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sábado, 26 de setembro de 2020

Os 300 de morte e o voto de cabresto - IstoÉ

Na terra do calango, da casa de taipa e da pouca água extraída do mandacaru o cacto pestilento e espinhoso do agreste —, trezentos reais é fortuna na vendinha do seu Zé do vilarejo, que aceita fiado, mas apenas “rico” com dinheiro pode comprar. Ninguém tem nem R$ 1 para ir lá. Boa parte vive à base do que planta e caça de bicho do mato. Quem consegue emprego na plantação de cana do usineiro, como cortador da lavoura, leva R$ 1,90 por dia pesado de trabalho. Do nada com coisa alguma, no semiárido nordestino ou nos rincões onde a pobreza espreita como sina, 300 reais é fortuna e muda a vida de muita gente. Quem dá, vira deus. Quem recebe, venera o mito. Pode ser quem for, transforma-se naquele “deus e o diabo na terra do sol”, recordando a obra clássica do cineasta Glauber Rocha. É a realidade nua e crua da parcela setentrional desse País imenso, só bonito por natureza. 

[dois comentários: 
- de voto de cabresto o infeliz do demiurgo de Garanhuns e seus asseclas;
- quanto a defesa de posturas que o presidente Bolsonaro efetua, vale o antigo ditado: tem males que são necessários.]

O demiurgo do sertão – pode ser de esquerda, de direita, quem se importa? Não vem ao caso – ganha licença para delinquir, falar baboseiras, perseguir, destruir o meio ambiente, ser arrogante, até roubar se quiser. O que der na telha. Terá mesmo assim, e garantido, o voto do açoitado pelo destino. Humildes lavradores, incrédulos sofredores, dão a dimensão real da miséria extrema desse Brasil grande. Ali a ignorância graça com fervor. Por falta de educação e informação mesmo, artigos raros e inalcançáveis a essa parcela da população. Ali, qualquer redentor é bem-vindo, aclamado, celebrado como “salvador”. Carregue o chapéu de coco, de palha, de cangaceiro, suba no jegue da região, use e abuse de qualquer pantomima. Trouxe a ajuda? É o que importa. Será saudado e serão feitas as suas vontades. O voto de cabresto está à disposição de quem pode pagar mais, regateado a granel. 

E assim se repetirá por décadas e séculos, até que a chaga da brutal desigualdade social seja curada. Não irá, todos sabem! É do interesse da elite manter tamanha injustiça no recorte do bolo. A extraordinária obra “Casa Grande & Senzala”, do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, retrata à perfeição a natureza dos contrastes que prevalecem nessas paragens tropicais desde o Descobrimento. A obra do “Mestre de Apipucos” escancara os meandros de como o regime econômico patriarcal e assistencialista foi danoso, causando ao mesmo tempo o atraso endêmico e a degeneração das relações sociais e do caráter político brasileiro. Sem o fim da desigualdade, resta o aliciamento. Imoral, covarde, enganoso, torpe. Bolsonaro é o redentor da vez. Ganhou quase 10 pontos percentuais nas pesquisas com o auxílio emergencial. 

Eram 600 reais. Viraram 300. Ainda tá de bom tamanho. Maior do que o de Lula, decerto. E assim venceu a pendenga dos indecisos ou arredios por lá. Prorrogou o benefício. O mandatário se afia agora ao donativo não por compaixão ou caridade, mas como boia eleitoreira. Um e outro não podem mais se desprender. Do contrário, a turba some. Pobres sedentos e esfomeados precisam do assistencialismo que faz a diferença entre vida e morte. Quem mora nas grandes capitais não entende o drama. Não nessa dimensão. Ter dinheiro nos sertões é raridade. 10 reais? Nem em um mês bom. E a iniquidade dos oportunistas de plantão avança e cria raízes nesse ambiente. Bolsonaro, que classificava o “Bolsa Família” de mero instrumento para “comprar o voto do idiota”, alegando ser uma maneira de “tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda”, tomou a fórmula para si. Curiosa metamorfose. Vale até a confraternização com aqueles a quem antes se referia, jocosamente, como “paraíbas”. 

