Karen Garcia
Injeção de recursos dos EUA foi crucial à reestruturação europeia. Para especialistas, cenário atual demanda ação semelhante
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O Plano Marshall foi uma medida de apoio dos Estados Unidos aos países europeus que haviam sido destruídos durante a Segunda Guerra Mundial. As nações necessitavam de um grande volume de recursos para reconstruir sua infraestrutura e retomar sua produção industrial, já que a maior parte das fábricas havia sido bombardeada.
Dezesseis nações, incluindo Alemanha, França, Inglaterra e Itália, tornaram-se parte do programa e moldaram a assistência necessária, com suporte administrativo e técnico da Administração de Cooperação Econômica (ECA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. No primeiro ano, os países europeus receberam quase US$ 13 bilhões em ajuda, o que se traduziu na compra de alimentos, artigos básicos, combustível e máquinas dos EUA e, posteriormente, permitiu investimentos em capacidade industrial na Europa.
Segundo o professor do Instituto de Economia da UFRJ Luiz Carlos Prado, o período pós-guerra registrou o maior crescimento da História, tendo ficado conhecido como “anos dourados”:
— Quando a economia estava caindo, eles responderam com aumento de gastos, não com cortes, como era a ortodoxia até então. O resultado foi muito positivo. Os países começaram a se estruturar e importar produtos dos Estados Unidos, demonstrando os retornos sociais e econômicos do plano.
Para o especialista em política territorial Leandro Almeida, o Plano Marshall se inspirou, em parte, no New Deal, que tirou os EUA da Grande Depressão, nos anos 1930, por meio de políticas de incentivo estatal à geração de empregos, com a economia quebrada e o setor privado sem condições de se recuperar, o governo americano resolveu colocar em prática medidas que passariam a ser chamadas de “keynesianas”, e que consistiam não apenas na injeção de recursos públicos na economia, mas na concessão de subsídios às empresas e na criação de uma estrutura de amparo social aos mais vulneráveis, no que podemos chamar de Estado de bem-estar social.
Batalha ideológica da Guerra Fria
O Plano Marshall, porém, ainda teve um componente ideológico. Segundo Almeida, já começava a se consolidar uma Guerra Fria entre EUA e União Soviética.
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— Essa tensão política fez com que muitos países europeus acabassem deixando de aderir ao pacote de ajuda americano, pois, caso o fizessem, precisariam romper seus vínculos com os soviéticos. Ao mesmo tempo, os soviéticos criaram o seu próprio Plano Marshall para auxiliar os países europeus que se mantiveram como seus aliados: o Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua).
Já Prado ressalta que, apesar das disputas ideológicas do período, havia um contexto de busca por cooperação e solidariedade.
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— Um homem de 50 anos tinha vivido desde os 20 em um cenário de guerra ou de inflação. Ou seja, eles queriam um mundo melhor, mais solidário. Havia disputa no plano do mundo ocidental e os desafios da União Soviética.
Corte de gastos 'é suicídio'
No contexto atual, o apelo de empresários e organismos multilaterais por um novo Plano Marshall mostra o desejo de esforços coordenados e amparo à sociedade como um todo.
— A lição é que a ideia de cortar gastos nesta época é suicida. A experiência mostra que seguir por esse caminho seria um desastre nacional. Isso tem sido unânime em todos os governos, independentemente de serem de direita ou de esquerda. Até Estados Unidos e Inglaterra, que têm governos particularmente conservadores, decidiram fazer um volume de gastos sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial — afirma Prado.
O Globo - Economia
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