Imagine, leitor, que a ONU Mulheres, uma espécie de albergue internacional do movimento feminista, decidiu que em vez de cuidar dos direitos das mulheres passaria a tratar da igualdade de todos os gêneros. Segundo a organização, “termos como masculino e feminino, mulheres e homens, excluem pessoas não binárias e intersexuais que não se enquadram em nenhuma dessas categorias”. E recomenda que em vez de senhores e senhoras, sejam adotados vocativos de gênero neutro, como “Pessoal!”, “Crianças!”, “Vocês aí!”. Gente, é sério.
Recomendo fortemente a leitura da matéria em questão. O texto me fez pensar que, seguindo por essa mesma linha de raciocínio, a própria organização não deveria se chamar ONU Mulheres porque a palavra mulheres tem um sentido não inclusivo, ou diretamente excludente do sexo masculino e isso não fica bem para uma entidade que se pretende inclusiva. Talvez pudesse mudar o nome para ONU, simplesmente, encerrando-se as atividades da matriz que custa muito e faz pouco.
Pensando com meus botões, percebo que a própria palavra “casal”, opressoramente excludente como se sabe, poderia ser substituída por um coletivo, como “nós” ou “vocês”, ainda que vocês, por não serem nós, acabem também excluídos. Não se diga diferente de “família”, que além das incorretas questões de ordem sexista, reforça a exclusão com a presença de relações afetivas e – coisa terrível – de consanguinidade.
É incrível, mas ideias assim, que parecem cozidas numa enlouquecida babel linguística, são apresentadas como trunfos de superioridade moral. E o mais incrível ainda é que se propaguem e avancem, sem cessar, em direção aos objetivos propostos. A cada passo dado, mais remota vai ficando a pura e simples dignidade humana.
Aprendi, cedo, que advertir é um ato de amor.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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