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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Recuperação econômica não passa por Plano Marshall ou New Deal - Veja - Blog do Maílson

A ideia de um Plano Marshall tupiniquim desconhece a história; a proposta de aumentar gastos públicos despreza seus graves riscos  

Ideias que circulam em Brasília são motivo de preocupação. Em um Palácio do Planalto, preocupado com a recuperação da economia, primeiro se falou em um Plano Marshall e agora se menciona um Pró-Brasil com gastos públicos de 300 bilhões de reais em dez anos. Ao que parece, o Ministério da Economia não tem, como deveria ser, a liderança na formulação dessas propostas. Nenhuma delas pode ser considerada apropriada.

O Plano Marshall foi uma iniciativa dos Estados Unidos para reconstruir a Europa Ocidental após a II Guerra Mundial. Seu objetivo geopolítico era evitar que os europeus ocidentais caíssem na esfera de poder e influência da União Soviética, que já havia dominado a Europa Oriental. A liderança do plano coube ao país que emergiu do conflito como potência inquestionável. Os americanos dispunham de condições financeiras e operacionais para conduzir o plano, inclusive porque haviam saído do embate com sua infraestrutura e economia intactas — salvo as perdas de Pearl Harbor, relativamente insignificantes em comparação com a economia continental do país. Nada a ver com o Brasil, que não tem o valor estratégico da Europa Ocidental daquela época e, assim, não pode esperar a ajuda de uma potência estrangeira para recuperar sua economia.

O Pró-Brasil se assemelha mais ao esforço fiscal do New Deal do presidente Franklin D. Roosevelt para tirar a economia americana da Grande Depressão dos anos 1930. No campo fiscal, o plano envolveu investimentos em infraestrutura, compreendendo rodovias, hidrelétricas e outras obras, principalmente em regiões menos desenvolvidas, caso do Vale do Rio Tennessee.

Acontece que o Tesouro americano dispunha de margem para aumentar o endividamento público com o objetivo de financiar o programa governamental de investimento. A contração do consumo e do investimento, provocados pela Depressão, haviam elevado a poupança doméstica. Não é definitivamente o caso do Brasil. A relação entre a dívida pública brasileira e o PIB — o principal indicador de solvência do setor público —, que era de 76% do PIB em 2019, pode chegar a mais de 91% se a queda do PIB for de 5% este ano e se forem aprovados novos gastos para enfrentar a crise em curso, como parece muito provável.

Assim, o que se espera do governo é limitar os gastos atuais aos estritamente necessários a lidar com a crise e não criar despesas permanentes. Na verdade, será preciso um ousado programa fiscal destinado a gerar superávits primários dentro de poucos anos, de modo a reduzir paulatinamente a razão entre dívida pública e Produto Interno Bruto. Do contrário, o país pode caminhar para uma insustentável situação do endividamento público, cujo efeito danoso seria uma grave crise de confiança que nos jogaria em um quadro de inflação e estagnação. Os efeitos sociais e políticos desse desastre seriam incalculáveis.

O esforço de recuperação da economia no pós-crise deverá combinar contenção fiscal, incluindo elevação da carga tributária incidente sobre os segmentos mais favorecidos, e criação de um ambiente propício ao investimento privado. Fora disso, por mais intencionados que estejam segmentos do governo defensores do tipo de recuperação de que se cogita, é correr o risco de conduzir o país para o abismo.

Blog do Mailson - Maílson da Nóbrega, jornalista - VEJA

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Respiro na economia - BC fala em política monetária "estimulativa" e juros podem cair a 6%

O Banco Central cortou os juros em um ponto, para 8,25%, e indicou que a política monetária, neste momento, deve ser "estimulativa, ou seja, com taxas abaixo da taxa estrutural". Em outras palavras, indicou que o ciclo de cortes continua nas próximas reuniões, e cresceu a chance de se ter juros na casa de 6% no ano que vem. No comunicado, o Copom também avisou que haverá uma "redução moderada" no ritmo de cortes em outubro.

Isso indica que na próxima reunião a Selic deve cair em 0,75%, para 7,5%. Haverá maior gradualismo daqui para frente, e não mais reduções de um ponto.



Respiro na economia
A inflação mais baixa desde o início do regime de câmbio flutuante, em 1999, é um alívio enorme na lenta recuperação que o país atravessa. Foi essa redução que permitiu o novo corte de juros pelo Banco Central, para 8,25%, e tem promovido aumentos reais na renda dos trabalhadores. O BC falou em política monetária “estimulativa” e aumentaram as chances de juros na casa de 6% no ano que vem.

