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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Falta de recursos pode afetar a compra de caças suecos para a FAB

Integrantes da cúpula militar brasileira acompanham os primeiros testes da aeronave de combate Gripen, na Suécia. Redução orçamentária preocupa oficiais, pois pode significar a renegociação do contrato

  Em meio a dificuldades orçamentárias, integrantes da alta cúpula militar brasileira acompanharam, na Suécia, os primeiros testes táticos e de sensores do caça Gripen — a aeronave foi escolhida ainda em 2014 para renovar a frota de defesa nacional. A falta de recursos, entretanto, tem levado os oficiais a insistirem na manutenção da média anual das verbas. Levantamento da associação Contas Abertas, a pedido do Correio, revela que os recursos para o “programa de aquisição de aeronaves e sistemas” (FX-2) será reduzido em 52,6% a partir de 2020.

Os recursos reservados para a compra e desenvolvimento do Gripen subiram entre 2018 (R$ 1,05 bilhão) e 2019 (R$ 1,36 bilhão), mas caíram drasticamente na previsão para o próximo ano (R$ 643,3 milhões). Isso sem contar o que pode vir a ser contingenciado ainda neste e no próximo ano. De uma forma geral, houve queda de 42% nos programas do Ministério da Defesa, que, em nota, garante que trabalha com ajustes para que não haja impactos significativos nos projetos. Há preocupação com a queda dos recursos, mas integrantes da empresa sueca Saab, fabricante dos caças, garantem o acordo, apesar de que, mantidos os atuais valores para 2020, seja necessária uma eventual renegociação de alguns dos termos. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, participou nesta terça-feira (10/9), em Linköping, a 200km de Estocolmo, na sede da Saab, da cerimônia de testes da primeira aeronave encomendada pelo governo brasileiro — o primeiro voo foi em 26 de agosto. O general disse que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, a equipe econômica está revendo a previsão orçamentária para 2020.
 “São projetos que já estão iniciados, assim tenho expectativa positiva para o próximo ano, para que não tenha uma defasagem”, disse Azevedo e Silva. “O presidente está ciente. E tem origem militar, e como parlamentar, durante 28 anos, sempre defendeu as causas militares.” O brigadeiro do ar Valter Borges Malta, presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate, diz que não está em discussão o corte no orçamento. “Vamos batalhar para que isso não ocorra. Mas no caso de redução, é preciso, eventualmente, ter uma renegociação do contrato com a Saab.”

Os testes desta terça-feira (10/9) no Gripen foram um passo efetivo de programa gestado há quase duas décadas para a renovação da frota de caças brasileiros. Iniciado ainda em 2001, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso lançou o projeto F-X, o processo de compra passou pelos governos Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer, até chegar à gestão de Jair Bolsonaro, com um orçamento mais baixo até aqui. A disputa de quase R$ 17 bilhões envolveu diretamente a norte-americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca Saab, que acabou vitoriosa. Em outubro de 2014, a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou o resultado da concorrência. O acordo prevê a compra de 36 aeronaves e a transferência de tecnologia, o que já vem ocorrendo a partir de parcerias com empresas brasileiras — representantes das companhias nacionais também participaram do evento, nesta terça-feira (10/9), na Suécia.

“É um programa de soberania e defesa. Aumentamos a capacidade da FAB e impulsionamos a transferência de tecnologia para o Brasil, abrindo as fronteiras para o conhecimento”, disse Azevedo e Silva. “O setor representa 4% do PIB, gerando mais de 285 mil empregos diretos e 850 mil indiretos, com salário médio de aproximadamente duas vezes maior à média nacional. O projeto Gripen vem para robustecer esses números.”

Os governos brasileiro e sueco — além das empresas envolvidas no projeto — esperam ampliar o mercado internacional a partir da unidade de produção da Embraer, em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo. O comandante da FAB, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, disse que Bolsonaro continua “priorizando a alocação de recursos necessários a um projeto tão promissor para o Brasil”. Procurado na semana passada, o Comando da Aeronáutica não confirmou a dotação orçamentária para o processo de compra, mas garantiu que o cronograma está mantido, detalhando aspectos como as etapas de certificação. “O cronograma de entregas contratado pela Força Aérea Brasileira contempla o recebimento das aeronaves a partir de 2021, até 2026. Será um total de 36 aeronaves que vão, inicialmente, ser operadas por unidades aéreas a partir da Ala 2, em Anápolis (GO). Os pilotos brasileiros efetuarão o treinamento na Suécia a partir de 2020”, diz nota da assessoria militar.

Cerca de 350 profissionais brasileiros participam do programa de transferência de tecnologia na Suécia, que envolve 62 projetos de diversas disciplinas  aeronáuticas.

Correio Braziliense


 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Lula, o homem chamado “Brahma”. Ou: A coisa tá feia para o seu lado, falastrão!



Prestem atenção ao trecho de um texto:
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu sua inclinação por um copo de cerveja, uma dose de uísque ou, melhor ainda, um copinho de cachaça, o potente destilado brasileiro feito de cana-de-açúcar. Mas alguns de seus conterrâneos começam a se perguntar se sua preferência por bebidas fortes não está afetando sua performance no cargo. Nos últimos meses, o governo esquerdista de Da Silva tem sido assaltado por uma crise depois da outra, de escândalos de corrupção ao fracasso de programas sociais cruciais.”

