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terça-feira, 19 de março de 2019

Bolsonaro e generais agem para evitar divisão entre militares - Tropa teme que cúpula seja privilegiada em projeto de reestruturação da carreira



Reestruturação de carreira militar provoca divisão entre cúpula e base

Em grupos de WhatsApp, oficiais de patentes inferiores demonstraram insatisfação por avaliar que proposta em estudo pelo governo contempla gratificações apenas para militares em fim de carreira; Bolsonaro e generais agiram para acalmar os ânimos.

A divulgação da proposta em estudo pelo governo de reestruturação da carreira militar gerou inquietação na tropa e obrigou o presidente Jair Bolsonaro e a cúpula das Forças Armadas a agir para acalmar os ânimos dos militares de patentes inferiores, que se sentiram prejudicados. O texto deve ser apresentado ao Congresso até amanhã no mesmo pacote da reforma da Previdência da categoria. Durante o fim de semana circularam por grupos de WhatsApp de militares várias versões da proposta. A temperatura das discussões se elevou porque uma delas sugere a criação de gratificações somente para oficiais de alta patente pela participação em cursos de habilitação militar, sem contemplar sargentos e suboficiais.
“Um general praticamente dobra o salário. Aí, vocês vão olhar o porcentual dos demais... Deixaram na mão dos generais, e eles decidiram”, escreveu um suboficial em um dos grupos aos quais o Estado teve acesso.


É importante destacar que as distorções e inverdades que estão sendo divulgadas nos grupos de WhatsApp , são na maioria em relação ao Plano de Restruturação da Carreira Militar , que está buscando melhorias para as Praças e para os Oficiais !! Exército único e indivisível !!!🇧🇷


O Ministério da Defesa precisou se mobilizar ontem para negar que apenas a alta cúpula será atendida. O próprio presidente utilizou seu Twitter no domingo para tentar acalmar a tropa. “Possíveis benefícios, ou sacrifícios, serão divididos entre todos, sem distinção de postos ou graduações”, escreveu.
A reestruturação da carreira – com reajustes, aumento no bônus para ir para reserva e incremento das gratificações por qualificações – é uma exigência dos militares para serem incluídos na reforma da Previdência. 

Bombeiro
Dois integrantes do Alto Comando do Exército, os generais Ramos Baptista, comandante militar do Sudeste, e Geraldo Miotto, comandante militar do Sul, também foram para o Twitter atuar como bombeiro.
“É importante destacar que as distorções e inverdades que estão sendo divulgadas nos grupos de WhatsApp são, na maioria, em relação ao Plano de Reestruturação da Carreira Militar, que está buscando melhorias para as Praças e para os Oficiais! Exército único e indivisível!!!”, publicou o general Ramos.
“Não vão conseguir nos dividir!!! Estamos juntos na mesma trincheira !!!”, reforçou o general Miotto, às 6h57, antes de o expediente começar.

O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, também entrou no circuito. Ele convocou os comandantes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para uma reunião, ainda pela manhã de segunda-feira, em seu gabinete. Discutiram a estratégia de atuação para reduzir a temperatura na caserna.
Pelo País afora, comandantes de tropas foram orientados a se reunir com os graduados e reiterar o discurso que jamais agiram em benefício de uns em detrimento de outros.

Subtenente do Exército, o deputado Hélio Bolsonaro (PSL-RJ), um dos parlamentares mais próximos de Bolsonaro, gravou um vídeo dizendo que esteve no Ministério da Defesa por mais de três horas: “Jair Bolsonaro vai atualizar a proposta e vamos sair ganhando”.

O Estado de S. Paulo 

 

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A democracia e os generais

É a primeira vez que a cidadania brasileira tem a chance de resolver seus próprios problemas, achando ela mesma a saída dos redemoinhos em que se colocou

Um espectro ronda o Brasil. Sondagem divulgada pelo Instituto Paraná Pesquisas, na quarta-feira (28), revelou que 43% dos brasileiros são favoráveis a uma “intervenção militar” no país. O percentual é ainda maior entre jovens de 16 a 24 anos. Já uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em junho, mostrou que 40% dos brasileiros confiam muito nos militares e 43% confiam um pouco. O Congresso, por sua vez, não tem a confiança de 65% da população. São sinais consideráveis, não pela proposta de intervenção, estapafúrdia e ilegal que seria, mas pelo que revelam da situação do país e pelo convite a se revisitar o valor da democracia.

