Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Mitsui. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mitsui. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 1 de novembro de 2016

A disputa pela Vale

Reforçado nas urnas, o PMDB manobra para lotear o comando da empresa, e entra em rota de colisão com o principal aliado de Temer, o PSDB

Michel Temer teria motivos para comemorar: numa etapa de atomização partidária (são 35 partidos), seu PMDB predominou, elegendo 1.038 prefeitos e 7.570 vereadores. 

 Consolidou importante rede de cabos eleitorais locais para a disputa presidencial de 2018 — ao contrário do que ocorreu com o ex-sócio no poder, o PT de Lula e Dilma, que se restringiu a um par de prefeituras em cidades com mais de 100 mil eleitores.  No entanto, Temer manteve-se discreto, equidistante da campanha. Tornou-se o primeiro presidente a optar por ficar à margem de uma eleição, na qual os aliados do governo ganharam em 85% dos municípios.  Entre as razões está a dependência de uma base parlamentar ampla, instável e vulnerável, como mostram os inquéritos sobre corrupção. Um retrato da instabilidade está na disputa permanente por espaços de poder — físico, inclusive — entre o secretário Moreira Franco e os ministros Geddel Lima e Eliseu Padilha, vizinhos do presidente no Palácio do Planalto. 

Amostra da vulnerabilidade do PMDB está no clima de apreensão com a contagem regressiva para divulgação das delações de acionistas e executivos das empreiteiras Odebrecht e OAS sobre estranhas transações — uma delas proporcionou R$ 75 milhões aos bolsos de três caciques peemedebistas. Parte dos negócios já foi mapeada pelo Ministério Público Federal a partir de contas de meia centena de bancos de Suíça, Holanda, Mônaco, Panamá e Liechtenstein. 

A preocupação estende-se à eventual “colaboração” do ex-deputado Eduardo Cunha, operador de um dos principais canais de irrigação das finanças peemedebistas.  Há múltiplas formas de se medir o aumento de temperatura no governo e no PMDB. Ontem, por exemplo, jogou-se luz sobre uma manobra destinada a lotear o comando da Vale. Até maio de 2017, o mandato de presidente da companhia é de Murilo Ferreira, cuja gestão acabou soterrada sob a lama tóxica despejada na bacia do Rio Doce pela Samarco, sociedade da Vale com a australiana BHP Billiton.

Um grupo de parlamentares, com destaque para os deputados Newton Cardoso Jr. e Leonardo Quintão (Minas Gerais), apoiados pelo senador Romero Jucá (Roraima), resolveu agir para indicar o futuro presidente da Vale. O voto do governo é decisivo, porque controla 52% da empresa, via BNDESpar e fundos da Petrobras, Caixa e Banco do Brasil. Os principais sócios privados, Bradesco e Mitsui (Japão), já haviam informado a Temer sobre a pressão peemedebista. 

Ela se tornou perceptível e ontem virou tema de protesto do PSDB no plenário do Senado, pela voz do senador Ricardo Ferraço (Espírito Santo): “Se o mandato do presidente da Vale será renovado ou não, é uma decisão que cabe aos acionistas dessa empresa”, ele disse, acrescentando: “Qualquer tipo de intervenção, de intromissão ou de pressão política será absolutamente indevida e, evidentemente, vai ser denunciada”.  Temer completou 60 dias na Presidência da República. Governa sobre uma base composta por placas tectônicas que se movimentam, em rota de colisão.

Fonte: José Casado - O Globo

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Retrato da corrupção

Um relatório da auditoria interna da Petrobras feita este ano mostra como a corrupção e a má gestão se misturam e provocam prejuízos continuados. Ao analisar o caso de quatro sondas foi constatado tudo que tem sido mostrado na Lava-Jato, a mesma sucessão de decisões suspeitas. Uma dessas sondas está ociosa, ao custo de US$ 500 mil ao dia.

Os eventos se passaram no período em que a diretoria internacional foi comandada por Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada. O que foi analisado neste documento, do qual esta coluna tem cópia, foram os navios-sondas Petrobras 10000, Vitoria 10000, Pride/Ensco DS-5 e Titanium Explorer. Em todos houve sobrepreços, cláusulas inexplicáveis de aumento do que estava contratado, decisões tomadas por poucas pessoas, quebra dos princípios da própria empresa e presença dos lobistas da Lava-Jato em negociações.

A primeira conclusão da auditoria é que não havia necessidade de contratar ou construir as sondas. A decisão foi tomada naquele oba-oba do “nunca antes” sem ver os custos, sem respeitar os pareceres técnicos. O cenário que se acreditava era o de que a empresa iria adquirir quatro novos blocos por ano. O estudo inicial foi feito em 2005; a contratação, em 2008 e 2009. “Estimou-se a necessidade de pelo menos 2 sondas nos cinco anos seguintes e de pelo menos 6 em 10 anos sem base técnica, mas passando a ideia de perda de oportunidade”. Este mesmo estudo, feito sem base, foi usado para decidir construir o Petrobras 10000 e o Vitoria 10000 e para contratar, sem licitação, o navio-sonda DS-5. Este foi cedido a outras empresas duas vezes e está ocioso desde março. Já o Titanium foi contratado em janeiro de 2009, com o mercado financeiro parado pela crise. Além disso, contrariava o parecer técnico, que apontava a necessidade de outro equipamento.

As propostas foram recebidas e os memorandos assinados sem que a diretoria executiva fosse consultada, “revelando a elevada autonomia detida pela área internacional”. Não houve “processos competitivos para a seleção de propostas” e a decisão, no caso da Titanium, ficou restrita a três pessoas: o diretor, o gerente-geral e o gerente executivo.

