Em 10 de setembro de 2012, num post com o título LULA SABE DESDE 1995 QUE DELÚBIO SOARES É UM ESPECIALISTA EM
DESVIO DE DINHEIRO, a coluna descreveu resumidamente a ascensão e queda
do tesoureiro do PT e do Mensalão.
Confiram a trajetória do meliante que acaba de ser
indultado por Dilma Rousseff e perdoado pelo Supremo Tribunal Federal. (AN)
César Benjamin filiou-se a um grupo
clandestino de extrema-esquerda aos 15 anos, atravessou os dois
seguintes metido na luta armada, foi preso aos 17, torturado durante
meses e expulso do país aos 22. Voltou do exílio
aos 24, ajudou a fundar o PT aos 26 e foi um dos coordenadores das duas
primeiras campanhas presidenciais de Lula. Rompeu com o
partido em 1995, mudou-se mais tarde para o PSOL e foi candidato a
vice-presidente na chapa de Heloísa Helena.
A caminho dos 60 anos, o agora diretor da editora
Contraponto não tem nada a ver com a elite golpista,
com louros de olhos azuis ou paulistas de quatrocentos anos. Mas entre
César Benjamin e a esquerda governista existe um fosso que começou a ser
escavado em 1994 e assumiu dimensões amazônicas em 2005, quando revelou, num programa da TV
Bandeirantes, que deixara o PT por ter testemunhado a gestação do escândalo
do Mensalão ─ e fracassado na tentativa de abortar o monstrengo.
Em 1993,
contou César, Lula se dispensara de consultas e
conselhos para indicar o representante da CUT, braço sindical do PT, no Conselho do Fundo
de Assistência ao Trabalhador. Só trocou sussurros com
José Dirceu. Cabe a um conselheiro do
FAT decidir onde, quando e como serão investidos os muitos milhões
movimentados mensalmente pela entidade.
O chefe resolveu transferir
do semianonimato para um empregão o companheiro goiano que dava
aulas de aritmética a crianças do curso primário e lições de greve
a marmanjos inexperientes. Chamava-se Delúbio Soares. No início da campanha presidencial
de 1994, César Benjamin descobriu que Delúbio, com espertezas ilegais, vinha desviando do FAT para o PT quantias
com dígitos suficientes para deixar excitado até banqueiro de paraíso fiscal.
Confiante na discurseira sobre valores éticos, relatou o que sabia aos
mandarins do partido. Ao longo da narrativa, espantou-se com a expressão serena
dos ouvintes. Ficou mais espantado ainda ao ouvir de
Lula e José Dirceu a recomendação cafajeste: “em nome do partido”, deveria esquecer o assunto.
Ignorou a recomendação até
render-se às evidências de que havia denunciado um criminoso aos mandantes do
crime. Em 1995,
César despediu-se de Lula com um aperto de mãos e uma advertência: “Isso aí é o ovo da serpente”. Era mesmo,
soube-se dez anos mais tarde. A trama exposta por César nunca foi desmentida ou
retocada pelos acusados.
Todos submergiram no silêncio que consente, endossa ou
autoriza. Na campanha presidencial de 2002, já promovido a tesoureiro do partido, Delúbio passou a acumular o cargo
de diretor-financeiro da quadrilha do Mensalão. Em 2005, o escândalo
explodiu.
O
primeiro depoimento na CPI dos Correios tornou nacionalmente conhecida a figura
a quem Lula se referia como “nosso
Delúbio”. A voz pastosa de quem
comeu arroz com Lexotan, o olhar sem luz que só
boladas em dólares iluminam, o sorriso
cínico dos que se acham condenados à perpétua impunidade ─ o
discurso e a estampa compunham o retrato de um PT envilecido pela revogação dos
valores morais. O depoente só abriu a
boca para contar mentiras. Batizar a roubalheira imensa de “recursos não contabilizados”, por
exemplo.
Em
outubro de 2005, ao festejar o 50° aniversário numa fazenda em Goiás, o gerente
financeiro do bando esbanjava tranquilidade. “Não é hora de falar, e sim de esperar o tempo passar”, disse ao
repórter do Estadão. “E aí ficará provado que eu não errei”. Caprichando na pose de
inocente, culpou a imprensa e os adversários. “O PT não usou dinheiro público, como fizeram os outros partidos, quando
estavam no governo. Nós fizemos diferente do PFL e do PSDB. Usamos dinheiro de
empréstimos privados de um empresário para fazer pagamentos de campanha e deu a
confusão que deu”. Fez duas
previsões. Depois de admitir que o PT
dificilmente deixaria de expulsá-lo, avisou que não demoraria a voltar sob os
aplausos dos companheiros. Acertou. Depois de repetir
que o Mensalão não existiu, fez a segunda aposta: “Nós seremos vitoriosos, não só na Justiça, mas no processo político. É
só ter calma. Em três ou quatro anos, tudo será esclarecido e esquecido, e
acabará virando piada de salão”. Errou feio. O que virou
piada foi o palavrório forjado pelos delinquentes para escapar da cadeia.
No
momento, é improvável que Delúbio
Soares esteja pensando em comemorações. Se resolver
festejar o aniversário, corre o risco de ouvir o Parabéns a Você entoado por
meia dúzia de parentes. Nem os velhos comparsas vão querer apagar
velinhas ao lado do companheiro que, em outubro, já será mais um corrupto condenado pelo Supremo.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes
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