Desta vez, a panaceia da intervenção ressurgiu no debate público depois de o general Antonio Hamilton Mourão, em uma palestra realizada no último dia 15, em Brasília, dar seu diagnóstico para uma possível saída da atual crise política no Brasil. “Quando nós olhamos com temor e com tristeza os fatos que estão nos cercando, a gente diz: ‘Pô, por que não vamos derrubar esse troço todo?’ (…) Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”, afirmou.

Nenhum país democrático está livre de crises políticas e institucionais 
Embora o Comando do Exército tenha colocado panos quentes sobre o assunto depois de as declarações terem levantado justificada reação por parte da sociedade civil, Mourão deveria ter sido punido, pois apologia de ruptura do regime constitucional é crime e – o que está além de qualquer dúvida o artigo 142 da Constituição Federal, tão celebrado pelos criptogolpistas em seus eufemismos, só permite a intervenção das forças armadas com uma convocação por um dos legítimos poderes constitucionais, sob autoridade suprema do presidente da República, nas hipóteses previstas de defesa da pátria, garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem. [a crise atual, com destaque para o fato de que três ministros do Supremo - em um colegiado de onze - decidem afrontar uma das Casas do Poder Legislativo impõe uma intervenção militar constitucional para garantia dos poderes constitucionais.]  - Em matéria tão grave, não há interpretação ampliativa da Constituição: romper a ordem constitucional abriria a caixa de Pandora do arbítrio e o caminho para toda sorte de aventureiros e carreiristas irresponsáveis.

Imprescindível repisar essas questões, mas a persistência do ideário golpista convida a uma reflexão mais detida. Há quatro fatores que se sobressaem na explicação do apelo dessa ideia. Um deles o Brasil compartilha com o mundo: o sentimento difuso de descontentamento com as elites tradicionais, a “crise de representatividade” que coloca desafios importantes, ainda sem resposta adequada, aos sistemas de governo ocidentais e a líderes políticos incapazes de inspirar e liderar as pessoas que pretendem governar.

No Brasil, a situação é agravada pelo atascadeiro em que nossos dirigentes se meteram, depois dos anos de descalabro petista; pela maior crise econômica de nossa história, que rouba do povo desde seus meios de subsistência até a confiança no futuro, fomentando o ressentimento social contra “tudo que está aí”; e pela falência do atual modelo de segurança pública, um dos maiores fracassos da redemocratização brasileira: desde 1988, a sensação de insegurança e a gravidade dos crimes no atacado só fez crescer – em 2015, foram 59 mil homicídios no país – embora, é bom frisar, o problema tenha começado antes, ainda no Regime Militar. [no Regime Militar a autoridade policial era respeitada, quando um policial intervinha em uma situação de ilícito sua presença era respeitada;

nos dias atuais, virou regra que quando ocorre um confronto entre polícia  e pessoas que não pertencem aos quadros da Segurança Pública, o policial já é considerado - até que prove o contrário - o bandido da história.
A desmoralização da polícia estimulou os bandidos a agirem com mais audácia. A desmoralização da instituição policial - seja militar ou civil - é fruto da impunidade, do entendimento de certos setores do Ministério Público e do Poder Judiciário que o culpada é sempre o policial.]
É compreensível que o povo brasileiro esteja estafado: o Brasil aparece em último lugar no quesito “confiança do público nos políticos,” dentre 137 países, no último Índice de Competitividade Global, divulgado nesta semana. Mas é alvissareiro que uma louvável sugestão de resposta a esse cansaço tenha vindo de um militar de alta patente. Na terça-feira (26), em Porto Alegre, o general Edson Leal Pujol, comandante militar do Sul, reconhecendo a insatisfação que grassa, em resposta a uma pergunta sobre “quem nos mostrará o caminho”, afirmou que “se vocês estão insatisfeitos, vão para a rua se manifestar, mostrar, ordeiramente. Mas não é para incendiar o país, não é isso”.  Felizmente, há militares – por certo, a maioria deles – que entendem os caminhos da lei e o valor da democracia e que reforçam, com palavras e atos, a saudável opção que as Forças Armadas fizeram por abandonar o ideal salvacionista que marcou sua história até 1988.