Logo depois de fechado o negócio houve um reajuste de 3% na construção do Petrobras 10000 e do Vitoria 10000. No final de um ano o acréscimo ao preço já era de 5%, ou US$ 31 milhões. Isso sem falar que o valor inicial tinha sido superestimado em US$ 11 milhões. A cláusula cambial, que era a variação entre o dólar americano e a coroa norueguesa, representou mais um aumento do preço em US$ 11,4 milhões. A Schahin foi contratada para ser operadora do Vitoria 10000 sob o argumento de que era “detentora dos melhores índices operacionais”. Não era verdade. Na época a Schahin tinha apenas um navio-sonda com bons índices. Os bônus de performance chegavam a 17%, muito acima do mercado. “A demora em concretizar a negociação com a Schahin para a vinda do Vitoria 10000 para o Brasil implicou em um custo de aproximadamente US$ 126 milhões”. Depois de um tempo a Schahin deixou de honrar os pagamentos do leasing, mas pediu e recebeu bônus antecipadamente.

No contrato do DS-5, o sobrepreço chegou a US$ 118 milhões. Como ele está ocioso desde março, pela soma das diárias, a Petrobras perdeu mais US$ 120 milhões nesse período. O documento é estarrecedor, porque ele foca nos negócios com essas quatro sondas e vai dissecando o desmazelo da gestão e como o preço vai sendo inchado a cada decisão insensata. Isso sem falar na promiscuidade com lobistas hoje investigados ou condenados no mensalão. Eles faziam reunião na empresa. Em uma delas estavam Cerveró, Julio Camargo, Fernando Soares, a Mitsui e a Samsung.

A auditoria encerrada em maio de 2015 recomendava tentar reaver valores pagos a mais na construção dos dois navios-sondas, renegociar os contratos dos outros dois e, dependendo do que for descoberto sobre a participação de lobistas, romper o contrato. É apenas uma auditoria, mas é reveladora do poder corrosivo da corrupção dentro da maior empresa do Brasil. A Petrobras explicou, em nota, que a DS-5 está na carteira de “negociação/readequação". O contrato da Titanium foi extinto em 1º de setembro, por “descumprimento de cláusulas contratuais".

Fonte: Coluna da Miriam Leitão  - O Globo
 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Na sala ao lado



O suborno de US$ 30 milhões que o agente da Mitsui e Samsung diz que pagou ao deputado Cunha revela a submissão da Petrobras a múltiplas perversões na era Gabrielli-Lula
Uns poucos passos sobre o piso de isopor em argamassa de concreto armado separavam os escritórios do presidente e dos diretores no 23º andar da sede da empresa estatal.
Era, literalmente, impossível a um estranho manter-se invisível numa rotina de visitas àquele ambiente. No entanto, isso parece ter acontecido na Petrobras na gestão de José Sérgio Gabrielli.  Fernando Soares Falcão, o Baiano, por cinco anos frequentou uma sala ao lado, da Diretoria Internacional, para tratar de contratos nos quais, oficialmente, nunca representou as empresas envolvidas — apenas cultivava interesses obscuros de líderes do PMDB.

Ninguém o viu, soube quem era ou o que fazia por ali, segundo depoimentos em juízo de Gabrielli e outros graduados da estatal. Registros da portaria, no térreo, indicam que Baiano fez 72 visitas ao diretor Nestor Cerveró, entre fevereiro de 2004 e janeiro de 2008, antes, durante e depois de a Petrobras gastar US$ 1,2 bilhão na contratação de dois navios-sonda.

Na quinta-feira 14 de setembro de 2006, por exemplo, ele chegou à diretoria antes do meio-dia e saiu à noite, oito horas depois.  Baiano, Cerveró e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), receberam US$ 30 milhões em suborno para garantir que a Petrobras contratasse os navios sonda Petrobras 10000 e Vitória 10000 com a Samsung (Coreia do Sul) e a Mitsui (Japão), conforme documentou em juízo o representante desses grupos no Brasil, Julio Camargo.

Semana passada o deputado Cunha foi denunciado ao Supremo por corrupção e lavagem de dinheiro, junto com a deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), sua auxiliar na cobrança de propinas em atraso.  É um caso simbólico da submissão da Petrobras durante a era Gabrielli, no governo Lula, a múltiplas formas de perversão política e administrativa. 

A documentação informa que o diretor Cerveró passou 14 meses ao lado do presidente da companhia negociando a encomenda do primeiro navio-sonda (Petrobras 10000) no valor de US$ 586 milhões. E, só depois desse tempo, é que a diretoria executiva soube do negócio, autorizou tratativas e assinou o contrato.

As duas sondas foram encomendadas por US$ 1,2 bilhão sem licitação ou simples cotação de preços, procedimento rudimentar.  A proposta dos fornecedores foi aceita, sem questionamentos. As sondas saíram do mesmo projeto, mas o segundo navio custou 12,7% mais caro (US$ 661milhões) que o primeiro.

Os contratos foram feitos sem locais de operação definidos. Também não havia estudo geológico adequado. Os poços em Angola, por exemplo, resultaram “secos”. Um navio (Vitória 10000) precisou ficar estacionado em porto na África do Sul durante um semestre, depois de pronto, simplesmente porque não se sabia o que fazer com ele.  Estão presos 60% dos diretores da Petrobras da era Gabrielli, no governo Lula. Três foram condenados. A empresa tem o Estado como acionista principal e, sabe-se, seu caixa era usado para pagar subornos a políticos e partidos aliados do governo.

Como ninguém sabe,  ninguém viu nada durante uma década no 23º andar do “Edise”, o edifício-sede no jargão dos funcionários, a conclusão possível é a de que havia uma grande rede de cumplicidade no topo da estrutura projetada no final dos anos 60 por uma equipe de jovens arquitetos do Paraná.

Fonte: José Casado – O Globo