Uma das responsáveis por política com foco em abstinência, Jayana Nicaretta defende conscientização para jovens sobre 'parte ruim' do sexo
Em entrevista ao GLOBO, Janayna minimizou as críticas e piadas que têm sido feitas sobre a campanha e argumentou que é preciso conscientizar os jovens sobre a “parte ruim” do sexo.
Quais têm sido as contribuições da Secretaria Nacional de Juventude para a campanha de abstinência sexual?
A gente ajudou a levantar dados sobre o assunto, mas por lei é uma campanha da secretaria dos Direitos da Criança e do Adolescente. O protagonismo é todo deles. A SNJ entra como parceira para dialogar com esse público. Temos uma faixa etária importante em comum, que são jovens de 15 a 18 anos. Nossa colaboração tem sido no sentido de (definir) qual é a melhor abordagem para tratar desse assunto com a juventude.
Vejo que ainda há um grande problema cuja discussão é desnecessária, que é o número de casos de gravidez de menores de 14 anos, o que é estupro de vulnerável. Não há nem discussão sobre isso, não há opinião certa ou errada, é um crime e está no código penal. De 2009 a 2011 houve 162 mil gravidezes com menores de 14 anos, 162 mil estupros de vulneráveis. É algo que vai muito além da opinião moral, não é religioso. Há jovens iniciando a vida sexual de forma muito precoce, não estão preparados e isso é chamado estupro de vulnerável, não tem outro nome.
Ou apoiada (por muitos jovens).
Em relação aos jovens que têm criticado, por que há essa reatividade? A campanha está desalinhada com a juventude?
É normal. Não é uma campanha feita para o jovem mais velho, independente, com autonomia financeira. O público-alvo é a faixa etária que está sendo iniciada no chamado estupro de vulnerável, pois temos crianças e adolescentes com iniciação sexual antes dos 14 anos, incorrendo em crime. E vai até os 18 anos, idade em que o jovem ainda é dependente. É óbvio que vai rolar essa discordância, pois as pessoas são livres. Em nenhum momento se diz “não pode mais ter a sua vida sexual da maneira que você quiser”. O jovem vai fazer ou não, coloca-se como uma opção.
E o que achou da reatividade do público em geral?
A mensagem não foi passada da maneira correta, talvez pela imprensa. Por muito tempo, as músicas colocaram o sexo como uma atividade não humana, meio animalesca. Tudo ao redor dos adolescentes os leva a pensar que estão atrasados, que o jovem está por fora se ainda não iniciou a vida sexual, que está excluído. Tem uma ideia nova que diz não a tudo isso, e que diz: “Não, espera aí! Não é tudo isso”. As músicas só falam da parte boa da prática sexual, você não vê uma música falando de todas as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), ou do impacto da gravidez precoce. Não vemos nelas tudo que cerca o jovem ligado a essa parte ruim. O jovem não está refletindo, ele está fazendo porque é bom. E aí a gente vem na contramão, e é claro que vai gerar reação de espanto.
Sugerimos um nome que pudesse “pegar” mais, como trazer o ato de o jovem refletir sobre isso, sobre as consequências e responsabilidades na vida sexual. A gente pensou em algo como “Pense duas vezes”. Quando a pessoa é consciente do que está fazendo, acreditamos que (sua escolha) seja uma vontade de fato por liberdade.
(....)
O público jovem é uma parcela do eleitorado que
ofereceu resistência à eleição do presidente Jair Bolsonaro. Que outras
políticas o governo federal tem desenhado para a juventude?
A juventude esteve em massa nas ruas nas manifestações. Eu comecei a ir para as ruas em 2013, quando começou o movimento de rua. Tinha todas as faixas etárias, mas a juventude foi bem protagonista. Hoje há um bônus demográfico no Brasil, ou seja, o país nunca teve e nunca mais terá tantos jovens (como agora). Ter essa parcela da população que está na melhor fase da vida para produzir, é nessa fase que tem o jovem se desenvolvendo para o emprego, escolhendo uma profissão. Também é uma fase que perdemos muitos jovens para o crime.
Além de dar continuidade para as políticas que já existiam, como o ID
Jovem, a Conferência Nacional de Juventude, o Estação Juventude, a
gente implementou programas que agora se preocupam com a quarta
revolução industrial. Cerca de 47% das profissões vão deixar de existir
nos próximos 20 anos, 67% das crianças e adolescentes vão trabalhar em
profissões que ainda não conhecem. Nos preocupamos com o que nós
enquanto governo precisamos fazer para que esse jovem esteja atualizado e
engajado nessas mudanças, porque elas são muito abruptas.
Você tem acompanhado a crise do Enem e do Sisu? Qual sua visão?
A juventude esteve em massa nas ruas nas manifestações. Eu comecei a ir para as ruas em 2013, quando começou o movimento de rua. Tinha todas as faixas etárias, mas a juventude foi bem protagonista. Hoje há um bônus demográfico no Brasil, ou seja, o país nunca teve e nunca mais terá tantos jovens (como agora). Ter essa parcela da população que está na melhor fase da vida para produzir, é nessa fase que tem o jovem se desenvolvendo para o emprego, escolhendo uma profissão. Também é uma fase que perdemos muitos jovens para o crime.
Você tem acompanhado a crise do Enem e do Sisu? Qual sua visão?
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Você considera que há doutrinação nas universidades federais?
Vejo que os movimentos de esquerda são mais fortes dentro da universidade, quando saímos da porta para fora vemos que o mundo não é bem assim. É preciso ir atrás e entender por que isso acontece. É uma influência por parte dos professores? Eu não sou especialista para dizer. Mas é nítida a força que os movimentos de esquerda têm dentro da universidade. Na prova do Enade, que faz a avaliação dos cursos de engenharia, tive que responder perguntas que destoam completamente da formação que eu tive. Eu tive que escrever uma redação sobre os nomes sociais dos transexuais, eu vejo que isso não avalia a qualidade do curso de engenharia do petróleo, pode avaliar minha formação enquanto humana, mas não serve para a finalidade que foi proposto.
O perfil será de uma pessoa que passe no crivo de ter obtido sucesso na sua área de atuação. Ela pode ser uma pessoa que seja estrela na sua área, ou um bom professor universitário. É uma pessoa que tenha conhecimento do que está falando. Queremos entender como funcionam os processos de mentoria atuais, quantas horas são necessárias, o tempo mínimo de uma mentoria, o perfil do mentor, se ele tem um nível de graduação mínima. Precisamos estabelecer junto com quem entende.
Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA
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