Controle de favelas em cidades fluminenses pelo maior grupo do crime organizado do país põe na ordem do dia conexão entre polícias de Rio e São Paulo
A integração em nível nacional dos organismos de segurança pública não é um princípio novo de política de combate ao crime organizado. Face à expansão das atividades das quadrilhas para além de limites geográficos que tradicionalmente encerram seus centros de comando, há bastante tempo a guerra contra o banditismo no país já reclama uma abordagem colaborativa, num protocolo em que troca de experiências e atuação policial coordenada entre estados e União sejam a regra.Inédito é o que parece ser, enfim, o entendimento dos poderes públicos sobre a imperiosidade de se adotar esse modelo de ações e programas conectados como pressuposto do combate à criminalidade. Foi, por exemplo, ponto de convergência do recente encontro, em Brasília, de presidentes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo para discutir como conter o crescimento da violência criminal no país. O problema é que, na prática, a implementação de medidas coordenadas de segurança pública permanece fechada na gaveta das boas intenções. Já haviam sido tratadas no primeiro governo Lula.
Espera-se que, face à descoberta de que o Primeiro Comando da Capital, a maior facção do crime organizado do país, já controla favelas em sete cidades fluminenses, o tema da integração da segurança enfim saia do terreno das intenções. A invasão da quadrilha paulista é inquietante demonstração de desenvoltura de um grupo que já tem ligações com grupos internacionais do tráfico de drogas e armas. Essa nova escalada põe o tema da degradação dos mecanismos de defesa da sociedade num patamar de gravidade mais elevado.
A chegada do PCC ao Rio se dá na sequência do rompimento de uma aliança que o grupo paulista fizera com a maior facção do tráfico fluminense, o Comando Vermelho. Essa união já era, em si, preocupante indício de que o crime organizado está se reorganizando no país em outras e mais perigosas bases. O Estado brasileiro também precisa rever conceitos no campo da segurança pública — e para já, abandonando a tradicional lerdeza na formulação de políticas e de ações contra o banditismo.
Com a entrada do PCC no Rio de Janeiro, é imperioso juntar experiências, no mínimo, das polícias paulista e fluminense. A urgência de uma resposta firme ao Primeiro Comando e outras facções pode contribuir decisivamente para a formulação de um programa coordenado dos organismos de segurança pública fluminense e paulista, e para além disso.
Seria um avanço, enfim, no rumo de uma política nacional integrada contra a criminalidade. O PCC e o CV já atuam em vários estados e além das fronteiras do país. É fato que um enfrentamento firme dessas organizações não pode prescindir de apoio de serviços de inteligência e da logística da Polícia Federal e Forças Armadas.
Fonte: Editorial - O Globo
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