Eis a transmutação débil e obscena: De um degenerado radical do “golden shower”, que defende a tortura e a morte de 30 mil, no populista de ocasião. Quem há de resistir e não atender ao chamado providencial dos 300? No pináculo do populismo, o drama dos necessitados é a argamassa. Nele se montam as retumbantes promessas de que “tudo vai melhorar”, sem que nada nesse sentido efetivamente seja feito. 

A narrativa enganosa comove o rebanho, malgrado as infâmias sobre uma revolução social que nunca chega. Jair Messias Bolsonaro foi tomado por um súbito e despudorado interesse pelos necessitados, enxergando neles mera massa de manobra. Não quer transformar ou remodelar a dura rotina local ou ajudar aquela gente a superar a realidade. Ao contrário. Caso assim pensasse, implementaria mudanças estruturais capazes de prover, de maneira sustentável, carências elementares como saneamento básico, transporte, saúde, luz, água, ensino. Afinal, é ele o governo. Não mero candidato. Poderia fazer, ao invés de prometer. Não está no escopo. Para que? Demora e não rende voto no prazo até às urnas. Com menos da metade do mandato, Messias traçou uma cruzada de peregrinações de campanha na qual o que valem são os aplausos, discursos vazios e encenações. Tudo em troca dos 300. Tá bem pago. É vida e morte errante, Severina, que segue. Meus conterrâneos um dia, rogo e suplico, poderão ter sina melhor.

IstoÉ - Carlos José Marques - Diretor Editorial


quarta-feira, 13 de maio de 2020

Os palavrões no Conselho de Governo - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

O bolsonarês humilha aqueles que votaram no capitão em nome dos bons costumes

Quando Sergio Moro pôs na roda a questão do vídeo da reunião do Conselho de Governo de 22 de abril, sabia que havia ali uma bala de prata capaz de provar que Jair Bolsonaro queria trocar o diretor da Polícia Federal para blindar os interesses políticos de sua família. Ele sabia também que a bala continha outro material. Ao chegar ao Planalto, com pompa monarquista, o capitão chamou de Conselho de Governo aquilo que se conhecia como reunião do Ministério. Reunindo-o, ele presidiu uma conversa de botequim, e Moro mostraria isso.

[os que votaram no capitão em nome dos bons costumes não se sentem humilhados.
Alguns dos motivos:
- ainda não deixaram o presidente Bolsonaro governar;
- o número de f. d. p existente, continua tentando manter a MORAL e os BONS COSTUMES longe do Brasil;
- um país que cultua a ideologia de gênero torna mais difícil o combate às IMORALIDADES e BONS COSTUMES;
- um país em  que o seu presidente é execrado por ter postado um vídeo repudiando a prática do 'golden shower' em via pública, decididamente está longe de ser tornar um modelo em BONS COSTUMES.]


A divulgação desse vídeo será também um espetáculo de falta de compostura e de asneiras. Outro dia a secretária de Cultura, Regina Duarte, disse que parou de ler os livros de Olavo de Carvalho porque ele usa muitos palavrões. No governo que ela louva, o vocabulário do doutor Olavo é o de um sacristão.  Alguns presidentes respeitavam seus interlocutores. Michel Temer, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney falam como frades. Não se pode dizer o mesmo de Dilma Rousseff e Lula, mas nenhum deles disse palavrão em reunião ministerial. Conhecem-se os áudios das reuniões do Conselho de Segurança Nacional que decidiram baixar o Ato Institucional nº 5 (Costa e Silva) e o Pacote de Abril (Ernesto Geisel). Neles não há palavrões.

O primitivismo de Bolsonaro vai além do uso de expressões chulas, transborda para a própria maneira como preside uma reunião de ministros e como lida com sua equipe de renomados “técnicos”. Em certa ocasião ele manifestou tamanha curiosidade por detalhes de caso

s de violência que um dos titulares achou melhor mudar de assunto. O clima de feijoada permite que o chanceler Ernesto Araújo exponha (em bom português) suas teorias lunáticas em relação à China ou que alguém resolva qualificar a genealogia de ministros do Supremo Tribunal Federal. É a bagunça bolsonariana. Nela o presidente libera o funcionamento de academias de ginástica e salões de beleza sem ouvir seu ministro da Saúde. Afinal, ambos sabem com quem lidam.

