No olho do furacão, Dallagnol mantém sua agenda, com duas palestras em agosto
O Estado de S. Paulo
No escuro, porque nunca tiveram acesso às conversas do Telegram obtidas
ilegalmente, o governo e a cúpula da Lava Jato avaliam que o pior já
passou para o agora ministro Sérgio Moro, mas ainda temem o que pode
surgir de comprometedor envolvendo procuradores, particularmente o dono
do celular e responsável pelo descuido, Deltan Dallagnol. Por ora, eles
continuam apreensivos e na defensiva. O último lote divulgado não é bonito para o procurador, que discute com
colegas e com sua mulher como abrir uma empresa de palestras, sem
assumi-la oficialmente, e ganhar muito dinheiro aproveitando-se da
notoriedade da Lava Jato: “Vamos organizar congressos e eventos e
lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e
visibilidade”. [qual a garantia de que essa conversa existiu - as conversas divulgadas pelo intercePTação em uma disenteria verbal, possuem o mesmo valor do produto de qualquer disenteria.
temos que ter presente que foram obtidas ilegalmente (produto de furto) e sem comprovação de autenticidade; quando vão divulgar print screen das mesas?]
Ele e seus companheiros de Lava Jato e de Ministério Público se esforçam
para dizer que ali não há nada demais. Primeiro, porque não foi criada
empresa nenhuma. Depois, porque o Conselho Nacional do Ministério
Público já liberou palestras de promotores e procuradores, sejam
remuneradas ou de graça. Não há ilegalidade na prática, portanto. Dallagnol, aliás, tem duas palestras marcadas para agosto, ambas em
Curitiba, sede da Lava Jato, e sobre combate à corrupção, a R$ 20 mil
cada uma. No dia 1.º, no 23.º Congresso de Reprodução Assistida. No dia
25, no Congresso de Urologia. Segundo a rede de apoios a ele e à Lava
Jato, um cachê será doado para a Associação Cristã de Assistência Social
(Acridas) e o outro será usado na compra de sofisticado equipamento
para o Hospital Universitário Cajuru. [as palestras estão autorizadas pelo órgão competente, são legais;
criminosas palestras do tipo das 'proferidas' pelo presidiário Lula e pelo ex-guerrilheiro aloprado Fernando Pimentel - ninguém assistiu, ninguém viu, existiram apenas para lavar dinheiro sujo.]
As palestras já estavam marcadas bem antes da divulgação das conversas
atribuídas a Dallagnol pelo site The Intercept Brasil. O procurador nem
pode cancelá-las, porque assinou contrato, nem vê motivo para isso,
apesar de os diálogos continuarem sendo divulgados, um atrás do outro,
exigindo respostas.
Aliás, essas palestras nem são as primeiras que ele faz neste ano. Em 11
de maio, falou sobre seu tema recorrente – combate à corrupção – no
Encontro da Cidadania, em Campos do Jordão (SP), e recebeu R$ 29,7 mil,
que, segundo a mesma rede de aliados, repartiu entre três entidades:
Fundação Lia Maria Aguiar, que promoveu o evento e tem projetos sociais
de dança, música e teatro; Hospital Erasto Gaertner, de tratamento do
câncer infantil, em construção; e ONG Amigos do Bem, que desenvolve
projetos sociais no sertão nordestino.
Dallagnol, porta-voz e personagem mais polêmico da Lava Jato, até porque
é o que mais se expõe, já tinha entrado no redemoinho por palestras
pagas, quando, há uns dois anos, foi divulgada a informação – correta –
de que ele cobrou R$ 219 mil por uma série de palestras. Na época,
alegou que havia doado o dinheiro justamente para a construção do
Hospital Erasto Gaertner, que confirmou oficialmente, em seu site, essa
versão.
O principal, porém, é que o CNMP analisou o caso e concluiu que
promotores e procuradores têm o direito de fazer palestras e dar cursos
pagos, podendo doar ou simplesmente guardar o que recebem. Logo, não é
por aí que vão “pegar” um dos símbolos da Lava Jato. Podem agastá-lo,
podem desgastá-lo na opinião pública e no mundo jurídico, podem exigir
explicações dia sim, dia não. Mas, por enquanto, isso se resume a um mar
de constrangimentos e a um exercício: o da paciência. De concreto, que
possa comprometer objetivamente sua atuação profissional, nada há.