Marchar contra políticos é uma má escolha; sem eles, resta o quê? A imposição do mais forte?
Sempre
considerei aqui, e eu estava certo, que o papo-furado da anistia era
mero pretexto para tentar inflamar as ruas. Infelizmente, há grupos,
correntes e pessoas que não sabem ter agenda propositiva: se esta não é
destrutiva, eles simplesmente não têm o que dizer. Desaparecem da vida
das pessoas e do noticiário. Para certos comportamentos, um governo que
desse certo seria um martírio. Imaginem que sofrimento seria ter de
dizer “sim” a alguma coisa. Muito mais charmoso é fazer o contrário. Por
que afirmo isso?
A
possibilidade de haver anistia a políticos que cometeram os mais
variados crimes, ainda que associados ao caixa dois, é inferior a zero.
Não vai acontecer. A entrevista coletiva de Michel Temer, Renan
Calheiros e Rodrigo Maia já deixou isso claro. Se preciso, a coisa morre
no gabinete do presidente. Se ali não morresse, sucumbiria no Supremo. Pronto! Não
vai haver anistia. Mas leio aqui e ali que tanto esquerdistas como
alguns não esquerdistas querem manter o tal protesto no dia 4. Não era
contra a anistia? Era. Anistia não haverá. Então agora será por quê? Não
dá pra saber. Mas parece que é contra, como é mesmo?, o jeito corrupto
de fazer política no Brasil.
Não sei se a
coisa prospera ou não. Uma pauta, com essa definição, é de tal natureza
ampla que tudo pode acontecer. O cara briga com a namorada, ou ela com
ele, e logo vem aquela vontade de gritar “Fora Temer”! Bem, é
desnecessário dizer que as esquerdas estão sorrindo de orelha a orelha.
Gente que chamava defensores do impeachment de “golpistas” não está
vendo mal nenhum numa aliança eventualmente episódica com os
adversários. Afinal, é preciso derrubar Temer.
É lamentável
que as coisas estejam tomando essa configuração porque, se a ação fosse
bem-sucedida, o que teríamos nas ruas seria uma miríade de
insatisfações várias, pautadas por certa sensação de que tudo o que dá
errado no país e na vida privada das pessoas deve ser creditado aos
políticos. Por contraste, sem eles, talvez a vida fosse bem melhor, o
que é, todos sabem, uma bobagem rematada. Ora,
combater a corrupção e meter larápios em cana, na forma da lei, há de
ser um pressuposto, não um norte a ser seguido, não um ponto de chegada.
É preciso descobrir urgentemente a agenda propositiva.
Convém não
brincar com fogo. Os 12 milhões de desempregados não vão esperar que
primeiro se proceda ao saneamento da política para que, então, o país
comece a responder às reais demandas do povo brasileiro. Esse espírito
é, de fato, preocupante. Não por
acaso, as esquerdas começam a ver com simpatia esse estímulo ao ódio à
política, alimentado por grupos com sotaque de direita. Ainda voltarei
ao assunto, sim, mas ponha uma coisa na cabeça, meu querido leitor: esse
comportamento é contra o seu interesse e nunca termina bem.
Uma coisa é
marchar contra a anistia, caso ela existisse. Outra, diferente, é propor
uma ação pública contra os políticos. Alguém tem alguma ideia melhor
sobre quem deveria conduzir a representação democrática?
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário