Não é o que alguns podem pensar. A proposta não é congelar Dilma, e
sim falar do congelamento por ela praticado sobre nós. [temos que reconhecer que enquanto Dilma não é expulsa da cadeira presidencial, um congelamento - não que possa causar a morte e sim aquele utilizado para reduzir a atividade de quem está em coma; enquanto ela estivesse em tal condição, não faria nenhum mal ao Brasil.] Mas qual? Até a
própria autora da façanha pode não ter se dado conta do congelamento de
preços por ela ordenado entre 2013 e 2014, quando Dilma repetiu o Sarney
de 1986, com seu Plano Cruzado. Mas o Plano Dilma se diferenciou do de
Sarney num ponto fundamental: o controle dos preços foi indireto, nunca
decretado em âmbito geral.
O congelamento de Dilma foi específico para os fins políticos a que se destinava. E isso foi conseguido. Começou segurando as tarifas e outros preços sob controle do Planalto. Num anúncio bombástico, ainda em 2013, Dilma rebaixou as tarifas de energia em 18%. Em paralelo, sem anúncio formal, o Planalto ia travando o repasse do custo do barril de petróleo sobre os combustíveis vendidos no mercado interno. Resultado bem conhecido: a energia “barata” arrebentou as finanças das empresas distribuidoras e sufocou investimentos no setor; a Petrobras, pobre dela e, sobretudo, seus miseráveis acionistas, foram vilipendiados pelo “suicídio” imposto à empresa, com direito a corda, banquinho e empurrão.
Existe outro aspecto do congelamento de Dilma que passou desapercebido: o papel do câmbio, manobrado por supostas “razões técnicas” pelo Banco Central, que assinou contratos de entrega futura de dólares a preços ruinosos a fim de conter a queda do real. A conta chegou com a desvalorização pós-eleitoral, gerando (até agora) R$ 100 bilhões em prejuízos aos pagadores de impostos, decorrentes dos contratos liquidados. Mas onde estaria, afinal, a vantagem política do congelamento seletivo de Dilma?
A inflação amordaçada. O custo das fontes de energia foi contido, deixando a conta amarga para 2015. Os chamados “preços administrados” ficaram congelados em 1,6% de variação em 2013, passando a 5% no pós-eleição, para explodir em 17,9% no fim do ano passado. Aí os efeitos danosos da manobra se multiplicaram. E os preços afetados pelo câmbio, que batem no custo de vida dos eleitores, tiveram sua curva inflacionária contida em 1% (IPA-FGV) até outubro de 2014, para saltarem a 10,7%, nos 12 meses seguintes. No período, o câmbio foi de R$ 2,45 por dólar para R$ 3,87.
Dilma e sua equipe, sem desconfiar da própria esperteza, aperfeiçoaram o artifício de um congelamento sarneyzista de preços, salários e câmbio. Com Sarney, a medida era geral e ostensiva. Com Dilma, a manobra foi astuta e seletiva. Os preços livres continuaram liberados, principalmente os salários, garantindo a felicidade momentânea dos eleitores. Os preços sensíveis aos custos de energia e ao câmbio ficaram aprisionados. A indústria não podia exportar com o câmbio controlado; mas encarou uma espiral de salários, embalada pelos então flamejantes setores de serviços e da construção civil, impulsionados por gastos públicos e crédito a todo o vapor. Foi, portanto, um congelamento dissimulado e segmentado, mas muito eficaz, de resultado cirúrgico sobre o placar eleitoral.
Economistas debaterão anos a fio sobre aspectos curiosos do congelamento dilmista como, por exemplo, o fato de a medida não haver incidido sobre os salários e a despesa pública. O que seria visto como catástrofe pelo lado técnico, foi “genial” pelo aspecto eleitoral. Só que o rescaldo de um congelamento seletivo é sempre mais grave. Pagaremos mais caro para sair dessa do que o freezer da era Sarney. O desemprego, a recessão, a redução do poder aquisitivo, a destruição de riqueza, tudo será mais agudo e penoso. Isso explica a surpresa — para muitos — da intensidade do recuo da economia em 2015. E seu trágico prolongamento neste ano e no próximo, na ausência de uma reação à altura da tragédia instalada.
O congelamento de Dilma foi específico para os fins políticos a que se destinava. E isso foi conseguido. Começou segurando as tarifas e outros preços sob controle do Planalto. Num anúncio bombástico, ainda em 2013, Dilma rebaixou as tarifas de energia em 18%. Em paralelo, sem anúncio formal, o Planalto ia travando o repasse do custo do barril de petróleo sobre os combustíveis vendidos no mercado interno. Resultado bem conhecido: a energia “barata” arrebentou as finanças das empresas distribuidoras e sufocou investimentos no setor; a Petrobras, pobre dela e, sobretudo, seus miseráveis acionistas, foram vilipendiados pelo “suicídio” imposto à empresa, com direito a corda, banquinho e empurrão.
Existe outro aspecto do congelamento de Dilma que passou desapercebido: o papel do câmbio, manobrado por supostas “razões técnicas” pelo Banco Central, que assinou contratos de entrega futura de dólares a preços ruinosos a fim de conter a queda do real. A conta chegou com a desvalorização pós-eleitoral, gerando (até agora) R$ 100 bilhões em prejuízos aos pagadores de impostos, decorrentes dos contratos liquidados. Mas onde estaria, afinal, a vantagem política do congelamento seletivo de Dilma?
A inflação amordaçada. O custo das fontes de energia foi contido, deixando a conta amarga para 2015. Os chamados “preços administrados” ficaram congelados em 1,6% de variação em 2013, passando a 5% no pós-eleição, para explodir em 17,9% no fim do ano passado. Aí os efeitos danosos da manobra se multiplicaram. E os preços afetados pelo câmbio, que batem no custo de vida dos eleitores, tiveram sua curva inflacionária contida em 1% (IPA-FGV) até outubro de 2014, para saltarem a 10,7%, nos 12 meses seguintes. No período, o câmbio foi de R$ 2,45 por dólar para R$ 3,87.
Dilma e sua equipe, sem desconfiar da própria esperteza, aperfeiçoaram o artifício de um congelamento sarneyzista de preços, salários e câmbio. Com Sarney, a medida era geral e ostensiva. Com Dilma, a manobra foi astuta e seletiva. Os preços livres continuaram liberados, principalmente os salários, garantindo a felicidade momentânea dos eleitores. Os preços sensíveis aos custos de energia e ao câmbio ficaram aprisionados. A indústria não podia exportar com o câmbio controlado; mas encarou uma espiral de salários, embalada pelos então flamejantes setores de serviços e da construção civil, impulsionados por gastos públicos e crédito a todo o vapor. Foi, portanto, um congelamento dissimulado e segmentado, mas muito eficaz, de resultado cirúrgico sobre o placar eleitoral.
Economistas debaterão anos a fio sobre aspectos curiosos do congelamento dilmista como, por exemplo, o fato de a medida não haver incidido sobre os salários e a despesa pública. O que seria visto como catástrofe pelo lado técnico, foi “genial” pelo aspecto eleitoral. Só que o rescaldo de um congelamento seletivo é sempre mais grave. Pagaremos mais caro para sair dessa do que o freezer da era Sarney. O desemprego, a recessão, a redução do poder aquisitivo, a destruição de riqueza, tudo será mais agudo e penoso. Isso explica a surpresa — para muitos — da intensidade do recuo da economia em 2015. E seu trágico prolongamento neste ano e no próximo, na ausência de uma reação à altura da tragédia instalada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário