Arma-se
em torno das propostas sobre a volta da prisão na segunda instância uma cena
típica de faroeste. Nela, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre cavalgam à frente dos
carroções da moralidade como espécies de John Wayne liderando os colonos do
Legislativo a caminho da clareira do plenário. De repente, dois integrantes da
caravana travam o seguinte diálogo:
— Estou
preocupado com os índios da tribo dos enforcados.
— Índios?
Mas não vejo índio nenhum!
— O que inquieta é justamente isso. Em matéria
de prisão, nada pode ser mais preocupante do que o silêncio dos índios da tribo
com a corda no pescoço.
Nesta
terça-feira, Davi Alcolumbre recebe na residência oficial da Presidência do
Senado líderes partidários e o ministro Sergio Moro (Segurança Pública).
Espera-se que Rodrigo Maia, o John Wayne da Câmara, também participe. O
pretexto do encontro é a busca do consenso sobre prisão na segunda instância.
No momento, Senado e Câmara dançam em ritmos diferentes. Um grupo de
senadores gostaria de ressuscitar rapidamente a regra derrubada pelo Supremo
Tribunal Federal. Com as bênçãos de Moro, esse grupo avalia que o melhor a
fazer seria aprovar um projeto de lei. Rodrigo Maia avisou que a Câmara já
optou pelo caminho mais longo e árduo da emenda constitucional. A pretexto de
costurar um hipotético entendimento, Alcolumbre provocou o cancelamento de
audiência pública que ocorreria nesta terça-feira na Comissão de Constituição e
Justiça do Senado. Os senadores ouviriam Sergio Moro sobre as vantagens de
restabelecer a regra sobre prisão por meio de projeto de lei, mais fácil de
aprovar do que a emenda concebida na Câmara.
Na outra
ponta, Rodrigo Maia se apresenta como um negociador sui generis, do tipo que
admite conversar sobre tudo, desde que prevaleça a opção dos deputados por uma
alteração constitucional cuja tramitação invadirá o ano eleitoral de 2020. Os
partidários da volta da prisão ruminam a suspeita de que Alcolumbre e Maia
ajeitam o palco para a emboscada dos índios da tribo dos enforcados.
Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário