Deputado e filhos abrigaram em gabinetes Ana Cristina, seu pai e sua irmã
O
deputado federal e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e seus
filhos, também parlamentares, empregaram, nos últimos 20 anos, uma ex-mulher do parlamentar e dois
parentes dela em cargos públicos em seus gabinetes. Ana Cristina Valle, ex de
Bolsonaro e mãe de Jair Renan, o quarto filho do presidenciável; a irmã dela,
Andrea, e o pai das duas, José Cândido Procópio, ocuparam as vagas a partir de
1998, ano de nascimento de Jair Renan. Ana Cristina e José Cândido não estão
mais nos gabinetes da família, mas Andrea continua no do deputado estadual
Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável.
[A leitura atenta da matéria demonstra que todas as contratações do deputado Jair Bolsonaro estão dentro da legalidade, não constituindo caso de nepotismo e as pessoas trabalham realmente e com competência;
as que está lotadas em um Gabinete e não foram encontradas, comprovadamente, trabalham em outro local e com o devido amparo legal.
Mesmo assim sugerimos: antes de qualquer juízo de valor sobre o assunto abordado na presente matéria, pedimos que clique aqui e veja vídeo;
Embora
esteja lotada no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj),
ela não trabalha no local. O GLOBO a procurou duas vezes no gabinete nos
últimos dias, e os funcionários disseram desconhecê-la. A ex-mulher de
Bolsonaro, Ana Cristina, alegou que a irmã, assim como o pai, sempre trabalhou
em Resende, uma das bases eleitorais de Bolsonaro. O trabalho de assessores nas
bases dos parlamentares é permitido.
Apesar dos quase 20 anos de
nomeações, os casos não podem ser tecnicamente
enquadrados como nepotismo.
A contratação de parentes
foi normatizada por uma súmula do Supremo Tribunal Federal, em 2008. Os casos da família Bolsonaro ocorreram antes disso.
Andrea, pelo grau
de parentesco com Flávio Bolsonaro, não se enquadra
na proibição expressa na súmula do STF.
O cargo
com Flávio não é o primeiro de Andrea perto do presidenciável. Sua trajetória
junto à família Bolsonaro começou após o nascimento de seu sobrinho Jair Renan,
em 1998. Naquele ano, Jair Bolsonaro a nomeou como assessora na Câmara. Andrea
ficou lotada ali até novembro de 2006, quando deixou o cargo. Em 2008, uma
semana depois da publicação da súmula anti nepotismo pelo STF, foi nomeada no
gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro e de lá não mais saiu. Pela
folha salarial de setembro, ela recebe R$ 7,3 mil entre salário e gratificações,
além de R$ 1,1 mil em auxílio escolar. O valor líquido recebido por Andrea,
depois do desconto de Imposto de Renda e Previdência, foi de R$ 6,5 mil. A entrada
de Andrea no gabinete de Flávio Bolsonaro se deu no mesmo dia em que o pai dela
e de Ana Cristina, José Cândido Procópio Valle, foi exonerado. Ele estava
lotado no gabinete do deputado estadual desde fevereiro de 2003, quando Flávio
assumiu seu primeiro mandato. Mas, segundo regra editada pelo STF sobre
nepotismo, o vínculo familiar entre Procópio e Flávio Bolsonaro é um grau mais
próximo que o de Andrea. O trabalho na Alerj, no entanto, não foi o primeiro do
patriarca dos Valle no clã Bolsonaro. Ele já havia sido contratado em novembro
de 1998 para o gabinete de Jair, então seu genro, onde ficou até abril de 2000.
Já Ana Cristina trabalhou no gabinete de Carlos Bolsonaro, o primeiro filho de
Jair a entrar para a política, eleito vereador aos 17 anos, em 2000. A Câmara
do Rio não informou o período em que ela atuou na casa. Embora ressalte que não
se lembra do período exato trabalhado, Ana Cristina afirma ter deixado a Câmara
em 2006, quando terminou a relação com Jair Bolsonaro.
Antes, Ana Cristina ocupou outros cargos no serviço
público. Ela
começou a trabalhar na Câmara em abril de 1992, no gabinete do deputado Mendonça Neto (PDT-AL), onde ficou até
agosto do mesmo ano. Quatro meses depois, assumiu cargo na liderança do PDC,
partido pelo qual Jair Bolsonaro cumpria seu primeiro mandato de deputado.
Entre agosto de 1993 e maio de 1994, atuou como secretária parlamentar com o
deputado Jonival Lucas (BA), que foi correligionário de Bolsonaro no PDC e
migrou para o PSD.
A partir de 1995, ela passou a
trabalhar no Executivo — na Casa Civil e na Integração
Regional —, e só voltou à Câmara no fim de 1998,
quando seu filho não tinha ainda completado um ano, e foi lotada no
gabinete da liderança do PPB, partido pelo qual Bolsonaro acabara de ser
reeleito. Ana Cristina foi nomeada para o cargo menos de dez dias depois de seu
pai assumir um posto de assessoria no gabinete de Bolsonaro, e dois meses após
a irmã fazer o mesmo. Ou seja, os três estavam empregados em cargos ligados ao
clã.
Em abril
de 2005, durante uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara,
Bolsonaro defendeu a contratação dos parentes e citou a situação do filho
Eduardo, hoje deputado federal por São Paulo. Ele foi funcionário da liderança do
PTB entre 2003 e 2004, quando o hoje presidenciável estava no partido. — Já tive um filho empregado nesta casa e
não nego isso. É um garoto que atualmente está concluindo a Federal do Rio de Janeiro, uma faculdade, fala inglês fluentemente, é um
excelente garoto. Agora, se ele fosse um imbecil, logicamente estaria
preocupado com o nepotismo, ou se minha esposa fosse uma jumenta eu estaria
preocupado com nepotismo também — justificou.
