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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Fã clube do José Dirceu ou os babacas do ‘guerrilheiro de festim’?


Fã clube de José Dirceu acusa o golpe

Descobre-se, agora, que a carteira de clientes da consultoria do ex-ministro rendeu quase R$ 40 milhões nos últimos nove anos

Tem muito admirador de José Dirceu, ou ex-admirador, que não o perdoa por ter-se fingido de pobre. Fingido, sim.




Ele não precisou pôr a mão no bolso para pagar à Justiça a multa de R$ 971.128,92, uma das punições no caso do mensalão.  Foi feita uma “vaquinha”. E 3.972 doadores – nome mais apropriado: otários, panacas, babacas - deram conta da multa.

Não deixou de ser um golpe, talvez o último, aplicado por Dirceu no seu fã clube.


Dilma promete resistir a qualquer tentativa de derrubá-la



Não sei se foi por descuido que a presidente Dilma Rousseff apareceu em Boa Vista, ontem, com olheiras acentuadas de quem não dorme direito há vários dias. Ou pode ter sido de propósito que apareceu assim, interessada em impressionar quem pudesse sentir pena dela. De um jeito ou de outro, deixou a impressão de uma mulher sofrida.

Há razões de sobra para isso, mas não pretendo aqui me debruçar sobre elas. Dilma aproveitou a entrega de novas unidades do programa Minha Casa Minha Vida para defender seu mandato. Se não o tivesse feito, no ritmo alucinante com o que o seu governo parecia desmoronar, talvez ela tivesse ficado ainda menor do que está. Dilma só tem perdido estatura desde que se reelegeu.

Sem o amparo da mais formidável coalizão de partidos jamais vista, semiabandonada pelo PT, confrontada rudemente pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha, Dilma está no seu pior momento. E foi nessa condição que ela pregou aos convertidos, uma vez que os demais a rejeitam e se valem de panelas para não ouvi-la. Sete de cada 10 brasileiros reprovam o desempenho de Dilma.

“Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu”, disse Dilma, tentando afastar o fantasma do impeachment. “Esse país é uma democracia que respeita a eleição pelo voto popular”. Em seguida, Dilma se remeteu ao seu passado de opositora da ditadura militar, presa e torturada. Ela sempre procede assim quando quer exaltar sua capacidade de suportar pressões. - Quero dizer que ao longo da vida eu passei por muitos momentos difíceis. Eu sou uma pessoa que aguenta pressão, aguenta ameaça. Eu sobrevivi a grandes ameaças. [uma coisa é certa: o visual da  Dilma neste foto está mais adequado a quem levou 22 dias de TACA, do que o exibido na já conhecida foto do julgamento. Ela agora conseguiu piorar o impiorável, tornar horroroso o que já assusta.] Dito de outra maneira: não pensem que renunciarei ao mandato. Ou que me deixarei derrubar. Resistirei até o fim. Como? Esperem para ver se for o caso.

Dilma não vencerá no grito a batalha pela preservação do seu mandato. Por ora, as condições políticas necessárias para tirá-la do poder ainda não foram reunidas. Mas isso não significa que não possam ser reunidas em breve. Até o fim do mês, o Tribunal de Contas da União decidirá pela rejeição ou não das contas do governo de 2014. Se rejeitar, a tendência do Congresso será confirmar o parecer do tribunal.

Se isso de fato ocorrer, estará aberto o espaço para a apresentação de um pedido de impeachment de Dilma por crime de responsabilidade. 

[lembrando sempre que o nome técnico é crime de responsabilidade, mas, nada impede que também punam os crimes de irresponsabilidade cometidos por Dilma e estes não estão vinculados apenas ao mandato em curso.]


Verdadeiro, falso e ficticio



O título deste artigo é o subtítulo de um belo livro de ensaios do italiano Carlo Ginzburg (O Fio e os Traços), cativante homenagem àqueles que “têm como ofício alguma coisa que é parte da vida de todos: destrinchar o entrelaçamento do verdadeiro, falso e fictício que é a trama de nosso estar no mundo”. O excelente e oportuno artigo de André Lara Resende Corrupção e Capital Cívico (no Valor de 31/7) merece leitura e reflexão por parte de todos os que estamos envolvidos pelo espesso nevoeiro de uma crise que é, a um só tempo, política, econômica e de valores – a trama de nosso viver no Brasil e no mundo de 2015. Mas a urdidura desta trama que nos trouxe ao nevoeiro atual não surgiu de repente, como uma surpresa de origens exógenas. Pelo contrário, a trama foi sendo construída aqui mesmo, por ações e omissões muito nossas, brasileiras, ao longo de muitos anos. É verdade que é sempre possível (por vezes necessário) voltar no tempo para identificar em distantes passados as origens maiores de nossos males e atrasos. Ou para dar o devido valor a nossos avanços.

Mas também é verdade que temos um mesmo governo há mais de 12 anos e sete meses, e este tem responsabilidades, das quais não se pode eximir, pelas críticas situações econômica, política e de valores em que nos encontramos. Pode ser doloroso o processo de destrinchar o entrelaçamento a que se refere Ginzburg.  O fato de uma situação ser muito difícil não significa que não existam opções e escolhas, ainda que difíceis, a serem feitas. E, por paradoxal que possa parecer, a crise poderia, talvez, estimular a busca das convergências e das cooperações possíveis para a adoção de medidas voltadas a uma necessária recuperação gradual da confiança ao longo dos próximos meses e anos.

Parece haver um elusivo quase consenso sobre esta imperiosa necessidade de maior confiança, mas uma miríade de visões sobre as maneiras mais eficazes de alcançá-la. Não é que não se tenha ideia do que fazer. O que as pessoas parecem não saber é como se pode viabilizar politicamente aquilo que precisa ser feito. “O recurso mais escasso não é dinheiro, mas coordenação”, disse um arquiteto chileno de passagem pelo Brasil. Ele se referia especificamente a “intervenções urbanas”. Mas os problemas de falta de coordenação valem para tudo: é preciso coordenação na área política, coordenação na área econômica, coordenação entre as duas áreas e coordenação entre o Executivo e o Legislativo. Estamos com carências em todas essas dimensões – exatamente no momento em que mais são necessárias.

Vale lembrar que em seu discurso de posse, em janeiro de 2011, a presidente Dilma, eleita para seu primeiro mandato, afirmou: “O Brasil optou, ao longo de sua história, por construir um Estado provedor de serviços básicos e de previdência social pública. Isso significa custos elevados para toda a sociedade”. Preço a pagar, disse ela, pela “garantia do alento da aposentadoria para todos, e de serviços de saúde e educação universais”. No mesmo discurso, a presidente deu a entender que não se recusaria a enfrentar nossas flagrantes realidades e irrealidades fiscais, ao prometer fazer mais – e melhor – com os recursos existentes, controlar a velocidade de crescimento dos gastos governamentais e mudar sua composição em favor do investimento.

Quatro anos e meio depois, seu novo ministro da Fazenda volta ao tema, agora com renovado e apropriado sentido de urgência, em artigo publicado na Folha na última semana: “Manter estes mecanismos (de transferência de recursos do Tesouro através da folha do setor público, da Previdência e de inúmeros outros programas) exigirá avaliação permanente de sua sustentabilidade e dos resultados obtidos. Dada a atual carga tributária, é urgente reforçar a avaliação da qualidade do gasto, inclusive o obrigatório, cujo volume reduz a latitude dos governos federal, estadual e municipal para investir na infraestrutura”.  Neste contexto, as crescentes demandas por maiores gastos públicos para a promoção do desenvolvimento econômico e social com frequência excedem a capacidade do Estado em tributar e se endividar, para atendê-las. Desejos não configuram políticas e nem tudo é possível porque desejável. E, como bem notou Rogoff anos atrás, “nenhum fator de risco é mais perigoso para uma moeda que a recusa de lideranças políticas em enfrentar realidades fiscais”.

Este enfrentamento não se pode restringir à área fiscal ou mesmo à área macroeconômica, em que a percepção de estabilidade e consistência intertemporal é condição necessária, embora não suficiente para o crescimento econômico. Como vem afirmando Mario Draghi desde que assumiu a presidência do Banco Central Europeu, “é mais fácil manter a confiança no curto prazo se há uma âncora no futuro”. O sequenciamento das ações de curto, médio e longo prazo é facilitado pela existência de um claro e crível objetivo futuro. A confiança, diz ele, “funciona do futuro para o presente”.

Volto ao tema do brilhante artigo de André Lara Resende, esperando que o significado da expressão “capital cívico” possa assumir relevância crescente no debate sobre nossa situação – e nosso futuro. Capital cívico é o estoque de crenças e valores que estimulam a confiança e a propensão a cooperar e a coordenar as atividades entre as pessoas de uma sociedade. Estas são traços culturais, forjadas ao longo da história, reforçadas pela experiência de cooperação bem-sucedida. A forma como a população avalia o Estado e suas instituições é uma boa aproximação do capital cívico. Onde este é alto, o Estado é visto como aliado confiável. Onde o capital cívico é baixo, o Estado é percebido como um criador de dificuldades para todos e de vantagens para seus ocupantes, funcionando como poderoso fator de erosão do capital cívico. As boas instituições são imprescindíveis para sua preservação. Como o Brasil está aprendendo, ao tentar distinguir verdadeiro, falso e fictício.

Fonte: O Estado de São Paulo
Pedro S. Malan – Economista, foi ministro da Fazenda no Governo FHC

Mais um banco revisa para pior suas projeções para o Brasil - enquanto essa mulher não for expulsa, o Brasil só vai piorar



O departamento de Pesquisa Macroeconômica do ItauUnibanco, chefiado pelo economista Ilan Goldfajn, acaba de divulgar relatório prevendo um cenário mais desafiador para a economia brasileira.  A projeção para o PIB deste ano foi revista de -2,2% para -2,3% e a do ano que vem foi de -0,2% para -1%. Já a estimativa para o dólar subiu de R$ 3,20 para R$ 3,55 em dezembro deste ano. Para 2016, subiu de R$ 3,5 para R$ 3,90.

Com isso, também ficaram maiores as estimativas para a inflação deste ano, que foi a 9,3%, e do ano que vem, que subiu de 5,3% para 5,8%. O banco não acredita que o governo vai conseguir cumprir as metas fiscais, que já ficaram menores. "Projetamos superávit primário de 0,0% do PIB este ano (meta: 0,15%); 0,2% em 2016 (meta: 0,7%); 0,6% em 2017 (meta: 1,3%); e 0,8% em 2018 (meta: 2,0%). Na ausência de medidas conjunturais e estruturais adicionais, a dívida pública bruta pode alcançar 70% do PIB. Há risco de o País perder o grau de investimento.", diz um trecho do relatório.

Fonte: Coluna da Miriam Leitão