O país vive dois momentos distintos. Na economia, há sinais cada vez mais fortes de recuperação, enquanto a política continua fonte de incertezas. A bolsa começou o dia em alta, quebrou recorde histórico, mas perdeu força e fechou pouco abaixo do topo. O mercado financeiro se anima com os números melhores da economia, mas também faz as contas do jogo político do ano que vem. O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci pode dar novo impulso ao Ibovespa.

O Banco Central reduziu a Selic em 1 ponto e no comunicado afirmou que na próxima reunião o ritmo de cortes deve ser reduzido de forma “moderada”. Alexandre de Ázara, da Mauá Investimentos, enxerga pelo menos mais dois cortes de juros e não descarta a Selic em 6% no ano que vem. — O BC sugere um corte de 0,75 ponto na próxima reunião, em outubro, e outro de 0,5 ponto, em dezembro. E há chance de nova redução em janeiro, o que colocaria a Selic abaixo de 7% — disse.

A queda da inflação é impressionante e tem várias causas. No pior momento, chegou a 10,71%, em janeiro de 2016, e ontem caiu para 2,46% no acumulado em 12 meses, abaixo do piso de 3% da meta. Os alimentos estão dando uma contribuição importante e caíram pelo quarto mês seguido. Mas, além disso, há a recuperação da confiança no trabalho do BC e da equipe econômica, que segurou o dólar e conteve as expectativas, e também o efeito da recessão, que aumentou a capacidade ociosa da economia.

Essa redução dos preços tem provocado aumento da renda disponível das famílias, principalmente entre os mais pobres. Isso fica claro em levantamento feito pelo Procon de São Paulo, que mostrou que, em um ano, o custo da cesta básica caiu de R$ 701 para R$ 642. Uma queda de 9%. Ao mesmo tempo, lembrou o economista Fernando Montero, da Tullett Prebon, o salário mínimo subiu de R$ 880 para R$ 937. Se há um ano sobravam R$ 178 após a compra da cesta básica por quem ganhava o mínimo, hoje, sobram R$ 297.
No setor industrial, a Anfavea divulgou que a produção de veículos teve alta de 20% nos últimos 12 meses e revisou para cima sua estimativa deste ano, para 25%. De janeiro a agosto, as vendas subiram 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado, e as exportações dispararam 56%. O emprego, que vinha em queda livre há quatro anos, agora tem uma ligeira alta. Para se ter uma ideia do impacto da recessão no setor automotivo, o número de empregados caiu de 157,6 mil, em 2013, para 126 mil, em 2016, e agora sobe para 126,3 mil. Se não há sinais de retomada forte nas vagas, dá para afirmar que parou de cair.

Na segunda-feira, o IBGE já havia divulgado o quarto crescimento consecutivo da produção industrial, que subiu 3,4% no período. Apesar da queda do setor no PIB do segundo trimestre, puxada pela construção civil, a indústria vem dando sinais de que está deixando o fundo do poço. É isso que mostra a taxa acumulada em 12 meses, que caía 9,6% em junho do ano passado e agora recua apenas 1,1%. Mês a mês, os números deste ano estão melhores do que os do mesmo período do ano anterior.
A economia segue em recuperação enquanto atravessa a tempestade política.

LADEIRA ABAIXO. Após o comunicado do Banco Central, o banco BNP Paribas revisou para 6,5% sua projeção para a Selic no ano que vem.

(...)

Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Alvaro Gribel


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Fechado para a verdade

O que está em questão é a decisão de incriminar previamente um presidente


Grupo contrarreformista atacou o presidente de nação do subcontinente e o mantém sob ameaça. Alto funcionário, que operou na chancelaria, ligado ao Ministério Público, que lidera a operação, desertou. Abrigou-se num aparelho advocatício para receber algo como um resgate pago a sequestrador. Mensagem de gravador descreve o método maldoso. 


Divulgada de forma reiterada, anestesia o país, como se alguém estivesse com uma arma na cabeça, obrigado a oferecer exigências ao malfeitor, não cumpridas integralmente pelo tribunal receptor da ação. A autoridade judicial que dá seriedade à trama não informou que o sogro da sua filha é chefe na organização acusada do mataboi, nome da operação de extermínio. A malta foi beneficiada por dois ex-presidentes com a desnacionalização do banco de fomento, através de empréstimos a compadre. 

