E
não pensem os “jovens turcos” do MP
que os que fomos às ruas cobrar moralidade na política daremos carta branca
para novos demiurgos
Léo Pinheiro, o ex-chefão da OAS, prestou depoimento ontem ao juiz
Sergio Moro
sobre aquele
caso envolvendo o ex-senador Gim Argello, que teria feito parte de um grupo que passou a cobrar propina para
a CPMI da Petrobras não convocar os empreiteiros.
E o que fez Léo? Ora, o que qualquer um faria no lugar dele, depois da decisão tomada
pelo bravo procurador-geral da República, Rodrigo Janot: ficou
calado. Tudo a seu tempo. Mas posso assegurar que pelo menos um ex-capa-preta
da Câmara está acendendo velas a seu capeta-da-guarda — já que
anjos não se metem com essa gente. Há uma boa possibilidade de sair ileso.
Eis aí: essa já é a primeira
consequência de Janot ter decretado o fim da delação premiada de Léo Pinheiro, transformando o empresário
no bode expiatório de um Ministério
Público que fugiu do controle. De qual controle? Do controle das regras e
fundamentos da democracia. É realmente
impressionante que associações de procuradores e ao menos uma de juízes
endossem a ação de Janot, falando em nome do combate à impunidade.
Em vez de botar ordem na casa, o procurador-geral da República
alimenta hipóteses conspiratórias completamente destrambelhadas, como se alguém
estivesse interessado em pôr fim à investigação. O homem decreta que as informações de um dos
principais empreiteiros do esquema não mais interessam. Mas seus críticos é que
estariam conspirando contra a Lava Jato. Vamos ser claros? A frequência com que
membros do MP apareciam fazendo política, em vez de se dedicar à investigação,
já indicava que algo estava fora do lugar.
Fico à vontade para falar porque critiquei comportamentos destrambelhados quando o PT ainda estava no poder. Então não venham os
tontos dizer que só me ocupo disso agora porque, afinal, os petralhas já
caíram. Não tenho inimigos de estimação. Sou amigo é dos procedimentos do
estado de direito. De resto, quem, pelo
visto, quer pôr um ponto final à apuração é Rodrigo Janot, certo? Eu estou
aqui cobrando a delação de Léo Pinheiro.
Mas, pelo visto, o
procurador-geral e o MP como um todo estão realmente convencidos de que já não
precisam dar satisfações a ninguém. Basta-lhes tomar decisões e dizer que
assim são as coisas. Imaginem se, diante da constatação de que Júlio
Camargo mentia, o sr. Janot tivesse
resolvido mandar para o triturador de papéis a sua delação… Eduardo Cunha estaria hoje
numa situação muito melhor.
Mas quê! Na delação em si,
Camargo mentiu e disse que nunca tinha pagado propina a Cunha. Resolveu
falar a verdade num depoimento a Sergio Moro, na primeira instância, o que, do
ponto de vista técnico, já é uma aberração. Não sofreu punição nenhuma. Afinal, a Janot interessava quebrar as pernas do
deputado, cujo processo andou bem mais rápido do que o de outros políticos. Ou não andou? E isso não
quer dizer que o dito-cujo não mereça punição severa!
Janot tem de voltar atrás
na sua decisão. Não é o dono da investigação. Ou tem de se explicar. Também não é dono da
história. Hoje, quem assa a pizza é ele.
Não adianta estufar o peito e fazer ar altivo. Tem de prestar contas de seus
atos, sim! E não pensem os “jovens turcos” do MP que os que fomos às
ruas cobrar moralidade na política daremos carta branca para novos demiurgos. O que fizemos foi mandar pra
casa os demiurgos, doutores! Voltem já para as leis e para a
Constituição!
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