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domingo, 12 de janeiro de 2020

Abstinência religiosa – Editorial - Folha de S. Paulo

Programa para incentivar adiamento da vida sexual não combina com Estado laico

Dentro dos limites legais, todo cidadão é plenamente livre para se submeter às prescrições morais e doutrinárias das religiões que por ventura tenha optado por seguir. Em tais práticas, não cabe ao Estado opinar ou interferir. Tampouco deve-se esperar da autoridade governamental, em contexto republicano e democrático, que embase políticas estatais em princípios doutrinários desprovidos de sustentação objetiva. [não se trata de IMPOR adiamento da vida sexual, ou abstinência sexual e sim apresentar uma OPÇÃO.
O cidadão, ou cidadã, continua COMPLETAMENTE LIVRE para escolher o que quiser e, por óbvio, responsável pelo resultado do que escolher.
Estado laico não pode ser confundido com Estado promíscuo, com o vale tudo.]

O anúncio de que o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos estuda criar um programa público para incentivar jovens a adiar o início da vida sexual aproxima-se perigosamente do entrelaçamento entre religião e Estado, união a ser evitada em sociedades regidas por poderes laicos. Não há dúvida de que a gravidez precoce é um problema sério no Brasil, onde as taxas em algumas regiões são comparáveis às de países africanos —e representam, em média, mais do que o dobro das verificadas na Europa. Muitos desses casos acarretam dramas psicológicos e sociais, em especial entre os setores mais vulneráveis.

O Estado não deve manter-se passivo diante desse quadro, mas tampouco, em nome de crenças e interesses políticos, enveredar por caminhos que não têm amparo em estudos científicos. Pesquisas realizadas nos EUA já demonstraram os impactos negativos da abstinência sexual como política pública. Naquele país, a ideia da privação é alardeada por movimentos tradicionalistas cristãos, que pregam a virgindade antes do matrimônio e rejeitam métodos anticoncepcionais, como o uso de preservativos ou pílulas do dia seguinte. Tais correntes se fortaleceram com a onda conservadora que impulsionou a eleição de Donald Trump.

No Brasil, onde há tendência análoga, um desses grupos, simpático ao plano da ministra Damares Alves, é o Eu Escolhi Esperar, que se designa uma “campanha cristã”. Segundo o movimento, a meta é ressaltar “a importância de viver uma vida em santidade e pureza baseada nas escrituras sagradas”. É óbvio que se os jovens deixarem de ter relações sexuais até o casamento não haverá gravidez precoce. Há, porém, muitas outras maneiras de se evitar isso.Como esta Folha tem defendido, cabe ao poder público promover campanhas de esclarecimento e facilitar o acesso a meios contraceptivos. A opção pela abstinência é direito de cada um —mas não comportamento a ser prescrito a todos. [a campanha pretende apenas ressaltar, esclarecer,  as vantagens da abstinência sexual.]

Editorial -  Folha de S. Paulo
 
 

domingo, 2 de junho de 2019

Moderados e apreensivos: o que pensam os generais que trabalham bem perto do presidente Jair Bolsonaro

Um general do Alto Comando do Exército, grupo que mantém interlocução direta e constante com o presidente da República, transmitiu a Jair Bolsonaro nos últimos dias um pensamento que representa o estado de espírito atual de militares que estão perto do poder:

– Jair, serenidade. Você não precisa de radicais.
Na cabeça dos generais que ajudam a sustentar o governo Bolsonaro, incluindo aqueles, já na reserva, que ocupam cargos de primeiro e segundo escalões — o temor de uma radicalização caminha ao lado da preocupação de que a responsabilidade por tropeços do presidente recaia nos ombros e nas insígnias das Forças Armadas.

Arriscar o processo que fez as Forças Armadas saírem de um período repressivo, de grande desgaste na opinião pública, para a virada das últimas três décadas, quando retomou respeito e reconhecimento por parcela expressiva da população, é uma angústia crucial.

Integrados ao governo em grau sem precedentes desde a redemocratização, militares de alta patente ouvidos pelo GLOBO procuram apresentar uma mentalidade distante dos tempos da ditadura militar, época em que muitos se tornaram oficiais do Exército, Marinha ou Aeronáutica. A preocupação em mapear “inimigos” internos ou externos, uma constante no início de suas carreiras, hoje é adormecida.
Generais do alto comando contam que, em sua formação, foram “muito impactados por valores democráticos”, uma vez que passaram pelo processo de distensão e abertura na fase final da ditadura militar.

Os oficiais do círculo próximo a Bolsonaro abraçam uma tentativa de livrar o Exército de “estereótipos negativos”, em suas palavras. Um general do Alto Comando que conversou com O GLOBO em condição de anonimato, por exemplo, foi taxativo: avaliou que a ditadura cometeu “barbaridades” na repressão aos opositores: – Pagamos um preço muito alto com a ditadura. É uma palhaçada falar em intervenção militar, como ouvimos em alguns protestos. Chega a ser ofensivo.

As trocas de cargos no Ministério da Educação (MEC), que levaram à exoneração de diversos militares no seio do governo, não figuram sozinhos na lista de preocupações dos generais. Estão ombro a ombro com temores mais amplos, como a política armamentista do presidente, cabe ao Exército fiscalizar a venda de armas, os riscos envolvendo a Amazônia, considerada uma reserva natural estratégica, e até a determinação de que os quartéis celebrassem os 55 anos do golpe militar.
Sobre as armas, a preocupação central está na flexibilização do porte, desejada, e decretada, pelo presidente.
– Para porte, aí sim, é preciso ser perito na coisa. Há preocupação sobre uma proliferação negativa de armas, diz um outro general ouvido pela reportagem, que também pediu anonimato.

Como ficariam as Forças Armadas se recebessem a pecha de instituição que autorizou e controlou a disseminação de armas de fogo se as consequências não saírem como o esperado nos planos do presidente? São questionamentos como esse que permeiam os mais graduados.
– A gente torce para dar certo, afirmou um general ao GLOBO. Senão vamos ouvir: “Os militares não disseram sempre que são os salvadores da pátria?”
Dois assuntos neste primeiro semestre de governo incomodaram em cheio os militares de alta patente: o episódio do “golden shower”, quando Bolsonaro compartilhou em sua conta no Twitter uma prática sexual a céu aberto, gravada no carnaval de rua em São Paulo, algo impensável para um militar graduado, e a dubiedade em relação ao ideólogo de direita Olavo de Carvalho, que atacou, com xingamentos, os militares do governo. O compromisso com a “arrumação da casa” de uma instituição que representa o Estado e voltou ao governo após seu período mais desgastante é prejudicado.

Em geral, um militar leva de 30 a 40 anos para ascender até o último grau da hierarquia. A maioria dos principais generais do atual governo e dos que compõem o Alto Comando do Exército se formou nas turmas do fim da década de 1970 e do início da década de 1980 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, no Sul Fluminense.

O próprio Bolsonaro, egresso da turma de 1977, conviveu com certo grau de intensidade com vários desses generais. O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, é da mesma turma. O porta-voz Otávio Rêgo Barros é de 1981. Enquanto Bolsonaro deixou os quadros da ativa ainda na década de 1980, recém-alçado a capitão, alguns de seus contemporâneos seguiram em formação.
Suas carreiras foram feitas em um ambiente crescente de profissionalização e de processo de “arrumação da casa”, quando houve de fato um esforço para reverter a politização anterior, do regime militar, afirma o antropólogo Piero Leirner, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Aprendizado com missões
Se a década de 1940 ficou marcada, para o Exército Brasileiro, pelo envio de tropas para a Segunda Guerra Mundial, a partir dos anos 1990 se tornou recorrente a participação brasileira em missões de paz da ONU. O Brasil tinha 1,3 mil oficiais no exterior há quatro anos, com atuação principalmente em países africanos e no Haiti, cuja missão foi comandada por três dos atuais ministros de Bolsonaro: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Floriano Peixoto (Secretaria-Geral).
A maioria dos generais da atualidade já colocou a boina azul (usada em missões da ONU). É diferente do oficial que era general no regime militar. Era uma época de Guerra Fria, dos atos institucionais. Nem se pensava em mulher no Exército, por exemplo — analisa o general Eduardo José Barbosa, atual presidente do Clube Militar.
A experiência das missões de estabilização de países, que são diferentes de conflitos abertos que ocorrem guerras, é um aspecto que contribui para o perfil moderado dos oficiais que participam diretamente do governo.



