Proposta prevê que inativos não tenham mais direito a reajuste dado a quem está na ativa
- O governo interino pretende acabar de vez com a paridade entre
servidores ativos e inativos, que assegura o mesmo reajuste salarial
para todos e na mesma data. A medida consta da proposta de reforma da
Previdência que está sendo desenhada e afetaria todos os funcionários
que ingressaram no serviço público antes de 2003 e que ainda não se
aposentaram, tanto da União quanto de estados e municípios. Esses
trabalhadores passariam a ter direito somente à reposição da inflação
(medida pelo INPC), no momento de reajustar o benefício. O mecanismo já
vigora para quem entrou depois de 2003, desde a reforma feita no governo
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para trabalhadores do setor privado, a ideia é desvincular o piso
previdenciário da política de reajuste de salário mínimo, que permite
ganhos reais e exerce forte pressão sobre as contas da Previdência. Para
os aposentados que ganham acima do mínimo, o valor do benefício já é
corrigido pela inflação — conforme determina a Constituição, a fim de
assegurar o poder de compra.
MULHERES TERIAM TRANSIÇÃO MAIS SUAVE
A intenção do presidente interino, Michel Temer, é enviar ao Congresso Nacional, antes das eleições municipais de outubro, a proposta de reforma da Previdência, cujo ponto principal é estabelecer os 65 anos como idade mínima para aposentadoria de todos os trabalhadores, tanto do setor público como do privado. Aqueles com até 50 anos de idade serão incorporados às novas normas, mais rígidas que as atuais. Quem tiver mais de 50 anos terá uma regra de transição, com pedágio de 50% (adicional a ser aplicado sobre o tempo que falta para requerer o benefício dentro das normas atuais).
Esse mecanismo, na avaliação dos técnicos que estão formatando a proposta, já assegura a mulheres e professores uma transição mais leve, como deseja Temer. O argumento para isso é que o ponto de partida são as regras atuais, mais favoráveis a esses dois grupos, ao permitir que eles possam pedir aposentadoria cinco anos antes dos demais trabalhadores.
Os técnicos lembram que a média de idade em que os trabalhadores requerem a aposentadoria é de 53 anos para as mulheres e 55 anos para os homens. Em uma simulação, considerando que a regra de transição (o pedágio) seja aprovada, trabalhadores que hoje têm mais de 50 anos poderão requerer o benefício aos 54,5 anos, no caso das mulheres — que ficariam mais um ano e meio na ativa —, aos 57,5 anos, no caso dos homens, ou seja, apenas dois anos e meio a mais.
Há, ainda, sobre a mesa, os seguintes pontos: benefício proporcional para quem se aposenta por invalidez; redução do valor da pensão para 60%; e fim do fator previdenciário (fórmula progressiva 85/95), considerando idade e tempo de contribuição, o que vai exigir maior tempo na ativa para receber o benefício integral. Outra medida de impacto nas contas públicas é a restrição ao acúmulo de benefícios (pensão e aposentadoria), segundo os técnicos.
De acordo com levantamento do governo, com base em dados da Pnad, do IBGE, a proporção de pensionistas que acumulam benefícios subiu de 9,9% em 1992 para 32% em 2013, o que representa atualmente um universo de dois milhões de segurados. A tendência é que o percentual continue em alta devido ao aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e ao fato de que há pensionistas que não recebem aposentadoria porque ainda não completaram os requisitos, mas que vão adquirir as condições no futuro.
Fonte: O Globo
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