Rodrigo Constantino
A PEC dos Precatórios foi aprovada na Câmara nesta madrugada. O tema é polêmico, e não há razão para desqualificar a priori quem se coloca contra ou a favor do troço. Trata-se, afinal, de um dilema mesmo: driblar o teto de gastos é perigoso, deixar de pagar precatórios que a Justiça já julgou é arriscado. [sendo impossível pagar devido o Brasil ter outras prioridades, o remédio é assumir um já surrado compromisso: "devo não nego, pago quando puder'.]Mas deixar desassistidos milhões de brasileiros durante a pandemia é igualmente temerário. Não há solução fácil aqui.
O que causa espanto no "debate", portanto, é o maniqueísmo binário de alguns. Resolveram que todo o esforço do presidente da Câmara Artur Lira e do governo federal em aprovar a PEC não passa de populismo eleitoral, e ponto final. Eis que a esquerda - a esquerda! - mostra-se repentinamente a mais zelosa pelo teto de gastos, ignorando inclusive a existência de uma pandemia, cuja reação autoritária de governadores e prefeitos para contê-la jogou milhões a mais na miséria. Dá para confiar?
Análise sobre cultura do cancelamento que atingiu a atriz Bruna Marquezine depois de vitimar o jogador de vôlei Maurício Souza.
Quando Marcelo Freixo diz que se trata da PEC do Calote e que a única fome que ela visa a saciar é a de recursos para o centrão, isso soa sincero? Quando a petista Gleisi Hoffmann banca a protetora do teto de gastos, como fez nessa passagem abaixo, consegue convencer alguém?
Esse teto de gastos está completamente desmoralizado. Nunca foi levado a sério, é discurso do mercado e seus seguidores. Além de acochambrar o teto a Câmara institucionalizou o calote. Se vale pra precatório, vale p/ o resto. Fica o registro. Centrão e governo farão a festa em 22
No Brasil, temos uma oposição que nunca pensa no país, mas só no poder. Não tem postura construtiva jamais. Se enxerga alguma possibilidade de desgastar a situação, então vai nessa linha e dane-se o povo. Repito: não estou dizendo que todos que votaram contra a PEC agem dessa forma, pois há bons motivos para se colocar contrário. Mas esse discurso falso, que ignora a pandemia, não cola. "Descumprir sentença judicial transitada em julgado, a mais sagrada de todas, deveria ser uma decisão grave, não banalizada por interesses eleitoreiros", escreveu o tucano Merval Pereira em sua coluna no Globo hoje. Mas é mesmo interesse eleitoreiro? Todos estão certos disso? Não pode haver qualquer preocupação legítima com milhões de brasileiros famintos por conta dos lockdowns?
Nossos "garantistas de ocasião" são os mais ferrenhos defensores das instituições e do império das leis - quando interessa. Quando é para perseguir opositores de direita, porém, eles são os primeiros a defender o arbítrio e até ministro supremo rasgando a Constituição e inventando crimes novos, como o de opinião ou o de espalhar Fake News.
E é aqui que a hipocrisia salta aos olhos. Os mesmos que repetiram que a economia ficava para depois, atacando veementemente o presidente Bolsonaro por chamar a atenção para esse problema, são os que hoje só falam de economia para apontar indicadores ruins ou rejeitam qualquer auxílio extra como algo eleitoreiro.
Não estamos numa situação normal. Não custa lembrar. Vejam o que outros governos estão fazendo. Vejam o que fez Joe Biden nos Estados Unidos, com seu pacote trilionário. Vejam os índices de inflação pelo mundo, a alta dos combustíveis, o salto nos alimentos. Refrescando a memória dos esquecidos: tivemos e ainda temos uma pandemia! Ou será que ela só serve quando interessa?
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