Mesmo assim enviou a extravagante denúncia para servir ao esquartejamento do presidente no plenário da bacia maior.  

Com avidez de servir, fugindo de flechas de bambu, o relator parlamentar largou sua tribo e se entregou à do procurador (Rádio Mariel, Baía dos Porcos).

O Brasil continua mergulhado na imundície da desavença entre Justiça e política. A rivalidade, mais forte do que a lei e a moral. A glória do deboche dos signos e valores da Justiça é afirmada pelo procurador-geral que denuncia com provas ruins, adora a perspectiva útil do caso grande e se comparar a carrasco de São Sebastião. Um jogo mais poderoso do que o mundo das pessoas de bem.  A energia do vício de acusar distorce fatos, perverte sentidos, libera a energia imoral do espetáculo em que cresce o gênio maléfico de simular. A razão insensata prefere a vitória da condenação política à justiça da condenação jurídica.

Ninharias, urtigas, intrigas dão ao ciúme entre instituições uma significação moral. O discernimento entre verdade e erro é impossível. Com a supercodificação ético-penal do carcereiro resta à sociedade o medonho consolo de apoiar. A teatralidade da acusação fez a desordem dominar o fato e sua aparência. A dança macabra da honestidade-desonestidade usufrui o êxtase da transgressão à norma, um jogo de irresponsabilidade. Não é a déficit de socialização que estamos assistindo, é a socialização diferente e preocupante. A revolta que preparam é de quem nada sabe da enfermidade de ânimo que é o desprezo pela justiça.

Está em curso o crime absoluto, apressado, distante da justiça metódica.
Misturado com a mediocridade da disputa política, vira linchamento. Alguém ameaçado é obrigado a fazer a confissão do outro. Cada um que apoia a denúncia a apoia como se estive sob a faca do pecado. A marca intimidadora que manda pensar daquele jeito lembra o caudilho, notório regional que enlaça e encadeia crime e benefício, elementos da desordem que domina.

Nem todos os procuradores usam o poder para sujar mais a política. Mas dentro dos que querem um motor gira sem controle, a moral, enfiada de ilegalismos que domina o Brasil nos últimos tempos.  A divulgação criminal em curso é a teoria da imitação e associação diferencial entre interessados. Uma interação do cometer erro e propagá-lo como acerto, conduta estudada que favorece a desobediência à lei. Não é bem o crime do investigado que está em questão, mas a decisão de incriminar previamente um presidente.

Um script aplicado nos anos 1990 contra o governo. Disse um bambambã da época: “Sob segredo de fonte a gente conta pro repórter o que a gente quer. Ele publica e a gente usa a matéria como prova e se o juiz resistir colocamos em cima dele a imprensa amiga. Nenhum juiz aguenta”. Agora é pior. Embrulhamos tudo junto. Bolero de Ravel, espiral que gira sobre políticos fracos e partidos invertebrados.

A lenta recuperação econômica, a necessidade de que privilegiados se enquadrem em normas previdenciárias mais justas; o apoio à lei que permita ao trabalhador liberdade para enriquecer sem intermediário; tudo isso levou a elite do setor público a arrancar o pino da granada. O ataque de guerra ao governo transitório revela a violenta prática das hierarquias não eletivas do Estado contra a autonomia da representação popular. O cenário desaba todo dia. De manhã, depois de levantar, ônibus, quatro horas de trabalho, comer, quatro horas de trabalho, ônibus, sopa, sono. Agitado pelo som do jogo da autoridade formando time. O absurdo da vida do cidadão concentrou-se no Estado que obriga a sociedade a engolir a jubilosa autoridade brilhar, por nada, no circo da novela-crise-política

O despotismo jurídico reproduz o populismo na sociedade e seus interesses. E a despensa jurídico-político armazenada no Supremo não é diferente da formação econômico-social que os fez escolhidos.  O Supremo está congelado no tempo de quem compôs sua maioria. O que nos permite supor que as necessidades específicas que interessam ao poder, e fazem um ministro do Supremo, continuam vigorando depois que o governo acaba. Ou seja, o Supremo é hoje Poder reacionário, a principal forma como se manifesta a formação jurídica-ideológica-social-econômica do período popular-populista. Principal espaço de poder do tempo derrotado. E está intacto, como bússola quebrada, conspirando contra o futuro para salvar o passado.

