Uso
novamente o vocabulário da ministra Cármen Lúcia. “Com todos os
cuidados”, devo dizer que, assim como nunca vi uma composição do STF tão
militante, tão politizada, tampouco vi um TSE como esse.
Por maioria,
os ministros do tribunal eleitoral cuidaram de apagar da biografia de
Lula seus negócios, seus tempos no cárcere, seus afetos e afagos nas
relações internacionais. O Foro de São Paulo voltou a ser teoria da
conspiração... É o Lulinha visto pelos olhos maternos. Ou da Folha, ou
do IPEC, ou do bispo de Aparecida.
Entende-se, alguns dos ministros que
atuam no eleitoral são, também, do STF, corte que lhe concedeu o pacote
de benefícios sem os quais ainda estaria morando em Curitiba.
Tratou-se,
portanto, da operação final. O nascimento de um homem novo, uma alma
zero quilômetro, de quem só se pode mencionar o futuro.
Não tem a
consciência de São Dimas, nem passa pelos controles de São Pedro, mas
quebra bem o galho para uma campanha eleitoral que, em condições
normais, seria impossível.
Travada como
está sendo, a disputa ganhou uma característica ímpar – digamos assim.
Nada se pode dizer sobre aquilo que Lula de fato foi no seu tempo de
governo e de influência sobre seu partido.
Estão vedadas as referências a
quaisquer culpas. Logo ele – logo ele! – se tornou o candidato mais
“inatacável”. Ao mesmo tempo, a alma do negócio, na propaganda do PT,
vem do fígado, cujos fluidos atribuem a Bolsonaro um catálogo
pré-fabricado de adjetivos que, sabidamente, não se fizeram visíveis nos
quatro anos que preside a República. E aí, pode.
Alguém dirá,
como a ministra já mencionada, que se trata de uma situação
“excepcionalíssima”, embora seja excepcionalíssimo, esdrúxulo,
desconcertante quase tudo que me chega ao conhecimento como decisão
tomada e imposta por nossas altas cortes em matérias com efeito
político.
Mais uma vez,
“com os devidos cuidados”: que Bolsonaro seja reeleito, o novo
Congresso assuma e chegue ao fim esse tormento, essa combinação sinistra
de atividade policial, acusatória e judicial sob o mesmo malhete.
É à
falta de liberdade e à sensação de impotência, com os abusos daí
decorrentes, entre eles o desprezo à sociedade, que devemos atribuir
toda a animosidade instalada no país. Ela emana dos andares superiores
da República. [e apenas de um dos poderes da
República.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário