A prisão temporária do
casal João Santana-Mônica poderá se transformar, em breve, em prisão preventiva, sem data para se esgotar. Sem a certeza,
inclusive, de que se esgotará antes de uma eventual condenação. Mas o que apavora de
fato o governo não é o que possa acontecer com o casal, por mais que Dilma
goste dele. Nem mesmo o que o casal possa revelar. Santana e Mônica nada
revelarão que deixe mal o governo.
O
que apavora é a desconfiança de que o juiz Sérgio Moro já possui indícios e
provas convincentes da
injeção nas contas da campanha de Dilma à reeleição de dinheiro surrupiado à
Petrobras. É por isso que o governo tremeu quando a Lava-Jato deflagrou mais de
uma de suas fases, a 23ª. E nem tão cedo deixará de tremer. O segundo mandato da presidente Dilma,
simplesmente, subiu no telhado.
Poderá jamais despencar dali. Ou
descer mais adiante. Mas até
lá, Dilma não dormirá o sono dos inocentes. Muito menos
Lula, às voltas com problemas que talvez resultem no seu indiciamento
por crimes. Moro suspeita que Santana
recebeu por meio de contas no exterior parte do dinheiro que ganhou para fazer
a campanha de Dilma e orientar em 2014 campanhas do PT em alguns Estados.
Essa
parte, calculada em pouco mais de sete
milhões de dólares, teria sido paga pela Odebrecht e por um operador de
propinas ligado ao esquema do saque à Petrobras, e preso desde ontem. - É extremamente improvável que a
destinação de recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras [a
Santana e sua mulher] esteja desvinculada dos serviços que prestaram à aludida
agremiação política [o PT] – decretou
Moro.
E foi além: - Por mais que [o casal] tenha declarado ao Fisco os valores, tinha
conhecimento da origem espúria dos recursos [e ocultou valores no exterior]
mediante expedientes notoriamente fraudulentos.
Nada pior para Dilma a essa
altura. Ameaçada por um
processo inconcluso de impeachment na Câmara dos Deputados, ela receia que agora ganhe mais
robustez quatro ações impetradas pelo PSDB no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e
que pedem a anulação do resultado da última eleição presidencial.
Dilma
é acusada de abuso de poder político e econômico para se reeleger e de
irregularidades nas contas de sua campanha. Se o TSE concluir que houve crimes, será marcada
uma nova eleição, este ano, sem que Dilma e seu vice Michel Temer possam
disputá-la. O PSDB quer juntar às suas ações o que a Lava-Jato apurar sobre o
uso de dinheiro sujo para reeleger Dilma. Talvez não tenha tempo hábil para
isso. Uma decisão do TSE a respeito
deverá ser tomada ainda neste semestre. De resto, o
TSE poderá recusar a juntada às ações de mais documentos. Se escapar à condenação do TSE, Dilma
não escapará, porém, do estrago a ser provocado em sua imagem pela prisão do
casal Santana-Mônica.
O publicitário Duda Mendonça, em 2005, confessou ter recebido no exterior 10,5 milhões de dólares que o PT lhe devia por seu trabalho como
marqueteiro da campanha que três anos antes levara Lula ao poder. Na
época, Lula imaginou que seu mandato acabaria cassado. Santana jamais foi um simples marqueteiro que
apenas ajudou Dilma a vencer em 2010 e em 2014. No primeiro governo dela e
neste, Santana foi a pessoa que Dilma sempre consultou para adotar medidas que
pudessem se refletir em sua imagem. Quer dizer: as mais importantes.
Ela,
com justa fama de ouvir pouco ou quase nada seus principais auxiliares e de só
fazer o que quer, sempre ouvia Santana, e levava em
conta os seus conselhos. Foi dele a ideia comprada por Dilma de em 2013 reduzir as tarifas de
energia. Dilma faturou votos com isso. O
país perdeu. Não poucas vezes,
ministros discutiam assuntos com Santana para só depois discuti-los com Dilma.
Prefeitos procuravam Santana atrás de ajuda junto ao governo. Da mesma forma,
autoridades de outros países.
A preocupação de Santana em não
demonstrar importância, seu comportamento
sempre discreto, jamais
foi capaz de disfarçar a influência que exerceu nos destinos dos governos de
Dilma. A presidente perdeu quem lhe dizia o que falar e
o que calar. A Lava-Jato bateu à sua porta. E mesmo que salve o
mandato, ficará menor do que já é hoje.
Fonte: Ricardo Noblat – Blog do Noblat
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