Perpetrou-se da maneira mais deprimente possível. Pela primeira vez na
história da República um governo enviou ao Congresso uma proposta
orçamentária na qual admite publicamente que não será capaz de pagar as
próprias contas. E isso já no próximo ano. Que dirá nesse! Dilma
evidenciou assim o desastre de sua gestão, não apenas no campo político
como também na área econômica. É bem verdade que muitos já desconfiavam,
embora não soubessem da extensão. O rombo anunciado é de R$ 30 bilhões
para 2016. Analistas alegam ser bem maior. De uma maneira ou de outra
ele foi produzido em meio a um coquetel de barbeiragens que incluiu
desonerações e subsídios a rodo, gastos desmedidos da máquina,
desperdício com funcionalismo e pedaladas fiscais para acobertar a
lambança.
Em resumo: abusando da chamada contabilidade criativa, na qual
gastar em proveito de um projeto de poder foi regra, Dilma quebrou o
Estado. Colocou em colapso as contas públicas e agora quer fazer crer
que nada disso foi culpa da tal “nova matriz econômica” que o PT
implementou ao longo de anos. Diante da gravidade dos números que não
fecham, a mandatária recusou-se sistematicamente a fazer cortes. Seguiu
ignorando os apelos por austeridade. Tentou tapar o buraco com o
famigerado imposto sobre cheques (CPMF).
Não conseguiu e buscou, como
ultimo recurso, apresentar a tal peça orçamentária indicando déficit.
Mesmo a contragosto de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que
alertava para o risco de fuga de capitais e aumento da ameaça de perda
do grau de investimento. O impacto da ideia foi um horror. O súbito
impulso pela transparência, após quatro anos e oito meses negando a
realidade e passando a descabida mensagem de que “a crise é passageira”,
redundou em pânico nos mercados. Da noite para o dia todos os
indicadores foram revistos negativamente: as estimativas de PIB
desabaram; as de inflação e desemprego subiram e o câmbio entrou em
parafuso. A presidente Dilma demonstrou mais uma vez que não tem
qualquer noção sobre como conduzir, razoavelmente, o País a um porto
seguro. Sua palavra e as promessas que pregou desde a campanha, e ainda
sustenta, não valem mais um real furado. Com o orçamento deficitário ela
assinou um atestado de incompetência e de renúncia às atribuições mais
elementares de um chefe da Nação, dentre as quais a de gerir os recursos
oficiais.
E segue penalizando a sociedade que, para variar, vai pagar o
pato com mais impostos e cada vez menos direitos. Há menos recursos
para a educação, para a saúde, transporte, segurança... sobram verbas
apenas para manter os projetos políticos de simpatizantes – muitos deles
aboletados nos 22 mil cargos comissionados e 39 ministérios do harém
dispendioso do Planalto. Historicamente, foi Lula quem deu a partida ao
conceito temerário de que “governar é gastar”. Abriu a temporada de
distribuição de dinheiro público sem planejamento para financiar o
populismo e estimulou os saques ao Tesouro para promover a farra petista
e agradar aliados. Mesadinhas a políticos na base do Mensalão e desvios
de estatais como os descobertos no Petrolão estão na origem da mesma e
desavergonhada receita que colocou o Estado nas cordas. Nos últimos
tempos, para fugir da responsabilidade pelo excesso de erros, Dilma
passou a atribuir os problemas à crise internacional.
A negação dos
próprios equívocos virou uma rotina petista. Foi a mesma tática que na
semana passada levou o governo a tentar de forma marota jogar no colo do
Congresso a missão de encontrar saídas para o nó de suas contas. Com a
credibilidade em farrapos, corroída por mentiras sem fim, quer dividir o
ônus de medidas impopulares com deputados e senadores. Afinal não tem
mais como maquiar suas despesas nem como promover pedaladas fiscais
inconsequentes. O certo seria dar o exemplo. A sanha perdulária do
Estado deveria ser o primeiro alvo de ataque antes de se pedir mais
sangue, suor e lágrimas de uma população que foi enganada e espoliada
por anos a fio. Que a presidente e o partido que lhe dá sustentação
entreguem antes sua cota de sacrifício e que tenham a coragem de levar
adiante as necessárias reformas estruturais. Do contrário, que cedam
lugar a quem tem competência para a missão.
Fonte: IstoÉ - Editorial - Carlos José Marques, diretor editorial
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