O vídeo da reunião de 22 de abril é um exemplo da capacidade de autocombustão do governo. Já com Moro fora do governo, Bolsonaro disse que divulgaria seu conteúdo: “Mandei legendar e vou divulgar”. Falou o que lhe veio à cabeça, mas dias depois a Advocacia-Geral da União pediu ao ministro Celso de Mello que reconsiderasse a decisão de pedir a gravação porque na reunião foram tratados “assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado”. Parolagem, pois podia ter pedido para embargar esses trechos. Essa é a prática de governos sérios, mas quem embarga trechos assina embaixo e se responsabiliza pelo ato.

Diante da blindagem absurda, a AGU recuou e disse que se contentava em entregar uma versão com trechos embargados. Não deu certo. Sergio Moro e seus advogados não aceitaram o atalho, argumentando que não compete ao governo selecionar provas. Caberá ao ministro Celso de Mello decidir se torna público todo o vídeo ou partes dele. Se Moro quisesse apenas provar que Bolsonaro pressionou-o para trocar o diretor da Polícia Federal, o embargo seria neutro e justificável. Ele também queria mostrar como funciona a muvuca em que se meteu.

Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Maia, Alcolumbre, Toffoli e Aras silenciam sobre insulto de Bolsonaro a repórter - Folha de S. Paulo

Chefes de Poder não comentam declaração do presidente com insinuação sexual

Os presidentes dos demais Poderes silenciaram sobre insulto proferido nesta terça-feira (18) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, com insinuação sexual, contra a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha. Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, foram procurados por meio de suas assessorias de imprensa. No entanto, até o início da noite desta terça, nenhum deles se manifestou.[talvez essas autoridades tenham em um momento, ainda que raro, de isenção, de parcialidade e concluído que o alvoroço em função das chamadas ofensas, seja apenas consequência de uma interpretação parcial das narrativas.

No Brasil atual, em que o presidente da República é quase linchado virtualmente por ter, no carnaval 2019, criticado um 'show' de 'golden shower'- algo que além do caráter obsceno de um ato imoral praticado em público, se destaca por mostrar uma aberração, uma prática bizarra, nojenta e repugnante.]  

O procurador-geral da República, Augusto Aras, também não se posicionou sobre a declaração do presidente. "Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]", disse Bolsonaro nesta terça, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes na frente do Palácio da Alvorada. A declaração do presidente foi uma referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News no Congresso.

Hans River do Rio Nascimento, que trabalhou para a Yacows, empresa especializada em marketing digital, mentiu a deputados e senadores. Em dezembro de 2018, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos do depoente Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Já na CPMI, ele deu informações falsas e insultou Patrícia, uma das autoras de reportagem. Sem apresentar provas, Hans afirmou que Patrícia queria "um determinado tipo de matéria a troco de sexo". Ao longo do dia, Maia se negou a comentar a declaração de Bolsonaro duas vezes, uma em São Paulo, onde participou de evento de um banco, e outra em Brasília.

No Congresso, durante entrevista coletiva, disse que só poderia falar sobre o episódio após assistir às declarações de Bolsonaro. A resposta foi a mesma dada pela manhã, na capital paulista. "Não vi ainda. Só vou falar mais tarde. Não vou falar do que não vi. Só vi a repercussão", afirmou o presidente da Câmara. Alcolumbre foi procurado pela Folha ainda na semana passada, quando a jornalista foi insultada pela primeira vez, mas não se manifestou. Na segunda-feira (17), quando ele e seu pai foram alvos de comentários machistas, homofóbicos e antissemitas por causa de um vídeo em que aparecem dançando, o presidente do Senado foi às redes sociais. "Uma crescente onda de intolerância, preconceito e desrespeito toma conta das redes sociais. É inacreditável que algumas pessoas sejam tão desrespeitosas que se sintam no direito de agredirem, sem mais nem menos, a imagem de um pai feliz em um momento de descontração com o filho", escreveu Alcolumbre.

Nesta terça, após a declaração de Bolsonaro, a assessoria de Alcolumbre foi procurada pela Folha, mas não respondeu. Na semana passada, Maia se manifestou nas redes sociais. "Dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei", escreveu.

