, afirmou um general ao GLOBO. Senão vamos ouvir: “Os militares não disseram sempre que são os salvadores da pátria?”
Dois assuntos neste primeiro semestre de governo incomodaram em cheio os militares de alta patente: o episódio do “golden shower”, quando Bolsonaro compartilhou em sua conta no Twitter uma prática sexual a céu aberto, gravada no carnaval de rua em São Paulo, algo impensável para um militar graduado, e a dubiedade em relação ao ideólogo de direita Olavo de Carvalho, que atacou, com xingamentos, os militares do governo. O compromisso com a “arrumação da casa” de uma instituição que representa o Estado e voltou ao governo após seu período mais desgastante é prejudicado.

Em geral, um militar leva de 30 a 40 anos para ascender até o último grau da hierarquia. A maioria dos principais generais do atual governo e dos que compõem o Alto Comando do Exército se formou nas turmas do fim da década de 1970 e do início da década de 1980 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, no Sul Fluminense.

O próprio Bolsonaro, egresso da turma de 1977, conviveu com certo grau de intensidade com vários desses generais. O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, é da mesma turma. O porta-voz Otávio Rêgo Barros é de 1981. Enquanto Bolsonaro deixou os quadros da ativa ainda na década de 1980, recém-alçado a capitão, alguns de seus contemporâneos seguiram em formação.
Suas carreiras foram feitas em um ambiente crescente de profissionalização e de processo de “arrumação da casa”, quando houve de fato um esforço para reverter a politização anterior, do regime militar, afirma o antropólogo Piero Leirner, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Aprendizado com missões
Se a década de 1940 ficou marcada, para o Exército Brasileiro, pelo envio de tropas para a Segunda Guerra Mundial, a partir dos anos 1990 se tornou recorrente a participação brasileira em missões de paz da ONU. O Brasil tinha 1,3 mil oficiais no exterior há quatro anos, com atuação principalmente em países africanos e no Haiti, cuja missão foi comandada por três dos atuais ministros de Bolsonaro: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Floriano Peixoto (Secretaria-Geral).
A maioria dos generais da atualidade já colocou a boina azul (usada em missões da ONU). É diferente do oficial que era general no regime militar. Era uma época de Guerra Fria, dos atos institucionais. Nem se pensava em mulher no Exército, por exemplo — analisa o general Eduardo José Barbosa, atual presidente do Clube Militar.
A experiência das missões de estabilização de países, que são diferentes de conflitos abertos que ocorrem guerras, é um aspecto que contribui para o perfil moderado dos oficiais que participam diretamente do governo.