Análise Política
Os levantamentos mais recentes aumentaram a expectativa de a eleição
presidencial deste ano ser decidida em dois turnos. O desfecho da trama
depende, em última instância, de as terceiras vias, nas versões mais ou
menos centristas, conseguirem reter os votos diante da pressão que virá
(já está vindo) da esquerda. [a esquerda a cada nova notícia se dana toda; Bolsonaro leva no primeiro turno, com as bênçãos de DEUS.]
Numa conversa esta semana veio do interlocutor a dúvida sobre se o
segundo turno é sempre "uma nova eleição”. Tecnicamente sim, pois o
eleitor tem de ir novamente à seção eleitoral, digitar o número do
candidato e apertar “confirma”. Mas, a dúvida não é essa: é se a corrida
recomeça do zero, ou quase. Em geral não.
A esta altura, o pensamento do eleitor atento à corrida presidencial já
está percorrendo dois circuitos: sua escolha no primeiro turno e em quem
votará caso o segundo turno seja disputado entre Luiz Inácio Lula da
Silva e Jair Bolsonaro. Na mente desse eleitor, os dois turnos já correm
em paralelo.
Segundos turnos são tanto mais “uma nova eleição" quanto menos
previstos. Se Simone Tebet conseguir a dupla façanha de ultrapassar Ciro
Gomes e um dos dois líderes, e se a decisão ficar para 30 de outubro, o
segundo turno será mesmo, em boa medida, uma nova eleição.[Mulheres! não esqueçam que a feminista Simone considera que as mulheres são ideais para arrumar uma casa. No Brasil a expressão é muito usada quando se quer dizer que uma casa está precisando de uma limpeza geral. = faxina. Será complicado o empoderamento das mulheres com uma 'líder' pensando assim.]
Mas, quando acontece o mais provável, quando o previsto prevalece,
cenários de segundo turno são estruturados essencialmente no primeiro.
São uma continuidade do primeiro. Em particular, costumam ser uma
extensão da reta final do primeiro. Um exemplo cristalino aconteceu em
2018.
Os levantamentos na quinzena final do primeiro turno apontavam para um
equilíbrio entre Bolsonaro e Fernando Haddad no possível segundo turno.
Mas o arranque do capitão na reta final do primeiro turno fez, até por
uma certa inércia, ele abrir o segundo turno exibindo larga vantagem
sobre o petista.
Até hoje esse contraste entre o que diziam as pesquisas antes do
primeiro turno e o que elas mostraram depois é explorado pelos
apoiadores do presidente como uma evidência de as pesquisas terem
errado. Não erraram, mudou foi o estado de espírito de parte do
eleitorado que antes se mostrava algo indiferente ou distante.
A campanha de Bolsonaro espera fazer do 7 de setembro uma alavanca para o
arranque rumo ao 2 de outubro. A ideia faz sentido, pois o capitão
precisa ou ultrapassar ou chegar o mais próximo possível de Lula, neste
caso para minimizar o risco decorrente dos apelos da esquerda pelo voto
útil.
Claro que há uma variável complicadora: uma forte mobilização
bolsonarista acelerar a convergência do antibolsonarismo em torno do
candidato do PT. Aconteceu com sinal trocado em 2018: a espetacular
demonstração de força do #elenao desencadeou uma ainda mais expressiva
reação conservadora.
Mas quem entra em campo tem de jogar. Ficar parado não costuma ser
inteligente. Menos ainda para quem está correndo atrás. Já Lula está
jogando parado por enquanto, mas sua diferença real para o presidente,
entre cinco e dez pontos percentuais, talvez tampouco recomende ficar
estacionado na zona de conforto.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político.
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