Imagine você não gostar
da autoridade que lhe investiga e, por esse critério, poder decidir que não vai depor quando convocado. Imagine-se
imbuído do direito de escolher o ministro da Justiça
mais adequado às suas conveniências pessoais e dotado da força para destituir
ao bel prazer aquele que lhe contrariou por deixar prender um dos seus mais
diletos amigos – ainda que por justificadas provas de irregularidades
cometidas. No desmedido impulso tirânico você poderia ainda convidar para o
lugar desse ministro alguém capaz de “enquadrar
a PF” e evitar que a polícia cometa o supremo “abuso” de averiguar suspeitas de favorecimento que pesam contra a
sua pessoa.
Não importa a autonomia que a Carta Magna garante
as instituições em sociedades democráticas como a brasileira. Prevalece apenas e tão somente a
sua absoluta vontade de ditar os rumos, estabelecer o certo e o errado,
conceder e retirar autoridade a aliados e detratores. Mortais comuns não podem contar com tais regalias. Já petistas de alta
patente como Lula e Dilma demonstram compartilhar desse pensamento
e, por isso mesmo, levaram às raias do
insustentável as pressões para que José Eduardo Cardozo deixasse a pasta da
Justiça na semana passada, na mais escrachada demonstração de que querem
castrar a liberdade dos investigadores e esvaziar a Lava Jato – hoje convertida
na grande esperança de resgate moral da sociedade.
Cardozo foi sumariamente ejetado da pasta por
adotar o princípio republicano de resistir a interferências indevidas na PF. Lula não estava gostando nada
das apurações que o apontam como beneficiário de empreiteiras em obras e “presentinhos” nos dois imóveis
destinados a usufruto familiar. Também torcia o nariz para o que considerava “falta de pulso” do ministro. Fez gestões para detoná-lo assim como
partiu para cima de magistrados e procuradores, acusando-os publicamente de
perseguição. Fez mais: mandou seus advogados avisarem que não iria prestar
depoimento na condição de investigado, desqualificando o interpelante e afrontando
um membro do Ministério Público.
Dilma, por sua vez, ficou absolutamente possessa – segundo relatos de assessores próximos – quando soube da prisão do marqueteiro e
confidente João Santana. Foi o suficiente para selar o destino de Cardozo. O ego exacerbado e uma indisfarçável sensação de
pairar acima da lei parecem mover Lula, em especial. Na festa de aniversário do
seu partido, na segunda-feira 29, ele explodiu aos berros: “estou de saco cheio”.
Referia-se ao Ministério Público, à Polícia
Federal e à imprensa. Em resumo: todos que, acredita ele, estão mancomunados para manchar sua
reputação. A avalanche de evidências e os depoimentos dando conta de que
recebeu vantagens, inclusive no cargo de presidente, seria detalhe. Não
valem no seu discernimento. Lula se considera um cidadão especial, um messias
intocável, ora ignorando os fatos ao redor, ora convertendo em meras intrigas
da oposição os atos desabonadores dos quais é acusado. Com essa postura não
convence nem mais a própria militância e desaba nas pesquisas de opinião. O
líder de massas, o onipresente detentor da “alma
mais honesta deste País” se furta a dar explicações. Prefere atacar com impropérios. Intimidar com ameaças. Tripudiar. Posar
de vítima “das elites” e instigar
chicanas que adiem seu confronto com a justiça.
Até quando? Ao invés desse teatro de subterfúgios, pedalando
na defesa e escondendo os pedalinhos como benesses corriqueiras, Lula deveria reunir argumentos consistentes
para responder aos juízes, a quem chama de “acovardados” – como a confundir tribunais com uma peleja
futebolística de onde pode xingar quem zela pelas regras. Do contrário,
deve parar atrás das grades. Lula não é intocável, como também não o é sua
sucessora e discípula, Dilma. A
presidente, cada vez mais encalacrada, cede às injunções desabonadoras do PT.
Entrou em “modo de negação”. Desistiu
de governar.
A cada dia, a cada nova confissão de executivos
presos e de políticos que lhe cercam, vai demonstrando que teve
conhecimento, se beneficiou diretamente e em vários momentos participou de
forma ativa do gigantesco esquema que deu sustentação a seu mandato com desvios
e falcatruas de toda ordem. O bombástico depoimento do senador petista
Delcídio do Amaral à polícia, publicado com exclusividade por ISTOÉ nesta
edição, dá claras evidências de que Dilma Rousseff incorreu em crimes de
responsabilidade que deveriam levar a sua imediata deposição. Pelo Congresso e
pela justiça.
Para a grande maioria dos brasileiros é anacrônico
o País seguir nessa rota de desmandos indefinidamente. A presidente já perdeu as condições de dirigir a Nação, como atestam as
delações premiadas, escancarando a farsa petista para se garantir no poder.
Não há como ser indulgente com ilícitos, nem impassível diante da ladroagem
endêmica. A continuar nessa toada, com caixa dois de campanha, articulações
para manter salafrários em estatais e toda sorte de pilhagem, a moral do País
vai virar pó. É preciso um basta à depravação política.
Por: Carlos José Marques, diretor editorial – Isto É
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