 

segunda-feira, 22 de abril de 2019

O MST de Bolsonaro

Bolsonaro está em vias de adotar os sindicatos dos caminhoneiros como o seu MST pessoal. Após congelar o aumento do diesel na Petrobras durante alguns dias, e agora ativar empréstimos via BNDES aos caminhoneiros, além de adotar um tom quase que paternal frente aos condutores de boleias, Bolsonaro se esquece que ter governabilidade não passa pelo ato de se acovardar frente a grupos politicamente conduzidos.

[Tudo indica que esse tratamento especial que Bolsonaro dedica aos caminhoneiros é que ele pretende que tais sindicatos sejam um 'MST para o presidente Bolsonaro chamar de seu';  
A fortalecer tal teoria dos 'sindicatos dos caminhoneiros representarem para o presidente Bolsonaro um MST para ele chamar de seu', se fortalece quando os sindicatos, a exemplo do famigerado MST, não possuem, em sua maioria,  personalidade jurídica - portanto, não podem ser punidos pela Justiça.]

O que alguém precisa explicar ao Presidente é que, proteger uma classe em detrimento de toda a economia nacional é coisa de petista; e se não há “articulação política” com deputados do centrão, muito menos haveria de existir com os sindicatos. Segurar preços a todo custo, dar vantagens políticas, e afagar grupos com discursos e empréstimos, são os exatos métodos populistas e burros nos quais os governos vermelhos se apoiaram e pelos quais afundaram o país no maior recesso que essas terras já viram.

Se tornar refém de um grupo que age através de ameaças de paralisações,
que pedem benefícios especiais, sem, todavia, se importar minimamente com a seguridade econômica do país inteiro, é o mesmo que adotar um novo “MST” para chamar de seu. Afinal, é “Brasil acima de tudo”, não é mesmo?

Simplesmente não é hora de recuos. Colocar uma haste segura entre o palácio do planalto e os grupos que se acham dignos de vantagens, é o mesmo que garantir independência e poder de ação ao executivo. Fazer isso é o mesmo que finalmente expurgar esta ressaca protecionista com qual o Presidente veementemente concordou no passado, mas jurou rechaçar no presente; ou abre mão desse fraco verniz de liberalismo que tenta recobrir as suas ações econômicas até o momento, ou assume de vez os métodos do livre mercado e deixa a sua capacitada equipe econômica agir. Ser um estadista fraco e modelável não é uma opção quando estamos tratando com grupos de pressões que não se importam com a estabilidade monetária de um país inteiro, quando esses são especialistas em dobrar políticos às suas causas, sob todo custo.

Mostre de vez, Presidente, que o seu “namoro” com o livre mercado não é somente luxúria e paixão de uma eleição de verão; não podemos afagar castas e grupos de pressão com intervencionismos e, ao mesmo tempo, nos dizermos “liberais na economia”.  Não é possível que após mais de 100 anos de intervencionismos que nos deixaram na lata de lixo da história, com desenvolvimentos científicos e educacionais patéticos, com a vergonhosa tatuagem de “terceiros mundistas”, com um desenvolvimento econômico beirando ao de países africanos que estão em guerra há mais de 200 anos. Não é possível que vamos continuar tentando as mesmas estratégias que nos trouxeram cambaleantes e feridos até aqui.

Basta ler um “tiquinho” de história para perceber que o Estado intervindo na economia não deu certo nunca, em lugar nenhum desse Planeta, seja por um dia, seja por “mil anos”. Veja, me diga apenas um benefício que tal intervencionismo estatal brasileiro nos legou. Por que insistimos em errar tantas vezes repetindo as mesmas fórmulas? 


Pedro Henrique Alves - Instituto Liberal




domingo, 6 de maio de 2018

O 'movimento' pode ser uma milícia



Expor os maus métodos do MLSM não é "satanizar" as organizações de mobilização social

Condenado por corrupção, o maior líder popular surgido depois de Getulio Vargas está na cadeia. Na madrugada de 1º de maio desabou em São Paulo um prédio de 24 andares onde viviam 92 famílias que o ocupavam em nome de um Movimento de Luta Social por Moradia, o MLSM. Seja o que for aquilo que se chama de "movimento", o MLSM é uma milícia que domina oito prédios e barracas de comércio espalhadas pela cidade. No edifício que desabou cobrava aluguéis de até R$ 400 mensais.

