Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Costa e Silva. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Costa e Silva. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Bolsonaro tem mais oficiais no primeiro escalão que presidentes da ditadura

 Com a diplomação efetivada e a equipe ministerial fechada, Jair Bolsonaro se prepara para iniciar o mandato no Palácio do Planalto com o apoio direto de oito oficiais das Forças Armadas. O número é maior do que os indicados pelos cinco principais presidentes do período militar, na década de 1960: Humberto Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.

A partir de levantamento no site Biblioteca da Presidência da República, é possível contar os oficiais que estiverem em postos-chaves entre abril de 1964 e março de 1985. Enquanto Castelo Branco (1964-1967) convocou cinco oficiais, Costa e Silva (1967-1969), Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1979) tiveram sete — Figueiredo (1979-1985) indicou seis. No governo Bolsonaro, cargos de primeiro escalão são ocupados por nove militares.

Além dos generais Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) e do almirante Bento Costa Lima Leite (Minas e Energia), o primeiro escalão ainda é composto pelos capitães Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União) e o tenente-coronel Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Além deles, o general Santa Rosa vai comandar a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), que não tem status de ministério. “É preciso somar ainda o presidente Bolsonaro (capitão) e o vice Hamilton Mourão (general)”, diz o escritor Luiz Cláudio Cunha, que ontem abriu a audiência pública no Senado em homenagem aos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 1948. Durante o evento, a forte presença dos militares no futuro governo foi vista como um risco para o regime democrático por palestrantes. Nos governos da ditadura, havia três ministérios militares, um para cada Força, que foram extintos em 1999 por Fernando Henrique Cardoso — ele criou a pasta da Defesa.

Um dos ministros militares integrante de vários governos na ditadura foi Jarbas Passarinho, que chegou ao posto de tenente-coronel, além de governador do Pará, presidente do Senado e ministro da Educação, Previdência Social nas gestões Figueiredo, Médici e Costa e Silva — também foi o titular da Justiça no período Collor de Mello.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Eleitores serão responsáveis pelo que acontecer

[Bolsonaro é dificil para alguns engolir, mas, vão ter que engolir.]

‘Não quero ter parte nisso’

O risco de golpe está embutido na retórica de Bolsonaro, de alguns de seus colaboradores e até de seguidores

Na noite de domingo o Brasil terá escolhido um novo presidente da República. O resultado virá da vontade dos eleitores e, seja qual for o voto que se tenha dado, cada um deles terá parte no que vier a acontecer. Milhões de pessoas que votaram em Dilma Rousseff ou em Aécio Neves tiveram motivos para se arrepender mas, como hoje, era um ou outro. O arrependimento acompanhou também os eleitores de Fernando Collor em 1989 e de Jânio Quadros em 1960. Nenhum deles elegeu-se sugerindo medidas que pudessem prenunciar uma ameaça às instituições democráticas.

O caso agora é outro. O deputado Eduardo Bolsonaro tratou de uma situação hipotética de conflito com o Supremo Tribunal Federal e disse que bastariam um cabo e um soldado para fechá-lo. Um general da reserva, eleito deputado federal pelo PSL depois de ocupar a Secretaria de Segurança de Natal, defendeu o impeachment e a prisão de ministros do Supremo: “Não tem negociação com quem se vendeu.” Antes dele, um general da reserva que disputaria sem sucesso um cargo eletivo disse que “Corte que muda de decisão para beneficiar criminoso não é Corte, é quadrilha”. 

O general Hamilton Mourão, também da reserva e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, elaborou sobre o mecanismo do “autogolpe”. Noutra digressão, mencionou as virtudes de uma Constituição redigida por sábios e ratificada num plebiscito. Jair Bolsonaro prometeu o fim do “ativismo” e anunciou que “os marginais vermelhos serão banidos da nossa pátria”. Como?