Nesta terça, abordado após um evento em São Paulo, disse que ainda não havia tomado conhecimento do insulto. "Eu não vi ainda, estava aqui no evento e, quando eu chegar a Brasília, eu vou me manifestar. Mas, como eu não vi, eu não quero me manifestar sem antes compreender o que ele falou e como ele falou", afirmou. O ministro Dias Toffoli também foi procurado nesta terça, mas não se pronunciou. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também não comentou as declarações de Bolsonaro. "O PGR, Augusto Aras, se manifestará juridicamente, caso seja necessário, na instância adequada", informou a assessoria de imprensa de Aras.

Na Câmara, a bancada do PSOL protocolou no Conselho de Ética da Presidência um pedido de apuração de violação da conduta da alta administração federal, por parte do presidente, por insultar a jornalista da Folha. Segundo a bancada, as declarações são de "cunho machista e misógino". "Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos", escreveram os deputados.

Ao final da audiência pública desta terça, na CPMI das Fake News, o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) criticou o insulto de Bolsonaro a Patrícia. "Hoje, até o presidente de forma infame atacou a jornalista Patrícia Campos Mello em termos baixo, sexista e misógino. Se tivesse como responsabilizar esse inimputável, seria esse o momento. Porque outros momentos ele já deu ensejo a isso, mas hoje atingiu a baixeza da sarjeta", afirmou.

Outras figuras políticas foram às redes sociais para criticar a fala de Bolsonaro. "Essa manifestação em relação a Patrícia passa de todos os limites. É muito desrespeito com a condição de mulher. Lamentável chegar a uma situação como essa. Desconheço um presidente que tenha feito uma agressão tão grande à posição de mulher como ele fez agora", disse a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR).

Para o deputado Paulo Teixeira (SP), secretário-geral do PT, "o cargo de presidente nunca foi tão vilipendiado, ultrajado e desonrado". [foi sim e muito mais; quando teve um presidente ladrão, que chefiava uma organização criminosa e na sequência foi substituido por uma presidente que além de cúmplice dos crimes cometidos pelo seu antecessor, se destacou pena ignorância, pela incompetência.

O líder da Minoria do Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também foi às redes sociais. "Qual o limite do absurdo? Em que democracia sã um presidente da República se sente à vontade agredindo, assediando mulheres? O Brasil nunca esteve diante de tanta covardia! As instituições não podem se calar! Toda minha solidariedade à Patrícia Campos Mello!", escreveu. O PSDB nacional também se posicionou sobre a fala do presidente. "A liberdade de imprensa é um patrimônio de uma sociedade democrática e livre. Causa consternação todo e qualquer movimento que queira calar ou desqualificar a imprensa e, mais preocupante ainda, quando o ato vem carregado de sexismo e desprezo contra as mulheres", publicou o PSDB nacional.

"Este presidente é a maior vergonha de nossa história! Enojante!", escreveu Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará e um dos adversários de Bolsonaro na eleição de 2018. [os demais comentários, em sua maioria, nada dizem. O do Ciro Gomes, este sim merece um lembrete: o Ciro Gomes foi aquele admirador das mulheres que quando era casado com atriz Patrícia Pilar, perguntado sobre a 'utilidade' dela, simplsmente respondeu: ela dorme comigo.]
 
Poder - Folha de S. Paulo 
 
 

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Coleção de retrocessos - Eliane Catanhêde

O Estado de S.Paulo

Em 2019, Brasil avançou devagar na economia e recuou velozmente no resto

[o governo Bolsonaro tem sido vítima constante de ações de boicote, que podem ser chamadas até de sabotagem, e isto tem impedido o seu progresso nos aspectos positivos = a turma do 'quanto pior, melhor' faz muito barulho e compensa sua condição de minoria (a democracia brasileira é exercida através da DITADURA das minorias) - o lema da turma é:  qualquer coisa do governo Bolsonaro, temos que ser contra.]

Último dia do ano, hora de discutir o que deu certo, o que deu errado, o que poderia ser melhor. No governo Jair Bolsonaro, a economia andou devagar, mas andou. O problema foi o resto, que andou rápido, mas em marcha a ré. Uma coleção de retrocessos.