É verdade que a democracia já foi descrita como “a pior forma de governo, exceto por todas as outras”, mas é bem mais que isso. Ela é a única forma de governo já inventada pela humanidade que respeita plenamente a dignidade inegociável dos seres humanos, convidando-os a ser protagonistas de suas próprias histórias. Ao mesmo tempo, a democracia garante as condições desse protagonismo, quer respeitando os direitos dos indivíduos e lhes fornecendo regras claras e previsíveis – daí o valor do Estado de Direito –, quer os convidando a realizar-se plenamente no espaço público pela defesa de suas ideias e convicções, por meio do diálogo perene, em direção ao futuro comum que almejam.

Justamente porque a democracia deve ser o governo de todos nós, pactuado entre todos, a cada momento, por vezes em negociações desgastantes, ela nunca será perfeita. Nenhum país democrático está livre de crises políticas e institucionais que, periodicamente, convidam os cidadãos a exorcizarem seus fantasmas, tirarem seus esqueletos do armário e a repensarem, com respeito às regras estabelecidas, seu papel nessa verdadeira odisseia coletiva. É a primeira vez que a cidadania brasileira tem a chance de resolver seus próprios problemas, achando ela mesma a saída dos redemoinhos em que se colocou. Não há imaginar que qualquer intervenção messiânica virá pôr ordem na casa desde fora, pois não há quem esteja fora do barco. E se mar calmo nunca fez bom marinheiro, oxalá aprendamos a navegar com ainda mais maestria.


Fonte: Editorial Gazeta do Povo- PR
 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Novos tempos - Palestra do Gen. Ex Mourão



Resumo da palestra do Cmt Militar do Sul, ontem, no CPOR/PA.
Publicado em Zero Hora de 16/09/15.

INFORME ESPECIAL | Tulio Milman, página 2, (ele estava lá)

Novos tempos
Um general de exército, diante de uma plateia composta por civis e militares, completamente aberto ao diálogo. Aconteceu ontem, em Porto Alegre, na abertura de um evento organizado pelo CPOR. (observação minha: muitos civis, inclusive alunos de faculdades. militares da reserva e alunos CPOR)  O comandante militar do Sul, general Antônio Mourão, expôs suas visões sobre o Brasil contemporâneo para um auditório lotado. “São as minhas opiniões”, deixou claro antes de começar. Alguns dos posicionamentos de Mourão, um dos militares mais influentes do país:
Sobre a política no Brasil:
-“Os políticos viraram escravos das pesquisas de opinião. Esquerda e direita se encontram na corrupção”.

-“Cadê o líder aqui na América do Sul? Temos algumas figuras de folclore”.
-“Não é possível que um governo tenha 22 mil cargos de confiança para nomear”.
Sobre relações exteriores:
-“O Itamaraty foi bypassado pelo Foro de São Paulo. É ele que dá o ditame de uma diplomacia paralela”.

Sobre o papel do Exército:
-“Nós sabemos como fazer. O que fazer tem que ser definido pelo conjunto da sociedade”.
-“O emprego do Exército na segurança pública deve ser limitado no tempo e no espaço. Somos treinados para outra coisa. Mas a gente não escolhe missão”.
Sobre a qualidade das informações passadas aos governantes:
-“Quem decide precisa de uma agência de inteligência forte. Hoje, nossos agentes são escolhidos por concurso e têm seus nomes publicados no Diário Oficial. O Brasil é o único país do mundo onde isso acontece”.

Sobre o desfecho da crise política:  Mourão identifica quatro cenários possíveis para o Brasil.
-1. Sobrevida – Mesmo enfraquecido, o governo Dilma chega ao final do mandato.
-2. Queda controlada – Dilma renuncia ou se afasta por iniciativa própria, negociando a transição.
-3. Renovação – Descontinuidade do governo com novas eleições.
-4. Caos.