Na sua mais recente passagem pelo Palácio da Alvorada, na noite de
quinta-feira, Lula encontrou uma Dilma aturdida, às voltas com o risco
de perder as duas muletas de sua presidência. Horas antes, ela havia
toureado a insatisfação de Joaquim Levy, seu apoio econômico, que
flertava com a porta da rua. Na véspera, ela tomara um toco de Michel
Temer, sua escora política, que se negou a reassumir a articulação do
Planalto com o Congresso.
Vendeu-se a versão de que Lula voara a
Brasília para socorrer sua afilhada política. Falso. O mentor de Dilma
foi à Capital para tentar salvar a si mesmo. Sua pupila realiza um
governo caótico. O enredo da campanha perdeu a validade. E nem o
marketing de João Santana foi capaz de colocar uma narrativa nova no
lugar. Disso resultou um fenômeno político raro: depois de fazer a
sucessora, Lula está sendo desfeito por ela. E tenta brecar o processo
de desconstrução.
Enquanto o criador dava conselhos à criatura em
Brasília, Temer fugia do seu comedimento usual para dizer a um grupo de
empresários o que só era balbuciado em privado: “Hoje, realmente, o
índice [de aprovação do governo] é muito baixo. Ninguém vai resistir
três anos e meio com esse índice baixo. […] Se continuar assim, eu vou
dizer a você, 7%, 8% de popularidade, de fato, fica difícil.''
Temer
soou raso e inepto. Foi raso porque insinuou o risco de impeachment com
uma leveza incompatível com a gravidade do tema. Foi inepto porque bem
sabe, como professor de direito constitucional, que impopularidade não é
motivo para a cassação de um mandato presidencial. Exige-se a prática
de um crime de responsabilidade. Algo que, por ora, não se encontra
sobre a mesa.
Seja como for, a impopularidade evocada por Temer é
real. E ajuda a explicar a inquietação de Lula. Graças a Dilma, o
animador de massas do PT está perdendo seu capital político mais
valioso: as ruas. Pior: Lula já não dispõe de um FHC para chutar. Dilma
colhe o que plantou sozinha: juros, inflação, contas públicas
escangalhadas e desemprego. O fiasco da gerentona converteu a legitimidade das urnas recém-abertas em falta de credibilidade.
Fonte: Blog do Josias de Souza
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