A reforma da Previdência foi o grande marco político e econômico de 2019. O grande mérito do governo foi enviar o projeto e o do Congresso foi ter encaminhado, debatido e votado com razoável rapidez e com a menor desidratação possível. Bolsonaro jogou o pacote no Congresso e lavou as mãos, deixando a condução, a negociação, os ajustes e os votos por conta de dois personagens-chave no seu primeiro ano de governo: Rodrigo Maia, do Legislativo, e Paulo Guedes, do Executivo. Com a reforma da Previdência aprovada, abriu-se uma avenida de oportunidades para novas reformas e a própria economia.

A previsão do PIB foi ao fundo do poço em meados do ano, mas recuperou-se e é otimista neste 31 de dezembro. A inflação e os juros estão baixos como nunca e o desemprego continua dolorosamente alto, mas caindo. Logo, as condições são boas. O preço da carne precisa baixar e Bolsonaro tem de parar de atrapalhar. [o Brasil precisa aumentar sua área destina à agropecuária agricultável, o que é uma situação urgente e que trará excelentes resultados para o Brasil = a urgência e os bons resultados impõe que revista a política irresponsável de reservas indígenas gigantescas para poucos índios, enquanto grande parte da população passa fome, mesmo tendo o Brasil imensas áreas de terras a serem exploradas e sem prejudicar o meio ambiente.]

Quando se fala (ou reclama) em recuos, pensa-se logo em Meio Ambiente, que jogou o Brasil na imprensa internacional e abriu atritos desnecessários com parceiros como França, Alemanha, Suécia. E Bolsonaro também bateu de frente com China, Argentina, Chile, o mundo árabe, além de chegar no Paraguai elogiando Stroessner. [o presidente Bolsonaro cometeu alguns enganos no inicio do governo - muitos esquecem que apesar de ser conhecido como 'mito' o presidente é HUMANO = errar é humano, permanecer no erro é diabólico, e o presidente tem a grandeza de recuar quando é preciso.] Houve ainda recuos assustadores na Cultura, até na última semana do ano, com o veto ao projeto de incentivo ao audiovisual, e na Educação, que saiu de um ministro inútil para outro que só vê “balbúrdia” nas universidades. Cultura e Educação não são inimigas, presidente! Nem a mídia e os jornalistas.

De tudo isso, fica o histórico de manifestações do presidente da República, ora machistas, ora homofóbicas, ora pró-ditadores sanguinários, ora acusando Paulo Freire de “energúmeno”. Para que? Ninguém sabe, mas o fato é que os filhos vão atrás. Sem citar hienas e “golden shower”, ambas de péssima lembrança. [sobre Paulo Freire e Weintraub,sugerimos ler: NO PÉ DE ABRAHAM WEINTRAUB - Percival Puggina. Escrito por quem realmente sabe do assunto.] já realizou este ano, 87 viagens “a serviço” em jatinhos da FAB, na companhia de um total de 1.091 ‘caroneiros’.

Por falar nisso, a ida do deputado Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em Washington foi um sonho de verão para ele e um pesadelo para muita gente, dentro e fora do Itamaraty. E o ano termina deixando em aberto a situação do senador Flávio Bolsonaro, alvo do Ministério Público do Rio de Janeiro e com muitas histórias mal contadas a explicar à opinião pública brasileira. Carlos Bolsonaro? Esse continua lá, tuitando. Se as pesquisas registram a baixa popularidade do presidente, não captaram o esforço do Legislativo, que trabalhou muito e bem ao longo de 2019. Motivo: continua “dando Ibope” falar mal do Congresso. Faz parte. [ a pesquisa que apontou empate (considerando a margem de erro)  entre o Executivo = 36% de reprovação e o Judiciário = 39% de ruim ou péssimo = apurou 45% de rejeição para o Congresso.
O que o Congresso ganha de lavagem é no número de viagens do 'primeiro-ministro' Maia, usando aviões da FAB 229 voos, com  carona a 2.131 caroneiros e Alcolumbre, presidente do Senado, 43 viagens e 743 caroneiros.
- o presidente do STF,  já realizou este ano, 87 viagens “a serviço” também em jatinhos da FAB, na companhia de um total de 1.091 ‘caroneiros’. CONFIRA AQUI, Maia, o senhor das mordomias. ...]

