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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Legião de imbecis?

Faz exatamente uma década que o comentarista Arnaldo Jabour cunhou o termo “pornopolítica” para designar a política como a maior expressão de nossa degradação moral 

Com a infeliz declaração do pensador Umberto Eco pouco antes de morrer, de que a internet dá voz a “uma legião de imbecis”, ofereço ao debate público o contraponto: uma legião de cidadãos políticos que passou a contar com um novo meio de participação na governança da sociedade.

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Faz exatamente uma década que o comentarista Arnaldo Jabour cunhou o termo “pornopolítica” para designar a política como a maior expressão de nossa degradação moral. E do episódio do mensalão pra cá, a grande mídia brasileira só fez ilustrar crescentemente o que este mesmo jornal, por exemplo, vem chamando de “escândalos em série”.  Tal qual uma produção novelesca sem fim, não vitimasse com recessão, desemprego, inflação e tensão social exatamente o cidadão leitor e assinante dos principais veículos de informação do país. Embora se saiba que em vários outros setores de nossa expressão cultural o país real resista bravamente, como demonstra o nosso sucesso em diversas atividades sociais, da medicina à aeronáutica, do agronegócio à indústria, é o setor da política que nos nivela todos por baixo.

O que está em jogo, na verdade, é uma nova missão para a própria mídia de massa, que, exatamente por não poder concorrer com as redes sociais na agilidade de produção de notícias, passa a ter sua função de filtro mais valorizada ainda. O que significa que será composta mais de editores do que de repórteres, pois repórteres seremos todos nós, quaisquer cidadãos testemunhando os fatos ocorridos no dia a dia das comunidades em que vivem. Todavia, se os próprios cidadãos frequentam apenas as páginas das redes sociais para se informar, o panorama muda por completo, pois ficarão sempre mal informados, sem uma referência confiável da origem da informação, data, locais de ocorrência, protagonistas, causas etc., tarefas de checagem, filtro e seleção que só os profissionais de edição da grande mídia têm a expertise para levar avante.

É certo, como disse o pensador Umberto Eco, que “uma legião de imbecis” se expressa nas redes sobre os mais variados assuntos. Sobretudo, cultura pop, pornografia em si mesma, fofocas e outras trivialidades. Mas quando o assunto é política, mesmo que a pornopolítica brasileira, que me desculpe o filósofo italiano, o nível do debate público cresce de qualidade a olhos vistos. Se não, o mundo não teria visto os mais férteis movimentos de transformação da pornopolítica para uma cultura de plena cidadania nos mais variados países, como o Ocuppy Wall Street, nos EUA; o Podemos, na Espanha; o 5 Estrelas, na Itália, o Je suis Charlie, da França; e, mais recentemente, o Vote Leave inglês e o Vem Pras Ruas brasileiro, que, desde 2011, representa uma rede de dezenas de movimentos contra a corrupção política do país.

Ou seja, trata-se, na verdade, de uma nova divisão de tarefas, entre a função mobilizadora das redes sociais, formando cidadãos políticos prontos a participar da gestão pública e a função de qualificação da informação a cabo dos editores da grande mídia.  Por isso é que, ao lado da voz da legião dos imbecis a serem mal informados pelas redes sociais, se abre também o espaço público para a formação de uma legião de cidadãos pela mídia profissional.

 
Fonte: Jorge Maranhão é diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão

 

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