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sábado, 15 de outubro de 2022

O erro central (na análise) das pesquisas - e o empate do momento - Alon Feuerwerker

Análise Política

Escrevi aqui em 13 de agosto deste ano, mês e meio antes da eleição presidencial: “Há um detalhe delicado nas pesquisas eleitorais: a diferença entre o não voto (brancos, nulos e abstenção) que será verificado na urna e os que, em pesquisas estimuladas, não escolhem nenhum candidato quando a lista é apresentada
No dia da eleição, o não voto tem rondado os 30%, mas nas pesquisas estimuladas esse contingente é apenas um terço disso. 
Cerca de 20% dos pesquisados indicam candidato na estimulada mas provavelmente não votarão em ninguém”.

Ou nem sairão de casa para votar, deveria ter acrescentado.

Não deu outra. Em todas as pesquisas estimuladas, o não voto em candidatos oscilou entre 5% e 10%, mas na urna as abstenções mais brancos e nulos somaram cerca de 25%. Não seria problema se essa “quebra” fosse proporcionalmente distribuída pelos postulantes. Mas não foi. Entre a pesquisa e a urna, Luiz Inácio Lula da Silva “perdeu” cerca de 10 pontos percentuais das suas intenções de voto (fez 37%), perdeu mais que o triplo de Jair Bolsonaro (fez 33%).

Ou seja, as pesquisas chegaram bem mais perto de acertar o que Bolsonaro teria, e superestimaram fortemente a votação que Lula teria. Exatamente porque o efeito da diferença entre o não voto (em candidatos) nas pesquisas e na eleição esteve muito longe de ser igual para os dois líderes. Como também já se sabia, o eleitor de Bolsonaro estava mais mobilizado e motivado para votar - e também está mais concentrado em grupos sociais que votam mais.

Todo esse prolegômeno é para dizer que a imprudência analítica parece repetir-se neste segundo turno. As pesquisas sugerem uma diferença entre Lula e Bolsonaro rondando os cinco pontos percentuais. Acontece que o não voto volta a cravar o padrão clássico dos levantamentos estimulados, fica entre um terço e um quarto do que será na eleição. 
E, de novo, a análise corre sério risco ao supor que a “quebra” afetará proporcionalmente os finalistas.

Há, é claro, o argumento de que são apenas dois os concorrentes e por isso o risco de errar é menor. Talvez. Mas e se a abstenção continuar afetando mais Lula que Bolsonaro? 
Nesse caso, seria prudente dar um desconto na diferença apurada de intenção de voto.[ao que se constata os resultados da pesquisa são encomendados, o que dificulta ajustes.]é encomendada,  Há ensaios para saber que desconto nos aproximará mais do resultado lá adiante. Com o tempo, estaremos mais azeitados no cálculo dos prováveis votantes ("likely voters"), mas por enquanto engatinhamos.

No cenário atual, qualquer desconto na diferença entre Lula e Bolsonaro leva a uma situação de empate técnico
Há dois outros empates visíveis que reforçam essa hipótese: a equalização 1) do ótimo+bom com o péssimo+ruim nas avaliações de governo; e 2) entre as rejeições de Bolsonaro e Lula. Governantes sempre reduzem a rejeição na campanha. Com o Jair demorou, pareceu que não aconteceria, mas está acontecendo.

A eleição entra na última quinzena ensaiando uma zona de empate, e é razoável supor que a decisão se dará na margem. 
Com a participação luxuosa de São Paulo e Minas Gerais. 
Mas o que deve decidir é outra variável. 
A liderança de Lula sobre Bolsonaro vinha durante meses ancorada na diferença de cerca de dez pontos entre a rejeição de um e de outro. Isso virou fumaça. Quem conseguir abrir vantagem nesse quesito nos próximos quinze dias estará com a mão na taça.
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 
 

domingo, 25 de setembro de 2022

Divagações sobre abstenção e “voto envergonhado” - Alon Feuerwerker

   Análise Política

Eleição é época de números, com candidatos, aliados e apoiadores espremendo as estatísticas para saber quem vai ganhar, se vai ter segundo turno etc. Mas também é tempo de especulação e pensamento mágico, boato, rumor, paranoia. Na temporada eleitoral, o objetivo convive bem com o subjetivo. Leva vantagem quem consegue, ele próprio, manter o máximo de objetividade enquanto surfa na subjetividade alheia.

Por falar em números, o dado ainda largamente incerto deste primeiro turno é o comparecimento. Nas últimas três décadas, tem girado em torno de 80%. Se à abstenção adicionarmos os brancos e nulos, o não voto em candidatos nas presidenciais costuma rondar os 30%. Tem aí um ruído em relação às atuais pesquisas, especialmente as estimuladas, em que indecisos, não sabe, não respondeu, nenhum, brancos e nulos não passam de 10%.

Pesquisas no Brasil costumam ser feitas com amostras que procuram expressar o total do eleitorado. Como nelas o não voto em candidatos é sistematicamente subestimado, a pesquisa estimulada acaba superestimando a projeção de apoio aos disputantes.  
O que não seria problema se impactasse igualmente todos os corredores.  
Mas nem sempre é assim. Vamos ver o que acontece neste agitado 2022.

A pesquisa estimulada superestimar o apoio aos candidatos traz subsídios para outra discussão, sobre haver ou não uma quantidade estatisticamente relevante de um certo “voto envergonhado”. Ou seja, o entrevistado despistar nas pesquisas por vergonha de sua opção eleitoral, [tipo votar em um ladrão = além da apologia ao crime, via ode ao criminoso, ainda deixa o eleitor coma sensação de que é um babaca.]  deixando para manifestar-se apenas no escurinho metafórico da cabine de votação. Uma hipótese que alimenta sonhos e temores, dependendo do lado da disputa.

Há, porém, um paradoxo matemático na premissa de haver “votos envergonhados” em número estatisticamente relevante.

Qual é a atitude esperada de alguém com essa tendência?
A dissimulação, o despiste. É altamente improvável que, só para disfarçar sua escolha, um eleitor envergonhado de Jair Bolsonaro responda na pesquisa estimulada “vou votar em Luiz Inácio Lula da Silva”. Mais razoável será ele dizer que está indeciso, que não quer responder, que não quer nenhum, que vai votar em branco ou nulo. E a mesma lógica aplica-se ao eventual eleitor envergonhado de Lula.

Ora, mas se 1) há quantidade estatisticamente relevante de votos envergonhados e 2) a tendência do eleitor envergonhado é despistar, então o não voto em candidatos (indecisos, não sabe, não respondeu, nenhum, brancos e nulos) deveria nas pesquisas estar superestimado, e não subestimado. A série histórica mostra exatamente o contrário: muita gente diz nas pesquisas que vai votar em alguém, mas na hora h não vota em ninguém.

E ainda sobre o efeito da abstenção no próximo domingo, se vai ser neutra ou ajudar um dos lados. No cruzamento das respostas, a diferença entre Lula e Bolsonaro cai quando se expurga quem não votou em 2018. O que concluir? Na hipótese favorável a Bolsonaro, tem gente dizendo que vai votar em Lula, mas na hora nem vai comparecer. Na hipótese favorável a Lula, tem gente que não votou há quatro anos e agora vai votar nele.

Assim como no próximo domingo, você decide no que prefere acreditar. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

quarta-feira, 13 de julho de 2022

AVULSAS

MACONHEIRA SE ENTENDE BEM COM LADRÃO

FURO EXCLUSIVO !

