Ficou
claro que a greve dos caminhoneiros não terminou ainda porque apareceram grupos
políticos de esquerda e de direita tentando pegar carona, tentando
transforma-la num ato político. Durante o movimento, apenas alguns
manifestantes pediram intervenção militar, mas não houve manifestações de ordem
política. Em relação à política partidária, também não houve nada, pois a pauta
não era essa. O movimento também não conseguiu sensibilizar a população para
sair à rua, como em 2013. Essa ação política precisa ser denunciada e tratada
como ilegal. E o governo tem de novo a chance de provar que pode funcionar,
pelo menos minimamente, e colocar esses aproveitadores sob vigilância e até
mesmo pedir a prisão deles, de maneira rígida. O país não pode ficar refém de
grupos políticos que não representam a sociedade. [o ideal é que cesse a preocupação com obediência a uma legislação que favorece bandidos e se estabeleça (situação excepcional que exige providências imediatas e eficientes e que muitas vezes não pode seguir leis que favorecem à impunidade) que cada 'infiltrado' que for preso só será libertado quanto TODAS as rodovias estiverem totalmente liberadas.]
As pesquisas já começam a registrar uma queda no apoio da
população à assim chamada greve dos caminhoneiros,
que teve uma
participação clara das grandes transportadoras, e agora parece estar
sendo sequestrada por grupos políticos, tanto da direita quanto da
esquerda. O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José
da Fonseca Lopes, disse que pessoas “
que querem derrubar o governo”
continuam a greve, não os caminhoneiros, com “ameaças de forma
violenta”. A Polícia Federal também está investigando agentes políticos
infiltrados entre os grevistas, que já deveriam ter voltado ao trabalho
depois que o governo atendeu todas as reivindicações da classe e mais as
dos patrões.
A Medida Provisória 832, que cria a Política de Preços Mínimos do
Transporte Rodoviário de Cargas, estabelece a tabela mínima para o
frete, que será definida por representantes das cooperativas de
transporte de cargas e dos sindicatos de empresas e de transportadores
autônomos. Para a fixação dos preços mínimos serão considerados os
custos do óleo diesel e dos pedágios.
A MP 831 define que a
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
contratará transporte rodoviário de cargas
, com dispensa do procedimento
licitatório, para até 30% da demanda anual de frete da empresa. Essa
medida favorece mais as grandes transportadoras do que os caminhoneiros
autônomos.
Aos pequenos, sobram os carretos sem grandes distâncias. Eles
não participam das grandes operações tipo Conab, dizem especialistas,
ficando como meros coadjuvantes.
Assim como a desoneração das folhas de pagamento também não
beneficiam os autônomos, que não têm empregados. Na verdade,
o que teria
que aumentar é o frete, dizem os especialistas, pois como a oferta de
caminhões está maior, devido aos incentivos concedidos nos governos Lula
e Dilma para a compra dos veículos,
há uma natural tendência de baixa
do valor dos fretes. Não há controle de preços no frete.
O que os transportadores querem é
uma proteção oficial para manter seus lucros. Se o preço for
estabelecido pelo governo, a qualidade, a pontualidade, o serviço em si
não precisarão melhorar.
Os petroleiros liderados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT),
o
braço sindical do PT, procuram aproveitar o vácuo da greve dos
caminhoneiros que está terminando para politizar a situação com uma
greve marcada para o feriadão que se avizinha.
O fato é que se dizia que, se Lula fosse preso, o país pararia.
O
próprio ex-presidente, no discurso de despedida no Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC,
orientou que as paralisações de estradas com pneus
queimados continuassem,
assim como invasões pelo MST e MTST. Não aconteceu nada de mais importante além do acampamento em frente à
sede da Polícia Federal em Curitiba,
já desmobilizado para alegria dos
vizinhos, que não serão mais acordados com um “bom dia” gritado pelo
megafone. E talvez até mesmo Lula esteja aliviado.
Durante a greve dos caminhoneiros, que realmente pararam o país, não
houve um “Lula Livre” sequer entre os grevistas. Ao contrário, houve,
mesmo minoritários, apelos por intervenção militar. À medida que as
demandas estão sendo atendidas,
a possibilidade de aproveitamento
político do movimento vai caindo, e fica
mais fácil verificar quem está
se aproveitando da situação de fragilidade do governo para fazer ação
política. O governo ficou mais abalado em sua credibilidade do que já estava, é
verdade, e
errou feio, do início ao fim, mas, a pouco mais de quatro
meses da eleição, e como não estamos no parlamentarismo,
não tem sentido
pedir a renúncia do presidente e eleições antecipadas. Da mesma maneira
que não cabia a campanha de eleições já quando Dilma caiu e Lula ainda
estava livre
. Puro oportunismo político. A não ser que se queira instalar o caos político no país. Nesse caso,
a extrema direita e a extrema esquerda estão unidas, com o mesmo
objetivo, a tomada do poder, evidentemente com motivos diferentes.
Merval Pereira - O Globo