Pela primeira hipótese, ele é um homem despreparado, insensível, com comportamentos desprezíveis, como esse de zombar da morte.[correção: não se zomba da morte; ela é quem zomba de TODOS NÓS! a morte, a senhora da foice, zomba até dos que orgulhosamente, e por vã ilusão e infantil sensação de onipotência, chegam em seus devaneios a se considerar livres dela, se julgam 'deuses'.]
A tentação imediata é responder: um pouco das coisas. Talvez seja por aí – o presidente faz jogadas. Mas não parece ter o tirocínio , nem a capacidade emocional para armar jogadas consistentes. Ele parece mais um homem sob um ataque de nervos quando percebe as coisas desmoronando ao seu redor. Sim, Bolsonaro ainda tem uns 30% de aprovação.[acreditar nos 30%, desprezando os reais 45%, é acreditar em Papai Noel, que alguns humanos são imortais e coisas do tipo - entre tais coisas, a de que a oposição tem alguém em condições de ser candidato em 2022....talvez o animador do auditório, a dona de magazine, o coronel paulista, nasceu em Pindamonhangaba, que posa de cearense...] A oposição não tem um candidato presidencial já nas ruas como ele está o tempo todo.
Mas, vamos reparar. Estamos nos aproximando dos 11 milhões de casos
de Covid. Cada uma dessas pessoas tem relacionamentos – familiares,
amigos, vizinhos, colegas de trabalho. Quanto dá esse grupo, em média?
Dez, 15 pessoas? Qualquer que seja a conta, não estará errado verificar
que algo como 130 milhões de brasileiros tiveram contato com alguém
próximo doente. São esses os frescos atingidos pela pergunta: Sem contar os parentes de pessoas que, nos dias de hoje, não encontram leitos para internar seus entes queridos. [estamos corretos quando percebemos uma interpretação, uma sutil torcida, de que quanto mais brasileiros morrerem, mais brasileiros ficarão contra Bolsonaro = menos votos para o capitão em 2022 = melhor para os inimigos do Brasil, que serão os beneficiários do elevado número de mortes. É isso mesmo?]
O presidente tenta passar a responsabilidade para os governadores e prefeitos, mas essa conversa fica prejudicada quando o próprio Bolsonaro confessa que está agora em busca de vacinas – as mesmas que desprezava. Não é possível que, tirante os bolsonaristas de raiz e os idiotas que têm de procurar vacina na casa da mãe, os demais brasileiros, a imensa maioria, caiam nessa conversa o tempo todo. Surgiram sinais interessantes. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na frente de gente do Ministério da Saúde, foi claro: não sejam negacionistas, preguem o uso de máscaras, o distanciamento, o evitar aglomerações, a busca da vacina.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, inverteu a tese de Bolsonaro,
segunda a qual o cuidado com a saúde não pode matar a economia. Disse o
ministro: sem saúde não há economia. Logo a principal medida econômica é
vacinar em massa. Finalmente, o vice Mourão disse que o lockdown deve ser aplicado onde
necessário. Verdade que ele não manda nada, mas sua fala deve exprimir
algum grupo do governo. É verdade que nenhum deles avançou o sinal para dizer: gente, o presidente está errado. [O Reino Unido já está no terceiro lockdown, período de um ano, o terceiro iniciou em 1 janeiro 2021, começou a vacinar em dezembro 2020, vacinou já um terço dos seus habitantes, e o número de contaminações continua recomendando o lockdown. como ficamos???]
Mas imaginem o que Bolsonaro deve ter sentido quando ouviu a fala do presidente do Senado, que ele ajudou a eleger. A menos que Rodrigo Pacheco tenha dito reservadamente que estava fazendo jogo de cena, a fala explica boa parte da raiva do chefe do Planalto. Na verdade, mesmo que fosse jogo de cena. Também dizem que Bolsonaro está conseguindo desmontar o combate à corrupção e assim proteger seus filhos.
Engano. Ele se beneficia desse abafa, mas não é o arquiteto. O ministro Luís Roberto Barroso tem razão quando diz que todo mundo na elite brasileira tem algum parente, amigo, correligionário, ente querido envolvido em falcatrua. Gente que foi apanhada no Mensalão e na Lava Jato – e que agora está reagindo. Bolsonaro pegou carona no desmonte do combate à corrupção. A armação geral precisa de gente mais competente e mais fria, como Gilmar Mendes e outros ilustres membros das corte superiores, os grandes advogados de réus da Lava Jato e, sim, experientes políticos do Centrão. Notando-se: o Centrão não tem amores para sempre. Só enquanto vale a pena. Disso, Bolsonaro sabe. [conclusão única e inevitável: vale tudo para derrubar Bolsonaro = elogiar governador e prefeito, o que inclui tecer loas ao fracassado 'governador da vacina'.]
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário