Há um poder
multiforme instalado no país. Décadas de formação e consolidação lhe
permitem agir por conta própria e com agendas próprias. Embora de
esquerda e interaja com seus partidos, dispensa representação política,
tal a liberdade com que opera. O poder multiforme vale-se da democracia e
das instituições para agir até contra a vontade das urnas na
comunicação, no ambiente cultural, no sistema de ensino, no Poder
Judiciário, no Ministério Público. Controla seus militantes no aparelho
estatal e, embora laicista, influencia diretamente algumas igrejas.
O nome
disso é hegemonia, fenômeno nefasto à democracia, que só pode ser
superado pelo surgimento de força oposta, em um novo polo, vale dizer,
através de polarização. No desempenho de seu papel acusador,
investigador e julgador, o ministro Alexandre de Moraes costuma elencar,
entre as razões de seu enfado contra alguém, o “estímulo à
polarização”, ou o “reforço ao discurso de polarização”. A palavra
entrou para o circuito dos chavões sem sentido no mundo dos fatos contra
os quais briga.
Polarização
é condenada por quem quer ser “terceira via”, ou por quem rejeita o
conservadorismo, como o ministro e a quase totalidade de seus pares. Por
longos anos, a formação esquerdista constituiu atributo necessário à
indicação para o Supremo.
Tão logo
Bolsonaro foi eleito, tudo ficou muito evidente. Ele poderia ser
perfeito como um cristal de Baccarat (coisa que, não é) e ainda assim
desabariam sobre ele e seu governo os males que pudessem pedir ao deus
da mitologia nórdica, Thor e seu martelo de raios e trovões.
A eleição
do novo presidente inquietou a hegemonia esquerdista no país.
Os mais
poderosos setores de influência política e cultural na sociedade
brasileira não concedem a isso indulto, nem habeas corpus.
Pelo muito
que a hegemonia significa para a imposição de um poder efetivo sobre a
vida social, era preciso que o imprevisto eleitoral tivesse a mais curta
duração possível.
A derrota da esquerda não a destruiu nem a levou a
parar com o que sempre fez.
No entanto, serviu para dar nitidez à sua
existência e para mostrar o quanto era necessário o surgimento de outro
polo no espaço real onde vivem cidadãos comuns, com anseios também
comuns por liberdade, ordem, segurança, justiça e progresso; cidadãos
que prezam a sacralidade do espaço familiar, o direito de propriedade e
de defesa; cidadãos que afirmam valores comuns à cultura ocidental de
que são herdeiros.
É isso que
nós, conservadores, sustentamos. Esse é o polo onde nos situamos, de
onde não queremos sair, e onde persistiremos em agir, malgrado as
dificuldades que nos são impostas pelos ardilosos que protegem sua
hegemonia condenando a polarização.
Se até eu aprendi, lendo Gramsci, que a banda toca assim...
Percival
Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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