Diante da exposição dos métodos do MLSM, deu-se uma reação, mostrando que havia um risco de satanização dos "movimentos". Quem defende os "movimentos" sem condenar as milícias sataniza aquilo que pretende proteger.  Não se pode dizer que o MLSM seja um ponto fora da curva. Em 1997, o estado de São Paulo era governado por Mário Covas, avô do atual prefeito Bruno, e três pessoas haviam sido mortas pela PM num conjunto habitacional da Fazenda da Juta, invadido pelo "movimento" dos sem-teto do ABC. Durante a ocupação, apartamentos de dois quartos e pequena sala eram negociados por atravessadores. Um dos invasores era um jovem de 19 anos, solteiro. No Nordeste, já houve filas de fazendeiros pedindo ao MST que invadisse suas terras para que pudessem buscar indenização do governo.

A caminho da cadeia, Lula disse que "não sou um ser humano, sou uma ideia", e saudou uma plateia dos "movimentos" habituados a "queimar os pneus que vocês tanto queimam", e a fazer "as ocupações no campo e na cidade". Prometeu-lhes: "Amanhã vocês vão receber a notícia que vocês ganharam o terreno que vocês invadiram."  Lula, o PT e muitas organizações de mobilização social nada têm a ver com o MLSM ou picaretagens semelhantes. O problema está no fato de que jamais denunciam o que é feito na suposta defesa do andar de baixo. Admitindo-se que invadir prédios seja uma forma de buscar a justiça social (o que não é), fazer de conta que não se vê a atuação de uma milícia é suicídio. Pensa-se que, se o objetivo é social, o resto não importa. Isso vale tanto para as invasões como valeu para a manutenção de contubérnios com empresários e políticos profissionalmente corruptos. Foi assim que se abriu a trilha de malfeitorias que levou o maior líder popular à cadeia, por corrupção.

O CUSTO DA DIPLOMACIA DOS COMISSÁRIOS
Os governos da Venezuela e de Moçambique deram um calote de R$ 1,2 bilhão em empréstimos do BNDES e do banco Credit Suisse, avalizados pelo Fundo de Garantia à Exportação. Eram parte da diplomacia dos comissários e das empreiteiras. O espeto foi coberto com recursos de seguro-desemprego. A doutora Dilma Rousseff já havia perdoado US$ 1,5 bilhão em dívidas de cinco países africanos, e pode-se esperar que os “negócios estratégicos” tragam novos calotes.
(...)

DODGE x CNMP
Vão mal as relações da procuradora-geral, Raquel Dodge, com o Conselho Nacional do Ministério Público. Pelo jeito, vão piorar.  No centro da encrenca está a decisão de Dodge de ir adiante na investigação da porta giratória do procurador Marcello Miller, que operava no MPF e no escritório de advocacia que defendia os interesses dos irmãos Batista, da JBS.
Miller admitiu que fez “uma lambança”, mas foi uma lambança muito bem remunerada. Seu contrato com os advogados dos Batista fixava em R$ 1,4 milhão seus vencimentos anuais.

A MALETA
O presidente dos Estados Unidos tem sempre por perto um oficial que carrega uma maleta chamada de “Futebol”. Nela estão os equipamentos de comunicação que podem ordenar um ataque nuclear.

Quando sai à rua, Michel Temer é acompanhado por um cidadão que carrega o que parece ser uma pasta. Trata-se de um painel dobrável que, uma vez aberto, protege o doutor contra ataques de tomates, ovos e coisas do gênero.


(...)

MATÉRIA COMPLETA, Elio Gaspari - O Globo

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Empresas vermelhas

A livre-iniciativa foi outro princípio completamente pervertido, pois livre era apenas o intervencionismo estatal 

A intrincada e vasta trama de relações entre o PT, o Estado e as empreiteiras, revelada pela Lava-Jato, mostra uma face do capitalismo brasileiro que, só com muita dificuldade, pode ser considerada como expressão de uma economia de mercado. O partido sempre se caracterizou doutrinariamente por ser socialista, voltado contra o lucro e a economia de mercado, que, segundo ele, deveriam ser controlados estritamente. Resultado disso foi, por exemplo, o fracasso do programa de concessões, devido, principalmente, às tentativas de controle do lucro, considerado um mal. 