BOA PERGUNTA

 

TATUADORA DE FURICO ESCOLHEU O CANDIDATO CERTO

Anitta vai apertar o botão da urna eletrônica com o furico tatuado

 

ELA “ESQUECEU” DE DIZER QUE O DOTÔ TARADO É ESQUERDINHA

 

 

segunda-feira, 25 de abril de 2022

QUEM GANHA COM A ABSTENÇÃO E O VOTO EM BRANCO - Gilberto Simões Pires

ROTA DO ATRASO
Na medida em que nos aproximamos das Eleições 2022, mais do que nunca é preciso ler, reler e compartilhar o oportuno texto -VINTE MOTIVOS PAR NÃO VOTAR EM BRANCO-, produzido pelo atento pensador Percival Puggina. Mais ainda aqueles que sabem, perfeitamente, que o PLANO DE GOVERNO DO PT, cuidadosamente elaborado pela organização comunista - Foro de São Paulo-, tem como escancarado e estudado propósito -RECOLOCAR O NOSSO BRASIL na conhecida -ROTA DO ATRASO-, para voltar, triunfante, a fazer companhia à Cuba, Venezuela e Argentina, por exemplo.

ABSTENÇÃO DE CULPA
Puggina inicia seu texto dizendo - Não sei onde andam os eleitores de Lula. Mas sei, com grande certeza, que no dia da eleição estarão todos formando fila nos seus locais de votação. Por outro lado, tenho encontrado eleitores, não de esquerda, que pretendem votar em branco, ou abster-se de votar. De algum modo, ASSOCIAM A ABSTENÇÃO À ABSOLVIÇÃO DE CULPA OU RESPONSABILIDADE pelo que acontecer ao país. Lavam e enxáguam as mãos na torneira do voto em branco sem perceber que ele é, também, uma posição política. Uma vez assumida, principalmente quando serve à estratégia da esquerda, tem gravíssimas consequências!

CEMITÉRIO DO REALISMO
O ÚLTIMO ANDAR DO IDEALISMO É O CEMITÉRIO DO REALISMO.
Significa desconhecer a política real, aquela que manda no Estado, nas ruas e por várias frestas, invade a casa da gente. É a mesma que põe sob sigilo o que queremos saber e, de modo deslavado, mente sobre o que sabemos. É grave imprudência desconsiderar os conhecidos e onerosos flagelos causados pelo lulismo. O retorno do petismo ao poder produzirá tragédias ao país. Entre muitas outras, estas vinte:

MOTIVOS
1- reinserção de uma organização criminosa no quadro dirigente da República, atribuindo a essa organização o direito de nomear outros dois ministros do STF;
2- tomada do poder nos termos de José Dirceu;
3- reestatização do que tenha sido privatizado;
4- influência e interferência política no Conselho Nacional de Justiça e no Conselho Nacional do Ministério Público;
5- recrudescimento das ações terroristas dos movimentos sociais;
6- relativização, quando não supressão, do direito de propriedade;
7- restrições ainda maiores ao direito de defesa dos cidadãos;
8- apoio político à legalização do aborto;
9- incentivo ao aparelhamento partidário da burocracia federal;
10- manutenção do sequestro da Educação pelas organizações políticas de esquerda;

MAIS MOTIVOS

11- ampliação do poder da extrema imprensa em geral e da Globo em particular;
12- restrições mais severas à liberdade de opinião e expressão nas redes sociais;
13- aceleração do fracionamento identitário da sociedade brasileira;
14- combate crescente à instituição familiar como célula essencial da sociedade;
15- apoio estatal à erotização da infância e estímulo ao desenvolvimento confuso da sexualidade;
16- omissão perante a criminalidade de rua e o crime organizado;
17- uso do poder para garantia da impunidade;
18- extinção das escolas cívico-militares e - controle dos currículos de formação militar;
19- revisão das regras de promoção e venezuelização das Forças Armadas;
20- interpretação equivocada da laicidade do Estado.

VOTO EM BRANCO E VOTO NULO

O VOTO EM BRANCO,
ante um perigo de tais proporções, é lamentável e estupendo favor prestado ao mal de todos. Por isso, é muito preocupante saber que enquanto os eleitores de esquerda são perfeitamente capazes de votar em alguém como Lula para que se cumpra a pauta acima, eleitores não de esquerda, optam por uma omissão que coloca toda a sociedade sob o risco de ficar a ela submetida.
E o VOTO NULO? Não representa protesto quantificável. Ele vai misturado com os votos dados por quem não sabe usar a maquininha.

