Ascânio Seleme
A reportagem do ‘JN’ apenas apresentou um fato. Um fato inexorável
[um fato? Fake News? o que não é verdadeiro é uma mentira e não um fato. Os adversários do presidente Bolsonaro conseguiram ludibriar a Globo e induzir o JN a veicular uma fake news como fato.
A Rede Globo foi honesta e junto com o 'fato' apresentou a notícia da presença de Bolsonaro em Brasília, no dia do 'fato'.
O episódio servir para chamar mais atenção sobre a acusação de assassinato feita ao presidiário Lula - por Marcos Valério e provar que a TV Globo agiu de forma a fazer prevalecer o bom jornalismo.]
O presidente Jair Bolsonaro foi muito além do que podia se esperar de um
chefe de Estado ao reagir com ira contra a reportagem do “Jornal
Nacional” com o depoimento do porteiro sobre a visita de um dos
assassinos de Marielle Franco ao seu condomínio, no Rio. A fúria
presidencial ignorou um ponto simples em que se baseia toda matéria
jornalística. A reportagem do “JN” apenas apresentou um fato. Um fato
inexorável. O depoimento foi prestado, e a polícia investigava o seu
teor. Por isso, aliás, pretendeu-se levar a supervisão do processo ao
Supremo Tribunal Federal, já que envolvia o presidente da República.
Se Bolsonaro tivesse ao seu redor assessores com capacidade de diálogo e
intervenção sobre o seu rápido e muitas vezes equivocado raciocínio,
teria dito o que a matéria da TV já mostrara. Ele estava em Brasília no
dia da ida do miliciano ao condomínio. Por isso, a declaração do
porteiro de que ligou a pedido do miliciano para a casa de Bolsonaro e
ouviu “seu Jair” autorizar a sua entrada não se sustentava. O Ministério
Público, orientado pelo novo procurador Augusto Aras, disse que o
porteiro será investigado e que o áudio apresentado pelo vereador Carlos
Bolsonaro desmentiu o seu depoimento.
Agora, imagine a seguinte situação. Descobre-se que um empreiteiro preso
num enorme esquema de corrupção foi ao apartamento de Lula em São
Bernardo do Campo no mesmo dia de uma licitação de cartas marcadas da
Petrobras que ele ganhou com preços superfaturados. Lula tinha registros
digitais comprovando que naquele dia estava no Palácio do Planalto, mas
ainda assim a polícia seguia investigando a denúncia. E, mais, diante
da acusação do porteiro a um presidente da República, o caso teria de
subir ao Supremo. Se você fosse jornalista, não publicaria esta
história? Claro que sim, até porque você conhece muito bem as relações
promíscuas de Lula com empreiteiras e o esquema de corrupção montado na
Petrobras. Por isso a denúncia seria verossímil.
Da mesma forma, o depoimento do porteiro do condomínio de Bolsonaro
parecia fazer sentido. E por quê? Porque Bolsonaro nunca escondeu sua
proximidade com militares da linha dura, com milicianos, com bandidos
fardados, com torturadores. Um de seus filhos chegou a dar comenda a um
chefe de milícia na Alerj. O presidente e todos os seus filhos
empregaram em seus gabinetes milicianos e familiares. Não há como
esconder a proximidade da família com o lado podre das corporações
militares. Claro que o presidente tem relações próximas e profissionais
com militares honrados e honestos, assim como Lula também tinha ao seu
redor pessoas éticas e ilibadas.
Mesmo tendo argumentos sólidos a seu favor, já que ele disse ter sabido
pelo governador Wilson Witzel no dia 9 de outubro que o porteiro havia
dado o depoimento, o presidente preferiu partir para o ataque. Imagino
que Carlos já tivesse vasculhado as gravações do condomínio durante os
20 dias que se passaram desde então. O presidente atacou duramente
Witzel e a TV Globo, como se a matéria fosse falsa. A denúncia pode ser
falsa, a notícia, não. Cabe à investigação apurar se o deputado estava
mesmo na Câmara no dia do assassinato, se houve a ligação do porteiro à
sua casa e, nesse caso, quem o atendeu. [todo o acima, em vermelho, foi investigado, há provas irrrefutáveis da presença do presidente Bolsonaro em Brasília e de que o porteiro não ligou para a casa do presidente Bolsonaro.] Tem que apurar também a
discrepância entre a lista de ligações que o porteiro deu à polícia e a
apresentada ontem pelo vereador Carlos Bolsonaro.
O problema de Bolsonaro é que os assessores que o cercam também o cegam.
Só riem e aplaudem o chefe. Ao ouvir a denúncia, se tivesse bons
conselheiros e fosse uma pessoa equilibrada, o presidente deveria ter
vindo a público dizer que ele estava em Brasília, o que todos viram no
“JN”, que a denúncia é infundada, que as investigações vão provar isso.
Não, com o capitão as coisas não são assim. Ele tem que gritar, acusar,
desviar a atenção. Sua ira serve apenas para alimentar a rede dos seus
seguidores fiéis, que é menor a cada dia. E a essa turma não se empresta
bom senso, ela acredita até mesmo que o óleo que suja as praias
brasileiras foi despejado ali pelo Greenpeace [greenpeace está mais para greenpixe ou greenpiche] atendendo ordens do
ditador venezuelano.