Delação de Delcídio poderá ‘ressuscitar’ mensalão [e junto com o MENSALÃO-PT vem o caso Celso Daniel.
Corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio são crimes leves quando comparados com homicídio.]
Operador Marcos Valério será chamado a depor à PGR sobre denúncia feita por Delcídio Amaral
A Procuradoria-Geral da República vai chamar o lobista
Marcos Valério Fernandes de Souza condenado a quase 40 anos no processo
do mensalão, para depor sobre denúncias do senador Delcídio Amaral (sem
partido-MS,) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num dos
depoimentos da delação premiada, o senador acusou Lula de participar de
uma manobra para comprar o silêncio de Valério. A iniciativa pode
resultar na reabertura das investigações do mensalão, que levou à prisão
do ex-ministro José Dirceu e outros ex-dirigentes do PT.
Em depoimento no dia 12 do mês passado, Delcídio sugeriu que Lula
tomou conhecimento e avalizou uma manobra de líderes do PT para barrar
uma possível delação de Marcos Valério durante as investigações da CPI
dos Correios sobre o mensalão em 2006. O senador disse que Valério, um
dos operadores do esquema, cobrou R$ 220 milhões para se manter calado e
que, de fato, recebeu o dinheiro, não se sabe se em parte ou todo o
montante exigido. O senador disse ainda que os pagamentos teriam sido
feitos possivelmente no exterior por empreiteiras envolvidas em fraudes
na Petrobras. [um dos segredos guardados por Marcos Valério se refere a chantagem contra Lula e Gilberto Carvalho feita por um empresário para não revelar quem mandou matar Celso Daniel.
Valério sabe muito pois foi um dos intermediários na negociação.]
Entre as possíveis pagadoras do suborno ele citou a Odebrecht, OAS e
Queiroz Galvão. O senador exclui da lista a Andrade Gutierrez que, para
ele, seria tucana demais. O senador sustenta ainda que as ordens para
pagamento no exterior teriam partido de José de Filippi Júnior,
tesoureiro da campanha de Lula em 2006. Delcídio disse que soube dos
pagamentos por pessoas do governo e do mercado, mas não revelou os nomes
dos interlocutores. “Tal informação (pagamentos no exterior) surgiu de
várias origens, de dentro e de fora do PT e inclusive no meio
empresarial”, afirmou o senador, segundo transcrição do depoimento.
O suborno teria tido como ponto de partida um encontro secreto entre
ele, Delcídio, Valério e Rogério Tolentino, sócio de Valério, na casa de
Cleide, então secretária-geral das Comissões no Senado. Na reunião,
ocorrida em fevereiro de 2006, Valério se queixou de problemas pessoais
decorrentes do escândalo do mensalão. Os filhos estariam fora da escola e
a mulher teria tentado suicídio. “Que Marcos Valério disse que
precisava resolver aquilo e que queria que o PT ressarcisse o que devia a
ele. Que o valor que o PT devia a ele chegaria a R$ 220 milhões”, teria
dito o lobista.
Os valores seriam referentes a comissões que Valério cobrava para
intermediar repasses do caixa dois ao PT. “Se estas coisas não forem
resolvidas, se a situação está ruim, vai ficar pior ainda”, teria
ameaçado o lobista. Valério já teria tratado do assunto com Paulo
Okamotto, um dos principais auxiliares de Lula. No dia seguinte ao
encontro, Delcídio levou a demanda a Lula, numa reunião sem testemunhas
no Palácio do Planalto. Lula teria ouvido o relato do senador
constrangido, mas sem fazer qualquer comentário.
Um dia depois da conversa com Lula, Delcídio teria recebido ligações
dos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça), já falecido, e Antônio
Palocci (Fazenda). Os dois ministros teriam reprovado o senador por
levar o pedido de Valério ao presidente da República e, a partir dali,
entendeu que deveria sair de cena. Dois anos depois, ele soube que
Valério recebeu o dinheiro, não se sabe se no todo ou em parte. Este
teria sido um dos motivos pelos quais Valério se manteve em silêncio
durante as investigações da CPI. "Havia conversas muito fortes ao longo da campanha de 2008 de que os
pagamentos estavam sendo feitos por Marcos Valério no exterior, em suas
contas ou de terceiros. Ouviu que foi em torno de R$ 110 milhões", disse
Delcídio, segundo registro da delação. “Que não sabe se os valores
foram de R$ 220 milhões pois ouviu que foi em torno de R$ 110 milhões.
Que possivelmente foram grandes empresas ligadas à Lava-Jato que fizeram
os pagamentos”, acrescentou.
O lobista só decidiu colaborar com a Justiça depois de ter sido
condenado no mensalão a quase 40 anos de prisão. As declarações de
Valério ao então procurador-geral Roberto Gurgel foram consideradas
extemporâneas e insuficientes para reabrir um processo que já estava em
fase final. Mas agora, o caso pode sofrer reviravolta. Os procuradores
vão chamar Valério para depor. Eles querem saber se o lobista confirma
que vendeu o silêncio. Para os investigadores, se tiver informação
relevante e quiser colaborar, Valério teria as portas abertas para
também fazer acordo de delação premiada. Neste caso, ele poderia até
pleitear redução da pena a que foi condenado no mensalão, quase 40 anos
de prisão.
Fonte: O Globo
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