O
relacionamento entre Jair e Ana Cristina durou dez anos, de acordo com
declaração do deputado em um processo judicial, em 2011, sobre a guarda do
filho Jair Renan. Atualmente, a ex-mulher de Bolsonaro é chefe de gabinete do
vereador Renan Marassi (PPS), em Resende. Em outubro, o salário de Ana Cristina
foi de R$ 5,8 mil. No dia 14 de novembro, o vereador foi recebido por Jair para
divulgar a apresentação, pelo deputado, de duas emendas para o município.
O QUE DIZ
JAIR BOLSONARO
O
deputado e presidenciável Jair Bolsonaro afirma que sempre agiu dentro da lei,
respeitando a súmula vinculante editada pelo STF, em 2008, que normatizou a
contratação de parentes. Bolsonaro reconhece que sugeriu o nome de sua
ex-mulher Ana Cristina Valle para trabalhar como assessora de um de seus
filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, na Câmara Municipal do Rio, e que
contratou em seu gabinete o pai e a irmã de Ana Cristina, mas ressalta que
essas indicações e contratações ocorreram antes da decisão do Supremo.
O
deputado enviou nota ao GLOBO, que segue na íntegra:
"1.
Mantive, do final de 1997 até o início de 2007, união estável com a Sra. Ana
Cristina Siqueira Valle que já havia exercido atividades de assessoramento a 2
parlamentares e Comissões da Câmara dos Deputados, ressaltando que nunca foi
comissionada em meu Gabinete;
2.
Considerando a experiência adquirida no exercício de atividades anteriormente
desempenhadas em assessoramento a parlamentares, aliado ao fato de sua formação
escolar, sendo atualmente advogada, sugeri o nome da Sra Ana Cristina para
assessorar o Vereador Carlos Bolsonaro, em seu primeiro mandato, tendo sido
demitida há cerca de 10 anos.
3. O Sr.
José Procópio e a Sra. Andrea Valle estiveram algum tempo comissionados em meu
Gabinete, exercendo funções de assessoramento parlamentar no Estado do Rio de
Janeiro. Posteriormente o Sr José Procópio foi comissionados no Gab do Deputado
Flavio Bolsonaro, exercendo funções de assessoramento parlamentar. A Sra Andre
Valle foi demitida em 2006 e o Sr. José Procópio, em 2008.
4. Até o
ano de 2008, antes da edição da Súmula Vinculante nº 13, do STF, não havia
vedação de comissionar parentes em cargos temporários e indiquei, para
gabinetes no Estado do Rio de Janeiro, onde residiam, alguns parentes da Sra
Ana Cristina para exercício de funções relacionadas a assessoramento de
atividades parlamentares, sendo que após esse período não houve mais nomeação
de parentes até o 3º grau em meu Gabinete.;
5. Recebi
em meu Gabinete, no corrente ano, o Vereador Renan Marassi, de Resende-RJ, que
acompanhava o Prefeito daquela Cidade, assim como recebi centenas de outros
prefeitos e vereadores, não só neste, mas também em outros anos, que no
interesse de seus municípios buscam recursos orçamentários via Emendas de
Parlamentares e desde 2005, com frequência, destaco recursos para aquele Município, independente do partido político a que pertença seu Chefe do
Executivo.
6. Não
fiz indicação do nome da Sra Ana Cristina e de nenhum outro a qualquer político
visando nomeação para cargo de confiança."
O QUE
DIZEM FLÁVIO E CARLOS BOLSONARO
O
deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC-RJ) disse que Andrea trabalha para seu
gabinete em Resende, organizando reuniões e fazendo divulgação e panfletagem
das atividades parlamentares na cidade, além de fazer a triagem de pessoas que
querem entrar em contato com o deputado. Em contato com o GLOBO por telefone na
última quinta-feira, Flávio Bolsonaro
- Ela
está lotada no meu gabinete, mas é trabalho parlamentar, ela organiza uma série
de coisas para mim em Resende. Ela tem um trabalho que não tem de estar aqui no
gabinete batendo ponto, mas é um trabalho importantíssimo. Tanto é que lá em
Resende é o município onde tive, proporcionalmente, minha segunda maior votação
no estado. Sou natural de lá, tenho família e amigos lá. Ela me dá ótimo
retorno. (Sua contratação) Não tem nada a ver com a questão familiar. Ela
entrou no meu gabinete em 2008, quando meu pai já nem estava mais casado com a
Cristina.
O
deputado estadual diz que respeita a legislação vigente:
— Tem que
separar os casos, né? Tem gente que fazia isso e o pessoal não trabalhava. Com
base na competência, para fazer aquele trabalho, não via problema nenhum. Mas,
a lei é para todo mundo, a gente respeita a lei. Se eu fosse governador do Rio
de Janeiro, meu secretário de segurança, eu queria que fosse Jair Bolsonaro.
Alguém ia discutir que ele tem a competência e o perfil? Então, cada caso é um
caso, tem que estar sempre dentro da lei.
Sobre a
contratação em seu gabinete, entre 2003 e 2008, de José Cândido Procópio, pai
de Ana Cristina e Andrea, o deputado estadual comentou: — Tudo
que falei da Andreia pode transcrever para ele. Ele é uma pessoa bem
relacionada lá (em Resende), fincou raízes na cidade, é de confiança nossa, e
trabalhou para o gabinete lá.
O vereador
Carlos Bolsonaro afirmou, por meio de seu gabinete, que contratou Ana Cristina
Valle por seu currículo e qualidades profissionais, e que ela deixou o trabalho
porque ganharia mais como advogada.
O Globo