Ponto Crítico - Gilberto Simões Pires


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

"Em 2022, vamos ter de novo que escolher entre os menos ruins" - Alexandre Garcia

"Sempre há bons candidatos, mas o horário eleitoral nos tem revelado uma maioria que não tem noções básicas de como funciona a política, de como se organiza o Estado, seus poderes e níveis"

A abstenção no segundo turno foi de quase 30%. Duas semanas antes, no primeiro turno, a abstenção fora de 23%. Na eleição presidencial de 2018, sem pandemia, havia sido de 21%. Portanto, a abstenção do medo do vírus, foi de 21 para 23%. O salto de 23% para 30% tem outra causa. Os eleitores de 57 municípios em segundo turno tiveram apenas duas opções. Quem não se interessou por nenhum dos dois ficou em casa, votou em branco ou anulou o voto. A Justiça Eleitoral fez campanha por comparecimento, mas não adiantou.
 

No Rio de Janeiro, no último domingo, praias cheias e enquanto 1 milhão 629 mil cariocas elegiam Eduardo Paes, uma multidão de 1 milhão 720 mil eleitores se recusava a votar. Somados aos que foram às urnas para votar em branco ou anular o voto, chegamos a um contingente que supera em 680 mil pessoas o número dos que elegeram o prefeito. Imagino que sejam os que não se interessaram por Paes nem por Crivella.

Em São Paulo, os que não votaram ou votaram em branco ou nulo somaram 3 milhões 650 mil eleitores –– quase meio milhão acima dos paulistanos que reelegeram Bruno Covas. Suponho que seja gente rejeitando as duas opções. Em Porto Alegre, 405 mil eleitores não votaram ou optaram pelo branco ou nulo, em vez de ter que escolher entre Sebastião Melo (370 mil votos) e Manuela D’Ávila (307 mil). Nessas três importantes capitais, 6 milhões 363 mil pessoas julgaram não valer a pena apostar o voto em nomes oferecidos pelos partidos. Não se empolgaram ou simplesmente rejeitaram os candidatos.

[tudo demais, enjoa: eleições a cada dois anos para um Brasil que está quebrado, precisando investir, tornar auxilio emergencial rotina, é um absurdo, um verdadeiro desperdício = muitos não concordam com isso e expressam a discordância não comparecendo, ou se comparece vota branco ou nulo.   

A maioria absoluta dos candidatos não ruins, péssimos, incompetentes e alguns dos poucos que estão aptos são desonestos. Enquanto houver cota para ser candidato o eleitor vai protestar contra a cota faltando ou votando em branco ou nulo. O candidato a candidato tem que se tornar candidato por competência, vida pregressa e não por uma lei determinar que tanto por cento dos candidatos tem que ser de um determinado sexo, raça, etc.

A cota pode até impor um candidato, impor a distribuição de recursos, mas não impõe ao eleitor a obrigação de votar em quem foi imposto.]

Duvido que os partidos tirem lições disso. Em 2022, vamos ter de novo que escolher entre os menos ruins em listas de candidatos a deputado, senador, governador e presidente. Sempre há bons candidatos, mas o horário eleitoral nos tem revelado uma maioria que não tem noções básicas de como funciona a política, de como se organiza o Estado, seus poderes e níveis –– e, sobretudo, não tem noção do que é ser mandatário a serviço de seus mandantes, eleitores e pagadores de impostos. Fico sonhando com um vestibular aplicado pela Justiça Eleitoral para candidatos a candidato. [sendo generoso e otimista talvez em dez candidatos a candidato um saísse apto a ser candidato.]

 Alexandre Garcia, jornalista - Correio Braziliense

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A chave da vitória - Alon feuerwerker

Análise Política

Quase ninguém está prestando atenção, mas a apuração dos votos continua na eleição para presidente dos Estados Unidos. No estado de Nova York, por exemplo, falta apurar mais de 10% dos votos. 

Daí poucos atentarem para o fato de Joe Biden estar recolhendo, por enquanto, uns 13 milhões de votos a mais que Hillary Clinton em 2016. E Donald Trump estar contabilizando mais de 10 milhões de votos sobre o obtido quatro anos atrás. E no fim das contas, segundo os números nos estados (leia), talvez as pesquisas não tenham errado tanto assim.

