Por Ruth de Aquino
Não coloque o orgulho político acima das necessidades da população. Imagine o risco de esse presidente nomear para a pasta mais importante agora, a da Saúde, um ministro incompetente como os outros, um Weintraub da vida, que está defendendo a reabertura das escolas. Não abandone o Brasil, senhor Mandetta! Continue a ser a voz da sensatez, mantenha-se firme, e nem precisa denunciar abertamente a voz da irresponsabilidade e da prepotência. Só precisa continuar a agir como antes. Ignore o ignorante. Confine o presidente a seu próprio isolamento. Achate a arrogância.
Fique descansado, o Brasil sabe muito bem que o senhor reprova a atitude e o pronunciamento desonesto do atual chefe da nação. O fato de o senhor insistir em continuar ministro, sem bater de frente, não joga sua reputação na lixeira (ao contrário do que gente bem ou mal intencionada tem insinuado em redes sociais). Sua reputação, ministro, só será manchada se o senhor concordar publicamente com as palavras do presidente, se endossar os delírios bolsonaristas. Sabemos bem quem irá para a lixeira da História.
Imagine o senhor se voluntariar a sair - e o chefe da nação colocar um pastor em seu lugar na Saúde, imagine um ministro que diga em rede nacional que só Jesus salva e que manterá escolas abertas assim como as igrejas evangélicas da Universal. Há prefeitos crentes que estão espalhando que quem acredita em Deus não fica doente. Como no município de Duque de Caxias. Pastores assim (não todos) querem só seu dízimo e não estão nem aí para a saúde dos fiéis. Orar com fé é um ato solitário. Ninguém precisa de ninguém mandar você exorcizar seus demônios. Aglomerações não garantem o exercício e a expressão da fé.
Não torne as coisas mais confortáveis para Bolsonaro, senhor Mandetta.
Fique na linha de frente, contribuindo para impedir uma explosão de vítimas e mortos como está acontecendo na Itália, na Espanha e nos Estados Unidos, países que minimizaram a força do contágio, a agressividade do vírus, no início da pandemia. Porque colocaram outros interesses à frente da medicina e da ciência ou porque simplesmente não se cuidaram a tempo. Nós temos os bons e maus exemplos a nossa frente. Bolsonaro precisa ficar com o ônus de ter um ministro na Saúde que discorde dele. O Brasil precisa confinar seu presidente à irrelevância. Senão, estaremos perdidos.
Ruth de Aquino, jornalista - O Globo
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