Quanto ao Judiciário, esteve no centro da suspeita de um cerco institucional à Lava Jato. Vamos combinar que o fim da prisão em segunda instância e os meses de interrupção de investigações pautadas pelo Coaf foram ataques frontais à maior operação de corrupção, talvez, do mundo. E ambos conduzidos pelo Supremo. No foco, o presidente Dias Toffoli, determinado a derrubar a prisão em segunda instância e autor da canetada que feriu gravemente a atuação do Coaf e suspendeu as investigações com base na inteligência financeira. O discurso “em javanês” do ministro é um dos destaques de 2019. Cada um conclua o que quiser. No mais, o governo abriu tudo para os EUA, mas, até agora, ninguém sabe, ninguém viu, no que isso conta a favor dos interesses do Brasil. A olho nu, não se vê pragmatismo, muito menos reciprocidade. Só Trump ri. Não tem graça nenhuma.
 
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Um ano meio maluco - Fernando Gabeira



Em Blog
 
No último artigo do ano, não queria fazer uma resenha. Apenas me ater a uns traços mais gerais para explicar como chegamos até aqui e para onde, possivelmente, estamos nos dirigindo. Tentei a forma clássica de explicar o que vejo aqui pesquisando os analistas mais amplos que tentam entender o mundo, os fenômenos que repercutem em muitos lugares, inclusive no Brasil.

Ao ler um deles, o sociólogo Ulrich Beck, autor de A Metamorfose do Mundo, deparei-me com o seguinte argumento que considera o ritmo das mudanças atuais muito mais rápido que os efeitos, por exemplo, da Revolução Francesa: A metamorfose do mundo ocorre com uma velocidade realmente inconcebível: em consequência, está ultrapassando e esmagando não apenas pessoas, mas instituições. É por isso que a metamorfose que acontece nesse momento, diante de nossos olhos, está quase fora da conceituação da teoria social. Por isso que muitas pessoas têm a impressão de que o mundo está louco.

Modestamente, o que me resta é descobrir alguns pontos em que a loucura mundial se entrelaça com a brasileira e que tipo de iguana nasce desse cruzamento. A novidade do ano de 2019 foi a mudança de governo, início de uma nova etapa. Ela apresentou inúmeros pontos de contato com os Estados Unidos, expressando um divórcio quase hostil entre as pessoas comuns e os intelectuais e acadêmicos. Elas parecem cansadas de ter alguém pensando por elas, indicando caminhos, dizendo o que pode ou não ser feito. A frustração econômica e o desencanto com a política estenderam-se também à elite intelectual, considerada uma parte do sistema.

A internet teve um peso decisivo ao dar voz a milhões de pessoas. O avanço tecnológico não apenas favoreceu a democracia, mas tem também suas consequências negativas. Pessoas que, como lembra Umberto Eco, destilavam seu ódio ou suas bobagens num botequim agora o fazem em cena aberta. No caso brasileiro, a desconfiança em relação aos intelectuais estendeu-se também aos cientistas, questionados por novos interlocutores, que vão desde quem nega o aquecimento global até quem crê no terraplanismo.

Apesar desses elementos perturbadores, a experiência do primeiro ano de Bolsonaro pode ser comparada ao governo Margaret Thatcher, ambos liberais dispostos a soltar as amarras do mercado. No plano político, o principal objetivo de Thatcher era impedir a volta dos trabalhistas ao poder; o de Bolsonaro, impedir a volta do PT. Thatcher começou por enfraquecer os sindicatos, questionando os acordos salariais coletivos, um dos seus instrumentos, segundo a visão liberal. Bolsonaro já encontrou uma reforma trabalhista quando assumiu. No caso brasileiro, ela continha um elemento também duro para os sindicatos: o fim do imposto sindical, algo que até o PT aceitava nos seus primeiros anos.

