Assim como o
castilhismo (palavra que refere o período de domínio de Júlio de
Castilhos na política sul-rio-grandense), o cartilhismo foi muito bem
sucedido como estratégia de comunicação do Partido dos Trabalhadores. Do
cartilhismo não era exigida senão uma tênue verossimilhança, pois seus
objetivos eram alcançados pela repetição. Nunca imaginei, porém, que
veria a mesma estratégia ser usada em poderosos órgãos de imprensa do
país, cujos noticiários parecem saídos de uma só cartilha.
Foi assim que, para tomar exemplos atuais, o presidente “participou” dos atos “contra o Congresso e o STF”. No entanto, todos viram as cenas dessa “participação” e sabem que os atos não foram contra os poderes de Estado, mas contra membros desses poderes. Separado dos manifestantes por duas grades de proteção, defronte ao Planalto, o presidente posou para selfies e apertou mãos.
As manifestações começaram a ser convocadas após a fala do general Heleno identificando as chantagens em curso. Seu objetivo era, inequivocamente, expressar apoio ao presidente. E muitas foram às ruas mesmo depois de desestimuladas por Bolsonaro.
Alexandre Garcia, uma referência do jornalismo nacional, no artigo “A urna e a rua”, [leia aqui.] escreveu:
O hábito de jogar na lixeira, sem
exame prévio, flagrantes e importantes relações de causa efeito só
aprofunda o desprestígio de partidos e lideranças políticas. E, mais
ainda, derruba a credibilidade dos meios de comunicação que se assumem
como ativíssimos protagonistas da cena política. Posto que tudo se
resume em atacar o presidente, qualquer coisa serve, até mesmo alguns
cartazes, pedindo intervenção, presentes nas manifestações. E mesmo
estes deveriam ser objeto de análise séria, para entender o que leva
cidadãos a perderem a esperança na democracia. O que fazer para
recuperá-la? Que parcela de responsabilidade por essa perda cabe àqueles
que denunciam seus sinais?
Milhões de brasileiros entraram em seus canais para assistir uma coletiva do presidente e seus ministros envolvidos na luta contra o coronavírus. Que tipo de pergunta lhe faz a elite das redações, credenciada junto ao Planalto? Perguntas previamente escritas, tratando de ridicularias, de máscaras e dos eventos de domingo.
Acima da gravidade do momento está a guerra ao presidente encetada pela quase totalidade de colunistas e comentaristas dos grandes veículos. Ainda não analisaram nem digeriram a reviravolta da cena política nacional em outubro de 2018. Parecem não ver o ambiente chantagista estabelecido por uma evidente maioria dentro da Câmara dos Deputados. Não lhes suscitam curiosidade os interesses em torno dos quais se congregam os 300 votos que o deputado Arthur Lira diz comandar!
Dane-se a nação. O importante é desestabilizar o presidente para entregar sua cabeça aos “virtuosos estadistas” do centrão e da oposição, não por acaso a base dos governos Lula e Dilma.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Há muitos meses, a oposição midiática é muito mais operosa do que a oposição petista.
Foi assim que, para tomar exemplos atuais, o presidente “participou” dos atos “contra o Congresso e o STF”. No entanto, todos viram as cenas dessa “participação” e sabem que os atos não foram contra os poderes de Estado, mas contra membros desses poderes. Separado dos manifestantes por duas grades de proteção, defronte ao Planalto, o presidente posou para selfies e apertou mãos.
As manifestações começaram a ser convocadas após a fala do general Heleno identificando as chantagens em curso. Seu objetivo era, inequivocamente, expressar apoio ao presidente. E muitas foram às ruas mesmo depois de desestimuladas por Bolsonaro.
Alexandre Garcia, uma referência do jornalismo nacional, no artigo “A urna e a rua”, [leia aqui.] escreveu:
O
presidente pediu para repensar; governadores proibiram; a mídia ameaçou
com contágio.
Mas nem o presidente, os governadores e o coronavírus
impediram que multidões ganhassem as ruas do 15 de março - de carro,
moto ou a pé. O que levou tanta gente a esse desafio, essa rebeldia?
Antes de xingar de irresponsáveis os que deixaram suas casas no domingo,
seria bom pensar sobre os motivos que levaram milhões a correr riscos
de saúde, a se insurgir contra ordens de governos e de supostos
condutores de opinião.
Milhões de brasileiros entraram em seus canais para assistir uma coletiva do presidente e seus ministros envolvidos na luta contra o coronavírus. Que tipo de pergunta lhe faz a elite das redações, credenciada junto ao Planalto? Perguntas previamente escritas, tratando de ridicularias, de máscaras e dos eventos de domingo.
Acima da gravidade do momento está a guerra ao presidente encetada pela quase totalidade de colunistas e comentaristas dos grandes veículos. Ainda não analisaram nem digeriram a reviravolta da cena política nacional em outubro de 2018. Parecem não ver o ambiente chantagista estabelecido por uma evidente maioria dentro da Câmara dos Deputados. Não lhes suscitam curiosidade os interesses em torno dos quais se congregam os 300 votos que o deputado Arthur Lira diz comandar!
Dane-se a nação. O importante é desestabilizar o presidente para entregar sua cabeça aos “virtuosos estadistas” do centrão e da oposição, não por acaso a base dos governos Lula e Dilma.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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