Essas foram afirmações de candidatos, feitas em diferentes contextos, às vezes partindo de situações hipotéticas. Não se deve esquecer que o deputado petista Wadih Damous numa argumentação que nada teve a ver com a retórica bolsonarista, já sugeriu “fechar o Supremo Tribunal Federal” para criar uma Corte Constitucional. O doutor foi um dos marqueses da OAB. [curioso: o tal Damous propôs fechar o Supremo, não houve nenhum protesto;
Gleisi Hoffmann passou meses e meses convocando a militância petista para ir as ruas para soltar Lula;
O presidiário Lula,  ameaçou convocar o 'exército' de Stédile e nada foi feito - sua condição de condenado autorizava sua prisão e nada foi feito. Foi preso quando bem quis e com direito a recorrer até a ONU para tentar sair da cadeia;
Um dos advogados de Haddad, esqueci o nome, prometeu que se não houver uma decisão contra Bolsonaro, em função da Fake News da Folha, ele vai as cortes internacionais - desrespeitando o Poder Judiciário do Brasil - e ninguém faz nada.

Mas, quando se trata de manifestação de parlamentares (que possuem imunidade) ligados a Bolsonaro, imediatamente são cristianizados.
O caso do deputa Eduardo Bolsonaro é emblemático: um cidadão fez uma pergunta ao parlamentar  do que aconteceria se o STF impedisse a posse de Bolsonaro - sendo o capitão eleito no primeiro turno - o que as Forças Armadas fariam.
O parlamentar, com clareza meridiana, iniciou a resposta já argumentando que  a hipotética ação do STF implicaria em encaminhamento para o 'estado de exceção' tendo então o deputado elaborado a resposta em função daquela premissa.
Dois pesos e duas medidas?]
 
Bolsonaro já prometeu mais de uma dezena de providências que dependem de reformas constitucionais. Elas precisam do voto de três quintos da Câmara e do Senado. Serão necessários 308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores. Mesmo tendo formado a segunda maior bancada da Câmara, o PSL não os tem. Como pretende consegui-los, é outra história. Admitindo que os consiga, será o jogo jogado, e a vida seguirá. Se não conseguir, vem aí uma crise anunciada. [lembramos que Haddad vive apregoando que vai colocar a PF para atuar no combate ao crime - salvo improvável engano, tal providência exige Emenda Constitucional, mais especificamente, modificar o artigo 144, parágrafo 1º e o partido do Haddad, partido perda total, que conseguiu o fantástico feito de eleger um único parlamentar no Rio de Janeiro, não tem condições de emendar nem uma Portaria.]
 
O eleitor ficou entre a cruz e a caldeirinha. Até o dia da posse, tudo será encanto e sedução. Como ensinou Marco Maciel, “as consequências vêm depois”. A essência da questão está na parte que caberá a cada um quando elas chegarem.  Há casos em que o cidadão tem que traçar a linha que não atravessará. No dia 29 de maio de 1966, o marechal Cordeiro de Farias entrou no gabinete do presidente Castelo Branco. Ele acabara de capitular diante da candidatura do ministro da Guerra, Artur da Costa e Silva, e Cordeiro era o seu ministro do Interior. Aos 65 anos, estivera em todas as encrencas militares da primeira metade do século, da Coluna Prestes à deposição de João Goulart. Como general, comandou a Artilharia Divisionária da FEB na Itália.

No encontro, Cordeiro disse ao presidente: “Você é generoso com o Costa e Silva, eu sou justo. Você sabe que ele vai afundar o país, pois é incapaz, e eu não quero ter parte nisso.”
Cordeiro deixou o ministério e foi para casa. Costa e Silva assumiu em 1967 e afundou o país em 1968, baixando o Ato Institucional nº 5. [com o AI-5 o Brasil conseguiu sufocar o comunismo e evitar se transformar em uma Cuba.]
 
Numa manhã de agosto de 1976, em cena emocionante, o velho marechal entrou, de bengala, no saguão onde se velava o corpo de Juscelino Kubitschek. Doze anos antes, havia votado pela sua cassação, mas não teve parte na ascensão de Costa e Silva.
 