O voto antecipado e o voto pelo correio, além do registro maciço de novos eleitores, deu ali o "drible da vaca" (expressão antiga do futebol) na Covid-19. Já por aqui, a abstenção subiu. Se foi a pandemia ou o desinteresse crescente pelas eleições, ainda não está claro.

Uma coisa é certa: cada vez mais, o desafio para partidos e candidatos será fazer o eleitor votar. O acréscimo, ou decréscimo, no eleitorado ativo de cada um tende a ser a chave para a vitória.

 Não deixe de ler:O PIB, o auxílio e a política

E a prévia do crescimento do Produto Interno Bruto no 3o. trimestre veio melhor que as previsões (leia). Boa notícia para o governo. ...

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

É bom não esquecer que Bolsonaro obteve apenas 33,4% dos votos do eleitorado; Haddad, 21,27%. Inexiste carta branca para fazer qualquer coisa

Jair Bolsonaro obteve 46,03% dos votos válidos — ou 49.275.358 votos, o que é, sem dúvida, uma avalanche. Sabem, no entanto, quantos são os brasileiros aptos a votar? 147,3 milhões. Ocorre que quase 30 milhões não deram as caras, com uma abstenção de 20,32%. Brancos e nulos somaram 8,79%. Entendam: aquele que quase vence no primeiro turno, num verdadeiro aluvião de votos conservadores, obteve, no entanto, 33,4% do eleitorado. Sim, senhores: o grande vitorioso do primeiro turno não teve mais do que um terço dos votos das pessoas aptas a escolher o presidente. Quase outro terço (29,11%) não quis escolher ninguém, e os demais ficaram com opositores do deputado. [destaque-se que Bolsonaro teve votação superior em mais de 55% a obtida por Haddad = 31.341.839 e Bolsonaro 49.275.358.
Aliás, segundo turno é mais uma excrescência da Constituição cidadã e serve apenas para gastar milhões e milhões de reais; 
qual sentido tem um segundo turno, se no primeiro turno o candidato vencedor  obteve votação superior à soma do 2º, 3º e 4º colocados - do quarto considerando pouco mais de 90%? ] 
 
Fiz essa mesma lembrança quando Dilma venceu, em 2014. Os petistas ficaram bravos, como se eu estivesse deslegitimando o desempenho de Dilma. Não! Até porque os números de Fernando Haddad (PT), por óbvio, são ainda piores: 21,27% (31.341.839). Se não entenderam o ponto, explico: quem vence não ganha carta branca para fazer o que lhe dá na telha. Vence para governar de acordo com as regras do jogo, já que governa também quem não compareceu para votar, quem compareceu e não escolheu ninguém e aqueles que escolheram outras candidaturas. 

Continua aqui

Vale a pena ler também

Blog do Reinaldo Azevedo 

 

domingo, 30 de outubro de 2016

O silêncio das urnas

Reza o mito, mas não é verdade, que votos nulos e brancos anulem eleições

No primeiro turno das eleições municipais havia dois polos de atenção: o desempenho do PT e o resultado em São Paulo. Ambos surpreendentes. O primeiro pela escassez e o segundo pela abundância de votos obtidos pelo candidato que da maneira mais completa encarnou o repúdio ao petismo. Hoje, dia de escolha em cidades com mais de 200 mil habitantes, entre as quais 18 capitais, a estrela da companhia é a eleição no Rio, onde concorrem dois candidatos cuja rejeição é assunto em qualquer roda que reúna mais de dois cariocas.

As pesquisas apontam um aumento substancial de intenções pelos votos em branco e nulos, confirmando o que se ouve em toda parte: estamos numa sinuca de bico. Sim, nós, porque estou entre aqueles cujo título de eleitor obriga o comparecimento à urna para escolher entre Marcelo Crivella e Marcelo Freixo, dois opostos extremos que subtraem de boa parte do eleitorado a motivação positiva ao voto. De onde a expectativa é a de que o Rio seja a cidade campeã no quesito ausência de escolha, aí incluídos os que votarem em branco, nulo ou simplesmente ignorarem a obrigatoriedade formal. Porto Alegre apresenta situação semelhante no que tange à indisposição eleitoral.