Esse é começo de um texto escrito em maio de 2004 por Larry Rother, então correspondente do jornal americano The New York Times no Brasil. A reação de Lula foi violenta. Tentou, acreditem, expulsar Rother do país, ao arrepio da Constituição, sob o pretexto ridículo de que a pátria havia sido ofendida e de que o jornalista havia se imiscuído em assuntos nacionais. Qual assunto nacional? A, digamos, intimidade entre Lula e o álcool?

Pois é… Reportagem da revista VEJA desta semana informa que a Polícia Federal dispõe de mensagens trocadas entre empreiteiros em que Lula, na condição de presidente ou de ex-presidente, era chamado por um apelido: “Brahma”, numa alusão, certamente, a seus hábitos. A metonímia-metáfora nem chega a ser a melhor. Lula não dispensa uma cerveja, mas é conhecida a sua inclinação por uísque desde o tempo em que presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.

Enquanto a companheirada enfrentava a polícia, perdia o emprego e corria alguns perigos, o máximo de risco a que se submetia o chefão era se embebedar na sede da Fiesp, em animadas conversas com os empresários do então “Grupo 14”. Um deles, remanescente daquele turma, já me disse que, por lá, o Babalorixá de Banânia nunca foi visto como líder esquerdista. A avaliação que os empresários tinham é a de que ele queria se dar bem e faria qualquer coisa para chegar ao poder.

Pois é… É claro que Lula ser chamado de “Brahma” pelos empreiteiros — e importaria pouco se fosse bebum, beberrão, bêbado, pau d’água, cachaceiro, ébrio, borracho — tem menos importância do que aquilo que revelam as mensagens que vêm a público. Fica evidente que, na Presidência da República ou não, sóbrio ou não, ele se comportava como um mero lobista.

Em outubro de 2012, Léo Pinheiro, presidente da empreiteira OAS, relata a um executivo seu: “Estive essa semana com o Brahma. Contou-me que quem esteve com ele aqui foi o presidente da Guiné Equatorial, pedindo-lhe apoio sobre o problema do filho. Falou também que estava indo com a Camargo para Moçambique X Hidrelétrica X África do Sul”.

Nota: a Guiné Equatorial, hoje uma importante produtora de petróleo, é uma das ditaduras mais sanguinárias no mundo. Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, o amigão de Lula, governa o país desde 1982 — há 33 anos, portanto. É considerado pela “Forbes” o oitavo governante mais rico do mundo, embora o país esteja entre os últimos no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O tal filho, que vai herdar o trono, é um bandido chamado “Teodorin”. É aquele que financiou o desfile da Beija-Flor neste ano.

Aí é a vez de um executivo da OAS escrever a Léo Pinheiro: “Colocamos o avião à disposição do Lula para sair amanhã ao meio-dia. Seria bom checar com o Paulo Okamotto se é conveniente irmos no mesmo avião”. Como se nota, os empreiteiros tinham a noção da, digamos, “inconveniência”.

O “Brahmaalimentava também os sonhos sebastianistas dos companheiros empreiteiros. Em dezembro de 2012, escreve um executivo da OAS: “O clima não está bom para o governo. O modelo dá sinais de esgotamento, e o estilo da número um tem boa parte da culpa”. Em novembro de 2013, voltava à carga: “A agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo Brahma”. Referindo-se a Dilma, na comparação com Lula, analisa o executivo da OAS: “A senhora não leva jeito: discurso fraco, confuso, desarticulado, falta de carisma”. Bem, essa parte é mesmo verdade. Ocorre que o propósito não era bom. Eles queriam a volta de Lula.

Presidentes ou primeiros-ministros podem fazer lobby, digamos, político em favor das empresas do seu país? Podem e até devem. O governo americano pressionou para que o Brasil comprasse os caças da Boeing; o francês, para que fosse da  Dassault, e o sueco, da Gripen. Mas nenhuma dessas empresas foi flagrada em relações incestuosas com o partido do governo ou com o chefe do Executivo. Não reformaram o sítio do mandatário, não lhe pagaram milhões para dar palestras, não o transformaram em mascate de seus interesses, não lhe construíram um tríplex — para ficar nas miudezas.

A política brasileira nunca foi algo a ser copiado pelo resto do mundo. Mas parece claro, a esta altura, que Lula e o PT a conduziram a um novo patamar do vexame.

Há uma grande diferença entre promover os interesses nacionais dando suporte claro e legal a empresas nativas no exterior e se comportar como um lobista vulgar. Há uma diferença entre um empresário chamar o chefe do Executivo de “Excelência” e de “Brahma”. E a cerveja, coitada, nem tem nada com isso. Dizem-me os apreciadores que é de ótima qualidade. E, definitivamente, esse não é o caso de Lula. Se cerveja fosse, eu não a recomendaria para consumo humano.

A coisa tá para feia para o seu lado, falastrão!

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo