A resistência venceu. Ao longo dos anos de contínua depredação da verdade e da lógica, soubemos manter as nossas instituições e reagimos com a devida presteza todas as vezes em que eles tentaram mudar os códigos do regime democrático. Não estão mortos. Não estão acabados
Quinze anos
depois de eu ter criado a palavra “petralha” para designar as práticas
dos petistas em Santo André, lá se vão eles. Morrem com retrato e com
bilhete, mas sem luar, sem violão. Sei muito bem o peso de enfrentá-los
ao longo dos anos. Hoje é fácil.
Felizmente, os grupos de oposição ao
petralhismo se multiplicaram. E ninguém corre o risco de morrer de
solidão por enfrentar a turma. Alguns o fazem até por oportunismo.
Outros ainda porque farejam uma oportunidade de negócios. O tempo que
depure as sinceridades, as vocações, as convicções. Não serei eu o juiz.
Sinto-me
intelectualmente recompensado. A razão é simples. Desses 15 anos de
combate, 10 estão no arquivo deste blog, vejam aí. Houve até um tempo em
que um blogueiro petista sugeriu à grande imprensa que tentasse
investigar quem eram e como viviam os leitores desta página. Afinal,
integrávamos o grupo, dizia ele, dos apenas 6% que achavam o governo
Lula ruim ou péssimo. E é claro que os companheiros tentaram transformar
a repulsa ideológica ao partido num crime.
A recompensa
intelectual não se confunde, nesse caso, com vaidade. A minha
satisfação não decorre de ter antevisto a queda dos brutos. Isso seria
fácil. Em algum momento, claro!, eles cairiam, ainda que fosse pelas
urnas. O meu conforto deriva do fato de que, então, eu não via fantasmas
quando apontava a máquina formidável de assalto ao estado que se havia
criado. Ela se destinava não só a enriquecer alguns canalhas como a
assaltar as instituições.
Ah, quantas
vezes tive de ouvir que eu exagerava! Ah, quantas vezes tive de ouvir
que a palavra “petralha” designava, na verdade, um preconceito! Ah,
quantas vezes tive de ouvir que eu criminalizava no PT o que considerava
normal e corriqueiro nos outros partidos! Ah, quantas vezes tive de
ouvir que eu estava a serviço do tucanato! Essa última acusação,
diga-se, em tempos mais recentes, também ganhou as hostes da extrema
direita caquética, que precisava que o PT fosse um monstro invencível
para que sua ladainha impotente e escatológica continuasse a se
alimentar da paranoia dos tolos.
E, no
entanto, as coisas estão aí. Os petralhas foram derrotados por sua alma…
petralha! Porque a maioria dos brasileiros pôde, afinal, enxergá-los
como eles de fato são. Não! A
palavra “petralha” nunca designou apenas uma caricatura a serviço do
embate ideológico. Os petistas adorariam que assim fosse. A máquina de
propaganda esquerdista tentou até criar o contraponto à direita, que
seriam os “coxinhas”. Mas foram malsucedidos no intento. Porque, afinal,
de um coxinha, pode-se dizer o diabo. Mas uma coisa é certa: coxinha,
em nenhuma de suas acepções, virou sinônimo de ladrão. Marilena Chaui,
aquela, pode achar um coxinha reacionário, preconceituoso, abominável…
Mas não tenho a menor dúvida de que ela confiaria sua carteira a um
coxinha e jamais a deixaria à mercê de um de seus pupilos petralhas.
José Eduardo
Cardozo e os demais petistas se zangam quando se diz que Dilma caiu
pelo “conjunto da obra”. No seu entendimento perturbado do mundo,
entendem que se está admitindo que ela não cometeu crime de
responsabilidade. Trata-se, obviamente, de uma mentira. Sim, o crime foi
cometido, mas é fato que ele não teria sido condição suficiente, embora
necessária, para a deposição. Foi, sim, o jeito petralha de governar
que derrubou a governanta, aliado a uma brutal crise econômica,
derivada, diga-se, desse mesmo petralhismo: não fosse a determinação de
jamais largar o osso, a então mandatária teria tomado medidas para
evitar o abismo. Ocorre que ela não devia satisfações ao Brasil, mas ao
projeto de poder, tornado realização, que havia se assenhoreado do
estado e que vivia de assaltá-lo.
A
resistência venceu. Ao longo dos anos de contínua depredação da verdade e
da lógica, soubemos manter as nossas instituições e reagimos com a
devida presteza todas as vezes em que eles tentaram mudar os códigos do
regime democrático. Não estão mortos. Não estão acabados. Estão
severamente avariados, e cumpre aos defensores da democracia que sua
obra seja sempre lembrada como um sinal de advertência. Até porque, a
exemplo de todas as tentações totalitárias, também a petista tem seus
ditos intelectuais, seus pensadores, seus… cineastas. As candidatas a
Leni Riefenstahl do petismo, sem o mesmo talento maldito da original,
não conseguiram fazer a epopeia do triunfo; então se preparam agora para
fazer o réquiem, na esperança de que o ressentimento venha a alimentar o
renascimento.
Vem muita
coisa por aí. Não completamos nem o primeiro passo da necessária
despetização do estado. O trabalho será longo, vai durar muitos anos.
Não temos como banir os petralhas da política, mas é um dever
civilizacional combater suas ideias, enfrentá-los, resistir a suas
investidas — e pouco importa o nome que tenham.
Publiquei “O País dos Petralhas I”.
Publiquei “O País dos Petralhas II”.
Anuncio aqui, para breve, fechando o ciclo, o livro “Petralhas Go”.
Acabou.
Eles perderam. A democracia venceu.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA
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