Em dia histórico, país deverá ter hoje três presidentes da República - os três juntos, multiplicados por dez, não valem por um Castelo Branco, um Costa e Silva, um Médici ou um Geisel
Sessão de votação do impeachment da presidente Dilma no Senado começa
daqui a pouco. Temer prevê tomar posse logo após a aprovação, mas
planeja viajar ainda hoje para a China; o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, assume a presidência da República na sua ausência
Senado decide hoje se Dilma Rousseff vai ser afastada em definitivo da Presidência
Decisão do plenário pode pôr fim a 13 anos da era PT
Foram cerca de 70 horas de acaloradas discussões, lágrimas, discursos pela madrugada e ameaça de uso do “poder de polícia” para conter os ânimos até que chegasse, finalmente, o
dia do juízo final para a presidente afastada, Dilma Rousseff, acusada
de cometer crime de responsabilidade. Nesta quarta-feira, último dia do
mês de agosto, o Senado concluirá o segundo processo de impeachment de
um presidente na história democrática.
Ao
que tudo indica, o resultado da votação que se iniciará na manhã desta
quarta-feira trará para Dilma um resultado quase tão trágico quanto
aquele vivido no mesmo mês de agosto por alguns dos antecessores que a
petista citou em seu discurso na segunda-feira.
Foi o mês em que Getúlio
Vargas tirou a própria vida e que Juscelino Kubitschek morreu. Foi
também o mês da renúncia de Jânio Quadros, ato que, anos depois,
desembocaria no regime militar, período citado por Dilma em sua fala
para comparar a tortura que então sofreu ao momento que vive hoje. Uma
vez confirmado o impedimento dela, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ) deverá assumir interinamente a Presidência da República da
noite desta quarta-feira até a próxima terça-feira, já que Michel Temer
pretende embarcar para a China logo após ser empossado pelo Congresso
Nacional.
Em levantamento do GLOBO, 53 senadores já admitiram votar a favor do
impeachment. São necessários 54 votos para que Dilma seja cassada. Mas o
clima na noite de terça-feira, consolidado após as longas horas da
sessão, era francamente favorável ao impeachment. Os poucos senadores
que resistiam em anunciar publicamente seus votos eram contabilizados
pelo Palácio do Planalto como favoráveis à cassação da presidente
afastada. Confiantes no resultado, auxiliares do presidente interino,
Michel Temer, afirmavam que o “centro da meta” seriam 60 votos, com
margem de até dois a mais, ou dois a menos. Ou seja, um número ainda
mais folgado que os 59 votos obtidos há três semanas, quando o Senado
levou Dilma a julgamento.
No plenário do Senado, durante a arrastada sessão que teve 65
senadores inscritos para falar, cada um por dez minutos, o senador
Fernando Collor (PTC-AL), alvo de impeachment em 1992, fez críticas ao
governo petista e negou a tese do golpe, como defende o PT. Sinalizando
que pode ser o 54º voto a favor do impeachment, ele comparou sua
situação à de Dilma afirmando que, quando foi alvo do impedimento,
“forças conjugadas simularam uma crise política de governabilidade”,
mas, hoje, o cenário é outro.
Collor
disse que Dilma transformou sua gestão em uma “tragédia anunciada” e
enfrenta um “desfecho típico de um governo que faz da cegueira econômica
o seu calvário, e da surdez política o seu cadafalso”.
Neste último dia antes do julgamento final, houve também choro dos
dois lados. Enquanto a autora do pedido de impeachment, Janaína
Paschoal, emocionou-se ao dizer que pedia o impedimento da presidente
afastada pensando em todos os brasileiros, inclusive nos netos de Dilma,
o advogado da petista, José Eduardo Cardozo, chorou durante entrevista
ao apontar o que vê como uma “injustiça” contra sua chefe.
No PT, os discursos miravam mais o futuro a médio prazo do que uma
tentativa imediata de virar votos. Cientes de que a votação deste último
dia de agosto pode enterrar de vez a era de hegemonia petista, os
senadores do partido alertavam para a “tragédia” de um governo Temer,
voltado para o capital privado e exigindo sacrifícios sociais, numa
indicação sobre o tom da oposição que poderá ser liderada pelo PT.
Enquanto o polêmico senador Magno Malta (PR-ES) dizia presenciar o
mais triste “velório” pela ausência de mobilização pró-Dilma, o Planalto
já se preparava para a posse definitiva de Temer. A cerimônia, prevista
para esta tarde, no plenário da Câmara selará o desfecho do impeachment
nove meses após o então poderoso presidente da Câmara, o hoje deputado
afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter dado início ao processo.
Fonte: O Globo
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