Ninguém
amargou derrota na dimensão da que Lula e o PT tragaram no domingo
Geraldo Alckmin acaba de completar duas décadas no
centro do poder em São Paulo. Ao eleger João Doria na prefeitura paulistana, com
53,2% dos votos em primeiro turno, Alckmin protagonizou uma vitória
acachapante: atropelou o principal adversário local e nacional, o PT, e também
a cúpula do próprio partido, o PSDB.
Aos 63 anos, esse
médico de formação, cultiva
o jeito esquivo característico dos caipiras de Pindamonhangaba (SP), no Vale do
Paraíba, cidade cujos 160 mil habitantes duvidam até da data de fundação da
cidade (em 1973 um antecessor de Alckmin
na prefeitura local baixou decreto estabelecendo o dia 10 de julho de 1705 como
referência provisória, até a confirmação documental sobre o início do
povoamento).
Uma das
consequências relevantes, imediata, do empenho na campanha vitoriosa de Doria é
a sua ascensão à principal posição na mesa de decisões do PSDB sobre a
organização do partido para a próxima disputa presidencial. O projeto político de Aécio Neves para
2018, por exemplo, complicou-se: depende de uma vitória expressiva nas
urnas de Belo Horizonte, em segundo turno, e de uma composição com Alckmin,
cuja liderança se tornou inquestionável no maior colégio eleitoral do país — os paulistas somam 25% dos votos nacionais.
Em situação muito mais complexa
encontra-se o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Ontem ele perdeu não apenas a eleição do sucessor — por ele escolhido, contra a opinião de ampla maioria dos
aliados. Paes também viu esvair a chance de liderar uma eventual
unificação do PMDB em torno de uma candidatura carioca (a dele) na próxima
eleição presidencial. Precisará batalhar para se manter viável na chapa peemedebista ao governo estadual. Nenhum líder ou partido competitivo, porém, amargou derrota na
dimensão da que Lula e o PT tragaram ontem. Perderam em todas as
áreas-chave, seus tradicionais redutos, do Estado de São Paulo, ficaram com uma
capital (Rio Branco) e uma
possibilidade (Recife).
As cinzas eleitorais no berço
paulista do PT, isolado
em Araraquara, desnudam a situação de extrema fragilidade em que se encontra o líder petista,
depois de três décadas e meia de sucessivas campanhas vitoriosas, oito
anos na Presidência da República e o último quinquênio no papel de eminência
por trás da cadeira ocupada pela ex-presidente Dilma Rousseff. A exposição de fraturas petistas será agora
uma consequência natural. Prevalece a tendência de acirramento da luta interna, pela iniciativa dos segmentos que, já
no primeiro semestre, amplificavam a contestação às decisões do ex-presidente e
seus aliados no comando do partido.
Fonte: José Casado – O
Globo
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