Joesley, JBS são siglas indexadas. Testas de ferro do tempo velho onde o Ministério Público aceitou ser o código de barra. Grave é infiltrar-se no Supremo e impor sua saga: sem prova objetiva para sustentar a incriminação, ofereceu o perdão absoluto ao criminoso que esnobou a Corte com a armadilha que envenenou o presidente. Sem força para parar o erro, o tribunal gira seu relógio na direção do estado de absurdo que é usufruir o poder sem exercê-lo.

O Estado nos impôs seu presente, indiferente ao que vivemos. Não indica o lugar da razão. E o Parlamento liquidará de vez com a política se a cabeça do presidente for entregue na bandeja a autoridades embrulhadas em mistérios.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Paulo Delgado 

 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Não desperdicem a recuperação

Uma recuperação econômica puxada pela agropecuária e pela indústria será oportunidade para repor o País nos trilhos da modernização

Com produção de 237.060 veículos em maio, 33,8% maior que a de um ano antes, a indústria automobilística segue em recuperação, mas há uma névoa de incerteza sobre a economia, adverte o Banco Central (BC). A boa notícia sobre as montadoras e o relato oficial da reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) saíram com diferença de poucas horas, na manhã de ontem. Para o início da noite estava previsto o recomeço, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do julgamento da chapa Dilma-Temer, acusada de abuso e irregularidades na campanha de 2014. Além desse processo, o presidente enfrenta as acusações baseadas em delação do empresário Joesley Batista, envolvido em numerosos casos de corrupção. Não há referência explícita à turbulência política na ata, mas a incerteza mencionada no documento é obviamente associada ao assédio contra o Palácio do Planalto. Isso já havia ficado claro no texto distribuído pouco depois da sessão do Copom, na semana passada.

Mais que uma curiosa coincidência, a publicação quase simultânea dos dois informes – sobre a política de juros e sobre a atividade das montadoras – é um alerta para todos os brasileiros, mas especialmente para aqueles com poder para interferir nas grandes questões da vida nacional. A reativação da indústria automobilística é uma das novidades mais animadoras, depois de mais de dois anos da pior recessão registrada na história brasileira.  A fabricação de veículos continua longe dos volumes alcançados nas fases de maior prosperidade. O emprego continua bem abaixo dos níveis observados antes da crise. Mas a reanimação do setor, puxada tanto pelas vendas no mercado interno como pela exportação, é um dos sinais mais fortes e mais promissores de recuperação da economia nacional. Além disso, as contratações de pessoal têm aumentado tanto nas montadoras e nas empresas de seu entorno como em outros segmentos industriais.

A desocupação permanece muito alta, com cerca de 14 milhões de pessoas em busca de uma oportunidade, mas seria um enorme equívoco menosprezar os sinais positivos observados na atividade industrial. Essa ainda é a fonte mais importante de empregos classificáveis como decentes, pelos salários, pela segurança contratual, pelos benefícios complementares e, é claro, pela produtividade. A contratação de pessoal na indústria é um efeito da melhora das perspectivas setoriais e um fator de expansão econômica.

As estatísticas do emprego foram engordadas durante anos, no Brasil, com a absorção de trabalhadores de baixa ou nenhuma qualificação em atividades pouco produtivas. A ocupação cresceu, nesse período, em ritmo desproporcional ao do aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Concebida apenas como instrumento eleitoral, a política de rendas propiciou, enquanto foi possível, a expansão do consumo e de ocupações, no comércio e nos serviços, com baixo potencial econômico.  Essa política foi paralela, naturalmente, a uma estratégia educacional voltada mais para a distribuição de diplomas do que para o desenvolvimento de capacidades. A crise desmontou essa fantasia.

Uma recuperação econômica puxada pelos segmentos mais eficientes da agropecuária e da indústria deve produzir, se for duradoura, muito mais que uma intensificação da atividade. Será uma oportunidade para repor o País nos trilhos da modernização e, portanto, da produtividade, da competitividade e da multiplicação de bons empregos. Mas para isso será preciso restabelecer, em prazo razoável, os fundamentos da economia.

Isso inclui um amplo trabalho de reparo e de renovação das finanças públicas e a criação de condições de estabilidade dos preços. A pauta de reformas, como a da Previdência, é componente essencial dessa transformação. Se as pessoas com maior responsabilidade em Brasília forem capazes de impulsionar esse conjunto de ações, o País sairá de uma vez do atoleiro e poderá ocupar, no mundo, um posto digno de uma democracia moderna e economicamente poderosa. Isso exigirá alguma visão e alguma grandeza política.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Editorial