 

 

Elio Gaspari 

quarta-feira, 30 de maio de 2018

De Tancredo@pol para Todo.Mundo



Eu ajudei a segurar o Figueiredo, pois nada é pior do que saltar no escuro gritando slogans bonitos e inúteis 

Meus patrícios,
Quem viveu o meu tempo deve lembrar. Em 1981, o último dos generais presidentes perdeu a credibilidade com o atentado do Riocentro e a saúde com um enfarte. Um ano depois, ele perdeu o controle da economia, com a quebra do país. Em 1984, o general João Baptista Figueiredo perdeu o controle da rua com a campanha das Diretas. Seu sistema nervoso explodiu, e ele tentou criar crises institucionais, disse coisas que não faziam nexo e acabou indo embora do palácio por uma porta lateral, pedindo para ser esquecido. Teve tanto êxito nisso, que essas reminiscências parecem conversa de defunto.

Eu governava Minas, percebi que a campanha das Diretas naufragaria, e disso resultaria minha eleição, pelo sistema indireto criado para perpetuar o poder dos interesses que apoiavam a ditadura. Passei todo o tempo da campanha com o pé no freio. Nunca usei informações nem dei passos que agravariam a crise. Tirei as bandeiras vermelhas dos comícios. Acabei com o regime sem gritar “abaixo a ditadura”. 

Digo isso porque a situação de Michel Temer ficou parecida com a de Figueiredo. Seus gestos e sua calma beduína não se assemelham aos do general cavalariano, mas seu palácio lembra o dele em 1984, o de Vargas em 1954, o de João Goulart em 1964 e o de Costa e Silva em 1968. Tudo o que podia dar errado, errado dava. E se nada de errado podia acontecer, o presidente e seus conselheiros criaram novas encrencas.

Temer teve aquela conversa desastrosa com Joesley Batista. Quando começou o movimento dos caminhoneiros e das transportadoras, foi para uma cerimônia banal no Rio. Lá atrás, Gregório Fortunato, chefe dos capangas de Getúlio, mandou matar Carlos Lacerda. Dezenove dias depois, matou-se Vargas. Em março de 1964, contra minha opinião, Jango foi à reunião com os sargentos no Automóvel Club, e seis dias depois estava asilado no Uruguai. Em julho de 1968, Costa e Silva repeliu o estado de sítio, que duraria, no máximo, quatro meses. Em dezembro, baixou o AI-5, que durou dez anos. Como não falo mal de senhoras, passo longe de Dilma Rousseff.

Nessa estranha crise dos caminhoneiros, os colaboradores de Temer deram entrevistas desconexas e inúteis. Nem ceder ele soube. Como diria o divertido jornalista Nertan Macedo, com quem almocei outro dia, o governo foi para a televisão com a imponência de senadores romanos e a inteligência de Mike Tyson.  Quem não gosta de Temer tem todos os motivos para se regozijar, mas não deve se esquecer de que o futuro está no próximo passo, e só nele. Em outubro será escolhido um novo presidente. Muita gente dirá que as escolhas disponíveis são pobres. Nada posso fazer, mas novamente peço-lhes que olhem para trás. Em janeiro de 1964 o Brasil tinha dois candidatos: Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek. No clima polarizado daqueles dias, uma parte da militância e da elite política não aceitava a ideia de empossar o algoz de Vargas ou o mineiro que chamava de corrupto. Três meses depois começou uma noite que durou 21 anos.  Durante a treva, o mais entusiasmado dos lacerdistas admitia que teria sido preferível uma vitória de JK. O mesmo se deu com o outro lado. Aliás, em 1967 os dois juntaram-se, mas já era tarde.
Saúdo meus compatriotas e despeço-me.
Tancredo Neves.

Elio Gaspari é jornalista - O Globo