PT teme desmobilização da militância que prometia defender Lula no dia 3
Com o argumento de que precisa de tempo para organizar a segurança, polícia quer remarcar a data
O pedido de adiamento, feito pela Polícia Federal, do depoimento do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, em
Curitiba, preocupa o PT, que teme uma desmobilização da militância para
defender o petista em Curitiba. Lula, contudo, afirmou, durante
seminário organizado pelo partido em Brasília, que comparecerá em
qualquer data que o juiz Sérgio Moro marcar. “Isso não é um problema
meu. Não fui eu quem marcou a data. Eu vou o dia que o Moro quiser,
porque será a primeira vez, em viva-voz, que eu vou poder me defender.
Porque estou há três anos só ouvindo”, reclamou o petista.
A
Polícia Federal encaminhou ontem um pedido ao juiz Sérgio Moro para
adiar o depoimento de Lula, marcado para o próximo dia 3. Oficialmente, a
argumentação é de que a corporação precisava de mais tempo para
organizar a segurança do evento.
Petistas como o ex-ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitem que eram
esperados 50 mil militantes. “Claro que é ruim se a data for trocada.
Muitos companheiros já tinham comprado passagens. O fato de segunda (dia
1º) ser feriado ajuda, especialmente para aqueles que moram longe de
Curitiba”, disse Gilberto.
Será a primeira vez que Lula e Moro estarão frente a frente. A
situação do ex-presidente deteriorou-se muito na semana passada,
principalmente após o depoimento do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS,
que afirmou que Lula pediu para ele “destruir provas da Lava-Jato” e
confirmou que a empreiteira fez obras no sítio de Atibaia e que o
tríplex é, de fato, do petista. Lula tentou amenizar as declarações do
empresário. “Com a tortura psicológica que ele vem sofrendo, entregaria
até a mãe. Agora é engraçado que vejo reportagens com delatores
condenados a 26 anos de prisão morando em casas com piscina e vista para
o mar.”
Para o ex-governador da Bahia Jaques
Wagner – citado nas delações da Odebrecht – o possível adiamento do
depoimento de Lula só aumenta a panela de pressão social. Ele próprio
admite que deverá ir a Curitiba para prestar solidariedade ao
ex-presidente. “O enredo está desenhado, eles (a oposição e o Ministério
Público) precisam de um desfecho. Se Lula for preso, torna-se herói. Se
for interditado (tornar-se inelegível por condenação em segunda
instância), poderá apoiar outros nomes e os militantes vão votar em quem
for indicado por ele”, completou. Questionado sobre o fracasso do
governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o “poste” apoiado por Lula em
2010 e 2014, Wagner brincou. “Eu me abstenho de comentar isso”, disse o
ex-ministro da Defesa e da Casa Civil de Dilma Rousseff.
Lula
disse que chegou a hora de apresentarem uma prova contra ele, porque,
até agora, só apresentaram a prova de um pedágio pago por dois carros do
Instituto Lula que teriam ido em direção ao Guarujá – praia onde fica o
tríplex que seria do ex-presidente. “Quero ver alguma prova, alguma
conta com dinheiro meu no exterior ou com R$ 1 aqui. Não estou falando
de R$ 80, de R$ 2, estou falando de R$ 1”, cobrou o ex-presidente.
O
petista mostrou disposição para se candidatar a presidente no ano que
vem. Disse que o partido tem que modernizar o discurso, mas, ao mesmo
tempo, defendeu ideias antigas, como a retomada do financiamento do
BNDES a juros subsidiados, a política externa com foco na América Latina
e na África e a regulação dos meios de comunicação. “Não dá para um
governo ilegítimo, que não tem voto, achar que pode aprovar tudo o que
eles querem só porque têm voto no Congresso”, completou, em uma alusão à
maioria parlamentar do governo Temer.
Fonte: Correio Braziliense
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