Da mesma maneira, as privatizações foram objeto de opróbrio, pois o Estado deveria ser onipresente. Tudo o que cheirava a “privado” deveria ser simplesmente descartado. Ele, aliás, além de ser um ativo interventor na economia, deveria, ademais, ter protagonismo econômico. Dentre suas tarefas, deveria promover empresas estatais e privadas, que seriam as campeãs nacionais.  Do ponto de vista das relações internacionais, tivemos uma escolha igualmente socialista, com todo um privilégio de parceiros como os países bolivarianos e africanos. Lá também empresas obedeciam aos ditames do Estado/partido, algo que certamente aparecerá com os desdobramentos da Lava-Jato, à medida que a operação prosseguir após a morte do ministro Teori Zavascki. 

Ora, esta ideologia, esboçada aqui em alguns de seus traços, teve como seu instrumento empresas que se prestaram a este serviço, em busca, por sua vez, de lucros volumosos, possíveis somente pelas escolhas partidárias feitas. Denominemos essas empresas de “vermelhas”.  Qual consistia a sua função do ponto de vista partidário? Ela consistia em financiar o projeto socialista. Ou seja, empresas símbolos do capitalismo brasileiro estavam voltadas para a implementação de um projeto que, em tudo, contraria os princípios de uma economia de mercado, da concorrência e do respeito aos contratos. 

Lucro para elas só servia se fosse astronômico e baseado numa escolha política. Não seria o resultado do menor preço de seus produtos em um mercado concorrencial. Isto é, o PT abominava o lucro e produzia lucros exorbitantes para as empresas que o financiavam. Quem pagava a conta era, evidentemente, o cidadão e as empresasnão vermelhas que pagavam impostos. Não deixa de ser interessante o aparente paradoxo. Empresas vermelhas que financiavam um projeto socialista que, por definição, se posicionava contra os princípios que regem uma economia de mercado e que, em tese, deveriam nortear a atuação de qualquer empresa. 

Contudo, empresas “selecionadas” não deveriam obedecer aos princípios mesmos do capitalismo. Situar-se-iam fora desta órbita, devendo minar os seus próprios critérios e valores. O discurso anticapitalista petista concordava unicamente com os “princípios” dessas empresas, as vermelhas. A “coerência” seria preservada! A cor e a estrela continuariam a brilhar.  O preço de tal distorção ideológica foi a subversão completa dos princípios de uma economia de mercado. Listemos alguns deles.  A intervenção estatal, no segundo mandato de Lula e nos de Dilma, foi erigida em um dogma que não admitia qualquer contestação. Caberia ao Estado determinar margens de lucro em concorrências públicas e atender, de forma privilegiada, às empresas que se prestassem aos seus desígnios socialistas e estatizantes. 

Chegou-se ao extremo de determinar as tarifas de energia elétrica, produzindo um déficit que está até hoje prejudicando as empresas do setor. O Estado petista tudo sabia. Deu no que deu!  O lucro, conforme observado, foi considerado algo a ser evitado, uma espécie de chaga que não deveria ser tocada. Entretanto, as empresas vermelhas, as que financiavam o projeto socialista, ditavam os seus preços, entrando em conluio entre si, onerando o cidadão brasileiro e tratando o Estado como objeto de seu butim. Tudo isto seguindo as orientações estatais e partidárias. 

A livre-iniciativa foi outro princípio completamente pervertido, pois livre era apenas o intervencionismo estatal. As empresas eram previamente escolhidas tanto nas concorrências públicas, quanto na seleção daquelas que deveriam ser declaradas vitoriosas nesta curiosa expressão do “capitalismo” brasileiro.  Observe-se aqui que não se trata somente de um capitalismo de compadrio, aquele que favorece determinados grupos que não pretendem seguir as regras da livre concorrência, mas de um projeto político que procurava subverter de dentro os princípios e valores de qualquer economia de mercado. Ou seja, empresas vermelhas deveriam se colocar a serviço da instauração gradativa de uma sociedade socialista. 

Para estas empresas e para o projeto estatizante petista, não valeriam as regras de uma economia concorrencial, aquela em que as empresas vencedoras, as que se afirmam no mercado, são as que se destacam pelo mérito, pela competitividade e pela inovação.
Um dos princípios sagrados de uma economia de mercado consiste no respeito aos contratos e na segurança jurídica. Ora, o projeto petista desembocou na mais completa insegurança, onde apenas as empresas vermelhas tinham a segurança de investir, pois seus contratos eram sistematicamente alterados para aferirem maiores lucros. As demais ficavam à mercê do arbítrio.

Há, ainda, todo um novo capítulo do que está por vir, quando a Lava-Jato passar a investigar mais sistematicamente as conexões destas empresas com certos países africanos e bolivarianos. Ela passará a revelar como os governos petistas serviram para o enriquecimento ilícito de seu partido e de seus integrantes, alguns se tornando milionários. 

Será a operação Angola que projetará uma nova luz sobre as empresas vermelhas e o modo de atuação do PT, corrompendo governos estrangeiros e fazendo lá, o que fizeram aqui. Desnudar-se-á toda uma trama de relações em que os discursos de solidariedade mostrar-se-ão enquanto mera encenação, um disfarce, do vermelho que a tantos encantou.

Fonte: Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Dilma apanha sem parar de Renan e Cunha, e Lula já teme que Lava Jato use Odebrecht para atingi-lo



O desgoverno Dilma Rousseff saiu muito pior do que entrou na discussão promovida ontem em Brasília pelos presidentes da Câmara e do Senado para tratar do pacto federativo e o ajuste fiscal. Novamente, ficou claro que o governo está completamente refém dos "aliados" do PMDB. Renan Calheiros e Eduardo Cunha fingem brigar entre si, mas sempre se unem na hora de deixar Dilma cada vez mais acuada. Renan, para variar, acabou com ela:
"Vamos fazer tudo que garanta o equilíbrio fiscal. O que lamentamos, e lamentamos muito, é que aquele Brasil de 2014, que era projetado, anunciado, era apenas um Brasil para a campanha eleitoral. Estamos vivendo a dura realidade de ajustarmos o Pacto FederativoO que estou dizendo é somente o seguinte: que aquele Brasil projetado em 2014, aquele não é o Brasil que estamos vivendo hoje. E hoje ele precisa, entre outras coisas, garantir o Pacto Federativo. Aquele Brasil era para a campanha eleitoral".

Renan pegou tão pesado que cobrou de Dilma até solução para um problema que deveria ser mais dos estados do que necessariamente dela - se a marketagem nazicomunopetralha não tivesse incluído na campanha reeleitoral passada: "Há necessidade de cobrarmos do governo o cumprimento das responsabilidades da União na segurança pública. Foi um compromisso de campanha, foi reafirmado na posse e essa é uma grande oportunidade de cobrar da presidente da República".

Se Dilma Rousseff está numa pior com seus "aliados", não há dúvidas de que Luiz Inácio Lula da Silva "não está numa fase muito boa" e que o projeto político dele está "esfarelando" - conforme o endeusado líder petista teria admitido a interlocutores, em recente passagem por Brasília. Lula sabe que a Lava Jato se aproxima dele, como nunca, depois que o Ministério Público Federal deu um prazo de 15 dias para o Instituto Lula fornecer a agenda oficial de viagens do ex-presidente a países africanos e da América Latina, entre 2011 e 2014. O mesmo pedido vale para Alexandrino Alencar, dirigente da Odebrecht.

O bicho vai mesmo pegar? A procuradora federal Mirella de Carvalho Aguiar citou os R$ 435 mil reais pagos pela Odebrecht para fretar o jatinho que levou Lula e seus comparsas a Cuba e República Dominicana, assim como o contrato que seu "sobrinho" Taiguara Rodrigues dos Santos ganhou da empreiteira em Angola. Em seu pedido, Mirella destaca: "Considerando que as obras [da Odebrecht] são custeadas, direta ou indiretamente, por recursos do BNDES, caso se comprove que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva também buscou interferir em atos praticados pelo presidente do mencionado banco (Luciano Coutinho), poder-se-á, em tese, configurar o tipo penal do art. 332 do Código Penal (tráfico de influência)"