A Polícia Federal encaminhou nesta semana ao Supremo Tribunal Federal
relatório em que defende a continuidade do inquérito sobre o senador
tucano Antonio Anastasia na Lava Jato, embora o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, já tenha pedido arquivamento da investigação.
Uma série de fatos chama atenção na atitude dos investigadores. O
relatório se baseia na denúncia feita por uma "cidadã comum" ao gabinete
pessoal da Presidência da República, em 15 de janeiro deste ano. Embora
a autora tenha pedido anonimato, ela foi identificada na denúncia
encaminhada ao Ministério da Justiça e posteriormente à PF.
Trata-se de
uma servidora estadual exonerada do governo de Minas Gerais em 2008,
quando o Estado era comandado por Aécio Neves (PSDB-MG), que tinha como
vice Anastasia. Na denúncia, a "cidadã comum" descreve uma residência
situada no número 50 da Avenida Eurico Dutra em que o ex-policial
federal Jayme Alves Filho, o Careca, emissário do doleiro Alberto
Youssef, teria efetuado pagamento em dinheiro a um político que seria
Anastasia. O imóvel, contudo, é incompatível com a casa descrita à Lava
Jato por Careca: tem dois andares e fica numa esquina, bem diferente da
casa térrea de que o ex-PF se lembrava.
No relatório é citado outro endereço para a suposta casa onde o
dinheiro teria sido entregue ao senador, na Rua José Maria Alckmin,
também no bairro de Belvedere, em Belo Horizonte - e também diferente da
descrição apontada por Careca. Apesar de terem sido encaminhadas pelo
gabinete da Presidência ao Ministério da Justiça no dia seguinte, as
informações permaneceram ignoradas durante seis meses - não foram
repassadas ao STF e só ressurgiram quando o inquérito estava prestes a
ser encerrado. Para Maurício Campos, advogado de Anastasia, é "absurdo
casuísmo" a juntada de diligências que "sequer constavam do relatório
parcial do delegado do caso" em junho. O advogado classifica como
"estranho" o fato de a denúncia ser "tão antiga" quanto a instauração do
inquérito, do início do ano.
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