A julgar pelos primeiros passos este ano, a política liberal vai se impondo. A de Thatcher foi, de certa forma, vitoriosa, com mudanças irreversíveis na economia inglesa. Um outro ponto de contato entre Bolsonaro e Thatcher se dá nas suas expectativas sobre os costumes. Em janeiro de 1983, Thatcher declarou numa entrevista de televisão sua crença nos princípios vitorianos e uma esperança de que fossem revividos na Inglaterra. Ela não imaginava que o movimento de soltar as amarras do mercado iria levá-lo muito distante do passado idílico que pensava reviver. Na verdade, o avanço do capitalismo ajudou a sepultar os traços dos tempos que sonhava reencontrar. Thatcher talvez tivesse os instrumentos intelectuais para perceber esse rumo histórico. Tenho dúvidas sobre Bolsonaro.

E aqui acaba a comparação. Bolsonaro quer voltar a valores que muitos sonham reviver. Mas ele vive a ilusão de uma forma especial e com estilo grosseiro, atacando a imprensa, trazendo a mãe dos outros para a conversa e ofendendo homossexuais – enfim, o arauto de um novo horizonte moral é, na verdade, um ator obsceno, não apenas nas suas palavras, como nas postagens. Imaginem o espanto da vitoriana sra. Thatcher diante de um vídeo do golden shower. Um aspecto singular do governo Bolsonaro é ter usado a bandeira da anticorrupção. Neste ponto, a experiência do ano o aproximou mais de Collor. Ambos desfraldaram a mesma bandeira, ambos se viram às voltas com denúncias que os desmascaravam.
Bolsonaro enfrenta o caso do filho Flávio e do amigo Queiroz. É caso que envolve família, funcionários fantasmas, rachadinhas. Suas grosserias na entrevista na porta do Palácio da Alvorada indicam para o observador que sentiu o golpe.  Diante destes traços gerais, destaco uma variável que potencialmente pode definir o futuro. A tensão entre uma política econômica que, com alguma sensibilidade, pode vingar e o comportamento disruptivo de Bolsonaro.

Surge uma pergunta que pode ser feita de duas formas: até que ponto os erros de Bolsonaro vão emperrar o projeto econômico? Ou: até que ponto o avanço da política econômica consegue amortizar o desgaste de Bolsonaro, tornando tolerável um comportamento agressivo e desrespeitoso, ou mesmo a revelação conclusiva de um esquema de desvio de verbas públicas?  A política liberal conta com o apoio do Congresso. Mas ali as coisas costumam mudar muito ao sabor dos acontecimentos políticos.

Por fim, um foco de tensão entre o econômico e o político está na questão ambiental. Estamos diante de um mundo que dá importância a isso. [um lembrete aos que insistem em demonizar o presidente Bolsonaro por ter chamado a gazeteira sueca de pirralha;
Nas tentativas de valorizar uma pirralha, invocam que ela foi capa do Times e também personalidade do ano, pelo mesmo veículo.
Lembramos aos esquecidos que Hitler, hoje execrado, foi considerado personalidade do no pela mesma publicação, que homenageou Bin Laden tornando capa de uma das suas edições.
Isto somado a que o condenado petista foi indicado para o Nobel da Paz, mostram que tais honrarias, recebidas pela gazeteira, nada significam.
São concedidas aos que estão evidência ainda que imerecida. ]  
 Até que ponto um liberalismo econômico ainda tenro se sustenta num mundo globalizado hostilizando o consenso científico e político internacional sobre as mudanças climáticas e ironizando a preocupação planetária com a Amazônia? Não sei se entendi bem o ano que acaba, tudo o que tenho são algumas ideias gerais para não perder completamente o ano que entra.

Blog do Gabeira – Fernando Gabeira, jornalista
https://gabeira.com.br/blog/


Artigo publicado no Estadão em 27/12/2019



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Uma guerra particular - Fernando Gabeira

Em Blog


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Um ano pela extrema direita - Fernando Gabeira

13.12.2019 Em Blog


Hoje, 13 de dezembro de 2019, até que aqui tudo bem. Em termos, quero dizer. Não decretaram o AI-5 nem massas se revoltaram, como no Chile, apesar dos apelos. O drama se fragmenta em morte de adolescentes em Paraisópolis e assassinato de índios guajajaras no Maranhão. As pessoas compram presentes e se preparam para o Natal, como o fizeram em dezembro de 1968. E os articulistas fazem o balanço de 2019.