O exercício da democracia não aconselha à abstenção. O ideal seria que cada um fizesse uma opção e se responsabilizasse por ela. Melhor ainda se isso não fosse uma imposição legal e o direito ao voto um gesto de vontade, como de resto ocorre na ampla maioria das democracias ocidentais. Mas, nem sempre é possível e a recusa, notadamente quando em quantidade muito acima do habitual, requer uma leitura acurada. Mas essa é outra história que fica para ser analisada e contada a partir de amanhã.

Razões para indiferença, desgosto ou revolta com a conduta de determinados políticos não faltam e provavelmente elas serão o tema da discussão pós-eleitoral. E fica por aí a consequência. Não há outra, não obstante o mito de que votos em branco e nulos em quantidade superior à votação do vencedor tornem inválida uma eleição ou que sirvam para beneficiar esse ou aquele candidato. Pura lenda urbana. [o mais justo seria que sendo a soma dos votos brancos, nulos e abstenções superior à soma dos votos dados aos candidatos motivassem uma nova eleição.

A bizarra regra de ignorar os votos nulos, brancos e as abstenções, permitem que coisas como Dilma sejam consideradas eleitas em segundo turno quando os votos dela são inferiores à metade do total obtido com a soma dos sufrágios dados ao outro candidato mais os já falados brancos, nulos e as abstenções.
Vejamos: se em 2014 - para limitar o comentário a última eleição geral - mais da metade do eleitorado (qual seja a soma dos votos dados ao Aécio, os brancos, nulos e as ausências) optou por não votar em Dilma, qual a lógica do entendimento estúpido de considerar Dilma vencedora?
A lógica vai para o espaço com o simples exemplo que se Dilma tivesse obtido 20% dos votos do total do eleitorado e Aécio 15% Dilma seria considerada vencedora e teríamos um presidente com 1/5 do total dos votos do eleitorado em uma eleição em que menos de dois quintos dos eleitores votaram em algum candidato.
Resultado desse método: a m ... q deu a 'escarrada' ser reeleita e f ... o Brasil.]

A contagem da Justiça Eleitoral leva em consideração apenas os votos válidos. Ou seja, descontados os votos em branco e nulos que vão literalmente para o lixo. Portanto, quem se ausenta, vota em branco ou anula protesta de forma inútil do ponto de vista do vencedor, eleito com qualquer quantidade. Uma hipótese absurda, mas real: ainda que haja 90% de votos inválidos numa eleição, o resultado será computado levando em conta o universo de 10% de votos válidos.

O mito da nulidade tem origem numa interpretação equivocada do Código Eleitoral, que no artigo 244 diz o seguinte: “Se a nulidade atingir mais da metade dos votos” será convocado um novo pleito no prazo de 20 a 40 dias. Ocorre que a nulidade aí tem outro sentido. Refere-se aos votos anulados pela Justiça Eleitoral caso somem mais da metade dos válidos. A lei prevê as situações em que isso possa ocorrer. As de maior amplitude dizem respeito a fraudes generalizadas e à eventual perda do registro da candidatura do vencedor, por exemplo, por abuso de poder econômico (compra de votos).

Há outras: violação do sigilo do voto, fechamento das urnas antes do horário previsto em lei (17 horas), fraude na urna eletrônica, uso de identidade falsa por parte do eleitor, voto em seção diferente daquela indicada no título, restrição ao direito de fiscalização, realização das eleições em dia, hora ou local que não os legalmente estabelecidos.  Portanto, não há resultado prático decorrente da manifestação de protesto ou de indiferença, embora a depender do volume haja um recado claro a ser compreendido pelo mundo político. Inclusive em relação à obrigatoriedade do voto. 


Fonte: Dora Kramer - O Estado de São Paulo